Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 6, Volume dez., Série 09/12, 2015.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
Antes da independência,
em um período geralmente classificado como pertencente ao final da época
colonial, o Brasil foi elevado a Reino, deixando de ser tratado e considerado
como uma mera colônia, configurando uma transição para independência.
Fugindo da
invasão de Portugal por tropas francesas e espanholas, em virtude de seu apoio
aos ingleses, o príncipe regente, D. João VI, chegou ao Brasil, junto com toda
sua corte, que incluía mais 10 mil nobres e os maiores intelectuais de
Portugal.
Além disto,
vieram para o Brasil setecentas carroças e carruagens, móveis rebuscados, obras
de arte e, o mais importante, todos os arquivos portugueses e sessenta mil
livros.
Para uma zona
onde havia carência de livros, então raros, a transferência da Biblioteca Real
para o Brasil foi um passo importante rumo a algumas melhorias no sistema
educacional, melhorando ao acesso da população a cultura e ideias europeias.
D. João VI
fundou a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, aberta a todo o público, a
primeira biblioteca pública do país, justamente em um momento em que mesmo as
bibliotecas privadas eram raras.
Tendo sido
transferido o governo para o Rio de Janeiro, então sediando a corte, o Brasil
não podia continuar uma simples colônia, foi elevado à categoria de Reino Unido
ao lado de Portugal e do Algarve.
A cidade do Rio
de Janeiro foi escolhida como sede do governo português não por sua infraestrutura,
mas pela localização geográfica e maior distância do cenário da guerra,
possuindo facilidade de comunicação marítima com a África e a Ásia.
Salvador, em
termos estruturais, estava muito mais preparada.
Apesar de ser já
a capital do Brasil e das reformas implementadas pelo Marquês do Lavradio, o
Rio de Janeiro não tinha a menor condição de servir de capital ao Império
marítimo português.
Influenciado por
seus conselheiros, o príncipe regente remodelou a cidade, calçando as ruas e
criando uma rede de iluminação pública.
Dentro deste
contexto, procurou também modificar o ambiente cultural no Brasil, abrindo os
portos brasileiros, em 1808, aos navios de todas as nações.
Uma medida que
envolveu outras questões que não apenas a cultural obviamente, mas o que atraiu
um bom número de intelectuais estrangeiros que foram responsáveis por um enorme
salto no campo educacional.
Além disto, em
1816, sob a influência de Antônio de Araújo de Azevedo, o Conde da Barca,
intelectual de orientação francesa, D. João organizou a vinda de uma missão
francesa composta por intelectuais para o Brasil.
Como a França estava
envolta em uma agitação social sem precedentes, herdada da revolução francesa,
tendo os franceses sido derrotado pelos ingleses por esta altura, o Conde da
Barca, encarregado de selecionar os intelectuais que seriam escolhidos, não
teve o menor problema para encontrar gente que havia antes apoiado Napoleão e
que estava disposta a vir para o Brasil.
Sob influência
das quarenta e seis pessoas que vieram na missão francesa, foram criados
diversos órgãos e departamentos de Estado, tal como Academia de Belas
Artes.
Foram criadas
ainda, no Rio de Janeiro, a Academia da Marinha, a Academia Real Militar, uma
Escola anatômico-cirúrgica e médica, um curso de Agricultura e a Escola Real de
Ciências Artes e Ofícios.
Na Bahia, em
Salvador, foram fundados o curso de Cirurgia, a cadeira de Economia, o curso de
Agricultura, o curso de Química e o curso de Desenho técnico.
Durante o
governo de D. João foram também estabelecidas quatro instituições que iriam
estimular as ciências no Brasil: o Jardim Botânico, um observatório
astronômico, um museu da mineração e um laboratório químico.
O período
joanino facilitou as mudanças que seriam implantadas depois da independência do
Brasil, tal como a criação da Imprensa Régia, que ajudou a circularem novas ideias,
dentre as quais aquelas advindas da Revolução Francesa e do iluminismo, as
quais estariam por trás de alguns movimentos nativistas de independência.
Ato que foi
acompanhado da extinção da proibição da imprensa no Brasil, o que culminou
imediatamente com a fundação de tipografias particulares no Rio de Janeiro, São
Paulo e Salvador.
Devemos notar
que, apesar da importância que tiveram as mudanças implantadas por D. João VI,
todas as medidas e instituições serviram somente a elite e tiveram como
objetivo formar uma casta dirigente brasileira.
Algo que, em
certa medida, contraditoriamente, foi um responsável pelo fomento da luta em
prol da independência.
Destarte, D.
João VI foi obrigado a partir para Portugal, em um momento em que seu trono
estava ameaçado por lá caso não voltasse.
Deixou seu filho
como regente, o príncipe D. Pedro I, o qual teria, em um lampejo de sabedoria,
pouco afeito ao seu caráter, pressentido que as medidas tomadas por ele mesmo
terminariam fazendo o Brasil se separar de Portugal.
Na verdade, um
contexto gradual que se iniciou ainda no período colonial, tanto que, ao
partir, D. João teria dito a D. Pedro: “Se o Brasil se separar, antes seja para
ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses aventureiros”.
Para saber mais sobre o assunto.
DIAS, Maria
Odila Leite Silva. “A interiorização da Metrópole (1808-1853)”. In: MOTTA,
Carlos Guilherme (Org.). 1822: dimensões.
São Paulo: Scritta, 1995.
DAMATTA,
Roberto. O que faz o brasil, Brasil?
Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
MANCHESTER, Alan
K. Presença inglesa no Brasil. São
Paulo: Brasiliense, 1973.
SODRÉ, Nelson
Verneck. As razões da Independência.
Rio de Janeiro: Graphia, 2002.
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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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