Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 6, Volume dez., Série 10/12, 2015.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
O processo de
formação do Estado Imperial brasileiro comportou mais rupturas e
descontinuidades do que, geralmente, os livros didáticos costumam informar aos
educandos do ensino fundamental e médio.
Isto acontece
porque o material utilizado no ensino brasileiro mitifica a história, mas
também devido a uma visão de curta e média duração, quando os movimentos de
centralização e descentralização só podem ser observados pelo prisma da longa
duração braudeliana.
O próprio
processo de independência, entendido neste sentido, comportou rupturas e
continuidades, com pressões exercidas pela população que refletiram em
rebeliões pontuais e regionalizadas.
O que forçou um
príncipe português a proclamar a independência, pensando em preservar o trono
para sua dinastia e, simultaneamente, manter certa proximidade com a antiga
metrópole.
Para Maria Odila
Silva Dias (1986), por exemplo, este longo processo de formação da nação
brasileira se iniciou com a instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro e
a centralização do poder em torno da capital.
Segundo uma
concepção mais recente, esta centralização política teria sido iniciada ainda
antes da vinda da família real portuguesa para o Brasil, pois a transferência
da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, implicou no
principio da formação da nacionalidade.
As reformas
centralizadoras do Marquês de Pombal, não por acaso coincidiram com a
centralização administrativa e política no Brasil pelo Marques do Lavradio, então
na qualidade de vice-rei.
Tudo dentro do
âmbito da exploração de pedras e metais preciosos como centro da economia, deslocando
para o sul o a capital.
Também não é por
acaso e não se deve somente a contestação do pagamento de impostos, ou a
chegada de ideias iluministas, as revoltas coloniais registradas no período.
A própria
utilização do termo reinol para designar os portugueses nascidos no Brasil,
desde o século XVII, demonstra uma separação e categorização dos súditos da
Coroa.
A palavra era um
termo pejorativo para designar os filhos de portugueses e era utilizada como
ofensa, constantemente empregada para designar, por exemplo, os envolvidos na
Revolta de Vila Rica, em 1720, precursora da Inconfidência Mineira.
Portanto, ao
proclamar a independência, D. Pedro I enfrentou um cenário complexo e precisou
lidar com tendências separatistas regionais que poderiam ter feito a América
portuguesa se fragmentar, tal como ocorreu com a América espanhola.
Uma questão que
intrigou o brasilianista norte-americano Kenneth Maxwell (2000), para quem o
Brasil foi diferente do resto da América Latina porque a presença da família
real lusitana ajudou a consolidar um sentimento de autonomia em relação a Portugal.
Posição não
compartilhada por Evaldo Cabral de Mello Neto (2004), que sustenta a ideia de
que a unidade do Brasil foi preservada devido a interesses britânicos, os
mesmos que trouxeram a corte portuguesa para a colônia.
É dentro deste
contexto defendido pelo último que devemos entender a independência como uma
manobra contra revolucionária, pensada por D. Pedro I para tentar deter o
avanço liberal e anti-monarquista, inspirado pela independência dos Estados
Unidos da América.
O Imperador D.
Pedro I enfrentou oposição ao processo de independência nas províncias do
Grão-Pará, Maranhão, Piauí e Bahia, onde havia uma ligação marítima direta com
Portugal, locais onde foram registrados conflitos armados entre as tropas
imperiais e as milícias locais.
Havia oposição
política até mesmo no Rio de Janeiro, com uma forte tendência dominante, entre
os representantes da Assembleia Constituinte de 1823, em limitar o poder do
Imperador.
Razão pela qual
D. Pedro I fechou a Assembleia, cercando o prédio que a sediava com tropas,
para promulgar sua própria Constituição em 1824, criando o poder moderador que
lhe garantia na prática exercer um poder absolutista.
Além disto,
devemos considerar o crescente descontentamento popular com o governo de D.
Pedro I, acirrado pela Guerra da Cisplatina, a qual gerou enormes somas de
gastos e inúmeras mortes dos súditos engajados nas tropas imperiais e que
terminou com a independência do Uruguai, território antes pertencente ao
Brasil.
Um
descontentamento que acabou gerando a Confederação do Equador em 1824, quando
as províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará iniciaram
este movimento separatista, em uma tentativa frustrada de criar uma Estado
autônomo.
Liderados por
latifundiários e pela classe média, as população destas províncias tiveram suas
intenções abafadas por tropas imperiais, com combates seguidos de prisões e
execuções.
Estes fatores
desgastaram a imagem pública de D. Pedro I, ele manteve a unidade do país, mas,
gradualmente, fomentou uma situação insustentável a sua presença no Brasil, a
ponto de tornar o ambiente tão instável na capital que, em 1831, ocorreu o
conflito nomeado como “Noite das Garrafadas”.
Comerciantes
portugueses que apoiavam o Imperador entraram em luta contra os seus opositores
nas ruas do Rio de Janeiro.
O governo de D.
Pedro I havia se mostrado autoritária, abafando qualquer tipo de oposição,
registrando perseguições políticas e até mesmo um assassinato.
Neste último
caso, o assassinato do jornalista Libero Badaró em 1830, um grande opositor da
centralização autoritária do governo.
O Imperador
mostrou-se inclinado ao beneficiamento dos interesses lusitanos e ingleses após
a independência, gerando grande descontentamento.
O que, somado a
cobrança de retorno de D. Pedro I a Portugal, conduziu a abdicação em favor de
D. Pedro II, então com apenas cinco anos de Idade.
Esta saída
lançou o Brasil ao período da regência, com a consolidação de uma imagem
centralizadora da nacionalidade, o Imperador D. Pedro II, enquanto as elites
locais puderam assumir e lutar pelo poder.
A despeito dos
diferentes projetos para o futuro do país colocados em confronto a partir de
então.
Para saber mais sobre o assunto.
DIAS, Maria
Odila Silva. “A interiorização da metrópole (1808-1853)” In: MOTA, Carlos
Guilherme (org.). 1822: dimensões.
São Paulo: Perspectiva, 1986, p.160-186.
MAXWELL,
Kenneth. “Por que o Brasil foi diferente? O contexto da independência” In:
MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem
incompleta (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000.
MELLO NETO,
Evaldo Cabral de. A outra independência.
São Paulo: Editora 34, 2004.
RAMOS, Fábio
Pestana & MORAIS, Marcus Vinícius de. Eles
formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010.
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Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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