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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Movimentos de centralização e descentralização política no processo de formação do Estado brasileiro.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume dez., Série 10/12, 2015.




Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.



O processo de formação do Estado Imperial brasileiro comportou mais rupturas e descontinuidades do que, geralmente, os livros didáticos costumam informar aos educandos do ensino fundamental e médio.
Isto acontece porque o material utilizado no ensino brasileiro mitifica a história, mas também devido a uma visão de curta e média duração, quando os movimentos de centralização e descentralização só podem ser observados pelo prisma da longa duração braudeliana.
O próprio processo de independência, entendido neste sentido, comportou rupturas e continuidades, com pressões exercidas pela população que refletiram em rebeliões pontuais e regionalizadas.
O que forçou um príncipe português a proclamar a independência, pensando em preservar o trono para sua dinastia e, simultaneamente, manter certa proximidade com a antiga metrópole.
Para Maria Odila Silva Dias (1986), por exemplo, este longo processo de formação da nação brasileira se iniciou com a instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro e a centralização do poder em torno da capital.
Segundo uma concepção mais recente, esta centralização política teria sido iniciada ainda antes da vinda da família real portuguesa para o Brasil, pois a transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, implicou no principio da formação da nacionalidade.
As reformas centralizadoras do Marquês de Pombal, não por acaso coincidiram com a centralização administrativa e política no Brasil pelo Marques do Lavradio, então na qualidade de vice-rei.
Tudo dentro do âmbito da exploração de pedras e metais preciosos como centro da economia, deslocando para o sul o a capital.
Também não é por acaso e não se deve somente a contestação do pagamento de impostos, ou a chegada de ideias iluministas, as revoltas coloniais registradas no período.
A própria utilização do termo reinol para designar os portugueses nascidos no Brasil, desde o século XVII, demonstra uma separação e categorização dos súditos da Coroa.
A palavra era um termo pejorativo para designar os filhos de portugueses e era utilizada como ofensa, constantemente empregada para designar, por exemplo, os envolvidos na Revolta de Vila Rica, em 1720, precursora da Inconfidência Mineira.
Portanto, ao proclamar a independência, D. Pedro I enfrentou um cenário complexo e precisou lidar com tendências separatistas regionais que poderiam ter feito a América portuguesa se fragmentar, tal como ocorreu com a América espanhola.
Uma questão que intrigou o brasilianista norte-americano Kenneth Maxwell (2000), para quem o Brasil foi diferente do resto da América Latina porque a presença da família real lusitana ajudou a consolidar um sentimento de autonomia em relação a Portugal.
Posição não compartilhada por Evaldo Cabral de Mello Neto (2004), que sustenta a ideia de que a unidade do Brasil foi preservada devido a interesses britânicos, os mesmos que trouxeram a corte portuguesa para a colônia.
É dentro deste contexto defendido pelo último que devemos entender a independência como uma manobra contra revolucionária, pensada por D. Pedro I para tentar deter o avanço liberal e anti-monarquista, inspirado pela independência dos Estados Unidos da América.
O Imperador D. Pedro I enfrentou oposição ao processo de independência nas províncias do Grão-Pará, Maranhão, Piauí e Bahia, onde havia uma ligação marítima direta com Portugal, locais onde foram registrados conflitos armados entre as tropas imperiais e as milícias locais.
Havia oposição política até mesmo no Rio de Janeiro, com uma forte tendência dominante, entre os representantes da Assembleia Constituinte de 1823, em limitar o poder do Imperador.
Razão pela qual D. Pedro I fechou a Assembleia, cercando o prédio que a sediava com tropas, para promulgar sua própria Constituição em 1824, criando o poder moderador que lhe garantia na prática exercer um poder absolutista.
Além disto, devemos considerar o crescente descontentamento popular com o governo de D. Pedro I, acirrado pela Guerra da Cisplatina, a qual gerou enormes somas de gastos e inúmeras mortes dos súditos engajados nas tropas imperiais e que terminou com a independência do Uruguai, território antes pertencente ao Brasil.
Um descontentamento que acabou gerando a Confederação do Equador em 1824, quando as províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará iniciaram este movimento separatista, em uma tentativa frustrada de criar uma Estado autônomo.
Liderados por latifundiários e pela classe média, as população destas províncias tiveram suas intenções abafadas por tropas imperiais, com combates seguidos de prisões e execuções.
Estes fatores desgastaram a imagem pública de D. Pedro I, ele manteve a unidade do país, mas, gradualmente, fomentou uma situação insustentável a sua presença no Brasil, a ponto de tornar o ambiente tão instável na capital que, em 1831, ocorreu o conflito nomeado como “Noite das Garrafadas”.
Comerciantes portugueses que apoiavam o Imperador entraram em luta contra os seus opositores nas ruas do Rio de Janeiro.
O governo de D. Pedro I havia se mostrado autoritária, abafando qualquer tipo de oposição, registrando perseguições políticas e até mesmo um assassinato.
Neste último caso, o assassinato do jornalista Libero Badaró em 1830, um grande opositor da centralização autoritária do governo.
O Imperador mostrou-se inclinado ao beneficiamento dos interesses lusitanos e ingleses após a independência, gerando grande descontentamento.
O que, somado a cobrança de retorno de D. Pedro I a Portugal, conduziu a abdicação em favor de D. Pedro II, então com apenas cinco anos de Idade.
Esta saída lançou o Brasil ao período da regência, com a consolidação de uma imagem centralizadora da nacionalidade, o Imperador D. Pedro II, enquanto as elites locais puderam assumir e lutar pelo poder.
A despeito dos diferentes projetos para o futuro do país colocados em confronto a partir de então.

Para saber mais sobre o assunto.
DIAS, Maria Odila Silva. “A interiorização da metrópole (1808-1853)” In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1986, p.160-186.
MAXWELL, Kenneth. “Por que o Brasil foi diferente? O contexto da independência” In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000.
MELLO NETO, Evaldo Cabral de. A outra independência. São Paulo: Editora 34, 2004.
RAMOS, Fábio Pestana & MORAIS, Marcus Vinícius de. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010.



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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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