Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 6, Volume dez., Série 24/12, 2015.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
1. Introdução.
As mudanças socioeconômicas
ocorridas no Brasil, na segunda metade do século XIX; provocadas pela expansão
do café, abolição da escravatura e o inicio da industrialização; conduziram
setores da elite brasileira a acumular grande descontentamento com o
centralismo da monarquia.
Os cafeicultores
do oeste paulista, desejosos, junto com segmentos da classe média, de maior
autonomia, passaram a defender a ideia da instalação do regime republicano.
Foi assim que,
em 1873, fundou-se em São Paulo o Partido Republicano Paulista (PRP).
Alguns meses
após o surgimento do PRP foi fundado, em Ouro Preto (MG), o Partido Republicano
Mineiro (PRM) e; em 23 de fevereiro de 1882, em Porto Alegre, o Partido
Republicano Rio Grandense.
Os republicanos,
porém, não se organizaram em âmbito nacional, antes, dividiam em duas alas: uma
revolucionária, que defendia um movimento armado para depor D. Pedro II; e
outra evolucionista, mais conservadora e desejosa da proclamação da República somente
após a morte do Imperador.
A despeito da
proclamação da República pelos militares, em um golpe de estado que depôs D.
Pedro II e expulsou a família imperial do Brasil; acabou preponderando à linha
mais conservadora no âmbito partidário, a qual se manteria no poder até os dias
de hoje.
2. Os Partidos Políticos durante a República Velha.
O final do
Império foi marcado por várias crises, envolvendo questões relacionadas com a
escravidão, a religião e as aspirações militares do Brasil.
O Império
demonstrou-se antiquado e ineficiente, não conseguindo aplacar seus inimigos,
descontentando os setores que sempre tinham servido de apoio a D. Pedro II,
principalmente os grandes latifundiários, o alto clero e os oficiais do exército.
No dia 15 de
novembro de 1889, o choque de interesses terminou colocando fim na monarquia
parlamentar e iniciando o período republicano que, mais tarde, ficaria
conhecido como República Velha.
Por esta
ocasião, obviamente, foram extintos os Partidos Imperiais e nasceram novas
organizações partidárias republicanas.
Dentro da
amplitude de sua extensão territorial, os interesses das oligarquias regionais
forjou uma relativa autonomia estadual, garantida pela Constituição de 1891.
Aproveitando-se
de sua força econômica nascente, o Partido Republicano Mineiro e Paulista, PRM
e PRP, organizaram acordos para se apossar da máquina Estadual e Federal,
forjando a chamada política do café-com-leite, simbolizada pelo café de São
Paulo e o Leite de Minas Gerais.
No entanto, a
República Velha entraria em declínio na década de 1920, com a crise do café,
abrindo espaço para mudanças na organização partidária.
3. A organização partidária na primeira metade do
século XX.
No inicio do
século XX, a riqueza e infraestrutura advinda com a economia cafeeira, fez
surgir um surto de industrialização na região sudeste, notadamente no Estado de
São Paulo, permitindo o crescimento do movimento operário e fomentando o
surgimento de uma classe média urbana.
Neste contexto,
revoltas comandadas por oficiais do exercito de baixa patente, os chamados
tenentes, eclodiram pelo país.
O clima de
anomia provocou divisões na sociedade que atingiram até mesmo as oligarquias
paulistas, fazendo surgir o Partido Democrático, em 1926, representando uma
aspiração a uma maior autonomia regional, a despeito da política nacional ser
ainda controlado por São Paulo e Minas Gerais.
Não era um
partido de grande importância eleitoral, mas rompia com a tendência
centralizadora do café com leite, por incluir em seu programa reivindicações
tenentistas.
No entanto, a
fundação do Partido Democrático denotava que o predomínio das oligarquias
paulistas e mineiras estava abalado.
Em 1930, Vargas explorou
as rivalidades internas nas oligarquias regionais e chegou ao poder em uma
revolução que reorganização a vida partidária nacional, a qual, em breve, seria
definitivamente suprimida pelo Estado Novo de inspiração nazifascista.
Vargas anulou o
poder dos partidos legais, fechando o Congresso Nacional e eliminando a figura
dos governadores, substituídos por interventores indicados por ele.
Pressionado pela
Revolução Constitucionalista de 1932 e pela constante ameaça de guerra civil, o
ditador acabou convocando eleições para uma assembleia constituinte em 1933.
Os constituintes,
embora tenham criticado a política regionalista dos governadores em voga na
República Velha e os partidarismos, manteve os partidos estaduais na Constituição
de 1934.
Confirmou o
sistema proporcional e a Justiça Eleitoral, indicativos de que Vargas pretendia
organizar eleições partidárias em breve, a despeito de mero embuste para ganhar
tempo e se firmar no poder como ditador.
Por outro lado,
adotou um hibridismo com aspectos copiados de regimes fascistas europeus,
possibilitando o controle sobre sindicatos e movimentos operários.
4. Organizações partidárias de esquerda e a extinção
dos partidos no Brasil.
Enquanto as
oligarquias regionais se enfraqueciam, por conta de rivalidades e interesses
internos, abrindo espaço para a implantação da ditadura varguista; as esquerdas
buscaram se organizar para fazer frente às elites que manipulavam os nascentes
movimentos operários.
O Partido
Comunista Brasileiro (PCB) foi fundado em 1922, nascendo a partir de
dissidências com lideres anarquistas, muitos dos quais italianos imigrados
fugindo de perseguição política em seu país; mas iniciou sua estruturação pelo
menos dois anos antes.
No entanto, o
mesmo fator que conduziu a sua ascensão foi o motivo de seu declínio: a revolução
comunista na Rússia em 1917.
Os operários
brasileiros não estavam dispostos a embarcar em uma luta armada para chegar ao
poder, o nível de escolarização da ampla maioria destes era baixo e sua
erudição não permitiu um entendimento mais completo das complexas ideias marxistas.
Os comunistas
brasileiros recebiam orientações políticas de Moscou e ajuda material, enquanto
Lenin estava vivo o ideal trotskista de colaboração com camaradas de outros
países e internacionalização da revolução permaneceu ativo.
Ao final dos
anos 1920, o partido já estava estruturado e tinha penetração entre os
operários urbanos, embora esta não fosse suficiente para fazer frente aos
tradicionais partidos controlados pelas oligarquias regionais.
A partir da
primeira metade da década de 1930, depois que Luís Carlos Prestes entrou no
partido, a organização ampliou suas bases, pegando emprestado dos tenentes seu
prestigio junto à classe média urbana e alguns setores militares.
Não obstante, os
comunistas tinham ficado à margem dos principais fatos políticos que
antecederam a Revolução de 1930 e durante a Revolução Constitucionalista de
1932.
Segundo a
concepção vigente, este afastamento se justificava em vista das disputas
partidárias serem enxergadas, pela ótica comunista, como conflitos internos das
elites dominantes, choques entre o Imperialismo americano e inglês.
Mesmo assim, os
comunistas foram violentamente perseguidos pelo regime varguista, atuando em
geral na clandestinidade.
Em 1934, no
entanto, foi lançada a Aliança Nacional Libertadora (ANL), com Prestes como
presidente de honra e um programa de conteúdo nacionalista, o qual obteve
adesão de parcela significativa da sociedade.
O novo partido
oscilou entre a intenção de promover uma insurreição armada e de consolidar de
uma aliança de classes para a conquista do poder, chegando a possuir quase 100
mil membros nos poucos meses em que existiu na legalidade.
Em 1935, um
discurso criticando o governo foi o pretexto que Vargas usou para fechar a ANL
e prender seus militantes.
Foi neste
contexto que o PCB começou a preparar para um levante armado, que contava com a
participação de militares de esquerda, rapidamente e com grande facilidade
interrompido pelo governo, antes mesmo de começar, conhecido como Intentona
Comunista.
O que
desencadeou a desarticulação politica da nascente esquerda no Brasil, foram
para a prisão e o exílio não só os revoltosos, mas também simpatizantes da ANL,
além de indivíduos considerados inimigos do regime.
Um episódio que
custou caro às liberdades democráticas, pois o Congresso aprovou todas as
medidas de exceção propostas por Vargas, aceitando até mesmo a prisão de
parlamentares, que tinham imunidade.
Até mesmo o
poder Judiciário foi afetado, perdendo sua autonomia, a partir da criação de
tribunais e comissões especiais para julgar os prisioneiros segundo normas que
não obedeciam aos princípios jurídicos da Constituição em vigor.
O chefe de
polícia do Rio de Janeiro teve seus poderes ampliados, passando a prestar
contas apenas ao presidente da República.
Em seguida, o
que aconteceu a oficialização do que na prática já existia desde 1930: uma
ditadura que implantou o Estado Novo em 1937.
Uma das
primeiras medidas adotadas por Vargas, agora com poderes estendidos e
referendados pelo Congresso, foi extinguir os partidos e organizações
políticas.
Depois, o próprio
Congresso foi fechado, iniciando uma fase de centralização política onde não
existiam partidos políticos.
3. O fim do Estado Novo e a reorganização
partidária.
O envolvimento
do país na 2º. Guerra Mundial e a derrocada no mundo do autoritarismo levou a
decadência do Estado Novo, os mesmos oficiais e soldados enviados por Vargas
para lutar ao lado dos estadunidenses contra os nazistas, ao retornarem ao
Brasil propagaram as ideias republicanas democráticas, derrubando o ditador.
Após o fim da guerra,
embora com margem de manobra cada vez menor, Getúlio Vargas continuou tendo
condições de manejar a vida política do país; mas passou a sofrer forte pressão
das forças armadas para encerrar o Estado Novo.
Em 1945,
publicou um decreto que obrigava os partidos políticos a se organizarem em
âmbito nacional para o seu registro no Tribunal Superior Eleitoral; pretendendo
obter vantagem sobre seus eventuais adversários no processo eleitoral que se
tornara inevitável.
Vargas utilizou a
centralização em torno do Estado para criar dois partidos políticos baseados em
áreas que ainda controlava: o PSD, formado por grandes latifundiários e
industriais dependentes das compras governamentais sobre o que produziam; e o
PTB, que aproveitava a imagem de pai dos pobres construída pela maquina de
propaganda do Estado Novo.
O Partido Social
Democrático (PSD) aglutinou nos antigos interventores, encarregados das
instituições públicas, e boa parte daqueles que tinham se beneficiado com o
centralismo varguista, resultando em um partido voltado para continuidade do
varguismo.
O Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) tinha como líderes dirigentes sindicais que
controlavam verbas previdenciárias, compartilhadas com o governo através dos
institutos classistas, então autarquias.
Estes dois
partidos davam um caráter de duplicidade ao partido, que buscava manter o poder
do funcionalismo estatal do qual Vargas havia se apropriado e atender algumas
reivindicações trabalhistas, chamariz para manobrar a classe operária.
A formação do
PSD e do PTB deixou pouco espaço para os opositores, mas permitiu o
aglutinamento de forças regionais que conseguiram formar um terceiro partido
nacional: a União Democrática Nacional (UDN).
As antigas
desavenças regionais não tardariam a aparecer, enfraquecendo o novo partido e
impedindo que chegasse ao poder.
Logo surgiram
divisões, depois de um tempo, dois elementos contraditórios compunham sua base:
liberais e militares centralizadores.
Nas primeiras
eleições, em 1945, a vitória foi do PSD, o partido conseguiu eleger 61% dos
senadores e 52% dos deputados constituintes.
Em segundo lugar
ficou a UDN, com 24% do Senado e 27% da Câmara.
Em terceiro, o
PTB, com 5% do Senado e 8% da Câmara.
A partir desta
eleição, articulou-se uma aliança nacional que durariam quinze anos, vencendo
três eleições presidenciais e mantendo a maioria no Congresso: PSD e PTB,
garantindo a permanência do varguismo no poder.
4. O populismo e a organização partidária.
O apoio
conseguido para a centralização do Estado Novo transformou-se, no período democrático,
em poder estabelecido, configurando o que ficou conhecido como populismo.
Os principais
partidos desta fase foram o PSD, a UDN e o PTB que ocuparam 79,8% de todas as
cadeiras na Câmara dos Deputados e 86,2% dos assentos no Senado Federal, ao
longo das cinco legislaturas.
O Partido Social
Democrático (PSD) foi o maior do Brasil ao longo de toda a República Populista,
elegendo as maiores bancadas no Congresso Nacional em todos os pleitos que
disputou.
Foi o único
partido que conseguiu se organizar em todas as unidades da federação para a
disputa das eleições de 1945.
Foi por este
partido que o general Eurico Gaspar Dutra elegeu-se presidente em 1945, com
55,3% dos votos válidos.
Na eleição de
1950, os setores mais importantes do partido deixaram o seu candidato oficial,
Cristiano Machado, para apoiar Getúlio Vargas.
Em 1955, o
partido voltaria à presidência com a candidatura de Juscelino Kubitschek,
eleito com 35,7% da votação.
Em 1960,
concorreu o marechal Henrique Lott que ficou com 32,9% dos votos.
A União
Democrática Nacional (UDN) foi o segundo maior partido deste período, obtendo
sempre êxito parcial nas eleições; continuadamente dividido internamente, não
conseguiu vencer uma única eleição presidencial.
Depois de
derrotado nas 1945, 1950 e 1955, a UDN só obteve uma vitória parcial em 1960,
quando apoio um candidato que não era de suas fileiras, mas tinha apoio
popular: o ex-governador de São Paulo, Jânio Quadros; que recebeu 48,5% dos votos,
quase o dobro de seu adversário.
A eleição de
Jânio não trouxe dividendos políticos, no Congresso, a UDN ficou com apenas 22%
das cadeiras, contra 56% de seus adversários tradicionais, o PSD e o PTB.
Sem base de
apoio no Congresso e não contando nem mesmo com sustentação dentro da UDN,
Jânio terminaria por renunciar em 1961, em uma tentativa de golpe fracassada.
Como se não
bastasse, como na época havia votações em separado para os cargos de presidente
e vice, João Goulart, do PTB, passou a ocupar a cadeira de vice-presidente,
marcando a preponderância e continuidade da herança varguista.
O Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) era então o terceiro maior, registrando igualmente
o maior crescimento eleitoral ao longo deste período populista.
Em 1962,
suplantou a UDN e passou a ser o segundo maior partido dentro do Congresso
Nacional.
O partido era
formado por uma corrente nacionalista e reformista e por um grupo tradicional
clientelista.
O PTB foi um
constante aliado do PSD na disputa das eleições presidenciais, apoiando as
candidaturas em 1945, 1955 e 1960.
Em 1950, Getúlio
Vargas elegeu-se presidente pelo PTB, com 48,7% dos votos.
Para além do
PSD, PTB e UDN, surgiram outros partidos, nenhum deles com abrangência nacional
ou força suficiente para fazer frente aos três.
Dentre estes
destacaram-se: o Partido Social Progressista (PSP), de Adhemar de Barros,
governador de São Paulo, com grande força regional; o Partido Republicano (PR);
o Partido Democrata Cristão (PDC), que elegeu Jânio Quadros Presidente, em
1960, com o apoio da UDN; e o Partido da Representação Popular (PRP), herdeiro
da Ação Integralista Brasileira, tendo Plínio Salgado como seu líder e uma
trajetória ligada ao nazifascismo.
O Partido
Comunista Brasileiro (PCB) foi legalizado em 1945, elegeu 14 deputados federais
e tornando-se o quarto maior partido na Câmara dos Deputados, o seu líder, Luís
Carlos Prestes, foi eleito para o Senado.
O partido chegou
a disputar a primeira eleição presidencial após o fim do Estado Novo, ficando
em terceiro lugar com o candidato Yedo Fiúza.
Em maio de 1947,
porém, o PCB teve o seu registro eleitoral cancelado pelo Tribunal Superior Eleitoral,
por razões ideológicas, o mundo vivia o inicio da Guerra Fria e a pressão
estadunidense pelo alinhamento em suas fileiras era grane sobre o Brasil.
Mesmo na
ilegalidade, o PCB tinha a hegemonia da esquerda brasileira, uma situação que
só começou a ser alterada em 1962, quando as revelações dos crimes praticados
por Stalin na URSS causaram uma divisão interna.
Os comunistas se
dividiram em Partido Comunista Brasileiro (PCB), que continuou fiel a Moscou; e
o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que passou a se ligar à China e depois à
Albânia.
Os partidos
comunistas continuaram atuando politicamente na clandestinidade até retornar à
legalidade, em 1985, depois da abertura política da ditadura de 1964.
5. A ditadura militar de 1964 e o bipartidarismo.
Depois de um
período conturbado em que a UDN tentou impedir a posse do vice-presidente, após
a renúncia de Jânio Quadro e que, por intermédio de Leonel Brizola (governador
do Rio Grande do Sul), foi articulado um acordo para impedir uma guerra civil;
João Goulart assumiu a presidência, em 1961, em meio a uma experiência
parlamentarista, criada para reduzir os poderes do executivo.
Quando o plebiscito
que referendaria o parlamentarismo foi antecipado, permitindo a Jango recuperar
seus poderes, sua proposta reformista inseriu-se no âmbito da Guerra Fria como
uma suposta ameaça comunista.
Em 1964, as
elites e as forças armadas, sob o pretexto de livrar o Brasil dos comunistas,
deram um golpe de Estado e implantaram uma ditadura que se estendeu até 1985.
Inicialmente, os
partidos políticos do período populista continuaram a funcionar, mas derrotas
eleitorais do governo militar, em 1965, conduziram a extinção de todos os
partidos.
Governando
através de decreto, nomeado como Ato Institucional (AI), os militares
promulgaram AI-2.
As eleições
presidenciais passavam a ser indiretas, com candidatos indicados pelos
militares e presidente escolhido pelo Congresso.
Para controlar
este processo e sua possibilidade de escolha, o sistema multipartidário foi
extinto, transformado em bipartidarismo.
Passaram a
existir apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), controlado
pelos militares; e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), agregando todos os
segmentos que se opunham a ditadura.
O partido de
apoio ao governo foi formado com dois terços dos parlamentares (250 deputados e
40 senadores), para conseguir maioria os militares cassaram direitos políticos
de opositores ao regime, garantindo o controle do Congresso.
A maioria dos
parlamentares da ARENA provinha da antiga UDN, que havia apoiado o golpe e fora
pouco atingida pelas cassações e perseguições, mas também reunia a maioria dos
ex-membros do PSD, partido considerado de centro.
Os políticos do
PSD que juntaram a ARENA não tinham simpatias pelos militares, mas não pretendiam
abandonar as estruturas do Estado que controlavam desde a Era Vargas.
Apenas uma
pequena parcela do PTB se juntou a ARENA, composta de 25 parlamentares.
Os poucos
políticos eleitos que tiveram coragem de se reunir na agremiação de oposição ao
governo militar formaram o MDB, que conseguiu reunir 120 deputados e 20
senadores.
A maior parte
dos fundadores (cerca de 65% dos parlamentares), eram sobreviventes do antigo
PTB que não haviam perdido seus mandatos.
O segundo
contingente mais importante (cerca de 30% dos fundadores) eram políticos do PSD
que haviam preferido o caminho da oposição, depois de mais de duas décadas como
situação.
Uma pequena
fração do partido, cerca de 5% dos fundadores, era de antigos membros da UDN, o
partido político dos golpistas; composta por arrependidos com as consequências
do movimento que haviam ajudado a deflagrar, que visualizavam a perda de autonomia
política dos civis para os militares.
O MDB era, então,
quando surgiu, um partido pequeno, sem grande expressão; as maiores lideranças
oposicionistas estavam cassadas, presas, mortas ou exiladas.
O partido só
ganharia dimensão político-eleitoral na segunda metade da década de 1970,
quando a ditadura começou a apresentar sinais de enfraquecimento, advindo com
políticas econômicas equivocadas e a instalação uma permanente e crescente
crise inflacionária.
O regime militar
implantado, por motivos óbvios, desde o inicio, perseguiu o PCB e PCdoB, assim
como todas as tendências que considerava de esquerda.
O que não
impediu o crescimento da influência da esquerda entre diversos segmentos da
sociedade, sobretudo entre os mais jovens e nos meios universitários.
Ao contrário,
quanto mais endureceu a perseguição à esquerda; com prisões ilegais, tortura e assassinatos;
a ideologia pela marxista e trotskista tornaram-se mais difundidas, chegando a
penetrar na Igreja Católica e originar a chamada teologia da libertação.
Na clandestinidade,
a esquerda começou a organizar uma luta armada contra a ditadura; fazendo
surgirem organizações partidárias clandestinas.
Em 1966, foi
fundado o Partido Comunista Revolucionário (PCR) e Movimento Revolucionário oito
de outubro (MR-8); e em 1967, as Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN).
Em 1968, quando
os militares promulgaram o AI-5, fechando o Congresso, esta tendência se intensificou;
surgiram a Aliança Libertadora Nacional (ALN), o Partido Comunista Brasileiro
Revolucionário (PCBR) e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Impedidos de
participar ou ter voz, a oposição à ditadura engrossou as fileiras da esquerda
na clandestinidade; surgiram, em 1969, o Movimento Revolucionário Tiradentes
(MRT); em 1970, o Movimento Revolucionário Marxista (MRM).
Em 1971, nasceu o
Movimento de Libertação Popular (MOLIPO); em 1974, o Movimento Popular de
Libertação (MPL).
Os militantes destes
grupos se envolveram em ações de guerrilha, sequestros e assaltos a bancos como
forma de obter financiamento para lutar contra a ditadura.
Foram perseguidos
e brutalmente caçados pelas forças armadas e organizações instituídas pelo
governo para compor um aparelho repressivo.
Enfrentado uma
grave crise econômica para a qual não tinham solução e a oposição de parcela
significativa da população, os militares iniciaram uma abertura lenta e gradual
no final da década de 1970.
Durante o
governo do último dos generais da ditadura, Figueiredo, o bipartidarismo foi
extinto e reintroduzido o pluripartidarismo.
Tratava-se de
uma estratégia para tentar dividir os adversários do regime e dar uma sobrevida
a ditadura, mas colocou em marcha um inevitável processo de encerramento da prevalência
dos militares no poder.
6. A redemocratização e o retorno do
multipartidarismo.
No final do período
ditatorial, a Arena transformou-se em PDS (Partido Democrático Social), mas
continuou sendo o que era: o partido de sustentação do governo militar.
Parte dos seus parlamentares
preferiu sair para o Partido Popular (PP), formado juntamente com moderados do
antigo MDB, o mais destacado dos quais era Tancredo Neves.
O MDB transformou-se
no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), convertendo-se em um
grande partido político, que lutava pelo retorno da democracia, fazia campanhas
nas ruas, com maciço apoio da população por eleições imediatas, conhecido pelo
slogan “diretas já”.
O Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) se reorganizou, renascido sob o comando de Ivete
Vargas, sobrinha de Getúlio Vargas, mas agora com um teor conservador, bem
distante do velho PTB dos anos 50.
O ex-governador
Leonel Brizola fundou o PDT (Partido Democrático Trabalhista), de postura
populista.
O partido de esquerda,
com maior apelo eleitoral, organizou-se a partir da liderança de um
sindicalista que obteve vitórias importantes durante a ditadura, a favor de
avanços nos direitos trabalhistas dos operários da região do ABC paulista.
Assim, nasceu
Partido dos Trabalhadores (PT), fundado por políticos de esquerda e os novos
sindicalistas que surgiram depois das greves de 1978 e 1979, lideradas por Luís
Inácio da Silva, o “Lula”.
Defendia a
existência de uma organização operária independente do Estado, em beneficio dos
operários urbanos.
No entanto, as
eleições de 1985 terminaram por ser indiretas, o Congresso escolheu Tancredo
Neves, candidato do PMDB, como presidente; tendo José Sarney como vice, marcando
o fim de um regime autoritário que durou 21 anos.
Sarney era um
político ligado a ARENA, mas passou a fazer parte do Partido da Frente Liberal,
uma dissidência que se aliou ao PMDB nas eleições de 1985; que garantiu a vitória
da oposição contra o candidato apoiado pelos militares, Paulo Maluf,
ex-governador de São Paulo nomeado como interventor.
Tancredo não
chegou a assumir o cargo, faleceu antes, em um episódio até hoje mal
esclarecido; Sarney tornou-se presidente, tendo a frente o desafio de
consolidar a abertura da democracia e resolver o problema da grave crise econômica
instalada pela ditadura.
7. A organização partidária após 1985.
Finalizado o
regime ditatorial, em 1985, a Aliança Democrática, formado pelo PMDB e Frente
Liberal, aprovou no Congresso a Emenda Constitucional nº 25, que restabeleceu
as eleições presidenciais diretas.
Ficou autorizada
a livre criação de novos partidos políticos e a reorganização de todas as
siglas que tivessem tido os seus registros indeferidos, cancelados ou cassados
durante o regime militar.
O que permitiu a
legalização do PCB e PCdoB, partidos comunistas perseguidos e mantidos na
ilegalidade desde antes da ditadura.
Ainda em 1985,
foi aprovada a lei 7.454, que alterou vários dispositivos do Código Eleitoral
em vigor desde 1965; permitindo, que todos os partidos com registro provisório
ou em formação pudessem participar das eleições para a Assembleia Nacional
Constituinte.
Neste mesmo ano,
uma dissidência do PDS fez surgir o Partido da Frente Liberal (PFL), alinhado a
direita e conservador, reduto das velhas oligarquias, sobretudo do Nordeste,
defendendo depois o liberalismo e a economia de mercado.
Uma Nova
Constituição foi promulgada em 1988, alterando a condição jurídica dos
partidos, quando entes públicos passaram a ser privados, concedendo plena
autonomia para que cada agremiação partidária determinasse suas próprias regras
internas de organização e funcionamento, estimulando o nascimento de novos
partidos.
Neste mesmo ano,
dissidentes do PMDB, descontentes com os rumos políticos do partido,
principalmente durante a elaboração da Constituição; criaram o Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB).
Em 1986, inspirado
em similares europeus, foi fundado o Partido Verde (PV), para lutar pela
liberdade, paz e ecologia, pelos direitos civis, pela autonomia, autogestão e
formas alternativas de vida.
A partir de
membros do PCB que passaram a rejeitar o símbolo da foice a martelo, comandados
pelo senador Roberto Freire, em 1992, foi fundado o Partido Popular Socialista
(PPS); que disputou a Presidência da República em 1998 e 2002 com o candidato
Ciro Gomes (ex-PSDB), que, depois, filiou-se ao PSB.
Em 1993, surgiu
o Partido Progressista (PP), sucessor direto da ARENA; no mesmo ano, o PDS se
aliou ao PDC (Partido Democrata Cristão) para fundar o Partido Progressista
Reformador (PPR).
Opondo-se ao
capitalismo e defendendo a volta dos regimes comunistas após a derrocada da
URSS, em 1994, surgiu o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU),
agregando várias correntes de militantes revolucionárias stalinistas.
Em 1995, dissidentes
do PPR e PP, criaram o PPB (Partido Progressista Brasileiro).
O PSOL (Partido
Socialismo e Liberdade) foi fundado em 2004; composto principalmente por
estudantes, trabalhadores, profissionais liberais e dissidentes do Partido dos
Trabalhadores (PT); alinhado à esquerda e presidido pela senadora alagoana
Heloísa Helena.
Por fim, em
2015, surgiu o Partido Rede Sustentabilidade, reunindo ex-membros do PV e do
PT, sob uma bandeira de defesa da ecologia.
8. Concluindo.
Teoricamente, um
importante componente do sistema democrático reside na conexão entre partidos e
eleitores, é a chamada identificação partidária.
Conceito que se
tornou o principal fator teórico na explicação do comportamento eleitoral e um
paradigma na análise da estabilidade do sistema partidário durante as décadas
de 1950 e 1960.
Porém, o
histórico, do desenvolvimento partidário durante o período republicano no
Brasil, demonstra baixa conexão entre eleitores e identificação partidária desde
os primórdios.
Inversamente, a
partir da redemocratização decorrente do final da ditadura militar no Brasil,
registramos decrescente importância dos laços entre partidos e eleitores.
Como se não
bastasse, a queda na identificação partidária com a ideologia representada e o
aumento dos sentimentos antipartidários, não parecem ser fenômenos restritos à
democracia brasileira.
É facilmente
observado em outras democracias recentes, compondo um padrão de comportamento
registrado tanto no sul da Europa, quanto no leste europeu pós-soviético e
América latina como um todo.
No Brasil, parte
da literatura especializada aponta para o baixo conhecimento das lideranças,
para políticos apartidários, forte aversão às legendas e baixa identificação
com os partidos políticos.
As taxas de
identificação partidária que se encontravam em 64% no final do período
democrático de 1945-64, e em 70% durante o bipartidarismo imposto pelo regime
militar; tiveram uma média de 46% durante o período de 1989-2002.
Apontando para
um iminente desastre anunciado, onde estes fatores agregados podem conduzir a
ruptura com os valores democráticos e, paradoxalmente, a eleição de indivíduos despreparados
e interessados no enriquecimento através da política; ou pior, buscando o poder
para se vingar de inimigos.
Devemos lembrar
que, um cenário parecido, conduziu a Europa, na década de 1930, a regimes
nefastos de extrema direita (fascismo e nazismo), acarretando no maior conflito
armado da história da humanidade, a 2º. Guerra Mundial.
Para saber mais sobre o assunto.
COSTA, Vanda
Maria R. "Origens do Corporativismo Brasileiro" In: Boschi (org.).
Corporativismo e Desigualdade. A
Construção do Espaço Público no Brasil. Rio de Janeiro: Iuperj/Rio Fundo
Editora, 1991, p.113-146.
COSTA PINTO, Luís
de A. Lutas de Família no Brasil
(Introdução ao seu Estudo). São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1949.
DELLA CAVA, Ralph.
Miracle at Joazeiro. New York:
Columbia University Press, 1970.
DINIZ, Eli. Voto
e Máquina Política. Patronagem e
Clientelismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
DUARTE, Nestor.
A Ordem Privada e a Organização Política Nacional. São Paulo: Companhia.
Editora Nacional, 1939.
FAORO, Raymundo.
Os Donos do Poder: formação do Patronato
Político Brasileiro. Porto Alegre: Globo, 1958.
SCHMITT,
Rogério. Partidos políticos no Brasil
(1945-2000). Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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