Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
Não possui fins lucrativos, seu objetivo é disseminar o conhecimento com qualidade acadêmica e rigor científico, mas linguagem acessível.


Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Peronismo – Parte 5: o fascismo “terceirista”.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume set., Série 23/09, 2010.


Como todo regime fascista, o peronismo se apresentava como "terceirista".
Em outras palavras, dizia advogar uma terceira posição, nem capitalista, nem socialista.
Isto, a semelhança do NSDAP (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães), que ficou conhecido por sua abreviação “Nazi”, na Alemanha de Hitler e que também dizia advogar uma terceira posição.

Peronismo e nazismo, algumas aproximações.
É interessante notar que o partido nazista alemão atrai, na sua origem, como o peronismo, tanto elementos da extrema direita como esquerda.
Estes últimos foram expurgados por Hitler do partido em 30 de junho de 1934, eles exigiam o aniquilamento dos patrões e proprietários, em uma segunda revolução, o que fez a ala direitista pedir providências imediatas ao partido.
Como os fascistas alemães e italianos, os peronistas acreditavam ser a esperança de um novo mundo.
Acreditavam serem os detentores de um novo sistema que se dizia nem capitalista, nem socialista; mas que não passava de um capitalismo conservador de extrema direita.
Dentro deste contexto, seu caráter socialista nada mais era do que pura demagogia propagandista, destinada a iludir sua massa de manobra, ou seja, os trabalhadores.
Na verdade objetivava combater o comunismo, através da ilusão de que poderia servir de base para a implantação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Deste modo, o peronismo, como todo fascismo, era pura e simplesmente o capitalismo levado as suas ultimas conseqüências.
O que não deixa de constituir um terceiro caminho, porém não um caminho ao centro, mas sim um caminho mais a direita.
Tanto é que o próprio Perón admitiu, que sua ideologia era apenas uma outra forma de capitalismo, segundo afirmou em discurso, datado em 1946:

“Não somos de maneira alguma inimigos do capital, e se verá no futuro que temos sido seus verdadeiros defensores. É mister discriminar claramente entre o que é capitalismo internacional dos grandes consórcios de exploração forânea e o que é capital patrimonial da indústria e comércio. Nós temos defendido este último e atacado sem quartel e sem trégua o primeiro”.

O terceirismo peronista e os argentinos.
Obviamente, a classe detentora do capital, terminou aderindo ao peronismo depois que Perón advogou ser o “terceirismo” o único modo de controlar a massa, manter a ordem e combater o terrível fantasma do comunismo.

Perón, tal como Hitler, negociava com grandes industriais, e deles recebia dinheiro prometendo proibir as greves.

Como afirma Reich, autor de um estudo sobre a psicologia de massas do fascismo, “foi sem dúvida a estrutura psicológica do trabalhador médio que impediu os homens comuns enxergar as contradições.
O peronismo conseguiu alcançar um consenso entre diferentes grupos, com interesses distintos entre si, e que se temiam mutuamente; conseguindo manter-se no poder, com o seu suposto “terceirismo”, por pouco mais de dez anos.
Sem dúvida, parece ser uma característica, de todo e qualquer tipo de fascismo, agradar gregos e troianos simultaneamente, sem que os troianos (no caso os operários) percebam o presente de grego que lhes é oferecido.
A estrutura do fascismo, ao colocar-se demagogicamente como “terceirista”, operou como fator de agregação, convocou as massas a aderir a uma luta pelo nacionalismo e pelo desenvolvimento do poderio nacional, em detrimento do internacionalismo representado pelo comunismo.
Ao agir assim, operou em favor dos capitalistas de seu país, manobrando as massas, e comprando sua liberdade através de bens materiais.
Todos os tipos de fascismo, inclusive o peronismo, colocam-se sempre como “terceirista”, mas são na verdade apenas capitalistas que levam a doutrina até as últimas conseqüências.

Peronismo foi um fenômeno fascista?
Apesar de muitas vezes, por razões obvias, Perón negar a identificação de sua doutrina com o nazismo.
Em outras ocasiões deixou claro que o nazismo serviu de fonte de inspiração para a construção do fascismo peronista argentino.
Como se pode facilmente ser notado através do seguinte discurso pronunciado em 17 de agosto de 1944, quando o nazismo começava a ser derrotado na Europa:

“Pelas idéias que professo tenho sido atacado por pessoas interessadas, o mesmo que se sucede com todos os indivíduos bem intencionados. Declaro que não me creio nunca possuidor único da verdade; porém também afirmo que confesso o que sinto e o que penso (...) Se me tem atacado porque manifesto que cada grêmio sindical deve ser unitário. Me dizem que pensando assim, eu devo declarar que os nazis tem razão; e se digo isto, é precisamente porque não me ato a prejuízos ridículos de uma determinada ideologia, em paralelo, vou eu buscar a verdade onde ela está”.

Em seu discurso, Perón evidencia que enxergava o nazismo como uma saída possível, na medida em que também considerava os alemães “terceiristas”.
Como pretexto para inspirar-se no nazismo, Perón usou o artifício de dizer-se livre de prejuízos, ou se preferirem preconceitos, afirmando que buscava a verdade onde ela estava, colocando-se como detentor da verdade, assim como os nazistas.
Sendo assim, tentava justificar suas idéias, nitidamente de caráter e inspiração nazifascista, como sendo verdadeiras e por isto justas, portanto, ideais para a realidade argentina.
Obviamente, a posição “terceirista” adotada pelo peronismo, em uma época de bi-polarização mundial em dois blocos, não poderia ser sustentada sozinha por um país pequeno e militarmente fraco como a Argentina.

Exatamente por esse motivo, Perón buscou o apoio inglês.
No entanto, pode rapidamente perceber que não conseguiria este apoio gratuitamente.

Perón nunca foi unanimidade, mas o peronismo sim.
Sempre existiu uma divisão interna no partido peronista, que se torna cada vez mais latente depois que Perón foi destituído da presidência pelo golpe militar de 1955.

Nas eleições de 1957, com Perón exilado fora do país e seu partido na clandestinidade, o qual havia sido dissolvido e declarado ilegal poucos meses depois do golpe de 1955, somente os votos em branco chegam a somar 24% do sufrágio total, deixando claro que o peronismo estava vivo e ativo.

Os votos em branco representavam um repudio ao fato dos peronistas não poderem ser votados.
Em 1958, Perón firmou um acordo secreto com Frondizi, candidato a presidência, que prometeu legalizar novamente o partido peronista, obviamente, em troca de votos.
Os peronistas estavam então divididos entre os que aceitam apoiar Frondizi, e os que pregam o voto em branco.
Em fevereiro de 1958, os votos em branco chegam a oitocentos mil sufrágios, embora Frondizi tenha conseguido ser eleito com a ajuda da facção que seguia a risca as orientações enviadas por Perón do exílio.
Cabe notar que os dissidentes, tanto de esquerda como de direita, votaram em branco, não por discordarem da orientação de Perón, mas sim por não acreditaram que Perón tivesse enviado a orientação.
Um fato que constitui um grande empecilho as tentativas de organizar uma volta os poder, uma vez que dada a distancia, muitas mensagens enviadas por Perón eram consideradas falsas ou alteradas.
Mais tarde, quando realmente foi confirmada a existência do pacto, muitos peronistas não conseguiram acreditar que Perón tivesse tomado a decisão, consideravam a união com Frondizi um ato vergonhoso que traia os ideais do movimento peronista.
Não obstante ao racha no partido peronista, as tentativas de voltar ao poder continuariam, tanto por parte da vertente que defendia a luta armada, um grupo menos numeroso; como dos defensores do retorno por meios legais e através do protesto, representado pelo voto em branco.
Muito embora, alguns elementos da nascente esquerda peronista, começassem a desconfiar de certas posturas adotadas por seu líder, questionando a fidelidade de Perón para com as metas sociais.
O governo responsável pela queda de Perón seqüestrou o corpo embalsamado de Evita; considerada como a “mãe dos pobres”.
Eva Perón havia se tornado um verdadeiro peronista, sobretudo da ala sindical (CGT).
O novo governo manteve o corpo em um furgão que perambulou durante meses pelas ruas de Buenos Aires para evitar sua localização.
Depois da queda de Perón, o governo passou a considerar essencial evitar que o cada ver de Evita pudesse se tornar objeto de veneração; mais tarde, chegando a transportá-lo clandestinamente para a Europa.
O corpo percorrendo um tortuoso roteiro que terminou em uma cova anônima na Itália; para retornar a Argentina, depois de passar pela Espanha, onde então Perón encontrava-se exilado.
O cadáver só retornaria a Argentina depois da reabilitação do peronismo; mesmo assim, depois que a guerrilha peronista, na década de 70, roubou do cemitério o cadáver do general e ex-presidente Pedro Arambúru, um dos cabeças do golpe contra Perón em 1955.
Em troca do corpo, os peronistas exigiram como resgate a devolução de Evita.

Para saber mais sobre o assunto.
Acompanhe os próximos artigos na Revista.

Texto:

Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esteja a vontade para debater ideias e sugerir novos temas.
Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.