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Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

História, temporalidades e fronteiras.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume set., Série 15/09, 2010.


Introdução.

Uma análise detalhada demonstra que o conceito de história comporta múltiplas definições, cada qual adequada ao seu conjunto teórico e a sua concepção de temporalidade.
Não é possível falar de uma história singular, já que as fronteiras teóricas da história são cada vez mais difíceis de serem delimitadas.
De modo que, se existe um paradigma em história, este só pode ser considerado como o tempo histórico em que o historiador se circunscreve.
A natureza do conhecimento histórico comporta uma pluralidade de teorias contraditórias entre si e que explicam o passado plausivelmente, fornecendo ângulos e visões distintas que não se anulam.
Portanto, é essencial fazer uma filosofia da história, discutir as suas fronteiras e a vinculação com outras áreas do saber humano.
O que implica em discutir a delimitação fornecida pela escolha metodológica das temporalidades e os nuances que fazem com que a história esteja fixada no limiar entre a ciência e a literatura.  
A compreensão da natureza do conhecimento histórico é, sem duvida, o primeiro passo para avaliar sua contribuição para o entendimento do mundo contemporâneo.

O conceito de história e suas fronteiras.
Definir o conceito de história é uma tarefa complexa, implica em discutir concepções múltiplas, transitando pelas escolas historiográficas e outras ciências que produziram leituras distintas do passado.
Como lembrou Horkheimer, os homens não são apenas um resultado da história, sendo a maneira como vêm e ouvem inseparável do processo de vida social desenvolvido ao longo dos séculos.
Os fatos que os sentidos nos fornecem são pré-formados de modo duplo: pelo caráter histórico do objeto percebido e pelo caráter histórico do órgão perceptivo.
Neste sentido, história e filosofia se confundem, possuem o mesmo objetivo, entender a realidade através da observação.
Cabe lembrar que, a rigor, a história transformou-se em área distinta da filosofia somente no século XIX.
Na ocasião, a história passou a procurar encontrar universalidades em fatos singulares, calcada em documentos oficiais, tentando encontrar explicações para o presente.
Porém, na prática, a história continua dependente da filosofia, assim como é hoje também da sociologia, da geografia, da antropologia e de tantas a outras áreas do conhecimento.
O que remete ao debate em torno das fronteiras teóricas da história.
Uma discussão na qual se insere a questão das temporalidades, uma vez que a própria abordagem deste elemento pelos historiadores reavivou a temática, demonstrando como as investigações históricas são inviáveis sem o auxilio de outras áreas.

O tempo na história.
Na história, o tempo aparece sob as mais diferentes formas, é uma conseqüência, uma variável que integra a definição de realidade, embora não reflita um conceito absoluto.
Já a temporalidade, entendida como percepção da passagem do tempo, demonstra uma dimensão que reconfigura os fatos.

No entender de Paul Ricoeur, o tempo é um processo social intuitivo que progride com o amadurecimento psicológico do sujeito que supõe sua especificidade.

Remetendo a uma constante reconfiguração da definição de tempo.

Este conceito, aplicado ao conhecimento histórico, suscita um duplo questionamento: primeiro sobre a natureza do que se entende como tempo e depois como isto se articula com as temporalidades e as fronteiras da história.
Em linhas gerais, o tempo pode ser entendido como físico, social ou histórico.
Uma visão objetiva, vinculada com as ciências biológicas e a psicologia, defende a idéia de que a realidade do tempo é apenas uma percepção sensorial, não sendo, portanto, uma criação intelectual do homem.
Por outro ângulo, para as ciências sociais, além do tempo existencial percebido, existe também um “tempo do relógio”, este sim uma convenção humana.
Sendo uma invenção sociológica, o tempo é uma instituição que se constrói conforme a natureza da sociedade, assumindo funções precisas para organizar a coexistência entre as pessoas e a divisão de tarefas.
Analisado pelo viés filosófico, na antiguidade, o tempo foi concebido por Platão como um acontecimento anterior a um posterior, mera conseqüência com limites apenas vagamente definidos.
Um conceito que trazia implícito tanto o tempo físico como o social, à medida que utilizado como base para medir as épocas do ano, o momento de semear e colher, as épocas da paz, das guerras e dos heróis.
Para Aristóteles, a ideia de tempo só pode existir se admitido antes o conceito de movimento, alterações de estado, transformações perceptíveis, as quais podem ser aplicadas também ao aspecto físico e social, já que constitui uma referência para homem balizar suas opiniões.
Concepções que se tornariam preponderantes no mundo Ocidental até o século XVI, quando o tempo assumiu uma magnitude uniforme e homogênea, convertendo-se em pura unidade de medida para o entendimento do mundo físico, sendo deixado de lado seu viés social.
Isaac Newton reforçou esta ideia no século XVII, mais precisamente em 1686.
Ele distinguiu “o tempo absoluto, “verdadeiro e matemático, por si próprio e por sua própria natureza, fluindo de maneira uniforme sem relação com qualquer coisa externa”; do “tempo relativo, aparentemente comum (...), uma medida sensível e externa da duração do movimento (...), comumente usada ao invés do tempo verdadeiro, tal como uma hora, um dia, um mês, um ano”.
O que, simultaneamente, inaugurou uma noção de linearidade do tempo, sempre em constante fluxo, com começo, meio e fim; medido pela observação das mudanças, ou seja, através da sucessão de fatos, cujas conseqüências chegam até tudo que pertence ao mundo natural.
No final do século XIX, Henri Bérgson prosseguiu na mesma linha de raciocínio, definindo o tempo como uma espécie de mudança que se encontra em tudo aquilo que passa, em oposição à eternidade, retomando o conceito grego, remetendo ao deus Cronos, aquele que conduz as coisas à maturidade.
Esta sucessão de fatos como medida, originou, no âmbito da discussão teórica da história, a temporalidade linear, a crença que a narrativa histórica precisa ter um inicio e um final, a qual se tornaria predominante no Ocidente, em oposição ao tempo cíclico, mais comumente adotado no Oriente e na mesoamérica pré-colombiana.
Dentro desta concepção cíclica, não há um inicio para a história, mas vários, com fatos que se sucedem e repetem constantemente, assim como o sol nasce a cada dia no horizonte depois de ter se posto no final da tarde do dia anterior.
Este conceito de ciclo seria parcialmente incorporado no tratamento das temporalidades pela história econômica, no inicio do século XX.
Mesclado a tradição de tempo linear, iria compor explicações que defendem o conceito de “forças que interagem entre diferentes elementos que compõem um sistema”, repetindo dinâmicas com alternâncias de produtos cultivados ou negociados também no centro dos acontecimentos sociais, políticos e culturais, tal como o ciclo do pau-brasil, da pimenta, do açúcar ou do café.
A temporalidade linear e a cíclica constituíram posturas antagônicas que demonstraram a dificuldade teórica em definir com clareza às fronteiras da história, já que o próprio conceito de tempo, quer seja físico, social ou histórico, forma um conjunto único e inseparável que necessita da visão do conhecimento totalizante, como uma gama ampla de vertentes múltiplas, para fazer da história uma ferramenta eficiente de entendimento da realidade.

Tempo histórico e temporalidades.
A narrativa da história estabeleceu, há séculos, escolhas que denotam posicionamentos interpretativos de análise do homem como ser histórico, circunscrito há um tempo e uma forma contextualizada de encarar a passagem do tempo.
Refletindo a própria essência do debate em torno da observação das mudanças e permanências, centro do conceito de história.
Esta abordagem, por sua vez, remete a própria concepção de tempo adotada como escolha teórica, interferindo diretamente na forma como a história será interpretada e terá suas fronteiras definidas.
Uma questão complexa, já que o tempo desdobra-se e volta-se novamente para dentro de si mesmo.
Isto porque a própria definição de tempo é variável, filosoficamente contentável por ser uma convenção determinada pela sociedade, cultura, economia e também historicamente composta.
O tempo é uma invenção que, no entanto, possui embasamento na percepção das transformações que se processam em volta daquele que observa.
A temporalidade, como produção humana, é uma ferramenta da história, mais visível como referência expressa em calendários e cronologias, demarcando os anos e séculos, situando acontecimentos, ajudando a organizar as narrativas históricas para facilitar o entendimento da passagem do homem pelo tempo.
Entretanto, dependendo da escola ou corrente teórica, para além desta conceituação de senso comum, a percepção das temporalidades interfere diretamente na concepção de história.
O que modifica a abordagem e a escolha dos fatos que o historiador julga relevantes para incorporar ao conhecimento de sua competência, modificando o entendimento do passado e, porque não dizer, do próprio presente.
Ao lado do tempo físico e social, como conseqüência do cruzamento de conceitos, o tempo histórico nasceu em decorrência da percepção das mudanças.
A consciência de que o ser está inserido no tempo, mudando e amadurecendo constantemente, tornou a história indissociável do tempo.
O próprio conceito de história está inserido no conceito de tempo, sendo interdependentes e explicando-se mutuamente, conduzindo implicitamente a refletir sobre a temporalidade, embora a atenção direta sobre a questão tenha se tornado mais abundante somente a partir do século XX.
Destarte, a modernidade inaugurou as filosofias da história, fazendo com que, no século XVIII, Kant afirmasse que não podemos conhecer a essência dos fenômenos, à medida que conhecemos através da experiência, tendo apenas sensações acerca da realidade.
Portanto, podemos conhecer apenas representações dos fenômenos fornecidas pelos sentidos.
Assim, ao questionar a realidade, Kant terminou por estabelecer uma critica ao conceito de historicidade, colocando em dúvida a própria capacidade de conhecer da historia e suas fronteiras.
Posição diametralmente oposta a Hegel, para quem o conhecimento de qualquer fenômeno seria sempre histórico, circunscrito há um tempo e espaço, com fronteiras bem definidas, possível de ser conhecido apenas através da história, de onde derivaria, posteriormente, o historicismo marxista, sustentado pela ideia hegeliana de progresso e revolução, desenvolvimento e evolução.
Na realidade, foi o iluminismo oitocentista que inaugurou a visão progressista da história, a ideia de que os fatos históricos deveriam ser selecionados como relevantes em função da perspectiva evolucionista, tomando como base as mudanças ao longo do tempo sempre como qualitativas.
Um conceito que conduziu a fixação de uma miopia etnocentrista, antagonicamente inspirada por pensadores ilustrados, como Turgot e Condorcet, os quais iniciaram uma tradição Ocidental de análise da história da humanidade classificada em estágios culturais, fixados entre sociedades primitivas e as civilizações complexas, como se existissem degraus pelos quais os povos devessem escalar para atingir a modernidade.
A visão etnocêntrica iluminista reduziu toda a espécie humana a parâmetros únicos que deveriam servir obrigatoriamente de referência, tendo a Europa e sua história como modelo a ser adotado, o que originou também o eurocentrismo.
Ainda no século XVIII, o conceito de evolução ganhou contornos naturalistas com o francês Lamark, popularizando-se no século XIX com Charles Darwin e sua teoria da evolução das espécies através da seleção natural, o que terminou transposto para positivismo histórico e a escola metódica, os quais também adotaram a temporalidade linear evolucionista em suas narrativas.
O positivismo de Comte procurou encontrar, no estudo da história, leis que regulassem o desenvolvimento humano, permitindo contextualizar os fatos do presente, originando uma hierarquia para justificar o colonialismo cultural.
Já a escola metódica, encabeçado por Leopold Von Ranke, supervalorizou o Estado Nacional, defendendo a ideia de objetividade do conhecimento histórico, acrescentando a xenofobia nas narrativas históricas.
O século XIX deu inicio também, a partir dos estudos sociológicos e antropológicos, duas ciências então nascentes, a trabalhos que debateram o tempo como construção mitológica e simbólica da regulação temporal, potencializando uma visão critica do tempo histórico.
Na primeira metade do século XX, consolidando está nova tendência, o pensamento de Martin Heidegger influenciou os historiadores a repensarem a questão das temporalidades e das fronteiras da história.
Em alguns textos, Heidegger defendeu a tese de que não haveria temporalidade absoluta, sendo que a percepção do tempo histórico se faria a partir do futuro, portanto, fenômeno inerente puramente ao presente.
Igualmente, a temporalidade como categoria de vida, concebida por Wilhem Dilthey, também se faria presente no século XX.
Para ele, as pessoas seriam por natureza seres temporais, uma vez que experimentam o tempo com base nas conexões entre passado, presente e futuro.
Para Dilthey, os sujeitos respondem ao presente relacionando-o com experiências passadas e antecipando o futuro, compreendendo como vivem em função do tempo, através da autoreflexão, produzindo o material que os historiadores chamam de fontes e que, para ser analisado, carece de ciências auxiliares.
As idéias Heidegger e Dilthey seriam incorporados aos debates em torno das temporalidades e das fronteiras da história, fomentando estudos entre os historiadores da Escola de Annales.
Foi quando a influencia da percepção da passagem do tempo ganhou um vulto ainda maior, inserida nas discussões metodológicas, na investigação sobre a natureza da história e na critica ao anacronismo.

O debate contemporâneo sobre as temporalidades.
Embora a representação do tempo, presente na historiografia, seja quase sempre linear, como lembrou Jose D´Assunção Barros, “os historiadores mais tradicionais nos seus modos de escrever a história esquecem-se de que, ao elaborar o seu texto, eles mesmos são os ‘senhores do tempo’ - isto é, do seu ‘tempo narrativo’ - e de que não precisam se prender à linearidade cronológica e à fixidez progressiva ao ocuparem o lugar de narradores de uma história ou ao se converterem naqueles que descrevem um processo histórico”.
Uma ideia hoje mais aceita e debatida do que em um passado recente, mas que começou a ser discutida com maior veemência apenas quando a historiografia incorporou a questão ao criar novas formas de narrativa para a história.

Uma observação ressaltada por José Carlos Reis, quando desenvolveu a hipótese de que “o conhecimento histórico só se renova, uma ‘nova história’ só aparece, quando realiza uma mudança significativa na representação do tempo histórico”.

Um destes momentos, talvez o mais significativo, foi justamente o surgimento da Escola de Annales, a qual representou uma renovação na prática historiográfica.
Foi graças esta corrente teórica que as problemáticas metodológicas e teóricas se tornaram dominantes no século XX, remetendo, a reboque, à discussão sobre as temporalidades e as fronteiras da história.
Foi na década de 1930 que Marc Bloch chamou atenção para o problema do condicionamento do historiador com relação ao tempo, ressaltando que não deveria ser considerado um anacronismo pensar a história através do presente.
Até aquele momento isto era negado por aqueles que achavam que a história era apenas um relato do passado.
Bloch desfez de uma vez por todas este equívoco, afirmando que o tempo é uma categoria básica para o historiador.
Ao descrever a história como ciência dos homens no tempo, ele dizia que aquele que constrói narrativas sobre o passado, na verdade tenta entender questões do presente, pois não pode escapar de conceitos que são inerentes a sua própria época.
Ele defendeu a tese de que “seria grave erro julgar que a ordem adotada pelos historiadores nas suas investigações tenha necessariamente de modelar-se pela dos acontecimentos”, sugerindo um método de investigação histórica que recuasse ao passado a partir do presente, o que ele chamou de “método regressivo”.

No entanto, é interessante notar que, apesar da maneira inovadora de pensar, Bloch permaneceu preso a uma temporalidade linear, não extrapolando as fronteiras tradicionais da história de sua época.
Como historiador, as suas narrativas mantiveram a estrutura utilizada anteriormente pelos seus pares, a despeito das inovações advindas com Annales.
Pouco depois das reflexões de Bloch, representado a segunda geração de Annales, Fernand Braudel revolucionou de fato a abordagem do tempo pelos historiadores em 1949.
Ele demonstrou como a história precisava de outras áreas para decompor o tempo em planos desdobrados: o tempo individual, o tempo social e o tempo geográfico.
Para atingir o objetivo de ler o passado partindo do presente, seria necessário extrapolar fronteiras, realizar macroabordagens, penetrando as três temporalidades.
Somente assim seria possível tornar a escrita da história uma verdadeira ferramenta para desvendar o passado, clareando a noite como um vaga-lume.
Esta concepção braudeliana da temporalidade histórica tornou-se de fato um farol para gerações de historiadores, adquirindo um significado mundial, sendo incorporada pela academia como um procedimento metodológico básico, influenciando toda a historiografia a partir de então.
Embora Ernest Labrousse e Pierre Vilar, como seguidores de Braudel, tenham dado continuidade às reflexões braudelianas sobre o tempo nos meios universitários.
Na década de 1960, Jacques Le Goff mudou parcialmente o foco da discussão, retomando a questão pelo ângulo anterior.
Quando tentou definir o trabalho do historiador e da memória, na mesma obra, dedicou um largo espaço à discussão da natureza do tempo.
Ao estudar os calendários como sistemas de medida baseados nos astros, Le Goff concluiu que o tempo pode ser encarado como um objeto de manipulação do poder, já que o Estado os utiliza como meio para organizar a sociedade.
Para ele, estudando a história das civilizações, podemos notar que aqueles que detêm o conhecimento do calendário, controlam a vida social e econômica.

Esta reflexão conduziu ao retorno do questionamento sobre a natureza da história como construção operada pelos historiadores, uma vez que, contemporaneamente, são eles que detêm as temporalidades historiográficas.

Como ressaltou Edward Hallett Carr, os fatos não são averiguações da verdade, da mesma forma que as impressões dos sentidos não falam por si mesmas; os fatos só adquirem sentido quando o historiador recorre a eles e determina sua temporalidade.
Precisamente, os historiadores selecionam, interpretam e apresentam os fatos, conferindo-lhes sentido no tempo, determinando como analisá-los, encaixando-os em uma temporalidade.
Entretanto, ao fazê-lo, operam conforme seus próprios interesses e experiências, traduzindo a vontade de sua época e o conceito de tempo em que estão inseridos, criando temporalidades historiográficas especificas e que não refletem de modo algum a realidade concreta, antes, aproximasse mais de um anacronismo.
Uma discussão que têm se tornado cada vez mais pertinente no âmbito teórico da história.

Concluindo.
A história como parte do conhecimento humano, a partir do iluminismo, iniciou sua escalada rumo a uma tentativa de ganhar completa autonomia como ciência, mas, no processo, esqueceu-se que precisa atuar em conjunto com inúmeras outras áreas para fazer-se eficiente.

Na realidade, a subjetividade da história faz com que seja um tipo de conhecimento construído no limiar de várias fronteiras, dentre as quais a própria conceituação de história, a qual foge da inserção em um paradigma único.
A história comporta uma infinidade de definições contraditoras e paradoxais que, no entanto, não se anulam e continuam a coexistir mesmo em permanente conflito.
Além disto, sua principal variável, o tempo, também constitui um conceito entre fronteiras; é físico, intuitivo, instituído, social, antropológico e, ao mesmo tempo, histórico.
O que, contextualizado pelos historiadores, torna-se temporalidade, narrativa linear ou cíclica, com ímpeto determinado conforme a corrente teórica.
O passado é transformado pela história em algo que caminha para algum lugar, como se antes do tempo passar os sujeitos históricos já soubessem onde tudo ia dar.
Este passado parte do presente para re-significar os fatos que já foram, tornando-os, em certo sentido, distorcidos, anacrônicos.
As temporalidade históricas também transitam entre fronteiras teóricas que nem sempre pertencem puramente à história, foram pegas emprestadas, apropriadas por historiadores como Braudel.
Portanto, por que não dizer que estas temporalidades foram, de certa forma, imaginadas, construídas pelos historiadores, por aqueles que controlam a medição do tempo passado, como lembrou Le Goff.
Uma questão que remete a outra fronteira da história envolvendo sua pretensão a cientificidade e neutralidade, conduzindo novamente a sua natureza interdisciplinar, multiplicadora de questões ao invés de oferecer soluções, quando muito possibilitando entendimentos provisórios.
Conhecimento fronteiriço, narrado também por entre fronteiras, no caso, o seu viés literário que transita entre memórias individuais e coletivas expressas pelas fontes que servem de base e referência à investigação histórica, e a imaginação necessária para compor imagens mentais do passado.
Não por acaso, a história realmente encontra-se comprimida entre temporalidades e fronteiras, fomentando discussões teóricas e debates acalorados entre os historiadores.
Debates que, em razão das exigências do mundo contemporâneo, passaram ao domínio publico, estampados em jornais e revistas, convertendo-se em interesse não mais apenas dos profissionais da área, sendo essencial ao entendimento do que afinal é a história, cuja resposta talvez seja: um monstro de muitas cabeças e incontáveis tentáculos.

Para saber mais sobre o assunto.
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Texto:
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.

Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.






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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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