Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
Não possui fins lucrativos, seu objetivo é disseminar o conhecimento com qualidade acadêmica e rigor científico, mas linguagem acessível.


Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Editorial Volume 2015-1.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume jul., Série 31/07, 2015.

Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.


Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.


Este editorial foi escrito em 30 de junho de 2020 e publicado em data retroativa.

Depois de um período de seis anos inativa, a Revista está sendo atualizada no ano de 2020, com datas retroativas, daí a datação deste editorial em 31 de julho de 2015, embora escrito em 30 de junho de 2020.
Obviamente, serviu de estímulo para resgatar a periodicidade o imenso número de acessos, mesmo com a publicação inativa.
No ano de 2020 atingimos mais de 9 milhões de acessos, todos os dias recebemos pelo menos 300 visitas.
Várias razões conduziram a interrupção e parcial publicação do volume 1 de 2015, agora retomado.
A falta de tempo foi sem dúvida o principal motivo, razão pela qual a publicação, antes com periodicidade mensal, passou a semestral em 2013.
No entanto, outro fator foi à ausência de incentivo financeiro, a falta de recursos; o que fez com que tentássemos obter ajuda dos leitores, abrindo espaço para doações.
Embora tenhamos registrado algumas doações, as quais agradecemos, estas foram insuficientes para manter a estrutura e os esforços em torno da publicação.
Os links que remetiam a possibilidade de doação foram retirados do ar, no futuro, após a regularização da periodicidade, pretendemos buscar patrocínios.
Caso algum leitor se interesse em patrocinar a Revista, pode entrar em contato através do novo e-mail de contato: submissaoparaentenderahistoria@gmail.com
O antigo e-mail foi descontinuado pelo provedor e, infelizmente, todos os textos submetidos a publicação através dele, os quais aguardavam oportunidade de publicação, forma perdidos.
Aqueles que haviam enviado textos para possível publicação, que aguardavam retorno, caso ainda tenham interesse em publicar, podem enviar o material novamente pelo novo e-mail.
Pedimos desculpas pelo inconveniente, mas não foi possível recuperar o material.
A exemplo do inicio da Revista, cujo nascimento despretensioso em 13 de agosto de 2010 jamais imaginaria a repercussão que alcançaria, para atualizar a periodicidade e preencher as edições atrasadas, foram utilizados textos do editor represados nestes últimos seis anos.
Para preencher as edições descontinuadas entre 2015 e 2020, no entanto, estamos abertos a colaborações.
Ressaltamos que, interessados em publicar artigos retroativos a 2020, podem enviar propostas de colaboração através do e-mail: submissaoparaentenderahistoria@gmail.com


Nesta edição, apresentamos 9 artigos:

1. Intelectuais, pensamento social e educação. Autor: Fábio Pestana Ramos.

2. O Fenômeno da Massa Popular Brasileira - Um Povo Revolucionário(?) Autor:  Rodrigo Cardoso Silva.

3. O sistema Westfaliano e as relações internacionais na Europa. Autor: Fábio Pestana Ramos.

4. A antropologia teológica e sua função ética. Autor: Fábio Pestana Ramos.

5. A integração do portador de deficiência à escola. Autor: Fábio Pestana Ramos.

6. O uso da tecnologia na guerra. Autor: Fábio Pestana Ramos.

7. Impressionismo: principais características e representantes. Autor: Fábio Pestana Ramos.

8. Esquerda e revolução socialista nas Américas (1950-1970). Autor: Fábio Pestana Ramos.

9. O mecenato da Igreja Católica no século XVI: reflexões instigadas pelo filme “Agonia e Êxtase”. Autor: Fábio Pestana Ramos.

Agradecemos a todos que, ao longo destes últimos anos, tornaram Para entender a história... uma referência citada e consultada nos meios universitários e educacionais como um todo.

Boa leitura.



segunda-feira, 20 de julho de 2015

O mecenato da Igreja Católica no século XVI: reflexões instigadas pelo filme “Agonia e Êxtase”.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume jul., Série 20/07, 2015.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.



O filme Agonia e Êxtase (1965), onde Michelangelo é representado em conflito com o Papa, a partir de pontos de discordância entre os dois; permite adentrar na questão do mecenato e do papel da Igreja Católica como patrocinadora da arte no século XVI.
O que remete ao papel do artista na sociedade deste período.
O mecenato, a prática de proteção e financiamento de obras artísticas, foi fundamental para o desenvolvimento da produção intelectual no século XVI.
O investimento nas artes e na ciência visava o crescimento do prestígio social do mecenas, contribuindo para a divulgação de suas atividades e para o crescente respeito de seu nome perante os pares e a população a contemplar a obra financiada.

Agonia e Êxtase (1965) - FILMES RAROS EM DVDPessoas ligadas especialmente à burguesia utilizavam este artifício, mas alguns nobres e a Igreja Católica, principalmente representada pela figura do Papa, estiveram entre os financiadores da produção intelectual e artística renascentista no século XVI.
Um método adotado para garantir fama eterna e tentar apaziguar o conflito entre a devoção e o comércio.
Mentalidade individualista que também contribuiu para alicerçar palavras como prestígio, poder, ciência no meio eclesiástico.
O Papa Sixto IV (1471-1484), por exemplo, decidiu transformar a monarquia papal em grande potência italiana, mandou construir a Capela Magna, que acabou levando seu nome, Sixtina.

Os Papas utilizaram os serviços dos mais proeminentes artistas de sua época.
Julio II (1464-1471) contratou Bramante para o primeiro projeto da Basílica de São Pedro e Leão X (1513-1521) protegeu ardentemente as artes.
No entanto, para além do ego individual que eternizou o mecenato, o financiamento das artes pela Igreja Católica, considerava também outro fator para transmitir mensagens aos fiéis.
No contexto renascentista, a estrutura social era distanciada da instrução e da leitura, as escolas estavam sob o domínio da Igreja Católica, proliferava o analfabetismo.
As imagens vistas pelos fieis, por dentro e por fora das igrejas, é que transmitiam e repetiam as lições da teologia cristã.
A arte assumia uma função didática, subordinada a uma política clerical, que apresentava uma perspectiva escatológica e uma esperança de solução em um mundo por vir, inatingível na vida terrena.
As imagens serviam de inspiração e convite para a entrada no mundo espiritual perfeito, representando uma desilusão e desligamento da realidade que cercava a sociedade estratificada e com baixa mobilidade.
205 Best Charlton Heston images | Charlton, Actors, Charleton hestonParadoxalmente, pelo prisma do artista, a busca de uma precisão fotográfica nas pinturas, trazia os elementos bíblicos para a realidade do dia-a-dia.

A arte dignificava ainda mais os conceitos humanistas, ao mesmo tempo em que incomodavam os mais radicais simpatizantes da iconoclastia, colocando o homem no centro da discussão.

A pintura se tornou um poderoso elemento de propaganda, simbolizando o que a Igreja Católica poderia oferecer na outra vida, acessível àqueles que seguissem os preceitos católicos.

Contraditoriamente, transformou-se também em elemento de convencimento da reforma protestante, já que poderia ser argumentado que o oferecido na outra vida representava uma perfeição que era deste mundo, só não estava ao alcance de todos.
Esta luta entre católicos e protestantes acabou alterando as características típicas do mecenato do século XVI, quando Lutero iniciou a contestação de dogmas da Igreja.
É por isto que, nesta época, a arte enaltecedora dos princípios cristãos, dos santos e das cenas bíblicas passou a ser contestada.
A arte, que podia ser vista em quase todas as igrejas e espaços públicos, deslocou-se para o interior das casas dos grandes burgueses e as áreas privadas.
Entretanto, a Igreja Católica não deixaria de praticar o mecenato, como faz ainda hoje, apenas começaria a agir com maior discrição.
           
Para saber mais sobre o assunto.
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
FRANCASTEL, P. Pintura e sociedade. São Paulo: Martins Fontes. 1990.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes,
1995.


domingo, 19 de julho de 2015

Esquerda e revolução socialista nas Américas (1950-1970).


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume jul., Série 19/07, 2015.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.



Depois de um período de relativa docilidade em relação à liderança dos Estados Unidos da América, países latino-americanos registraram alguns movimentos de esquerda em uma época de turbulências e experimentações políticas.
A reação dos EUA conduziu a implantação de ditaduras de direita que se opuseram aos movimentos nacionalistas populistas ou de esquerda surgidos entre as elites locais.
Estes movimentos de esquerda adquiriram um viés anti-imperialista e antioligárquico, estimulado pelo triunfo da Revolução Cubana em 1959, com forte apelo revolucionário de caráter popular.
Foi o que aconteceu no México, na Guatemala, na Bolívia, chegaram a pelar para a revolução popular.
Por ocasião dos Jogos Olímpicos de 1968, no México, eclodiu um grande protesto de estudantes de cunho esquerdista na Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM).
Diante da forte repressão do governo, o movimento se alastrou, 15 000 estudantes de várias universidades invadiram as ruas da cidade do México, ostentando cravos vermelhos como sinal de protesto contra a ocupação militar da UNAM, culminando com o chamado massacre de Massacre de Tlatelolco.
Na ocasião, milhares de estudantes e transeuntes foram detidos e pelos menos uma centena de pessoas atingidas por tiros foram mortas, incluindo crianças.
Pensadores da Educação: Antonio GramsciEste episódio deu origem, na década de 1970, a um movimento de esquerda no México orientado pelo pensamento de Gramsci, principalmente entre intelectuais que organizaram simpósios e palestras com a participação de pesquisadores vindos da Europa e também de gramscianos latino-americanos.
Dentro deste contexto, surgiu, a partir das Forças de Libertação Nacional (FLN) - fundada em 1969 -, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), defendendo de direitos coletivos e individuais negados aos povos indígenas mexicanos, a construção de um novo modelo de nação que incluísse a democracia concreta e real, e, posteriormente, a liberdade e a justiça como princípios fundamentais de una nova forma de fazer política, colocando-se contra o neoliberalismo.
Na Guatemala, em 1954, quando o presidente eleito Jacobo Arbenz foi derrubado por um golpe articulado pelos EUA, através da CIA, sendo substituído pelo coronel Carlos Castillo Armas, ligado a grupos anticomunistas e a esquadrões da morte, iniciou-se uma luta intensa promovida por grupos de esquerda.
Carlos Castillo foi assassinado em 1957, sendo substituído pelo General Miguel Ydígoras Fuentes, que assumiu o poder em 1958.
Em 1960, um grupo de jovens oficiais militares armou uma revolta, que, no entanto, fracassou.
Na sequência, vários deles passaram à clandestinidade e estabeleceram estreitos laços com o governo de Cuba.

Forças Armadas Rebeldes – Guatemala | Almanaque dos Conflitos
Este grupo se converteu no núcleo das forças que organizaram a insurreição armada contra o governo que durante 36 anos, mergulhando o país em uma guerra civil.
Quatro principais grupos guerrilheiros de esquerda se articularam contra o governo de direita apoiado pelos EUA: o Exército Guerrilheiro dos Pobres, a Organização Revolucionária do Povo em Armas, as Forças Armadas Rebeldes e o Partido Guatemalteco do Trabalho.
Esses grupos fizeram uso de ações de sabotagem e ataques a instalações das forças de segurança governamentais.
Em 1982, os quatro grupos se uniram para formarem a Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca.
A guerra civil só acabou em 1996, quando guerrilheiros e o governo assinaram um cessar fogo e um pacto de anistia geral, ao passo que o país encontra-se em uma situação delicada até hoje.
Na Bolívia, a Guerra do Chaco, entre esta e o Paraguai, entre 1932 e 1935, foi o estopim da Revolução de 1952.
O conflito teve como pretexto o fato da Bolívia querer uma saída para o Atlântico, através do rio Paraguai.
Porém, a real motivação estava na disputa entre a petroleira Standard Oil, truste americano, e a Shell, anglo-holandesa.
Ambas com pretensões a controlar o petróleo do Charco Boreal, região petrolífera.
O resultado foi um grande derramamento de sangue, com quase 100 mil pessoas dos dois países irmãos mortas.
Em termos militares, Bolívia foi derrotada, suas forças armadas ficaram desgastadas junto à população boliviana.
Bolívia, como se faz e como se perde uma revolução proletária ...O que trouxe rebeldias dentro do exército e um setor militar voltado para o povo e o sentimento anti-imperialista, com cunho progressista de esquerda.
Em decorrência deste processo político de pós-guerra, surgiu o primeiro governo seguindo esta orientação, liderado pelo coronel Davi Toro, que logo expropriou os bens do truste norte-americano e nacionalizou o petróleo e o gás, fazendo surgir a estatal YPFB.
O segundo governo nacionalista de esquerda foi do general Gérman Busch que acabou se suicidando; devido à terrível pressão das oligarquias e de três famílias - Simón Patiño, Carlos Aramayo e Maurício Hoschild - que detinham o controle do estanho e de outros minérios.
Busch se tornou mártir, despertando a população para mudanças, estimulando o enfrentamento dos setores oligárquicos e o próprio imperialismo norte-americano.
Derrotados o setor nacionalista e o progressista militar, o povo boliviano continuou sob um quadro econômico e social de, praticamente, um mínimo de alteração em relação a décadas de exploração e miséria.
A quase totalidade da população, na sua absoluta maioria vivendo no campo, em condição de servidão, sob a brutal exploração de latifundiários, era formada por analfabetos sem direito ao voto, sem cidadania, em um momento em que para ter esse direito, ser reconhecida como cidadã, a pessoa tinha de ter alguma posse e acesso à escola.
Os índios, maioria absoluta da população, que no passado tinham terras para trabalhar e ganhar a vida, após perdê-las para latifundiários, viram-se obrigados a um regime de semiescravidão, trabalhando para uma minoria que os expropriou, a troco de quase nada.
A quase totalidade das terras cultivadas estava nas mãos de 6% da população rural; sendo que somente 2% das terras eram cultivadas.
A produção de alimentos, subordinada a uma estrutura de latifúndios, era extremamente precária, forçando o país a importar comestíveis, vendendo-os a preços insuportáveis para a grande maioria da população, elevando enormemente a inflação.
Como se bastasse, o controle dos minérios, como o estanho e outros, permanecia nas mãos das mesmas famílias oligárquicas de sempre.
As condições objetivas para revolta, inclusive para a revolução, estavam evidenciadas, principalmente entre o proletariado mineiro.
Foi quando, na década de 1940, surgiu o MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), partido de composição ideológica contraditória, pois dentro dele existiam, desde setores anti-imperialistas e socialistas, até nazifascistas, simpatizantes de Hitler e Mussolini, tendo prevalecido, no entanto, com o passar do tempo, os que tinham o propósito de derrotar as oligarquias e o imperialismo, para levar o país a ser dono de suas riquezas, buscando fazer as reformas necessárias, como a reforma agrária.
O seu líder maior era o intelectual Victor Paz Estenssoro, ao lado de Siles Suazo.
Estenssoro ganhou as eleições em 1952, mas não conseguiu tomar posse, devido a uma ação militar golpista.
O que levou o MNR a recorrer à luta, armando camponeses e mineiros, chegando ao poder pela revolução de cunho esquerdista.
No poder, levado pela pressão das massas revolucionárias, o governo do MNR logo destitui o exército, trocando-o por milícias populares armadas; decretou a reforma agrária; estabelece o direito de voto para todos os indígenas, que passam a poder votar pela primeira vez, ganhando juntamente com outros setores dos explorados a condição de cidadãos; criando a COB, instrumento nacional de luta do proletariado boliviano, tendo Juan Lechin como o seu líder e dirigente máximo, o qual integraria a composição do governo revolucionário. Medidas políticas irrefutavelmente relevantes.
Diferente do que procedeu em outros casos, os EUA apoiaram o governo do MNR, dando, inclusive, apoio financeiro, achando que o apoio a Estenssoro e Siles Suazo significava evitar que o poder caísse em mãos de comunistas ou de outras forças dispostas a mudanças radicais.
Buscava anular “o pior”. Indubitavelmente, essa manobra contribuiu para que o MNR fosse perdendo prestígio junto à massa popular que o apoiava, levando seus governantes, cada vez mais, para a direita, principalmente no segundo governo de Paz Estenssoro, derrubado, em 1964, por um golpe militar liderado pelo general Barrientos.
A política norte-americana na América Latina iria, a partir da década de 1960, instaurar ditaduras de direita para evitar o alastramento dos movimentos de esquerda, o que no Brasil culminou com o gole de 1964.

Para saber mais sobre o assunto.
LÖWY, Michael (Org.). O marxismo na América Latina: uma antologia de 1909 aos dias atuais. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.
PECEQUILO, Cristina Soreanu. A política externa dos Estados Unidos. Porto Alegre: UFRGS, 2005.



segunda-feira, 13 de julho de 2015

Impressionismo: principais características e representantes.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume jul., Série 13/07, 2015.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.




Embora o Impressionismo tenha sido um movimento artístico característico da pintura europeia do final do século XIX, sua repercussão estendeu-se para o século XX, ampliando-se através da literatura e do cinema.
O impressionismo surgiu como uma arte puramente visual, porque seus temas principais pertencem ao perceptivo, assumindo como tema de representação apenas cenas observadas diretamente pelo pintor, a experiência de ver passou a ser o conteúdo da obra.
Pinturas de Monet Claude | Pinturas de monet, Impressionismo, MonetO nome do movimento foi derivado da obra “Impressão, nascer do sol”, datada em 1872, de autoria de Claude Monet, um artista que iria simbolizar o impressionismo, junto com outros; como Degas, Manet, Renoir e Pissaro.
A noção de visão passou a ser entendida por estes pintores como referente às representações mentais e pictóricas, como expressões de atitudes e interesses.

Focando o fazer arte em significados selecionados, imaginados, modelados e compostos pelo objeto percebido de modo direto.
Assim, no século XIX, houve um remanejamento da imagem em consequência de um enriquecimento do vocabulário plástico.
Embora, segundo Schapiro (2002), o termo “impressionismo” não comporte uma definição estética, pois surgiu como nome de um grupo de expositores que tinha em comum um conjunto de metas relacionadas que foram realizadas em graus diferentes.
Em todo caso, representou uma estética renovada que incluiu a imagem do realmente visto como parte do mundo comum e abrangente do espetáculo, em oposição à inclinação da época pela história, mito e mundos imaginados.
Neste sentido, o impressionismo deve ser entendido como o efeito da cena sob o olhar do artista.
O que envolve o impreciso, indeterminado e vago na natureza, representado fielmente, nesse caso, em seu aspecto momentâneo.
Um livro que dança - O BeneditoEm outras palavras, o método da nova arte se fundamentava na realidade do impreciso e atmosférico da natureza, que possuía uma objetividade e uma precisão refinada própria.
A experiência visual passou a consistir não somente de cores, luzes, sombras e formas; mas também embasada em objetos como entidades reconhecíveis, mesmo quando aparecem turvos ou incompletos.
Esse exercício do olhar requer uma visão aguçada e depende de ocasiões específicas, já que o visível é tido como algo recém-encontrado e em constante mutação.
No impressionismo, portanto, a noção de mimeses, de arte como imitação de um objeto, foi modificada.
Assumindo uma função criadora de outro olhar para o objeto que, em um primeiro momento, buscava uma maneira mais realista de mostrá-lo, mas em um segundo momento, assumiu a representação como construção, uma criação de novos signos.
Uma concepção que se insere na fenomenologia de Merleau-Ponty, relativizando a visão do objeto e o conceito de verdade.
Em seu projeto filosófico Merleau-Ponty se propunha a uma reforma do entendimento, onde as categorias tradicionais da filosofia (sujeito, objeto, substância etc) seriam substituídas por conceitos novos, além de um comentário sobre a palavra “ser” e uma reconciliação com a metafísica.
Dentro da tradição cartesiana, encontramos a palavra “ser” ligada a “ser” como consciência ou objeto.
Para ele existiria um mundo objetivo e outro subjetivo.
O sujeito cartesiano é quem dá valor às coisas, o que o autor chama de “prejuízo do mundo”.
O pensamento objetivo só conhece noções alternativas, conceitos puros que se excluem entre si, relativizando a verdade.
Para Merleau-Ponty, a ciência e a filosofia teriam passado séculos depositando muita fé na percepção.
Pensava-se que a percepção se orientava em direção a uma verdade em si, onde reside a razão de todas as aparências.
A questão é que o mundo da percepção vivida não comporta a ideia de ser determinado.
O mundo vivido admite ambiguidade, comporta um indeterminado positivo.
Seria necessário reconhecer o indeterminado como fenômeno positivo, o qual os impressionistas explorariam.
A própria ideia de verdade, em voga no século XIX e ainda presente hoje, foi construída ao longo de séculos, desde a antiguidade, misturando a concepção grega, latina e hebraica.
É um conceito, portanto, também relativo.
Em grego, a verdade (aletheia) significa aquilo que não está oculto, o não escondido, manifestando-se aos olhos e ao espírito, tal como é, ficando evidente à razão.
Em latim, a verdade (veritas) é aquilo que pode ser demonstrado com precisão, referindo-se ao rigor e a exatidão.
Assim, a verdade depende da veracidade, da memória e dos detalhes.
Em hebraico, a verdade (emunah) significa confiança, é a esperança de que aquilo que é será revelado, ira aparecer por intervenção divina.
Mulher com Sombrinha (1875) - Claude Monet - Tela 60x74 Para ...No século XIX, a verdade espelhava aquilo que é; contudo, o impressionismo mostrou que o problema é encontrar a essência do que as coisas são, uma vez que tudo depende do olhar de quem observa.
Os pintores impressionistas construíram novos signos para o mundo, que ainda não tinham sido observados como luz e atmosfera.

A cor dos impressionistas era mais exata e as sombras eram coloridas.

A cor é um signo da luz do sol e também da sombra.

Antes as sombras escuras e pretas eram signo de volume.

Os impressionistas buscavam qualidades normalmente não observadas, qualidades de cores e luz que se referiam a um ponto no espaço, mas não distinguiam um objeto específico.
As cores e a luz caracterizam um objeto, mas este permanecia indistinto.
A cor não interpretada apresentava uma extensão de propriedades e aplicações.
A essa unidade da pintura corresponde uma relação material, a pincelada palpável ou mancha de tinta nítida.
A pincelada tornava a tela tão viva com a luz refletida quanto à cena ou ao objeto representado.
Isso porque os toques de cor, em relevos desiguais e sutis, refletiam, eles próprios, a luz variavelmente, a luminosidade da tela distinta da luz representada no quadro.
O padrão da pincelada e o mundo se tornavam distintos.
As pinceladas variavam de acordo com o tipo de objeto a ser representado e as diferenças ressaltam diferenças de objetos.
Destarte, a pincelada era muito mais do que isso, representava uma marca pessoal de cada artista, como uma caligrafia, possuindo sentido expressivo, gestual e refletindo sentimentos e humores.
Embora os impressionistas da primeira geração tenham sido tachados como pintores de mal gosto, todos colocados dentro de um mesmo cesto; Claude Monet tinha um traço diferente de August Renoir ou Camille Pissaro.
Igualmente, o neoimpressionismo traria elementos novos para o movimento, como a técnica do pontilhismo, a despeito da desvalorização dos artistas desde segunda geração, taxados simplesmente também como pintores de gosto duvidoso.
Foram necessárias duas décadas até que os pintores impressionistas começassem a ser valorizados, quando o movimento influenciou a nascente fotografia e, depois, o cinema.
Conduzindo ao pós-impressionismo e a questionamentos filosóficos existências que remeteriam ao romantismo.
Isto, a despeito do questionamento da verdade estar presente já no impressionismo da primeira geração de artistas, apesar de poucos contemporâneos terem notado este componente de imediato.
A geração de Van Gogh, Paul Gauguin e Paul Cézanne é que colheu os frutos plantados no final do século XIX, passando a retratar o espírito do inicio do século XX, marcado pelo pela primeira grande guerra e pela revolução russa. 
A arte possibilitou ao mundo perceber que a verdade não possui um significado único, tampouco estático e definitivo; sendo influenciada por inúmeros fatores, entre os quais a percepção, impressões sobre o que externo ao sujeito.
O que conduziria a transição para o expressionismo, a representação das emoções do artista.

Para saber mais sobre o assunto.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
FRANCASTEL, P. Pintura e sociedade. São Paulo: Martins Fontes. 1990.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Marins Fontes, 1999.
RAMOS. Fábio Pestana. “A concepção filosófica da verdade” In: Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume set., Série 05/09, 2011, p.01-04. Disponível em  http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2011/09/concepcao-filosofica-da-verdade.html Acesso em 04/05/2015.
SCHAPIRO, M. Impressionismo. São Paulo: Cosac & Naif, 2002.



domingo, 12 de julho de 2015

O uso da tecnologia na guerra.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume jul., Série 12/07, 2015.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.

A tecnologia desenvolvida na guerra está presente na vida cotidiana, fazemos uso intenso desta.
O avanço tecnológico impulsionado pela necessidade de subjugar o inimigo nos campos de batalha sempre foi na história humana a mola mestra do desenvolvimento humano.
Usufruímos de avanços conquistados em contextos militares, desde os processadores e componentes dos computadores, ao sistema de criptografia dos celulares, ou o microondas.
Todas estas tecnologias nasceram das necessidades militares e foram aperfeiçoadas ou adaptadas para o uso civil.
Neste sentido, a 2ª Guerra Mundial foi um divisor de águas na tecnologia moderna, nunca em tão pouco tempo o homem avançou tanto tecnologicamente.

AEG G.II – Wikipédia, a enciclopédia livreA aviação é um dos campos que reúne grande número destes desenvolvimentos, de onde saíram os motores a pistão para o jato, os pequenos biplanos para os grandes bombardeiros, ou as aeronaves limitadas em autonomia para as capazes de cruzar vários quilômetros sem reabastecimento.
Hoje só é possível cruzar os céus diminuindo as distâncias graças aos motores originalmente desenvolvidos na 2ª Guerra Mundial, colocados em uso durante o conflito pela Alemanha.
Os mecanismos aerodinâmicos que revolucionaram a manobrabilidade dos aviões e tornou mais segura e confiável a aviação hoje, também foram desenvolvidos durante o conflito, como é o caso dos slats e flaps, dois mecanismos que tornaram o messerschimitt BF-109 o mais mortal caça do inicio do período.
Isto para não mencionar os sistemas radar, que também viabilizaram o controle do atualmente intenso trafego aéreo.
A partir do radar surgiu à tecnologia que originou o microondas, uma das principais peças do aparelho, o magnetron, foi desenvolvido durante a 2ª Guerra Mundial, em uma tentativa de reduzir suas dimensões e aumentar a eficiência de detecção de aeronaves.
As comunicações durante a guerra também passaram por um enorme avanço, influindo diretamente no nosso cotidiano.
A necessidade de manter a comunicação com diversas frentes de batalha e, principalmente, de maneira que o inimigo não pudesse saber o que se transmitia, na Alemanha fez nascer o mais engenhoso e complexo sistema de criptografia do mundo, o sistema enigma, que por quase todos os anos do conflito fez com que os aliados mobilizassem uma grande massa de cientistas para conseguir quebrar seu código.
O sistema de criptografia usado hoje em computadores e celulares é baseado no Enigma.

Vergeltungswaffe V2 – O foguete da Vingança | AeroflapA tecnologia que possuímos de transmissão via satélites, análises meteorológicas através de satélites, bem como todo o avanço humano no espaço, só foi possível devido ao desenvolvimento das bombas voadoras V1 e V2, que iniciaram o desenvolvimento pós-guerra dos programas espaciais ao redor do mundo.
A tecnologia espacial conduziu ao GPS, com aplicação inicialmente restrita ao uso militar durante a Guerra Fria, e, depois, na aviação civil, passando depois para o cotidiano em carros, descartando a necessidade de cálculos e mapas.
No campo da saúde, a tecnologia de diagnóstico médico por imagem, desde o raio-x até o sistema de tomografia computadorizado, contemporaneamente imprescindíveis no diagnóstico de diversos quadros clínicos, surgiu a partir da tecnologia nuclear, desenvolvida como arma de guerra, representada pelas bombas arrasaram Hiroshima e Nagasaki. Tecnologia que mostrou também o seu potencial energético com aplicação civil, trazendo conforto, segurança e comodidade.
Os grandes conflitos militares, a partir da 2º. Guerra Mundial, como podemos observar através dos exemplos citados, ampliaram o avanço tecnológico da humanidade, trazendo os novos recursos para o uso civil.
Estão presentes hoje no cotidiano de forma tão intensa que é quase impossível imaginar a vida sem estas novas tecnologias.
No entanto, é interessante ressaltar que estes avanços foram obtidos com o intuito de matar, exterminar, subjugar o outro.
Será que Rousseau estava certo ao afirmar que o homem nasce bom, sendo corrompido pela sociedade? Ou será que a natureza humana é má, voltada para ideais egoístas e destrutivos?

Para saber mais sobre o assunto.
CANÊDO, Letícia Bicalho. A revolução industrial.  São Paulo: Atual, 1986.
MARCUSE, Herbert. Tecnologia, guerra e fascismo. São Paulo: UNESP, 1999.