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Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
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domingo, 5 de julho de 2015

A antropologia teológica e sua função ética.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume jul., Série 05/07, 2015.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.

Por definição, a chamada Antropologia Teológica configura uma área do conhecimento que procura articular a existência humana com a verdade revelada por Deus, supostamente registrada na Bíblia cristã.
É uma tentativa de compreensão de fenômenos naturais à luz da ciência, conciliando a fé e as crenças coma racionalidade, explicando a vida humana individual e coletiva, bem como as implicações práticas decorrentes e suas possibilidades de humanização e realização.
Atualmente é uma tendência que está se enraizando nos meios universitários, vinculados com a Igreja Católica, demonstrando grande preocupação com aspectos pertinentes à ética enquanto ciência normativa.
Neste sentido, a Antropologia Teológica pretende realizar a distinção entre ética e moral, dentro do contexto da sociedade da informação, da globalização e da cidadania.
Em um momento em que o ambiente pessoal e profissional exige do individuo uma postura de responsabilidade social e o discernimento dos limites da liberdade, pensa no respeito ao outro como garantia de ver respeitados os próprios direitos.
Isto porque é preciso ter clareza no significado do termo ética, não confundir a referência conceitual com esferas ligadas entre si, mas que são distintas; tal como a moral, o direito ou a ideologia.
O grande problema inicial é, antes de tudo, a própria definição do que se entende por ética.
Existe uma confusão reinante no sendo comum que não distingue ética e moral.
O que tem razão de ser, porque um conceito não existe sem o outro, estando entrelaçados, além da ética ter sofrido modificações conceituais ao longo da história, com vários desdobramentos.
Entretanto, é fato que ética e moral são distintos.
A gênese da confusão está na origem dos termos e em sua concepção primitiva, repleta de paralelos e aproximações.
A palavra Ética nasceu na Grécia antiga, deriva de Ethos, que significa morada ou residência.
A partir da qual surgiu o termo Ethica, significando personalidade, assumindo a utilização usual para expressar costumes e hábitos.
Desde então, vários filósofos abordaram a sua conceituação, cunhando uma significação de senso comum, ainda corrente, de normatização de comportamentos.
A palavra Moral nasceu do termo romano Mos/Moris, que expressa em latim o mesmo que os similares gregos.
É, portanto, uma tradução que também significa moradia ou personalidade.
Acontece que ética e moral foram se tornando distintas ao longo do final da Idade Antiga; a despeito de, no século XIX, Hegel ter afirmado que eram sinônimos.
Ao longo da história do pensamento Ocidental, a ética foi considerada como moral dos filósofos, chamada filosofia moral; estando fixada no âmbito do público e do universal.
Já a moral foi considerada pertencente ao particular e subjetivo, circunscrita ao sujeito e sua privacidade.
Em termos práticos, a definição contemporânea é exatamente a oposta.
A moral define um conjunto de regras que valem para todos, sendo impostas pelos costumes, padronizando comportamentos dos indivíduos inseridos no conjunto da sociedade, pouco importando o que cada um faz na privacidade, desde que não interfira na coletividade.
A moral se insere em um contexto político, diz respeito ao individuo e a figura da pessoa.
Dois termos usados, pelo senso comum, como sinônimos, mas que não significam a mesma coisa.
A palavra Indivíduo, a partir do grego antigo, significa objeto do pensamento sem partes, remetendo a sua significação sociológica: elemento ou ser particularizado que não existe sem o conjunto da sociedade.
Portanto, o indivíduo, apesar de compor um todo integral, é aquele que não pode ser separado ou dividido da coletividade. Termo que se aplica ao contexto aristotélico aplicado a política, a vida em sociedade.
Para Aristóteles, a política é a Ciência mais suprema, a qual todas as outras estão subordinadas, sendo sua tarefa investigar o que diz respeito às coisas públicas para garantir a felicidade coletiva, tal como a melhor forma de governo e instituições capazes de gerenciar o conjunto de indivíduos.
A palavra Pessoa deriva do latim Person - de onde vem Personagem -, a máscara usada pelos atores na representação teatral na antiguidade, denotando a representação do ser, daquilo que a sociedade imagina que alguém é, ou aquilo que o próprio deseja que seus semelhantes pensem que ele é.
Assim, a palavra está ligada com a aparência, remete imediatamente a condição moral, atendendo as expectativas impostas pela sociedade, forjando uma máscara que a pessoa precisa adotar para ser aceita pelo grupo.
O que originou o termo Pessoa Física, manifestação do caráter individual, político, da pessoa moral; exprimindo seus direitos e deveres garantidos pela legislação convencionada pelo Pacto Social.
Em sentido amplo, a ética se aplica ao sujeito, determinando ações que não necessariamente atendem imposições que nascem no exterior, tal como a moral.
A ética determina ações que permitem buscar a felicidade, não a aceitação, conduzindo ao conceito de liberdade e responsabilidade.
O indivíduo é livre para buscar a felicidade, mas não pode ferir o direito do outro de também ser livre.
Ao mesmo tempo, a busca da felicidade implica em responsabilidade para consigo mesmo, o outro, a sociedade e a humanidade.
Esferas com as quais o sujeito está comprometido, porque não pode ser feliz individualmente se não contribuir para a felicidade coletiva.
O termo Sujeito é o que melhor se aplica a este contexto, já que a partir da concepção original da palavra na antiguidade, significa “aquilo que é submetido à reflexão, à discussão”.
O sujeito é o que os filósofos chamam de Ser, aquilo que realmente é; expressando o objeto do conhecimento, a interiorização do mundo e sua significação para alguém.
Portanto, o sujeito é aquele produz atos pensados, racionalizados a partir da construção do conhecimento.
O que fornece uma pista valiosa do que é a ética, pois constitui padronização de ações de forma ponderada pelo sujeito; pensada depois de investigação das necessidades do indivíduo e do pragmatismo coletivo. Transformando o termo em um significado que expressa seu caráter cientifico.
Em outras palavras, a despeito de sua conceituação que pode ser mais estreita que a moral, quando aplicada a sentidos específicos, como a ética profissional; em sentido amplo, a ética é maior que a moral, porque é também uma Ciência.
Quando se discute o conceito de ética, inevitavelmente, acabaremos concluindo que é totalmente distinta da moral; mas está entrelaçada, propondo valores racionalizados, critérios para julgar o certo e o errado, influenciando e sendo influenciada pela moral e o direito.
A ética possui, portanto, uma função moralizadora, banalizando juízos, discutindo o que é moral, ajustando os princípios aceitos pelo conjunto da humanidade e, ao mesmo tempo, padronizando códigos de comportamento que pertencem a grupos ou profissões específicas.
Destarte, a ética possui também uma função humanista, criticando posturas de ação, examinando fundamentos.
Pensando os valores de forma sistematizada, caracterizando uma Ciência que idealiza o comportamento ideal, racionalizando a relação do sujeito consigo mesmo, o outro e o mundo.
A utilidade da ética insere-se no âmbito humano da valorização da liberdade através do conceito de responsabilidade; simultaneamente, padronizando regras de comportamento para facilitar o convívio entre indivíduos.
A ética torna a coexistência entre as pessoas possível e aceitável também pelo prisma do sujeito, de sua consciência interna.

Para saber mais sobre o assunto.
ARISTÓTELES. A ética: textos selecionados. São Paulo: Edipro, 2003.
BIGNOTTO, Newton. Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
MARTINI, Carlo Maria. Viagem pelo vocabulário da ética. São Paulo: Ed. São Paulo, 1994.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2008.



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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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