Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
Não possui fins lucrativos, seu objetivo é disseminar o conhecimento com qualidade acadêmica e rigor científico, mas linguagem acessível.


Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Editorial Volume 2014-2.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 5, Volume dez., Série 21/12, 2014, p.01-10.





Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
 
 


Conforme ressaltado nas edições anteriores, desde o inicio do ano de 2013 Para entender a história passou a apossuir periodicidade semestral, a qual antes era mensal, com edições em julho e dezembro.
A razão principal da mudança foi o fato do editor possuir crescentes compromissos acadêmicos desde que passou a ocupar a cadeira de titular na Unimonte na cidade de Santos, impossibilitando manter a periodicidade da publicação mensalmente.
Outra razão, não menos importante está relacionada com um aspecto financeiro, pois, no ano de 2013 e 2014, alguns grandes patrocinadores deixaram de transferir valores que custeavam a estrutura da revista.
Justamente tentando contornar este ultimo problema, criamos um mecanismo seguro para que os leitores façam doações através do mercado pago (nos valores de 10,00 – 25,00 e 50,00 reais).
No entanto, temos recebido poucas doações através deste mecanismo.
Pedimos encarecidamente aos leitores que realizem doações.
As visualizações dos artigos são elevadas, mas registramos baixo índice de doações, insuficiente para manter a estrutura da publicação.
No final deste ano de 2013 ultrapassamos 5 milhões de visualizações e contamos com os leitores para manter a revista ativa.

Nesta edição apresentamos 11 artigos inéditos:

1. A razão no pensamento de Descartes e Pascal. Autor: Fábio Pestana Ramos.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/a-razao-no-pensamento-de-descartes-e.html

2. Consciência histórica e narrativa histórica: a abordagem de Jörn Rüsen. Autora: Marilda Soares.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/consciencia-historica-e-narrativa.html

3. Gastronomia e cultura gastronômica. Autor: Fábio Pestana Ramos.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/gastronomia-e-cultura-gastronomica.html

4. Cultura & Estado: relações de integração e resistência no regime Estado-Novista. Autora: Flávia Braga.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/cultura-estado-relacoes-de-integracao-e.html

5. O Contexto Histórico- social - politico e a Didática Superior. Autor: Paulo Batista da Silva.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/o-contexto-historico-social-politico-e.html

6. Patrimônio e Memória: arquivo da resistência as ditaduras do Cone Sul. Autor: Vander Luis Duarte Rodrigues.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/patrimonio-e-memoria-arquivo-da.html

7. Tensões e afastamentos da Filosofia Cristã nas ordens religiosas. Autor: Ronaldo Couto.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/tensoes-e-afastamentos-da-filosofia.html

8. A Revolução Mexicana 1910-1917 merece o nome de Revolução? Autora: Flávia Braga.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/a-revolucao-mexicana-1910-1917-merece-o.html

9. A República Nova (1945-1964): curta e intensa vida. Autor: Fábio Liberato de Faria Tavares.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/a-republica-nova-1945-1964-curta-e.html

10. A infância e a escola: uma perspectiva histórica. Autores: Vanusa Aparecida Almeida e Luiz Rodrigues.
http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2014/12/a-infancia-e-escola-uma-perspectiva.html

11. A análise da representação e do discurso sobre o feminino no livro didático da 9ª série do Ensino Fundamental. Autor: Daniel Rodrigues de Lima.

Boa leitura.

sábado, 20 de dezembro de 2014

A análise da representação e do discurso sobre o feminino no livro didático da 9ª série do Ensino Fundamental.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 5, Volume dez., Série 20/12, 2014, p.01-10.




Prof. Daniel Rodrigues de Lima.

Licenciado em História pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci-UNIASSELVI.

Especialista em Ensino de História pela Faculdade de Educação e Tecnologia da Região Missioneira-FETREMIS.


Mestrando em História na Universidade Federal do Amazonas-PPGH-UFAM.

Membro da Associação Brasileira de Educação a Distância-ABED.


Pesquisa realizada para disciplina Estágio II, do curso de graduação em Licenciatura  Plena em História pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci- UNIASSELVI. Sendo orientado pelo professor especialista Júlio César de Souza Queiroz.  A pesquisa em questão foi desenvolvida na Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós, em Manaus, no Estado do Amazonas, no período do primeiro semestre de 2013.



A análise da representação e do discurso sobre o feminino no livro didático da 9ª série do Ensino Fundamental é o tema de nosso artigo, sua escolha ocorreu por entendermos que é muito comum ainda hoje, e em muitos livros didáticos, encontrarmos uma história feita só por homens, onde a participação das mulheres quando não é de coadjuvante, é de constante invisibilidade de sua atuação e participação nos processos históricos sociais.

Acreditamos que a discussão é de extrema relevância, pois desta forma podemos identificar as mulheres como sujeitos históricos em seu processo de viver cotidianamente, portanto, diante disso, mostraremos que assim como os homens, estas fazem e produzem a História.

As obras consultadas como fonte de fundamentação teórica acerca da área de concentração: História das mulheres e relações de gênero são os artigos de Cristiane Manique Barreto (2009), Rachel Soihet (1997) e Mary Del Priore (1998), onde as autoras nos informam sobre o conceito de história das mulheres e relações de gênero, além de desenvolverem balanço historiográfico e também analisar como estas foram e são representadas pela produção histórica ao longo dos tempos.

O conceito de Representação que utilizaremos é referente ao aporte teórico desenvolvido por Roger Chartier (2002) em “A Beira da Falésia”, em que salienta que o real não é a realidade em si, mas uma representação da mesma.

Para entendermos o que vem a ser um livro didático recorremos à análise de Circe Bittencourt (2004), onde a autora nos mostra como este produto educacional foi e continua sendo utilizado no processo de ensino aprendizagem de diversas gerações, os quais nos ajudam a compreender o que vem a ser um livro didático.

Acerca da análise do discurso sobre o feminino no livro didático utilizaremos como base para nossas análises os artigos “Livros didáticos de História e questões de gênero” (MARQUES; MAGALHÃES, 2012) e “A mulher na História Contemporânea nos livros didáticos: uma trajetória invisível?” (PORTO, 2011), onde as autoras buscam evidenciar como são forjados os discursos acerca da participação do feminino na história, em que chegam à conclusão de que os espaços reservados à mulher são sempre de apêndices do masculino, coadjuvantes nos eventos históricos ou simplesmente ignoram sua participação enquanto sujeitos ativos da história.

O artigo segue estruturado da seguinte forma: 2-Obejtivos, em que traçamos o que se pretende alcançar com a discussão e problemática que apontamos; 3- Metodologia, nesse item, discutiu sobre os materiais e métodos, além de técnicas de pesquisa para elaboração dos resultados do artigo; 4- Resultados e discussões é o momento de expormos nosso referencial teórico, além dos resultados provenientes de nossa intervenção nas turmas da escola que fizemos a pesquisa; Conclusão aqui colocou nosso ponto vista acerca de tudo que foi trabalhado, e também, fazemos um balanço sobre o alcance de nossos objetivos iniciais e novas possibilidades de se pesquisar sobre o tema; e por fim temos, Referencias, ou seja, a lista das principais obras que colaboraram para execução da tessitura de nosso texto.

 


OBJETIVOS.

Os objetivos que pretendemos alcançar nestas páginas são os seguintes: como objetivo geral: Analisar a representação e o discurso sobre o feminino presente no livro didático da 9ª série do Ensino Fundamental utilizado na Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós.

Os objetivos específicos são: Conceituar a História das mulheres e relações de gênero, livro didático, representação e discurso; Identificar historiograficamente como as mulheres foram representadas ao longo dos mais variados processos históricos; Compreender os motivos da invisibilidade das mulheres na História e examinar se os alunos conseguem visualizar a condição em que é alçado o feminino no livro didático de História.

 

METODOLOGIA.
 
A disciplina Estágio II, possibilitou a atuação na área de formação, ou seja, o ensino da disciplina História, em que realizamos as atividades in loco, durante todo o primeiro semestre de 2013, na Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós, instituição mantida pela SEDUC-AM .
 
A Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós, está localizada na Rua Goiânia, nº 701, no Bairro da Redenção, na zona centro-oeste da cidade de Manaus. O ato de criação está contido no Decreto-Lei nº 5.442, de 29 de dezembro de 1980.
 
A escola possui ótima estrutura física, onde funciona nos três turnos (Matutino, Vespertino e Noturno), ofertando no turno diurno os ensinos de nível Fundamental (7° ao 9°) e Ensino Médio (1º ao 3º), que também é ofertado no período noturno.

Identificado o aspecto físico da instituição, lançamos mão dos materiais disponíveis para coleta de nossas informações, dessa forma, o livro da 9ª série do Ensino Fundamental foi uma de nossas fontes de análise.

O livro didático padrão da 9ª série do ensino fundamental, na turma 1, da Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós é a obra “História: sociedade e cidadania”, de Alfredo Boulos Junior, em que se analisou e desenvolveu a caracterização da representação e do discurso sobre o feminino, ou seja, procuramos apresentar como o autor trata o feminino, se é como sujeito ativo no processo histórico, como coadjuvante ou simplesmente ignorando sua condição de agente histórico.

Além disso, com os alunos desta turma, 9º ano na turma 1, aplicamos questionário para entendermos se os mesmos conseguem identificar a visibilidade ou invisibilidade do feminino no livro didático de história pelo qual orientam seus estudos.

 
           

RESULTADOS DA PESQUISA E DISCUSSÃO.

Entendemos que é de extrema relevância conceituar o que é História das mulheres e a categoria gênero, enquanto análise histórica. 

Diante do exposto temos a conceituação sobre gênero de acordo com Cristiane Manique Barreto:

Quando falo em gênero, estou falando de relações. Não de mulheres, nem de homens, mas de como historicamente e socialmente foram construídas as relações entre homens e mulheres. Portanto, a categoria de análise-gênero-remete a cultura e não ao biológico. (BARRETO, 2009, p.146)

Dessa forma entendemos que a diferenciação sexual é biológica, ou seja, as questões relativas às formas físicas de diferenciação entre masculino e feminino não explicam e nem determinam as relações entre os sexos no contexto histórico.

As análises acerca da categoria de gênero só podem ser entendidas em suas relações sociais e culturais, ou seja, ser homem ou mulher é uma construção tanto social e cultural, criando-se uma relação de poder que envolve a sexualidade como organismo sociocultural com seus ritos, linguagens, representações e símbolos.

A historiadora Rachel Soihet em “História das Mulheres” salienta que não devemos trabalhar com a história da mulher, mas com história das mulheres, pois estas possuem as mais variadas diferenças, de classe, religião, étnica entre outras, onde se busca entender que: “[...] as mulheres são alçadas à condição de objeto e sujeito da história” (SOIHET, 1997, p. 399), ou seja, objeto por poderem ser estudadas em suas especificidades e diferenças, assim como em suas similitudes, e sujeitos por em seu processo cotidiano de viver em sociedade produzirem a história.

Em “História das Mulheres: As Vozes do Silêncio”, Mary Del Priore nós faz compreender e entender, a abordagem acerca da História das mulheres e relações de gênero, onde considera de suma importância a produção de uma história das mulheres, pois desta forma visualiza-se que mesmo subsumidas da História oficial, estas estão presentes nos mais variados setores da vida social e cotidiana, em que suas “vozes do silêncio”, podem ser encontradas em diversos arquivos e fontes variadas, portanto, segundo a autora:

[...] para que serve a história das mulheres? E a resposta viria simples: para fazê-las existir, viver e ser. Este é, afinal, uma das funções potenciais da História. [...] Sua função maior deve ser a de enfocá-las através da submissão, da negociação, das tensões e contradições que se estabeleceram, em diferentes épocas, entre elas e seu tempo; entre elas e a sociedade nas quais estavam inseridas. Trata-se de desvendar as intricadas relações entre a mulher, a sociedade e o fato, mostrando como o ser social que ela é articula-se com o fato social que ela mesma fabrica e do qual faz parte integrante. [...] Mas história da qual não estejam ausentes os pequenos gestos, as práticas miúdas e repetitivas do cotidiano, as furtivas formas de consentimento e interiorização das pressões, simbólicas ou concretas, exercidas contra as mulheres. (PRIORE, 1998, p. 235)

Entendemos que a história das mulheres deve privilegiar não a mulher singular, mas as diversas mulheres, enfocando seus processos de viver em sua prática social que produzem as formas de submissão, da negociação, das tensões e contradições existentes em seu universo social, onde devemos compreender os pequenos gestos, suas práticas miúdas, intimas no viver cotidiano, e com isso, fazê-las existir.

 


LIVRO DIDÁTICO, REPRESENTAÇÃO E DISCURSO: CONCEITOS.

É a partir, deste destaque maior acerca da inserção e participação do feminino na história que analisaremos o discurso e representação das mulheres e das relações de gêneros nos livros didáticos.

O livro didático é em muitos casos o único material didático pedagógico utilizado por professores e alunos no cotidiano escolar em várias regiões de nosso país, dessa forma conceituar esta ferramenta educacional é importante. Corroborando com nossa afirmação Brissola apud Oliveira nos informam:

O livro didático brasileiro, ainda hoje, é uma das principais formas de documentação e consulta empregadas por professores e alunos. Nessa condição, ele tem impactos sobre o trabalho pedagógico e sobre o cotidiano da sala de aula. Ainda, de acordo com o Guia, ‘é fundamental dispor de um livro didático diversificado e flexível, sensível à variação das formas de organização escolar e dos projetos pedagógicos, assim como às diferentes expectativas e interesses sociais e regionais’. (2011, p. 16)

 
Circe Maria Fernandes Bittencourt com um capítulo em obra que organiza, “O Saber Histórico na Sala de Aula”, intitulado “Livros didáticos entre textos e imagens”, nos mostra uma análise histórica deste produto educacional e as políticas de incentivo a produção e difusão do livro didático no Brasil ao longo dos anos, além de definir um conceito acerca do que são livros didáticos e sua função no ensino e aprendizagem, desenvolve uma forma de análise deste objeto através dos aspectos formais, conteúdos históricos escolares e conteúdos pedagógicos. Acerca do conceito do livro didático a autora afirma:

Ele é portador de textos que auxiliam, ou podem auxiliar o domínio da leitura escrita em todos os níveis de escolarização, serve para ampliar informações, veiculando e divulgando, com uma linguagem mais acessível, o saber científico. Possibilita, igualmente, a articulação em suas páginas de outras linguagens além da escrita, que podem fornecer ao estudante uma maior autonomia frente ao conhecimento. Por seu intermédio, o conteúdo programático da disciplina torna-se explícito e, dessa forma, tem condições de auxiliar a aquisição de conceitos básicos do saber acumulado pelos métodos e pelo rigor cientifico. (2004, p. 73)

 
Por sistematizar e organizar, os saberes escolares a partir de sua existência, os livros didáticos dentro da esfera do saber institucionalizado pela escola são ferramentas pedagógicas importantes no processo didático pedagógico, porém são também portadores de discursos muitas vezes estereotipados e preconceituosos em relação a diversos segmentos étnicos, culturais, sociais e de gênero, que privilegiam a atuação de determinados sujeitos históricos em detrimento de outros.

O conceito de representação do qual nos utilizaremos para entender como o feminino é desenvolvido pelo autor Alfredo Boulos Júnior, no livro didático “História: Sociedade e Cidadania”, da 9ª série de ensino fundamental são elaboradas a partir das conceituações de Roger Chartier, contida na celebre obra “A Beira da Falésia”, onde o autor propõe:

[...] à noção de ‘representação coletiva’ autoriza a articular, [...] três modalidades da relação com o mundo social: primeiro, o trabalho de classificação e de recorte que produz as configurações intelectuais múltiplas pelas quais a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos que compõem uma sociedade; em seguida, as práticas que visam a fazer reconhecer uma identidade social, a exibir uma maneira própria de estar no mundo, a significar simbolicamente um estatuto e uma posição; enfim, as formas institucionalizadas e objetivadas graças às quais ‘representantes’ (instâncias coletivas ou indivíduos singulares) marcam de modo visível e perpetuando a existência do grupo, da comunidade ou da classe. (2002, p.73)

A partir do exposto, ao analisarmos a representação do feminino no livro didático, verificaremos como o autor do livro constrói a realidade histórica e, com isso, analisamos em qual posição este inseri as mulheres no mundo histórico, e aí identificaremos a visibilidade ou invisibilidade das relações de gênero na obra em análise.

Com relação à análise do discurso sobre o feminino presente na obra didática, quem nos fundamenta teoricamente é, Marli dos Santos Porto, onde está autora faz uma análise do discurso sobre o feminino na história contemporânea, baseada nas ideias de Michel Foucault, e nos informa o seguinte: 

Nem tudo o que se quer demonstrar está explicitamente exposto. Em muitos casos, o verdadeiro sentido das coisas permanece nas entrelinhas dos discursos. A correta leitura de determinados fatos pode ser vislumbrada nas minúcias do discurso que é produzido com a finalidade de legitimar a superioridade de determinados fatos sobre outros. É o caso de eventos históricos cuja participação de alguns agentes é destacada, enquanto que outros são suprimidos no tempo e no espaço ou, ainda, são demonstrados como meros coadjuvantes da história contada. (2011, p. 91)


A autora continua sua análise do discurso, afirmando: 

Por falar em discurso, tradicionalmente este é entendido por sua natureza carregada de conteúdo e símbolos que são complexos na sua essência. Esse conteúdo, em sua maioria, é fecundo de juízo de valor, quase sempre oculto, distorcido, intencional, dissimulado e cheio de representações escondidas pelo texto. Contudo, analisar o discurso, na perspectiva de Foucault (1986), é dar conta das relações históricas que estão presentes nos discursos que podem ser extraídos ‘[...] no nível das existências das palavras’. (PORTO, 2011, p. 93)

 
Desta forma,   o que pretendemos em nossa análise é identificar como o autor do livro didático “História: sociedade e cidadania” da 9ª série do Ensino Fundamental, Alfredo Boulos Júnior explicita a participação feminina em seu texto historiográfico contido na obra em questão, se como agentes participativos ou como meras coadjuvantes na vivência dos processos históricos.

Ao longo dos processos históricos representados por aqueles que produziram a História, os historiadores homens, das diferentes épocas, relegaram a condição do feminino sempre o segundo plano. Onde de acordo com Mary Del Priore:

Numa obra clássica, O segundo sexo, publicada em 1949, Simone de Beauvoir fez uma observação fundamental: as mulheres não tinham história, não podendo, consequentemente, orgulharem-se de si próprias. Ela dizia, ainda, que uma mulher não nascia mulher, mas tornava-se mulher. [...] Beauvoir sabia que o território do historiador manteve-se, durante muito tempo, exclusividade de um só sexo. Paisagem marcada por espaços onde os homens exerciam seu poder e seus conflitos, empurrando para fora destes limites os lugares femininos. [...] Sobre este solo da história, as mulheres, de forma precária, tornaram-se herdeiras de um presente sem passado, de um passado decomposto, disperso, confuso. (1998, p. 217)

O século XX, porém é o lugar onde os estudos sobre as mulheres se tornarão comuns, principalmente com March Bloch e Lucien Febvre, na criação da Escola dos Annales, deslocando o foco do político para o social, cultural, econômico e cotidiano, alargando as abordagens históricas e ampliando a concepção de fontes.

Mas deve-se salientar muito mais a atuação dos movimentos feministas a partir da década de 1960, que proporcionaram conquistas expressivas no cotidiano feminino, onde diante disso, viu-se necessário a construção de uma História à qual inserisse as mulheres, não como vitimas ou heroínas da História, mas: 

[...] buscando-se visualizar toda a complexidade de sua atuação. Assim, torna-se fundamental uma ampliação das concepções habituais de poder — para o que cabe lembrar a importância das contribuições de Michel Foucault. Hoje é praticamente consensual a recomendação de uma revisão dos recursos metodológicos e a ampliação dos campos de investigação histórica, através do tratamento das esferas em que há maior evidência da participação feminina, abarcando as diversas dimensões da sua experiência histórica. Tais recomendações convergem para a necessidade de se focalizar as relações entre os sexos e a categoria de gênero. (SOHIET, 1997, p. 404)

 
A História que foi produzida da Antiguidade até as duas primeiras décadas do século vinte, foi movida pelos grandes feitos dos heróis masculinos, onde a mulher é sempre ligada ao irracionalismo, mantida no isolamento do lar, sem direitos de cidadania e com muitos deveres na sociedade, sendo mantida sempre na invisibilidade e em silêncio.

Contudo, a partir do advento da História dos Annales as mulheres são alçadas a condição de sujeitos e objetos da história, onde com isso, são visualizadas e ouvidas, saindo da invisibilidade de que por muito tempo ficaram submetidas.

 

A ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO “HISTÓRIA: SOCIEDADE E CIDADANIA”, DA 9ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL.
 
O autor da obra didática que nós propomos analisar, Alfredo Boulos Júnior é Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e Doutor em Educação pela PUC- São Paulo. É autor da coleção “História: Sociedade e Cidadania”, além de outras coleções didáticas como: “Construindo Nossa Memória” e “O Sabor da História”.
 
A coleção “História: Sociedade e Cidadania” são promovidas e organizadas, a partir, do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) do Ministério da Educação (MEC) para o triênio 2011-2013.
 
O livro da 9ª série do Ensino Fundamental “História: Sociedade e Cidadania”, utilizado na Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós, é uma obra que possui 320 páginas, dividida em seis unidades e dezenove capítulos, contendo ainda: Bibliografias, mapas de apoio e glossário.

O livro didático em análise foi desenvolvido de acordo com Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), através do eixo temático que orienta o ensino e aprendizagem da 9ª série, “Nações, povos, lutas, guerras e revoluções”, onde os conteúdos são apresentados de acordo com a concepção da História Integrada, ou seja, História Geral, do Brasil e América em único volume.

Os conteúdos e temas contemplados em seus capítulos são: Industrialização e Imperialismo; A Primeira Guerra Mundial; Revolução Russa; Inicio da República no Brasil: Republica Velha: Dominação e Resistência; Capitalismo e totalitarismo; A grande Depressão; O Fascismo e o Nazismo; A Segunda Guerra Mundial; O Primeiro Governo Vargas; A Guerra Fria; Independências: África e Ásia; O Socialismo Real: China, Vietnã e América Latina; Guerra e Paz no Oriente Médio; Dutra e Getúlio; Redemocratização Limitada; De Juscelino a Jango: crescimento econômico e populismo; Regime Militar de Castelo Branco a Médici; A distensão do Regime Militar; Geisel a Sarney; O Fim da URSS e a democratização do leste Europeu; a Nova Ordem Internacional e o Brasil Contemporâneo e de Collor a Lula.

A obra prossegue com bibliografia, mapas de apoio e glossário.

 

A REPRESENTAÇÃO E O DISCURSO SOBRE O FEMININO PRESENTE NA OBRA: “HISTÓRIA: SOCIEDADE E CIDADANIA”.
 
A obra “História: Sociedade e Cidadania” de Alfredo Boulos Júnior da 9ª série do ensino fundamental, que é utilizada na Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós é bastante ilustrada, onde as imagens presentes na obra privilegiam vários grupos e segmentos que compõem a sociedade: negros, índios, trabalhadores, mulheres e crianças.
 
Buscando salientar com a inserção destas imagens, que a história é uma construção de todos os agentes e sujeitos presentes na sociedade.
 
Nesta obra existem 384 imagens, entre fotos, charges, pinturas e gravuras, onde destas 103 possuem a imagem do feminino representada.

Observamos que a imagem do feminino é bastante explorada na obra, as mulheres são mostradas e visualizadas em vários momentos como no período das Guerras (1ª e 2ª), Movimentos Feministas, Condição feminina no Oriente Médio e entre outras situações.

Contudo as legendas não são tão informativas no sentido de orientar aos alunos sobre a condição de sujeito e agente ativo no processo histórico que as mulheres possuem, cabendo ao professor tal tarefa.

O autor deixa questionamentos da participação das mulheres na construção da história, onde na apresentação da unidade 1intitulada “A Era dos Impérios”, evidencia a participação da mulher no mercado de trabalho, porém mostra que esta participação se deu mais devido a ida dos homens a Guerra do que pela sua real capacidade de desempenhar as funções determinadas.

Outra questão importantíssima é relativa à mulher na Revolução Russa, onde sabemos que a greve das tecelãs teve influência fundamental para o desenvolvimento e eclosão da revolução, porém não há nenhuma uma imagem evidenciando tal participação, apenas um questionamento deixado pelo autor para os alunos: “As mulheres tiveram importante papel na Revolução Russa; por que será que os livros geralmente não narram isso?” (BOULOS JÚNIOR, 2009, p. 45).

Diante disso, fica uma autocrítica, pois ele questiona o porquê dos livros didáticos não evidenciarem a participação das mulheres, mas o próprio autor e sua obra não evidenciam esta participação.

Acerca do discurso construído pelo autor da participação do feminino na história, o que podemos observar é que seu texto base privilegia datas, fatos e heróis masculinos em geral, onde deixa pouco espaço para falar da participação do feminino como agente e sujeito histórico.

A observação da representação das mulheres através de imagens e suas participações mostram-se constantes no processo histórico, porém o autor Boulos Júnior continua tratando de acordo com seu discurso as mulheres como apêndices, coadjuvantes ou mesmo ignorando a participação destas como agentes históricos.

O que constatamos é o seguinte: apesar do livro didático em análise possuir imagens em profusão de mulheres representadas em várias ações histórico sociais, o discurso elaborado por seu autor, causa um paradoxo em não conter em seu texto base uma maior evidencia das mulheres na construção de sua cidadania e de seu viver em sociedade, ou seja, não amplia através de seus escritos a discussão acerca da real participação do feminino no processo histórico, deixando sérias lacunas em seu texto e imagens.

 

O FEMININO NA SALA DE AULA: ALGUMAS QUESTÕES PARA DISCUSSÃO.

O estagio II, foi desenvolvido na Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós, na turma 1 da 9ª série de Ensino Fundamental, onde fizemos nossas observações e praticamos a ação pedagógica através das Regências de aulas.

Ao chegarmos à escola conversamos com a diretora Tânia Maria Castelo Branco, que nos autorizou a execução das atividades de estágio, supervisionadas pela professora licenciada em história Janaina Barreto dos Santos

A partir, de então, fomos à série do 9º ano turma 1, onde está possui 52 alunos em uma sala com capacidade para 45 alunos, sendo a faixa etária de 12 a 14 anos de idade dos discentes.

Então, diante disso, conversamos com a professora sobre a regência, onde esta nós deixou a vontade para desenvolver as atividades.

Elaboramos cinco planos de aula para execução de nossas regências, onde encontramos uma turma um pouco dispersa, existindo falta de atenção antes das aulas terem início, contudo estas ocorreram de maneira satisfatória.

Trabalhamos os seguintes assuntos com alunos nestas cinco aulas: Imperialismo, Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa de 1917, onde nos auxiliamos do livro didático e do suporte didático contido na sala de informática, através dos slides que produzimos para melhor desenvolvimento das aulas, em que utilizamos mapas, textos e vídeos para melhor ilustrar nossas atividades.

Em todas as atividades desenvolvidas procuramos articular nossa área de concentração História das Mulheres e Relações de Gênero aos assuntos trabalhados em nossas regências, onde buscamos sempre evidenciar a participação feminina no processo histórico como agentes ativas em sua construção.

Elaboramos questionário com cinco perguntas referentes ao livro didático e sua utilização pelo professor, onde conseguimos coletar informações de 35 dos 52 alunos.

As questões que desenvolvemos foram: 1) o professor trabalha em suas aulas auxiliado pelo livro didático; 2) como você considerada a qualidade do livro didático que recebeu para auxiliar e direcionar seus estudos; 3) a História presente nos livros didáticos coloca em evidencia a participação feminina nos acontecimentos ou processos Históricos; 4) mesmo sem a presença constante no livro didático o professor consegue demonstrar a participação do feminino na construção dos acontecimentos ou processos históricos; e 5) O livro didático utilizada em sala de aula possui muitas ilustrações e imagens, porém nestas as mulheres são representadas e tem sua presença constante?

O que podemos identificar e compreender a partir dos dados colhidos e obtidos com as repostas dos alunos foi: respondendo ao primeiro questionamento na totalidade, ou seja, os 35 alunos responderam que o professor utiliza o livro didático para auxiliar suas aulas.
 
Na resposta sobre a questão três os alunos em sua maioria escreveram que o livro didático evidencia a participação do feminino no processo histórico totalizando 24 respostas sim, e 11 não, ou seja, onde informam não conseguir visualizar as mulheres.

Na quarta questão sobre se o professor conseguiu demonstrar a participação do feminino nos processos históricos conseguimos atingir os seguintes números: 30 respostas sim, e 5 respostas não, evidenciando que nossos objetivos que eram relacionar as atividades desenvolvidas no estágio à nossa área de concentração foram alcançados, onde conseguimos inserir as mulheres como agentes e sujeitos ativos da história em seu processo cotidiano de viver em sociedade.

Na quinta questão, acerca de ilustrações contidas no livro didático do feminino possuir presença constante temos: 24 alunos identificaram como uma presença constante das mulheres nas imagens contidas no livro didático, e 14 consideram que elas não aparecem, e um estudante respondeu que apenas às vezes as mulheres são representadas.

Esta questão se referia acerca da qualidade do livro didático “História: Sociedade e Cidadania” de Alfredo Boulos Júnior, e dos trinta e cinco alunos que responderam o questionário a grande maioria, 31, consideram o livro entre excelente-ótimo-bom, e apenas 4 consideram regular, sendo que ruim e péssimo não tiveram nenhuma resposta.

Portanto, em nossas observações e até mesmo em nossa atuação identificamos a falta do feminino em livros didático, e às vezes quando se fazem presente são com figuras ou imagens com certo estereótipo, em que cabe ao professor muitas das vezes buscar salientar e explicar certos conhecimentos que estão estabelecidos em algumas obras didáticas, e com isso, inserir o feminino como agente construtor da história.




CONCLUINDO.
 
O estágio foi de extrema importância em minha formação devido, a partir deste poder ter contato com o cotidiano escolar, e com isso, entender como é o trabalho de planejamento e execução das aulas, onde de acordo com a turma, a série e faixa etária dos alunos podemos lançar mão de estratégias e táticas de ensino e aprendizagem para uma melhor realização de nossa ação pedagógica.

Acreditamos ter alcançado todos os objetivos, pois conceituamos História das mulheres e relações de gênero e livro didático, além de identificarmos como o feminino é representado através do discurso contido no livro didático.

Verificamos ainda que os alunos estão atentos a estas visibilidades ou invisibilidades que os livros didáticos por muitas vezes evidenciam, e diante disso, cabe ao professor cotidianamente em sua prática e ação pedagógica, demonstrar que a História enquanto ciência do homem no tempo deve privilegiar a participação de todos os segmentos sociais, onde as mulheres são agentes ativos nesse processo.

Por fim, dar visibilidade a ação de sujeitos que por muito tempo foram relegados à margem dos acontecimentos históricos, como as mulheres é possibilitar a construção de uma sociedade menos desigual, minimizar os preconceitos e abusos, e com isso, gerar condições de cidadania e igualdade de direitos no viver em sociedade entre homens/mulheres, ricos/pobres, brancos/negros e índios, e, por conseguinte, possibilitar uma sociedade melhor, onde a escola tem função e caráter fundamental para disseminar tais atitudes de convivência entre seus pares sociais. 

 
 

PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO.

BARRETO, Cristiane Manique. História e Relações de gênero. In: MORGA, Antônio Emilio; BARRETO, Cristiane Manique (orgs.). Gênero, sociabilidade e afetividade. Itajaí: Casa Aberta Editora, 2009.

BITENCOURT, Circe Maria Fernandes. O Saber Histórico na Sala de Aula. 9ª ed. São Paulo: Contexto, 2004.

BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania. 9º Ano. São Paulo: FTD, 2009.

CASTRO, Hebe. Historia Social. In: CARDOSO, Ciro Flamarion Santana, VAINFAS, Ronaldo (orgs). Domínios da Historia: Ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.

CHARTIER, Roger. À Beira da Falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da Universidade/ UFRGS, 2002.

DEL PRIORE, Mary. História das Mulheres: as vozes do silêncio. In: FREITAS, Marcos Cezar de (org.). Historiografia Brasileira em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998.

MARQUES, Ana Maria; MAGALHÃES, Clauderize Karla de Oliveira. Livros didáticos de História e questões de gênero. Revista Eletrônica 6: Documento Monumento. Cuiabá: Universidade Federal do Mato Grosso. Vol. 6 - N.1 - JUN/2012. Disponível em: http://www.ufmt.br/ndihr/revista/. Acessado em: 15.03. 2012.
 
OLIVEIRA, Wilson Sousa. A imagem da mulher nos livros didáticos e relações de gênero. Revista Fórum identidades. Itabaiana: GEPIADDE. V. 9, Jan./ Jun. 2011.

PORTO, Marli dos Santos. A mulher na História Contemporânea nos livros didáticos: uma trajetória invisível. Revista Maiêutica: Licenciatura em História. Indaial: Ed. Grupo UNIASSELVI. V.01, n.01, Jul./Dez. 2011.


SOIHET, Rachel. História das Mulheres. In: CARDOSO, Ciro Flamarion, VAINFAS, Ronaldo (Orgs). Domínios da História: Ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro. Elsevier, 1997.

 



RESUMO:

Os livros didáticos de História por muito tempo relegaram as mulheres a condição de apêndice do masculino, ou simplesmente não as consideraram como sujeitas ativas da história. Diante deste fato propomos a análise da representação e do discurso sobre o feminino presente no livro didático da 9ª série do ensino fundamental utilizado na Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós. O nosso objetivo geral é analisar a representação e o discurso sobre o feminino. Em nossa metodologia analisamos o livro didático de Alfredo Boulos Júnior “História: Sociedade e Cidadania” e produzimos questionário para os alunos responderem como forma de coleta de informações acerca da qualidade do livro didático, o professor como agente mediador de discussões sobre à inserção do feminino na história, a representação do feminino através de imagens e entre outras. Por fim, acreditamos que inserir grupos menos privilegiados na História é uma forma de diminuir os preconceitos e desigualdades existentes em nossa sociedade.

Palavras-chave: História das Mulheres, Relações de Gênero, Representação, Discurso, Livro Didático.

 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A infância e a escola: uma perspectiva histórica.


 
Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 5, Volume dez., Série 19/12, 2014, p.01-04.
 
 
 
Profa. Vanusa Aparecida Almeida.

Docente do Curso Pedagogia/UNEMAT.

 

Prof. Luiz Rodrigues.

Professor de História/UAB.


 

Durante muito tempo a infância não foi representada ou simplesmente não existiu.

As crianças eram consideradas  “adultos em miniatura”, cuja  imagem não se via presente em meio á sociedade.

De acordo com o autor Philippe Ariés, não havia apego pelas pequenas, fato que talvez explicasse a falta de sentimento dos adultos em relação a elas, pois pelo motivo de descaso e má higienização das mesmas, cuidados mínimos que se devem ter com uma criança, morriam muito cedo, o que era inevitável na época, já que não eram nem ao menos vacinadas.

Após a metade do século XII a criança começou a ser constituída de uma maneira comparada produzindo um sentido de vida, uma experiência de criança que fosse modelo e referencia para as gerações.   Sua imagem passa a ser representada  consideravelmente a partir da imagem de Jesus, fato que colaborou para o processo de descoberta da infância. 

Na compreensão de Áries (1978), além da representação da criança a partir de Cristo, houve outros modos de representação infantil como através de retratos, de pinturas entre outros.

Aspectos que aos poucos, foram colaborando para o aparecimento da infância em meio á sociedade. 

O objetivo desse trabalho é entender a importância desse desenvolvimento do processo educacional nos diferentes contextos históricos de nossa sociedade e suas relações com a configuração da escola e a criança ao longo dos tempos.

 

A infância no século XIX segundo memórias.

Na percepção de Leite (apud Freitas, 2003) ao final do século XX a infância se tornou uma questão de urgência para o Estado e para as entidades governamentais e não governamentais.

Essa situação se deve ao fato de que a criança adquire uma autonomia da família e, ao sair de casa se depara com a marginalidade, a fome e outros problemas de ordem social.

Por isso acabam tendo que lutar pela sobrevivência.

Nessas circunstâncias necessitou enfrentar vários tipos de violências que muitas vezes levam até a morte.

Este é um dos principais entendimentos dessa pesquisadora.

Na concepção da autora, a infância só passa a ser vista quando o trabalho domiciliar deixa de existir, e as famílias não conseguem mais dominar seus filhos.

A partir daí que eles são caracterizados como abandonados e delinquentes.

Essas circunstâncias são históricas tanto que no século XVIII, surgem nos países europeus as rodas de expostos, que foi um invento para salvar as crianças abandonadas à morte ou a qualquer outro tipo de destino ou construção social da vida.

A percepção de Mattoso (apud Del Priore, 1991), aponta que além das crianças não terem a atenção especial que necessitavam, elas eram praticamente mudas.

Sequer eram ouvidas e muito menos falavam as crianças só tinham uma finalidade, no desempenho econômico, onde deveriam realizar que fossem remunerados.

As crianças que tinham de 0 a 3 anos eram carregadas pelas mães, irmãos ou escravas.

Nesse aspecto foram chamados de desvalidos de pé, e já aqueles que andavam podiam fazer pequenas tarefas domésticas ou de ganho.

Para Priore (1991) mediante o código filipino que vigorou até o fim do século XIX, a maioridade era dos 12 anos para as meninas e dos 14 para os meninos.

E para a igreja católica a condição de menoridade está diante dos 7 anos onde consideram a idade da razão.

A perspectiva apontada por Leite (apud Freitas, 2003) assegura que neste período havia questões que estavam em alta na sociedade.

Uma delas eram o trabalho escravista e a fragilidade da vida humana.

Nesse período era muito alto o índice de mortalidade com causas como febre, cólera, bócio, cegueira e tuberculose, sem falar das doenças infantis e adultas que não se conheciam as causas.

Os recursos voltados para a saúde eram precários, havia muita escassez de médicos e a formação desses profissionais era limitada.

As famílias, naquela época utilizavam muito conhecimento popular de plantas e animais como remédios para a cura de males que atingiram as famílias, principalmente dizimaram centenas e por vezes milhares de crianças.

De modo particular atingiram os recém-nascidos.

 

Uma instituição nova: o colégio.

Na compreensão de Ariés (1978), os colégios no século XIII eram asilos, destinados a estudantes pobres e os mesmos eram fundados por doadores.

Para esse autor, somente a partir do século XV que as pequenas comunidades democráticas tornaram-se instituto de ensino, foi destinada a toda a população numerosa, e não, mas apenas os bolsistas da fundação foram submetidos a uma hierarquia autoritária.

E, finalmente todo ensino das artes passou a ser ministradas nos colégios, que serviram como modelos nos séculos XV ao XVII das grandes instituições escolares.

Os colégios eram considerados um estabelecimento de regras e disciplinas, e conduziu, segundo esse autor, na mudança da escola medieval, que eram uma simples sala de aula e transformou-se em um colégio moderno porem, complexas e com objetivo de não apenas ensinar, mas de vigiar a juventude e enquadrá-los quando necessário.

No inicio eram aceitos pelo senso comum as misturas das idades.

Com a evolução da instituição escolar, surgiu a repugnância nesse sentido.

Inicia-se então a separação das crianças menores, e logo em seguida os alunos maiores de lógica, e de física e todos os alunos de artes, embora alguns deles tinham a idade que permitia exercer funções reservadas para adultos. Essa separação tinha como objetivo de somente proteger os estudantes das tentações da vida leiga.

Os estudos de Philippe Áries (1978), apontam que, os estudantes durante o período de estudo eram submetidos a um modo de vida particular das comunidades, que eram dos dominicanos e dos franciscanos a qual os educadores se “espelhavam”.

Mais tarde o objetivo a esse tipo de existência entre a vida leiga e a vida monástica foi alterado, no inicio foi considerado como que um modo de garantir um jovem clérigo, uma vida honesta.

No século XIV a ideia de educação tinha uma concepção estranha e diferente.

Segundo o autor se tratava da formação como uma instrução do estudante, por esse motivo convinha impor as crianças em uma disciplina tradicional dos colégios, modifica, no entanto num sentido, mas autoritário, mas hierárquico.

Para o autor, o colégio tornou-se então um instrumento para a educação da infância e da juventude em geral.

Nos séculos XV e XVI o colégio modificou seu recrutamento que passou a ser composto por um número crescente de leigos, nobres e burgueses, também as famílias populares, e não somente por uma pequena minoria de clérigos letrados.

Nesse aspecto, de acordo com o Ariés (1978) o colégio tornou-se então uma instituição essencial a sociedade com um corpo docente separado com uma disciplina rigorosa, com classes numerosas em que formariam todas as gerações instruídas do Acien Regime.

Segundo Ariés (1978), no século XVIII, surgiu então uma educação de duas diferentes maneiras.

Uma para as crianças mais velhas, e a outra com intuito de separar os ricos dos pobres.

Essas duas maneiras de separações foram resultados de manifestações de uma tendência geral que culminou para destingir e difundir essas ideias.



Conceito de escola na modernidade.
No entendimento de  Romanelli (2002), a escola surge com o intuito de manter os desníveis sociais, sustentar os privilégios, “pois a própria institucionalização se mostra privilégio da classe dominante”.
Baseia-se na diferenciação, entre exploradores e explorados, podemos observar essa questão na obra de Bourdieu, intitulada “Reprodução”, onde afirma que a educação é perpetuação das diferenças. 
De acordo com  Manacorda (2002), a educação moderna tem a necessidade de educar todos os homens, prima pela universalidade, proposta pela burguesia.

Visava em 1763 a formação da inteligência por meio do ensino da história e das ciências naturais, entretanto não visava atingir toda a população, Manacorda ( 2002) ressalta ainda que com a revolução industrial escola e fábrica nascem juntos, e provoca grandes mudanças na vida social dos indivíduos. 

Com o advento da modernidade uma nova estrutura escolar começa a se instaurar.

De acordo com Saviani (1997), a escola começa a ser pensada como processo para a abolição da ignorância, mediadora para a instrução e conhecimento equacionando assim o problema da marginalidade “então a escola é dirigida, pois, no grande instrumento para converter os súditos em cidadãos”.

Não se pode deixar de mencionar que a escola como “direito” tem seu apogeu com a revolução francesa. 

De acordo com Manacorda (2002), a pedagogia moderna, estabelece a separação da criança e do adulto para o processo de ensino- aprendizagem surge neste momento à descoberta da psicologia infantil. 

A escola moderna adota as disciplinas científicas e produtos culturais antes excluídos, a escola tradicional começa a ser questionada por não conseguir efetuar a universalização, neste momento surge o movimento escolanovismo.

A ignorância deixa de ser o único motivo para a marginalização e o marginalizado passa a ser visto como rejeitado. 

Com o advento da modernidade, nasce à ideia de formação geral para todos.

De acordo com o arauto da educação Comênio seria preciso “ensinar tudo e a todos”. 

As disciplinas psicologia da educação e sociologia da educação são importantes para analisar escola na modernidade, porque refletem no que tange o processo de democratização na educação.

Psicologia e sociologia buscam entender esse processo nos fatores: sociais, econômicos, culturais, etc. 

A modernidade desagrega criança do adulto e origina- se a psicologia infantil.

Sob o olhar psicológico esse ser deverá se incluído na escola apresentando os mais diversos fatores: cognitivo, motor, social, etc. 

O construtivismo pós piagetiano se baseia na teoria de que a aprendizagem humana é resultado de construção mental realizada pelos sujeitos com base na sua ação sobre o mundo e a interação com os outros.

Nessa mesma perspectiva o sócio- construtivismo mantém o papel da ação e da experiência do sujeito no desenvolvimento cognitivo, mas introduz com mais vigor  o componente social na aprendizagem tornando o papel determinante das significações sociais interações na construção de conhecimentos. Instrumentos cognitivos utilizados pelas crianças são também representações formadas nas interações sociais. 

 

A escola contemporânea: um espaço de experiência e de constituição do sujeito.

Ao realizar leituras em torno dos pensadores da educação compreendemos que. as instituições, ao longo da história, foram modificadas em seus objetivos, finalidades e capacidade de construção da relação entre sujeitos e sociedade.

Desde as escolas gregas, hindus ou egípcias ou mesmo as escolas do período medieval até os asilos e outras formas de internato, a ideia de ensinar foi configurada como a principal função da instituição para a transmissão de conhecimentos entre gerações.

Nesse quadro, a idéia de escola chega à contemporaneidade com algumas incertezas e trilhando alguns caminhos.

É nessa perspectiva que pretendemos conversar sobre a escola contemporânea ou a escola da atualidade que nossas crianças vivem, convivem e experimentam os primeiros caminhos da vida social. 

Para a pensadora Marisa Costa  (2003)  a escola é uma instituição que a base alicerçada em princípios, tradição da modernidade, á mesma vem sendo abalada pelo modo de viver contemporâneo.

Além de tudo ela é autêntica no direito de ser a principal instituição responsável pela transmissão de saberes.

Por isso, a escola enquanto tempo e espaço de existência e construção do cotidiano possui importante função social e, por ser dinâmica e viva, deve sempre se propor aos movimentos de transformação, mudança e melhoria. 

A escola é lugar de mudanças, de transformações, do sujeito e da realidade familiar e social.

Porém, mudar não é tarefa fácil e todos nós sabemos disso, mas o sabor da mudança emerge quando a própria escola se torna espaço vivo, pulsante, em movimento constante.

Por isso, entendo a escola como instituição essa que pode ser capaz de mudar sua concepção de sujeito, de cidadania, de conhecimentos aplicáveis, enfim, de realização dos objetivos sociais e culturais de uma sociedade.   

Como afirma Costa (2003),  percorrer novos caminhos para a ressignificação do espaço, tempo, escola é constante referencias culturais e políticas indispensáveis a outra visão de um mundo mais justo, ética, fraterno e solidário.

Percorrer novos caminhos não é tarefa simples de ser realizada: sempre irão surgir resistências, mas, lembrando nosso eterno Paulo Freire: “educar é um ato político e exige que para a transformação do mundo, o sonho seja vigoroso, pleno de coragem para a sua realização”.  

Na compreensão de Arnold, (2006), uma nova escola hoje, deve saber que aprender amar é um quinto pilar para a educação do século XXI.

Para tudo isso, rever a escola de hoje é ação consequente, reflexiva e auto questionadora é buscar teoria que leva a ação, é transformá-la, enfrentar inúmeros desafios presentes nos erros e acertos e, dignamente, reaprendemos a amar. 

De acordo com a obra “Mídia, magistério e política cultural”, da autora Marisa Vorraber Costa (2003), especialmente em relação à revista “Nova Escola”, a escola contemporânea não se trata de palavras e imagens apenas, mas de um conjunto de perspectivas, métodos e” verdades”, organizados e colocados a disposição, constituindo práticas com propriedades prescritivas, moldadoras e fixadoras.  

A escola na contemporaneidade é lugar de transformação do individuo.

Nesse aspecto, entende-se que a instituição de ensino é capaz de mudar a maneira das crianças compreenderem o mundo a sua volta e contribui para que possam interpretar os processos de convivência, e,  de igual maneira auxilia os pequenos a ocupar espaços.

Fatores esses que nos levam a reconhecer que crianças e adolescentes precisam sonhar e acreditar em si mesmo  e nas suas capacidades de realizarem seus talentos em instituições específicas e especiais como a escola, a maior instituição de ensino que a humanidade já construiu.  

 
 

Concluindo.

Faremos algumas considerações finais, já que é impossível concluir esse tema tão complexo que é a Infância e o processo de institucionalização dos saberes, isto é, a escola e a escolarização e as ações de ensinar e educar.  

Compreende-se após estudar sobre esse tema, em uma perspectiva histórica, que a infância nem sempre teve o seu lugar no mundo pensado pelos adultos.

Primeiramente ela era vista como adultos em miniatura, não tinha uma ternura para com ela, muito pelo contrário a proposta era nem se apegar as crianças, pois elas eram seres sem importância.

Nesse mesmo contexto as crianças eram colocadas no ambiente de trabalho muito cedo e o que interessava era produzir riquezas para a família e para ela própria se sustentar.

Nesse sentido, a exploração da força de trabalho da infância começava em casa, realizada pelos próprios familiares, exigindo sustento da vida em instituição da sociedade.  

Estudando diversos autores, entre eles, Áries,  entendemos que com a chegada da modernidade a infância passa á ter um olhar de setores da sociedade, porém não muito diversificada da compreensão do adulto.

Foi então que as crianças, com idade mais próxima da atualidade, começaram frequentar as escolas.

No entanto sem deixar o trabalho, e é claro que isso não daria certo, então começaram á surgir vozes que se levantaram para questionar vários aspectos sobre a infância e entre eles estava o trabalho infantil, que depois de muitas discussões em âmbito social, cultural e político, passou a ser chamado de exploração infantil. 

Já na contemporaneidade, a infância passa á ser foco das atenções no âmbito político, social, familiar e educacional, e com isso esse período da existência da criança passou á ser vista e estudada na sua multiplicidade, na complexidade da existência dos sujeitos, do ser humano. 

Embora se tenha conquistado muitas coisas, as ideias de escola, a educação e a infância têm ficado em meio às políticas medíocres e grandes obstáculos.

Fatores esses que acabam não resolvendo e  sequer minimizando a injustiça social.

Para que isso mude necessitamos de um olhar de todos, pois devemos pensar na infância como um ser social de construção e transformação, e na nossa concepção.

Para isso acontecer devemos proporcionar uma educação de qualidade para todos desde a sua infância. 

Ao abordarmos a questão da escola e da infância na perspectiva histórica, procurando construir um significado também com o apoio de outras disciplinas, este seminário propicia um olhar mais critico, mas integrado da percepção que devemos ter da instituição escola e da fase de existência dos sujeitos.

Assim, a interdisciplinaridade nos oferece uma oportunidade de caminhar intelectualmente de maneira sólida para que possamos perceber os fenômenos institucionais e as relações com os sujeitos e saberes de um modo instigante e desafiador.

Nada que seja totalitário, mas amplia o processo de conhecimento sobre as coisas, sobre os seres e sobre todo modo de criação humana.  

 
 

Para saber mais sobre o assunto.

ARIES, Philippe. História Social da Criança e da família. Rio de Janeiro, 1978. Editora: L.T.C.

COSTA, Marisa Vorraber. Estudos Culturais em Educação: Mídia, arquitetura, brinquedo, biologia, literatura, cinema... Organizado por Marisa Vorraber Costa. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000.

FABRIS, Eli. T. Henn – PPGEDU/UNISINOS – efabris@unisinos.br GT: Educação Fundamental/n. 13 Agência Financiadora Sem Financiamento.

FREITAS, de César Marcos. Os Intelectuais na História da Infância. Moisés Kuhlmann Jr., Orgs. São Paulo: Cortez, 2003.

LIBÂNEO, José Carlos, ET all. Educação escolar políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2008.

MANACORDA, M. A. História da Educação: da antiguidade aos novos dias. São Paulo: Cortez, 2002.

PRIORE, Mary Del (org.). História da criança no Brasil. São Paulo: Contexto, 1991.

SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 1997.
 
ROMANELLI, O. de O. História da educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002.

 

 

RESUMO: Este artigo tem como objetivo à contribuição e a compreensão do sentido articulado, das construções de significados, das mudanças de paradigmas que suscitaram ao longo da história. O objetivo é entender a importância desse trabalho no desenvolvimento do processo educacional nos diferentes contextos históricos de nossa sociedade e suas relações com a configuração da escola e a criança ao longo dos tempos.

 Palavras-chave: HISTÓRIA, EDUCAÇÃO, INFÂNCIA, ESCOLA.