Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
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Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Ensaio sobre a doutrina dos Universais em São Tomás de Aquino.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 13, Volume dez., Série 06/12, 2022.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.


Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.
Graduado em Pedagogia - UNICSUL.



1. INTRODUÇÃO.

São Tomás de Aquino, o maior e mais importante filósofo e teólogo da Alta Idade Média, preocupou-se em desplatonizar a teologia cristã.

Adepto do aristotelismo, tentou proceder como Santo Agostinho fizera com a filosofia de Platão, tentando uma conciliação entre a filosofia aristotélica e o cristianismo.

Ele não acreditava em um paradoxo irreconciliável entre aquilo que dizia a filosofia enquanto racionalização e a revelação da fé cristã, pelo contrário, considerava que o cristianismo e a filosofia tratavam de certa forma das mesmas temáticas.

No entanto havia um entreve representado pelo problema dos “Universais”, que, desde a antiguidade, afligia os pensadores sobre a existência real de tudo que nos cerca.

Havia a dúvida sobre gêneros e espécies ser existentes na realidade, apenas no intelecto ou meras palavras sem correspondência com o concreto.

Uma questão central para ser solucionada pela teologia cristã medieval, porque se meras palavras, conceitos como Deus e alma seriam invalidados.

Razão pela qual o antagonismo entre platonismo e aristotelismo, por sua vez, estava dentro do horizonte da escolástica medieval, a filosofia desenvolvida nas nascentes Universidades.

O tomismo precisava solucionar esta ausência de confirmação da concretude dos dogmas cristãos e, para tal, antes, proceder uma síntese entre a fé e o conhecimento filosófico da antiguidade, provando Deus racionalmente.

 

2. REFUTANDO PLATÃO PARA CONFIRMAR ARISTÓTELES.

Embora na Idade Média fosse considerado que somente pela fé e pela revelação se poderia chegar a verdade, São Tomás de Aquino acreditava que ao lado das verdades de fé poderiam coexistir, sem contradição, as verdades naturais teológicas.

Entendendo estas últimas como alcançáveis tanto pela fé como pela razão inata, com a qual todo humano nasce, iniciou uma doutrina dos “Universais”.

Esta foi construída sobre as formas separadas, adaptando o pensamento aristotélico ao contexto cristão, mostrando que o conhecimento inteligível da ação pertenceria ao intelecto, agindo sobre a alma humana.

No entanto, antes, precisou proceder a refutação do platonismo, não de um platonismo qualquer, mas sim de um platonismo de tipo inconsequente.

Uma vez que era necessário mostrar que o conhecimento humano, necessariamente, dependeria das sensações, ou seja, seria uma derivação integral do inteligível a partir do sensível.

Divergindo de Santo Agostinho, em harmonia com o pensamento aristotélico, São Tomás de Aquino considerava a filosofia como uma disciplina essencialmente teórica e absolutamente distinta da teologia, apesar de não ser oposta ao conteúdo teológico das revelações facultadas por Deus.

A filosofia seria empírica e racional, sem inatismo e iluminações divinas, exatamente por este motivo, seria fazia desplatonizar a filosofia.

Razão pela qual rejeitava o dualismo platónico entre a alma e o corpo, para ele a união da alma ao corpo seria benéfica e naturalmente exigida para a felicidade humana.

Portanto, em essência o dualismo platônico, apregoado por Santo Agostinho, estaria incorreto, a medida que alma e corpo estariam integrados.

 

3. ALMA E CORPO UNIDOS POR DEUS.

Para São Tomás de Aquino, o corpo estaria condenado a morte desde a criação do homem, enquanto a alma seria imortal, mas ambos estariam unidos pelo criador.

Assim, a ideia da busca da felicidade pelo homem estaria ligada a uma imortalidade restituída pela ressurreição, de modo que a felicidade suprema da alma seria a visão beatificada de Deus.

Dentro deste contexto, o problema da teologia pura estaria intimamente ligado a questão epistemológica do conhecimento, especialmente a distinção entre a priori (o que conhecemos antes de ter contato com a coisa) e a empiricidade.

A matéria, não sendo absoluta (não ente), seria irreal e sem forma, de modo que a forma seria a essência das coisas e, portanto, universal.

Toda substância corpórea seria um composto de duas partes substanciais complementares e unidas, uma passiva e em si mesma, absolutamente indeterminada, chamada de matéria; e outra ativa e determinante, denominada forma.

Os seres materiais teriam outras duas causas: eficiente e final.

A causa eficiente seria a que faz surgir um determinando ser na realidade, realizando a síntese da matéria com a forma que a especifica.

A causa final seria o fim que opera a causa eficiente, determinando a ordem observada no universo.

A forma seria o princípio da vida, uma atividade originada dentro do ser, que poderíamos chamar alma.

Esta se dividiria em vegetativa e sensitiva, sendo a primeira própria dos seres que crescem e se reproduzem e a segunda daqueles que sentem e se movem.

Antes de São Tomás de Aquino, o problema da alma separada do corpo constituía um paradigma cientifico aceito pela Teoria do Conhecimento; a partir dele, os teólogos passam a considerar a alma como unida naturalmente ao corpo.

 

4. A ALMA E CORPO INDISSOCIÁVEIS.

Para São Tomás de Aquino, a atividade intelectiva seria orientada para entidades imateriais, como os conceitos; por consequência, tal atividade só poderia depender da alma racional.

A vontade humana seria exatamente, por este motivo, livre e indeterminada, onde entraria o livre arbítrio facultado por Deus, como ser maior e motor da junção do corpo e da alma.

Desta forma, a alma espiritual transcenderia a vida do corpo depois da morte, portanto, imortal e transcendendo a origem material do corpo criado imediatamente por Deus.

A relação do corpo, já formado e individualizado, seria indissociável da alma.

Portanto, o corpo não poderia existir sem a alma, da mesma forma que a alma, ainda que imortal, não possa ter uma vida plena sem o corpo, que é seu instrumento indispensável para conhecer o divino, a despeito de não permitir vivencia-lo plenamente.

Contrariamente à doutrina agostiniana, que pretendia ser Deus conhecido por intuição, no tomismo Deus é cognoscível unicamente por demonstração.

Esta demonstração não recorreria ao a priori, mas unicamente ao posteriori, partindo da experiência, que sem o corpo não seria possível.

Assim, sem a intrínseca relação entre corpo e alma, não poderia ser conhecido pelo homem.

 

5. O ARISTOTELISMO PROVANDO A EXISTÊNCIA DE DEUS.

Baseando-se em conceitos aristotélicos, São Tomás de Aquino utiliza argumentos filosóficos racionais para provar a experiência que, por sua vez, permite conhecer Deus e sua existência concreta.

A ideia é utilizar o pressuposto garantidor da relação corpo/alma para evidenciar Deus, usando o sensível e racional, procedendo a uma demonstração lógica.

Portanto, os dogmas cristãos seriam concretos e não apenas um “Universal” existente apenas como palavra, sem correspondência com a realidade.

O argumento inicial se baseia na doutrina da potência e do ato, ou seja, na experiência sensível, que pode ser constatada pelo movimento das causas, do contingente, dos graus de perfeição das coisas, ou da ordem que entre elas reina.

Aplicando o princípio de causalidade, que suspende o movimento ao necessário, o imperfeito ao perfeito, a ordem à inteligência ordenadora, conheceríamos Deus de modo indireto e limitado, partindo da criatura.

A partir do homem e da sua imperfeição, representada pelo corpo, ou seja, do efeito, chegaríamos a prova da existência de Deus ou da causa.

O conhecimento humano de Deus seria um conjunto de negações e analogias, o que levaria a um conhecimento que não é falso, mas apenas incompleto.

Partindo do problema dos “Universais”, poderíamos afirmar que o espirito seria um produto semelhante a uma pluralidade, na predicação do objeto estaria presente Deus.

No entanto a formulação mais completa sobre a questão, dentro da filosofia tomista, parece ter sido realizada em sua obra “O ente e a essência”.

O “ser” é diferente da essência, pois é Deus que permitiria às essências realizarem-se em entes, em seres existentes.

Deus seria ato puro, completo e existente como fundamento da realidade das outras essências que, uma vez existentes, participam de seu “ser” infinito.

A filosofia de Aristóteles não falava sobre um criador, como seria compreendido pelo cristianismo, mas São Tomás de Aquino transforma Deus em indispensável para existência de um “Motor” garantidor da alma e do corpo.

Ele acreditava que o conhecimento de qualquer verdade, inclusive do real, carecia da ajuda divina.

O intelecto só pode ser movido por Deus a agir, os seres humanos teriam a capacidade natural de conhecer muitas coisas sem nenhuma revelação divina, ou a priori, mas o a posteriori seria iluminado pelo divino.

 

6. A REFORMULAÇÃO DO PENSAMENTO DE AVICENA.

A originalidade do pensamento de São Tomás de Aquino não está na tese da indiferença da essência e nem nas distinções de seus estados, não residi tampouco na assimilação das ideias divinas; está sim na reformulação da doutrina de Avicena da essência e da articulação da essência com predicados.

Abu Ali Huceine ibne Abedalá ibne Sina, cujo significado do persa era "filho de Sina", conhecido como Ibn Sīnā ou por seu nome latinizado Avicena; foi um filósofo árabe que viveu no século XI, duzentos anos antes de São Tomás de Aquino.

Para quem seria possível conciliar o neoplatonismo e o aristotelismo, visto que o ser seria o objeto primário e próprio da metafisica; sendo possível uma coisa existir legitimamente apenas no espírito e faltar nos objetos exteriores; não sendo concreto, mas existindo em sua intencionalidade.

No tomismo, a essência seria aquilo que o intelecto concebe primeiro, de modo que somente enquanto concebido o “ente”, tudo aquilo que pode ser definido racionalmente, guardando uma identidade consigo mesmo, estaria acessível o concreto.

Através da sensação um conceito que se elevaria ao ente, muito embora este esteja na origem do processo cognitivo.

Dentro deste contexto, o ente não seria apenas fundador da abstração, mas, a medida que originário, captaria o objeto no que é em sua potência, essência e ser.

Ao contrário da ideia platônica, o tomismo não afirma a existência como mera ideia que corresponderia, antes, a uma maneira de considerar a essência e de testar sua legitimidade.

O ente poderia ser dividido no que enuncia enquanto verdade da proposição e no seu predicamento.

Tudo que estaria sob o alcance do saber humano seria composto e comportaria um dualismo inseparável, tal como a representação do corpo e da alma unidos pelo criador.

O saber humano se elevaria a partir do simples, embora do posterior para o anterior, ou do que é segundo para o que é primeiro.

Desta forma, o mundo seria como que uma vítima semântica do encaixe entre os sentidos da forma.

O “Universal” não poderia ser interpretado como algo universal na coisa mesma, ou a maneira de Platão, como se a universalidade só estivesse no conceito da palavra.

Deveria ser entendido como algo que está nas coisas fundamentalmente, uma vez que a natureza dos seres seria justamente a universalidade de entendimento que viria de Deus.

Sendo o “Universal”, apenas uma questão semântica, sem correspondência com a realidade, apenas um nome para aquilo que o homem entende parcialmente.

 

7. CONCLUINDO.

Para São Tomás de Aquino, seria através da essência que as coisas se tornariam cognoscíveis, e, portanto, passíveis de classificação em uma espécie ou gênero, de modo que a matéria não seria princípio de conhecimento.

Ele acreditava que a verdade seria conhecida pela razão através da revelação natural e pela fé pela revelação sobrenatural.

Esta teria sua origem na inspiração pelo Espírito Santo e estaria disponível através do ensinamento dos profetas, reunidos nas Sagradas Escrituras.

A revelação natural conduziria a verdade disponível a todos através da natureza humana e dos poderes da razão, que tornaria possível perceber e confirmaria a existência de Deus.

 

8. PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO.

HIRSCHBERGER, Johannes. História da filosofia na Idade Média. São Paulo: Herder, 1966.

LIBERA, Alain de. La querelle des universaux. De Platon à la fin du Moyen Age. Paris: Du Seuil: 1996.

TOMÁS DE AQUINO. O Ente e a Essência. Petrópolis: Vozes, 1995.

KLIMKE, Federico. Historia de la filosofia. Barcelona: Labor: 1947.




segunda-feira, 4 de julho de 2022

O grito do satélite: uma análise do desenvolvimento histórico das novas fronteiras da televisão.

 Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 13, Volume jul., Série 04/07, 2022.

 

Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.


Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.
Graduado em Pedagogia - UNICSUL.

 

RESUMO: Discutimos alguns aspectos do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa contemporâneos, sobretudo vinculado com a televisão, a partir da transmissão de sinais pelos satélites artificiais e captação destes pela antena parabólica. Percursores e, simultaneamente, articuladores da criação da chamada aldeia global, com posterior aprofundamento realizado pela internet e sinal digital. Panorama de extrema relevância para o entendimento da história dos meios de comunicação e, portanto, entendimento da atual configuração do mundo globalizado no âmbito da sociedade da informação.

PALAVRAS-CHAVE: História da Comunicação, Satélites Artificiais, Antena Parabólica, Aldeia Global, Sociedade da Informação, Globalização.


ABSTRACT: We discuss some aspects of the development of contemporary mass media, especially linked to television, based on the transmission of signals by artificial satellites and their capture by the satellite dish. Precursors and, simultaneously, articulators of the creation of the so-called global village, with subsequent deepening carried out via the internet and digital signal. Panorama of extreme relevance for understanding the history of the media and, therefore, understanding the current configuration of the globalized world within the scope of the information society.

KEYWORDS: History of Communication, Artificial Satellites, Satellite Dish, Global Village, Information Society, Globalization.

 


1. INTRODUÇÃO.

O “Gato Félix”, um animalzinho preto e sorridente, muito popular nos desenhos animados da década de 1920, entrou para a história a sessenta anos, quando foi escolhido pala RCA (Radio Coporation of America) para inaugurar as primeiras imagens, ainda experimentais, da televisão americana.

Durante semanas, a estatueta do gato, de pouco mais de 1 metro, solidamente instalada em uma plataforma giratória, materializou-se nas 60 linhas que compunham, em 1928, a tela do aparelho testado pelo engenheiro russo naturalizado estadunidense, Vladimir Zworykin (1889-1982), considerado o pai da TV.

Tão rudimentar era o sistema que a imagem parecia vir através de uma persiana, quase não se enxergava nada.

Naqueles tempos pioneiros, cientistas de vários países sonhavam com a televisão - palavra de origem grega, que significa visão a distância.

Certamente, ninguém tinha ideia do que iria representar para a humanidade, muito menos que caminharia para se tornar interativa no século XXI.

Na era do rádio, a TV significava uma nova e magnifica invenção, a deslumbrante possibilidade de ver alguém ou algo em outro lugar no mesmo instante.

Só muito tempo depois, a partir da década de 1960, o progresso da transmissão de imagens ao vivo ou gravadas seria possível com: a evolução das câmeras, o aparecimento do videoteipe, a disseminação das estações repetidoras de microondas, o lançamento dos satélites, o salto da transmissão em cores e o uso de computadores na geração e edição de imagens.

Gradualmente e cada vez de forma mais acelerada, a TV se tornou parte integrante da vida humana, para o bem e para o mal, influenciando emoções e pensamentos, opiniões e atitudes pelo mundo afora, transfigurando a experiência cotidianas.

No entanto, isto só tornou-se possível com o advento das “Parabólicas”, direcionando o mundo para o surgimento de uma grande aldeia global; depois extrapoladas e tornadas obsoletas pela internet.

 

2. O FUNCIONAMENTO ORIGINAL DA TV.

O modo de funcionamento da TV é, em si, uma maravilha comparável a seus melhores espetáculos.

O ponto de partida da operação ainda é atualmente, porém, o mesmo dos tempos do Gato Félix.

A câmera de TV, que registra uma cena, nada mais faz do que captar a luz e traduzi-la em sinais eletromagnéticos e/ou digitais.

Originalmente, as lentes da câmera transportavam a luz para um tubo cilíndrico, chamado de iconoscópio.

Nele, uma extremidade tinha um alvo coberto por milhões de pontos fotossensíveis, quando a imagem, a luz refletia a cena, batendo no alvo, alterava suas propriedades elétricas.

Ao mesmo tempo, ao ser bombardeada por um feixe de elétrons situados na outra extremidade do tubo, a superfície alvo emitia uma corrente elétrica que era usada como sinal de vídeo.

Esse processo chamava-se varredura, onde cada imagem formava um quadro varrido por linhas horizontais da esquerda para a direita, como o texto das páginas de um livro, aliás as em movimento imagens continuam utilizando o mesmo processo.

Para evitar o brilho excessivo da imagem, primeiro são varridas as linhas impares, depois às linhas pares.

Hoje, a diferença são apenas a quantidade de linhas registradas, as câmeras da década de 1990 registravam até 700 linhas, onze vezes mais do que na época do gato Félix, em 30 quadros por segundo.

No cinema, os quadros são transmitidos tão rapidamente que os olhos não podem acompanhá-los, criando a ilusão de movimento onde só existe uma série de imagens paradas.

Os quadros passam por muitos equipamentos dentro da emissora de TV, para que os sinais sejam ampliados e modulados.

Em termos de sinais analógicos, dó depois é que chegavam via microondas ao transmissor, que os enviava até o topo da antena e dali para a recepção no telhado das casas ou no alto dos edifícios.

Os mesmos sinais podiam ainda ser enviados por microondas da emissora à antena de subida do satélite, sendo então captados pelas estações receptoras, que finalmente os mandavam para os televisores domésticos.

Ocorria então um processo inverso ao da transformação de energia luminosa em eletromagnética.

Uma tela feita de material fluorescente, na parte da frente do tubo de imagens, ou cinescópio, brilhava quando bombardeado por um feixe de elétrons.

Como acontecia na câmera, os quadros se sucediam-se tão rapidamente que davam a impressão de movimento.

Enquanto este sinal analógico era transmitido como ondas contínuas, atualmente o sinal digital é convertido em sequências de números binários, em uma linguagem compreensível para dispositivos eletrônicos.

Primeira transmissão de TV no Brasil, com público no Centro de São Paulo.


3. O ADVENTO DO SATÉLITE.

Em 4 de outubro de 1957, além da cintilação das estrelas, veio do firmamento um sinal de rádio: o " bip - bip " de um satélite artificial russo chamado “Sputnik”.

A sua colocação foi iniciada em conjunto com chamada “era espacial e da comunicação via satélite”.

O Sputnik 1 era um engenho de 83,35 Kg de peso, com o formato de uma bola de alumínio de 57,5 cm de diâmetro.

Esteve orbitando o planeta terra apenas durante três meses, após os quais se desintegrou, cumprindo uma órbita elíptica de 947 Km de apogeu e 227 Km de perigeu, com 65 graus de inclinação sobre a linha do Equador terrestre.

Cada volta sobre a terra era percorrida em 92 minutos, com uma velocidade de 28.000 Km por hora.

No encalço dos soviéticos - visto que a Rússia liderava então o mundo comunista, integrando a União das Repúblicas Soviéticas -, em 31 de janeiro de 1958, os Estados Unidos da América lançaram seu primeiro satélite, o Explorer 1.

O espaço atmosférico m torno de nosso planeta estava sendo violado pelo homem, tornando-se cenário de um novo capítulo da história.

Os vários Sputniks, Explorers, Vanguards e Pioneers; primeiros visitantes humanos no espaço, foram dotados de aparelhagem cientifica para medir radiações e temperaturas, conferir medidas geodésicas e realizar inúmeras outras observações.

O Explorer 6 (EUA), posto em órbita em 7 de agosto de 1958, incluiu em seus 64,41 Kg de peso uma câmera de televisão e nos permitiu ver as primeiras imagens do planeta a centenas e milhares de quilômetros de altitude, pois sua órbita alongada marcava apogeu de 42.117 Km e perigeu de 251 Km.

Pouco depois, em 18 de dezembro de 1958, foi lançado o primeiro satélite de comunicações estadunidenses.

Um foguete Atlas (EUA) colocou em órbita o Score 1 (Signal Communications by Orbiting Relay Equipment) , por meio do qual se transmitiu uma mensagem de Natal do Presidente Eisenhower, pela primeira vez o silêncio dos vazios cósmicos foi rasgado pela voz humana.

No entanto, o Score 1 durou pouco, em 21 de janeiro de 1959, seus sinais cessaram, o satélite se perdeu com uma reentrada não programada na atmosfera terrestre.

O Echo 1 (EUA) foi lançado em 12 de agosto de 1960, o primeiro satélite de comunicações passivo.

Foi construído de matéria plástica aluminizada, era um gigantesco balão esférico de 30,50 m de diâmetro, mas sendo oco, seu peso era de apenas 62,30 Kg.

Enquanto orbitou podia ser visto a olho nu em horários favoráveis de nosso planeta.

Incumbido de refletir sinais eletromagnéticos, seu poder de reflexão, entretanto, foi menor do que o planejado devido ao enrugamento de sua superfície, causado por micrometeoritos e pela poeira cósmica.

Reingressou na atmosfera em 4 de maio de 1960, desconhecendo-se seu destino, provavelmente se desintegrou como seu antecessor.

Ainda em 1960, em 4 de outubro, começou a operar o primeiro satélite de comunicações repetidor ativo, o Courier 1-B (EUA).

Foi lançado pelo exército estadunidense, pesava 225 Kg, tendo formato esférico de 1,30 m de diâmetro.

Poucos dias depois, em 22 de outubro, esgotadas suas bateria, do satélite deixou de funcionar.

Destarte, o Score 1, o Echo 1 e o Courrier 1-B comprovaram a possibilidade de comunicação via satélite; iniciando embrionariamente a era das transmissões comerciais.

O Telstar 1 foi primeiro satélite particular de propriedade da iniciativa privada, pertencia a "American Telephone and Telegraph".

Foi lançado em 10 de julho de 1962, possuindo forma esférica, 89 cm de diâmetro, 75,5 Kg de peso e 3.600 células solares de alimentação.

A despeito de propriedade particular, foi colocado em órbita pela NASA, com um custo de dois milhões e setecentos mil dólares.

O satélite possuía equipamentos para realizar transmissões telefônicas, radiofônicas e de televisão; ampliando em dez bilhões de vezes os sinais recebidos e devolvidos até então para Terra.

Para seu rastreamento se construiu, em Andover - Estado de Maine (EUA), uma antena rotativa de 340 toneladas, com 58 metros de comprimento e 497 metros quadrados de boca.

Um dia antes do lançamento do Telstar 1, em 9 de julho de 1962, os Estados Unidos detonaram uma bomba nuclear de 1.4 megatons, em uma altitude de 400 km de altitude, a sudoeste da Ilha Johnston, no oceano pacífico.

O teste, conhecido como Starfish Prime, criou um enorme pulso eletromagnético que produziu uma aurora sobre o pacífico, mas desativou parcialmente vários equipamentos eletrônicos.

A princípio, o satélite não podia ser ativado, alguns transistores tinham falhado, mas os engenheiros conseguiram ativá-lo.

Isto adiou a sua primeira transmissão em 10 dias, que aconteceu somente em 21 de fevereiro de 1962.

Nos Estados Unidos da América o satélite permitiu a transmissão ao vivo e simultânea de imagens em todo seu território, da costa leste a oeste, de Manhattan até Ponte de São Francisco.

A utilização do Telstar na Europa foi iniciada pela rede "Eurovision", a qual passou a transmitir seu sinal em dezessete países.

A primeira imagem transmitida para América e Europa foi a bandeira dos Estados Unidos, acompanhada dos acordes do hino nacional estadunidense.

As imagens chegaram tremidas aos aparelhos de TV, mas forneceram uma impressão de se estar assistindo a um acontecimento único.

A qualidade estava muito distante da atual, além disso, o tempo dessas transmissões não eram contínuas, estava restrito a 30 minutos, devido à baixa órbita do satélite.

Era necessário que as antenas de recepção e transmissão permitissem que as estações terrestres acompanhassem a sua trajetória orbital, exigindo uma outra tecnologia que também iria se desenvolver muito rápido, as antenas parabólicas.

O transmissor tinha uma potência ínfima de 2¼ watts, um sinal tão fraco que as estações que o acompanhavam, recebiam e ampliavam 10 bilhões de vezes, através de antenas parabólicas com 30 m de diâmetro.

A partir deste satélite, foram lançados milhares de satélites na órbita terrestre, desde a partir de então, a maioria militares, mas também científicos e para utilização nas telecomunicações.

Entre 1962 e 1963, realizou-se uma curiosa experiência: o lançamento dos "Dipoles", testado pela primeira vez, sem êxito, em outubro de 1962 e repetido com sucesso em 12 de maio do ano seguinte.

A Força Aérea estadunidense colocou em órbita terrestre 400 milhões de agulhas de cobre de 2 cm de comprimento cada uma, os chamados "Dipoles".

Destinavam-se a formar um anel de 8 Km de largura a 3.700 Km de altitude, em torno da Terra, servindo de antena na reflexão de sinais de rádio em ondas curtas.

Em 1964, foram colocados em órbita o Echo 2 e o Syncom 2, especialmente destinado a transmitir para os EUA e a Europa os jogos Olímpicos de Tóquio.

Através do Syncon 2, um avião da "Pan American Airways", voando entre São Francisco e Honolulu, trocou mensagens com a Califórnia no final de 1964.

Um importante momento da telecomunicação orbital ocorreu com o lançamento do Early Bird (Pássaro Madrugador), em 6 de abril de 1965, estacionado a 36.000 Km acima do oceano Atlântico.

Este foi o primeiro de uma série de satélites estacionários de comunicação, para transmitir sinais em tempo contínuo.

Em 25 de junho de 1965, por meio dele, transmitiu-se a luta de box pelo título mundial dos pesos pesados entre Sonny Liston e Cassius Clay - este último mais conhecido como Mohamad Ali.

Seguiu-se depois, o lançamento e utilização dos Intelsat, dos quais os três primeiros são de 1967 e 1968.

Em 25 de janeiro de 1971, foi lançado o primeiro dos oito satélites componentes da série Intelsat 4, com um custo de 230 milhões de dólares cada.

Este novo modelo de satélite dispunha de 12 canais, sendo um para TV e os outros onze para telefonia, telex, telegrafia e fax.

A série prosseguiu com o lançamento, em 6 de março de 1982, do Intelsat 5, apto a transmitir em 12 mil canais de voz, além das frequências para TV em cores.

No Brasil, a primeira transmissão de TV via satélite foi possibilitada pelos esforços da estatal Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações), criada em 1965 pelo governo do General Castelo Branco, no início do período da ditadura militar.

Esta transmissão aconteceu em 1969, depois inauguração da Estação Terrena de Comunicações de Tanguá, no Rio de Janeiro, quando o governo brasileiro comprou a capacidade dos satélites Intelsat (lançados por um consórcio de 11 países, do qual o Brasil não fazia parte).

As primeiras imagens vistas pela população brasileira via satélite foram transmitidas pela TV Globo, quando em caráter experimental foi disponibilizada ao vivo a chegada do homem à lua.

Em seguida, houve a estreia do "Jornal Nacional", da Rede Globo, marcando o início das operações contínuas através de satélite no Brasil.

O noticiário era apresentado por Heron Domingues e Léo Batista, marcando o início do primeiro programa regular a ser transmitido em rede nacional, implementando um novo estilo de jornalismo na TV brasileira.

O Brasil lançou seu primeiro satélite de comunicação, denominado de Brasilsat, somente em 1985.

Foi fabricado por uma empresa canadense e colocado em órbita pelos estadunidenses, destinava-se a fornecer serviços de telefonia, televisão, radiodifusão e transmissão de dados para todo o país.

As emissoras de televisão do Brasil contempladas, na ocasião, foram o SBT e a Rede Manchete, que puderam transmitir suas programações em rede nacional via satélite.

Através deste mesmo sistema outros satélites Brasilsat foram lançados nos anos seguintes, contemplando outras emissoras de TV.

O satélite genuinamente brasileiro e lançado ao espaço de território nacional, com tecnologia totalmente desenvolvida no Brasil, foi colocado em órbita somente em 29 de julho de 1998.

Inaugurando a série de satélites Star One, quando o Brasil, a além de atender a demanda nacional - atualmente, inclusive de internet -, passou a vender serviços para países do continente africano e europeu.

Imagem da primeira transmissão de TV, via satélite ao vivo, em 1969.

 

4. O ADVENTO DA PARABÓLICA.

No início da década de 1960, quando nascia o programa espacial americano, rastrear satélites em órbita da Terra era uma atividade especializada, restrita a um seleto grupo de funcionários da NASA (National Aeronautics and Space Administration).

A Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço era uma agência do governo dos Estados Unidos da América, criada em pelo 1958, com a ajuda de cientistas nazistas capturados com a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

Foi fundada pelo presidente Eisenhower, para fazer frente a chamada corrida espacial, uma competição com a União Soviética pelo domínio do espaço.

Naquela época, dificilmente alguém poderia imaginar que, menos de vinte anos mais tarde, milhões de pessoas espalhadas pelo mundo iriam transformar o uso de antenas parabólicas em uma atividade rotineira e doméstica, disponível para qualquer pessoa.

A disseminação das antenas parabólicas, que permitem captar em casa uma variedade enorme de emissões de sinais de televisão de muitas partes do globo, representaria um salto de proporções grandiosas na relação do homem comum com a tecnologia.

No entanto, o potencial de mudanças, sociais e de comportamento resultante do uso da parabólica, demoraria algumas décadas para chegar as pessoas comuns.

Uma antena parabólica é uma antena refletora utilizada para a recepção de sinais de rádio, televisão e, atualmente, inclusive internet.

Ela reflete o sinal vindo do espaço para o centro da antena, onde está o captador (chamado LNB), concentrando este sinal fraco em um único ponto, obtendo uma recepção melhor.

Razão pela qual, podemos dizer que a parabólica representa o grito do satélite, a ampliação do sussurro do sinal transmitido do espaço.

A antena parabólica foi inventada pelo físico alemão Heinrich Hertz, durante sua descoberta das ondas de rádio em 1887, quando utilizou refletores parabólicos cilíndricos com antenas dipolo, com seu foco para a transmissão e recepção de sinais.

Entretanto, a utilização de antenas parabólicas, somente foi implementada junto com as exigências da corrida espacial, entre EUA e URSS, e o desenvolvimento dos primeiros satélites.

Havia indícios da indícios de que seriam popularizadas a partir da década de 1970, seguindo a transformação das transmissões de TV, revolucionadas pela ampliação de satélites em órbita.

As primeiras antenas parabólicas domésticas começaram a chegar aos lares americanos em 1975, mas, na virada do século XX para o XXI, apenas nos EUA, já haviam 10 milhões de unidades instaladas nos tetos de prédios e casas.

A demanda contagiou Europa e Ásia, guardadas as proporções, reproduzindo-se no Brasil.

Em território brasileiro, a parabólica começou a ser comercializada por volta de 1983, quando entre os primeiros clientes estavam hotéis e grandes empresas.

Rapidamente esta tecnologia se disseminou, chegando as pessoas comuns em 1988, quando o número de usuários dobrou, subindo de 20 mil usuários para 100 mil em apenas alguns anos.

Antes do advento da internet e da TV digital, a grande vantagem da antena parabólica era possibilitar, ao vivo e instantâneo, o acesso a sinais do mundo todo.

Na década de 1990, antes da distribuição mais ampla de sinais através de cabos de fibra ótica, empresas especializas na transmissão de sinais fechados, que ficaram conhecidas como “TV por assinatura”, passaram a utilizar parabólicas para obter ganhos enormes vendendo sinais decodificados.

Somente o assinante passou a receber a chave para decodificar o sinal e ter acesso ao conteúdo vendido, o principio que daria origem, depois, ao chamado Streaming.

As antenas parabólicas, no entendimento do escritor americano Alvin Toffler, autor de "O choque do futuro" (1998) e "A terceira onda" (1980), possibilitaram ao homem do final do século XX a criação da “infosfera”.

Isto é, independente de fronteiras, nacionalidades ou correntes políticas, um número crescente de habitantes do planeta Terra começou a uma aproximação.

Reduzindo as fronteiras e permitindo acesso a informação de qualquer parte do mundo em tempo real, os acontecimentos que antes demorava meses e até anos para serem conhecido por todos no planeta, passou a ser imediato.

Um fenômeno percursos da construção da aldeia global e da internet, intimamente relacionado com início do aprofundamento da globalização no século XX.

Funcionamento da transmissão de sinais via satélite para parabólicas.
Fonte: https://news.viasat.com/pt-br/blog/como-a-internet-via-satelite-funciona


5. CONCLUINDO.

Quando o astronauta estadunidense, Neil Armstrong, pisou pela primeira vez no solo lunar, em julho de 1969, milhões de pessoas em todo o mundo acompanharam a proeza ao vivo em seus televisores.

Isso parecia coroar as conhecidas teorias do canadense Marshall McLuhan (2020), segundo as quais o planeta caminhava rápido para se tornar uma aldeia global, em que de um polo ao outro; gostos, hábitos e ideias seriam cada vez mais parecidos, todos induzidos pela onipresente TV.

Passados mais de vinte anos, as tecnologias das telecomunicações que se desenvolveram ao longo desse período, como a TV por cabo e as antenas parabólicas de uso doméstico; passaram a tender desenhar um cenário que, ao mesmo tempo reforça e desmente previsões de McLuhan.

Reforça na medida em que as novas técnicas ampliam o lugar da tela de TV na vida de cada um e, com isso, a dependência das pessoas em face dela.

Desmente, porém, na medida em que tais avanços tecnológicos aumentam o leque de emissões à disposição do espectador.

Assim, imaginava-se que poderia diminuir a dependência do público em relação às grandes redes, mas estas previsões não contavam com o advento da internet e do smartphone, como seu efeito viciante a alienador.

As redes de TV passaram a buscar seu público nas classes C e D, abrindo espaço para o surgimento de sistemas de TV para plateias mais sofisticadas, com maior liberdade de criação.

A partir do século XXI, com os serviços de smartphone e o sinal digital, a segmentação da sociedade informatizada passou a coexistir com o modelo tradicional.

O streaming representou uma inovação da tecnologia que possibilitou a transmissão de dados em tempo real via internet, sem a necessidade de baixar o arquivo completo através de downloads e uploads tradicionais.

No entanto, em um tempo não muito distante, o acesso de um número crescente de pessoas às antenas parabólicas multiplicou o repertório de escolhas, afetando a própria atitude do espectador diante da TV.

Nesse tipo de sociedade, a tela de televisão tornou-se um meio pelo qual as pessoas começaram a comunicar-se entre si, receber informações de bancos de dados, fazendo compras, etc.

A tela de TV e, mais recentemente do computador e celular, transformou-se em uma ferramenta sem a qual ficou muito difícil viver em sociedade, em uma relação de dependência intensa entre o homem e as novas tecnologias de comunicação.

Primeiro satélite totalmente brasileiro.


6. PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO.

COSTELLA, Antonio. Comunicação do Grito ao Satélite. São Paulo: Editora Mantiqueira, 1984.

MCLUHAN, Marshall. La aldea global. Madri: Gedisa, 2020.

TOFFLER, Alvin. A terceira onda. São Paulo: Alta Books, 1980.

TOFFLER, Alvin. O choque do Futuro. São Paulo: Record, 1998.