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Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O surgimento do homem, os primeiros agrupamentos sociais e o aparecimento das famílias.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume ago., Série 29/08, 2011, p.01-15.


As teorias sobre a origem do homem são relativamente recentes, só apareceram no final do século XIX e até hoje estão em constante alteração, sobretudo, devido a descobertas que costumam alterar a opinião dos estudiosos do tema.
Pensar a evolução das espécies só tornou-se possível depois da revolucionaria teoria do inglês Charles Darwin, publicada na obra A origem das espécies em 1859.
Polêmica até os dias atuais, ainda combatida pelo chamado criacionismo, Darwin sustentou, com base em observações empíricas na ilha de Galápagos (Equador), que a vida está em permanente adaptação com relação ao meio e a luta pela sobrevivência.
Para ele, a lei do mais forte comanda o processo de evolução, aglomerando-se com o processo de seleção natural, dentro do contexto da teoria da evolução das espécies.
Segundo a qual, somente os mais fortes, os mais adaptados, sobrevivem, enquanto mutações genéticas garantem vantagens que alteram características físicas das espécies.
Neste sentido, o estudo de fósseis e vestígios arqueológicos permitiu traçar uma linha evolutiva da espécie humana.
Os profissionais responsáveis por estes estudos são paleontólogos, arqueólogos e antropólogos, embora historiadores também contribuam com analises sobre os indícios encontrados.
Mais recentemente, geneticistas se juntaram a equipe de estudiosos do tema, colaborando com o rastreamento das origens do homem, chegando até a Eva Genética, a mulher da qual todos descenderíamos, pertencente já aos Homo Sapiens.
No entanto, antes dela a espécie humana teve outros ancestrais.


O Ramapithecus e a polêmica da ramificação da espécie.
Até recentemente, acreditava-se que o ancestral mais antigo do homem era o Australopitecus, cujo nome significa macaco do sul, um fóssil descoberto no sul da África em 1924.
Segundo livros didáticos ainda em uso, este primata teria aparecido há aproximadamente 1 milhão de anos, caracterizando-se por possuir cérebro um pouco maior que seus parentes, postura ereta, melhor visão e maior habilidade com as mãos.
O que teria permitido manipular instrumentos como varas para derrubar frutas, além do desenvolvimento de habilidades sociais que possibilitaram a vida em grupo.
No entanto, um fóssil encontrado em 1974, na África, começou a alterar este panorama.
Trata-se de Lucy, um Australopitecus com 3 milhões de anos.
Mudanças mais radicais ocorreram com descobertas no inicio do século XXI, originando outra teoria.
A qual defende a idéia que o Australopitecus é um primo distante do homem moderno, uma ramificação a partir de um ancestral comum.
Segundo esta hipótese, o Australopitecus não seria um ancestral do homem, até porque encontraram ramificações que dividiram o dito Australopitecus em subespécies tal como Africanus e Boisei, as quais terminaram também extintas.
Na realidade, o Australopitecus e o Homo Habilis, este último nosso ancestral direto mais antigo, conviveram na mesma época, há cerca de 3 milhões de anos até aproximadamente 1 milhão de anos.
Ambos descendem do Ramapithecus, um primata que surgiu há 12 milhões de anos, em diferentes regiões da África, Europa e Ásia.
Trata-se de um primata de pouco mais de um metro de altura, que viveu em florestas e savanas e que foi se tornando bípede.
Era dotado da habilidade de atirar objetos para espantar predadores e carregar as crias.
Porém, conforme se adaptou para caminhar, perdeu a habilidade de agarrar com os pés, o que impediu os bebês de grudar na mãe com as quatro patas, fazendo desenvolver a postura ereta para liberar as mãos para o transporte das crias.
Ocorreram mutações que, pelo processo de seleção natural, originaram o Australopitecus e o Homo Habilis, muitas vezes confundidos nos livros didáticos como a mesma espécie, utilizados erroneamente como sinônimos.
Porém, existe mais de uma ramificação a partir do Ramapithecus que torna o quebra cabeças mais complexo e desorganizado, pois, em 1891, foi descoberto na ilha de Java o Pitecantropus.
Um homínida que apareceu há cerca de 750 mil anos, cujo nome significa macaco em pé, o qual antes acreditava-se descender do Australopitecus, mas que na realidade está em uma linha evolutiva paralela.
Atualmente, a opinião mais aceita diz que o Pitecantropus é apenas mais um primo do Homo Habilis, tendo como ancestral comum o Ramapithecus.
Um fóssil, descoberto na China em 1921, permitiu observar que o Pitecantropus evoluiu, originando o Sinantropo, um primata de postura ereta, cérebro maior que seu antecessor e que conhecia o uso do fogo.
É provável que o Australopitecus, Pitecantropus, Sinantropo e Homo Habilis representem mutações do Ramapithecus que conviveram em grupos rivais, disputando espaço.
A espécie mais apta sobreviveu e sobrepujou as demais, no caso o Homo Habilis, as demais se extinguiram.
Entretanto, por volta de 1 milhão de anos surgiu o Homo Erectus, descendente direto do Homo Habilis, um hominídea fisicamente não muito diferente de nós, de aspecto robusto e forte, com cabeça achatada e maxilar saliente.
Este ser conhecia o fogo e vivia em grupos, possuindo noções de convivência social mais elaboradas.
Provavelmente foi empurrado por mudanças climáticas, iniciando uma migração em massa para a África, onde os sobreviventes da jornada originaram o Homo Sapiens há 500 mil anos.
Nascia o homem moderno, com todas as características que temos hoje, mas sem os mesmos hábitos ou modos de se relacionar entre si e com a natureza.
O Homo Sapiens sofreu uma mutação mal sucedida entre 100 e 65 mil anos, fazendo surgir na Europa o Neandertal.
Um hominídeo com cérebro menor que o Homo Sapiens, mas maior que o Homo Erectus; porém com grande força física e conhecedor do uso de lanças e machados de pedra lascada.
Este realizava ainda um tipo de culto aos mortos, colocando enfeites e alimentos nos túmulos, para que o morto pudesse utilizar em outra vida.
O Neandertal simplesmente desapareceu há 50 mil anos, possivelmente se misturou com o Homo Sapiens, visto que alguns de nós possuem traços genéticos que remetem a eles.
Seja como for, o homem moderno se tornou uma praga, transformando a natureza com fins a sua sobrevivência, espalhando-se pelo planeta e se multiplicando.


O povoamento do planeta pelo Homo Sapiens.
Depois que o Homo Erectus migrou para a África, originando o Homo Sapiens há 500 mil anos, segundo a teoria mitocondrial, permaneceu no continente por 300 mil anos.
Só iniciou uma nova aventura migratória há 200 mil anos, quando o nível das águas começou a baixar, permitindo, inicialmente, ir para o sul do continente africano.

Depois, por volta de 100 mil anos, atravessou o mar Vermelho, quando então era possível cruzá-lo a pé, indo para o Oriente Médio e para a região da Índia.


Há 55 mil anos navegou até a Oceania, chegando até a Austrália, ao mesmo tempo, espalhando-se pela Ásia Central.
Até então, é provável que a última era glacial tenha impedido a migração para a Europa.
Isto, a despeito da teoria eurocêntrica que afirma que a África é o berço da humanidade e que a primeira migração do continente teria sido para a Europa, ao invés da Ásia.
Entretanto, vestígios arqueológicos e o estudo genético provaram que a migração para a Europa é bem mais recente, remonta há 55 mil anos, em algumas regiões ocorreu somente há 30 mil anos.
Já a migração para a América teria ocorrido entre 40 e 100 mil anos, coexistindo duas teorias que explicam como aconteceu.






Segundo a teoria do povoamento pela ponte do Estreito de Bering, entre 40 e 30 mil anos, a passagem entre o norte da América e da Ásia era mais estreita.
O nível do mar era pelo menos 120 metros mais baixo, além de existir uma provável faixa formada por água congelada.
O que teria permitido cruzar a distância a pé ou navegando curtas distâncias.
Outra teoria, defendida por cientistas do Museu do Homem em Paris e já recriada por arqueólogos, afirma que o homem teria migrado a partir da Oceania, navegando em embarcações primitivas, indo de ilha em ilha até chegar a América, um processo que teria demorado 6 mil anos.
Atualmente, as duas teorias são aceitas, sendo provável que os dois processos ocorreram simultaneamente, ao passo que o povoamento da América teria se dado tanto pelo norte como sul do continente.
Posteriormente, migrações para o sul e norte terminaram de povoar toda a América.
Neste sentido, o fóssil humano mais antigo do continente teria no máximo 20 mil anos, chamado pelos paleontólogos como Luzia, o qual foi encontrado na América do Norte.
Por sua vez, segundo Pedro Paulo Funari, na América do Sul, o esqueleto mais antigo teria por volta de 12 mil anos.
Entretanto, a arqueóloga brasileira Nède Guidon encontrou vestígios que não se enquadram neste grande quebra-cabeças na Serra Capivara, no Piauí.
Trata-se de restos de uma fogueira (carvões e artefatos de rocha lascada) que datam de 50 mil anos, além de pinturas rupestres com pelo menos 40 mil anos.
Diante destas descobertas, todas as teorias, ou pelo menos sua datação, sobre o povoamento da América, poderiam ser contestadas.
Alguns estudiosos passaram, inclusive, a defender o inicio da América há 100 mil anos, quando a última era glacial teria facilitado a passagem a pé.
O que faz com que seja plausível a chegada do homem à América por várias passagens, incluindo sua migração direto da África, passando pelo Atlântico, quando o nível do oceano estava mais baixo, com grandes extensões de água solidificada pelo frio.
Destarte, esta teoria é controversa, não podemos esquecer que existem questões políticas, ideológicas, sociais e culturais envolvidas.
O predomínio de uma visão eurocêntrica, dificilmente permite aos pesquisadores admitir um povoamento da América quase ou mais antigo que o asiático ou europeu.
É o mesmo tipo de questão que, por exemplo, faz as civilizações nativas da América serem tratadas como primitivas, embora, em vários aspectos, sejam superiores aos europeus do século XV e XVI.
Em todo caso, seja qual for a datação ou percurso da migração do homem pelo planeta, cabe perguntar: o que teria motivado o deslocamento destes grupos humanos?
Uma explicação convencional diz que mudanças climáticas, a migração da caça, teriam feito os homens buscarem novos territórios.
Outra explicação afirma que a explosão demográfica tornou alimento escasso e forçou a migração humana.
No entanto, Jaime Pinsky forneceu uma hipótese mais original que não anula as anteriores, para ele a migração humana aconteceu devido ao espírito de aventura.
A natureza humana, a curiosidade de explorar e saber o que está além, foi o que moveu o homem a migrar cada vez para mais longe.


Os primeiros agrupamentos sociais.
Desde 1 milhão até 10 mil anos atrás, os grupos hominídeas foram basicamente compostos por caçadores, pescadores e coletores.
O que exigiu uma organização social para coordenar os esforços de caça, com uma divisão de tarefas pelo sexo e idade.

As mulheres coletavam frutas e raízes, cuidando dos filhos, amamentando a criança até que desse a luz ao próximo rebento, em um espaço estimado em quatro anos, tratando também do preparo dos alimentos.


Os homens caçavam e pescavam, perseguindo animais em grupo, preparando artefatos para facilitar a caça, como lanças e machados de pedra.
Aos caçadores cabia a distribuição da carne, feita através de longos rituais, influenciada pelo grau de parentesco, alianças e devolução de favores.
O caçador mais forte liderava o grupo, enquanto os mais velhos formavam um conselho também destinado a ensinar os mais jovens, ou eram deixados para morrer quando representava um fardo para o grupo, isto porque os homens eram nômades, migrando atrás da caça e pesca.
Estes primeiros grupos sociais, segundo vestígios arqueológicos, não eram superiores a trinta indivíduos, fixando-se provisoriamente em cavernas ou habitações construídas com material local.
Sempre próximos a fontes de água doce, tal como rios, ou então em locais elevados para facilitar a visualização de predadores e grupos rivais.
Viveram na época que chamamos de pré-história, o período anterior a invenção da escrita, entre 4 e 3 mil anos antes de Cristo.
Isto porque é um período considerado anterior a história propriamente dita, já que não existem relatos escritos sobre a vida destes grupos, somente vestígios arqueológicos que permitem a penas suposições.
Dentro da pré-história, o espaço de tempo que vai da origem do homem até 12 mil anos é chamado de Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada.
O inicio da sedentarização da humanidade e a invenção da agricultura é chamado de
Mesolítico ou Nova Idade da Pedra, a Idade Média da pré-história.
Um período de transição com novas técnicas e instrumentos surgindo, convivendo com e velhos hábitos e práticas, delimitado entre 12 até 10 mil anos, embora alguns autores delimitem seu fim nos 6 mil anos.

Entre 10 e 4 ou 3 mil anos, acorreu a Revolução Neolítica (Período Neolítico), quando o homem se tornou sedentário, fixando-se em aldeias próximas a fontes de água e terras férteis.

Iniciou-se então a domesticação de plantas e animais, com a agricultura e o pastoreio.

As primeiras espécies vegetais domesticadas foram grãos, cereais e raízes; tal como milho, trigo, cevada, arroz e batata-doce.
Ao passo que os primeiros animais domesticados foram cães, cabras, bois, camelos e dromedários.
Em pouco tempo, o homem aprimorou técnicas de construção de moradias, criando peças de cerâmicas para armazenar alimentos e servir como decoração.
Simultaneamente, começou a aperfeiçoar instrumentos agrícolas, o que gerou excedente e possibilitou o inicio do comércio, forçando o aparecimento de novas tecnologias para o transporte das mercadorias.
Foi dentro deste contexto que a roda foi inventada há cerca de 5 mil anos, apesar de no inicio sua utilização se restringir para fazer cerâmica, portanto usada na horizontal.
De qualquer forma, durante o Neolítico, também chamado Idade da Pedra Polida, a sedentarização trouxe mudanças significativas na organização social, cultura e religião.
Os agrupamentos humanos se tornaram mais numerosos, comportando uma explosão demográfica que originou as primeiras cidades e, posteriormente, as primeiras civilizações.
Este aumento das populações humanas criou rivalidade entre grupos humanos, fazendo nascer a figura do guerreiro e organizações militares para proteger ou tomar recursos e terras.
Neste sentido, a divisão de tarefas continuou obedecendo uma dinâmica conforme sexo e idade.
Onde aos homens cabia preparar a terra para o cultivo e ará-la, cuidando também da caça e pesca, servindo como guerreiros.
As mulheres, além das tarefas domésticas e do cuidar dos filhos, passou a caber a rotina da lavoura e a colheita.
Aos mais jovens, principalmente do gênero masculino, era atribuída a tarefa de pastoreio de animais de pequeno porte.
Os mais velhos deixaram de ser abandonados para morrer, passaram a gozar de maior prestigio, compondo conselhos que decidiam os destinos do grupo e guardando e preservando a memória oral.
No aspecto cultural e religioso, mitologias nasceram para tentar explicar os fenômenos da natureza e padronizar comportamentos, quando apareceram, primeiro, o culto dos antepassados e, depois, a figura dos deuses.
As mulheres passaram a ser vistas como seres sagrados, detentoras do dom da vida.
Para cultuar e simbolizar a religião e a política, começaram a ser esculpidas estatuas, inicialmente, ligadas ao culto da fertilidade.
Igualmente, foi aperfeiçoado o culto funerário e a preservação da memória dos antepassados, algo vinculado com o surgimento do sentimento de família.


O conceito de família.
Embora, em geral, a família tenha origem em um fenômeno biológico de conservação e reprodução da espécie, o conceito envolve questões vinculadas a aspectos sociais que interferiram diretamente na evolução humana.
A família sofreu consideráveis modificações ao longo da história, regulando as interações sociais e cunhando preceitos morais e éticos, fomentando leis e normas.
No entanto, o conceito de família, independente de suas variações, é basicamente o mesmo desde os primórdios da humanidade.
Segundo Murdack, família é “um grupo social caracterizado pela residência em comum, com cooperação econômica e reprodução”, um conceito bastante elástico.
Para Mair, família é “um grupo doméstico no qual os pais e filhos vivem juntos”, uma concepção mais restrita e hoje colocada de lado pela maioria dos antropólogos.
Para Beals e Hoijer, família é “um grupo social cujos membros estão unidos por laços de parentescos”.
Outro conceito aparentemente estreito, mas que, diante da elasticidade do estabelecimento de graus de parentescos artificiais, admitidos como possíveis pela antropologia, esta concepção torna-se ampla.
Em outras palavras, qualquer que seja a linha teórica, a verdade é que todos os conceitos se encaixam na seguinte definição de família:

Família é todo conjunto de pessoas unidas por interações sociais com certo grau de coesão entre seus membros, com graus de parentesco artificiais ou concretos, declarados ou ocultos, com ou sem ligação genética.

Hoje, apesar de no passado já terem sido registrados casos semelhantes ao longo da história da humanidade, a família pode tanto ser constituída por pais e filhos, como por um conjunto de amigos, onde cada membro assume uma função social perante os demais.


Tipos de família.
Dentro do âmbito da amplitude do conceito de família, para a antropologia existem algumas classificações tipológicas que visam ajudar o estudo.
Assim, pensando nas diferentes maneiras como se organizam ou estruturam os grupos, variáveis no tempo e espaço, a família pode ser classificada em cinco tipos:

1. Elementar.
Também chamada de nuclear, natal-conjugal, simples, imediata ou primaria; é aquela formada por pai e mãe, homem e mulher ou aqueles que assumem a vida conjugal monogâmica, podendo ser um casal de dois homens ou duas mulheres.
Fazem parte deste tipo de família, além do casal, também os filhos, quer sejam gerados biologicamente ou agregados ao grupo.
A despeito de, até pouco tempo atrás, só ser considerado como pertencente a este tipo de modelo a família patriarcal tradicional com laços sanguíneos.
Não obstante, a família elementar, do ponto de vista antropológico, é considerada efêmera, pois à medida que os filhos crescem, constituindo novas famílias, o grupo diminui e, eventualmente, tende a desaparecer com a morte dos pais.
Sobrevive, com raras exceções, não mais que duas ou três gerações.

2. Extensa.
Também chamada grande, é uma unidade formada por duas ou mais famílias de tipo elementar, com grau de parentescos mais complexos, envolvendo avós, tios, sobrinhos, primos, afilhados e até agregados.
No entanto, a unidade nuclear, com pai e mãe, ou aqueles que exercem a função, é bem definida e nítida, admitindo apenas relações monogâmicas entre cônjuges.

3. Composta.
Também chamada complexa ou conjunta, é uma unidade formada por três ou mais cônjuges e seus filhos, com estrutura poligâmica.
É um modelo oriental de família, existente desde os primórdios da humanidade e muito comum em sociedades matriarcais

4. Conjugada Fraterna.
 Refere-se a uma unidade composta por membros que compartilham funções, não existindo a presença rígida de pai e mãe.
Ora um membro do grupo exerce o papel de pai, ora de irmão ou filho, tudo depende do contexto e do momento.
Um bom exemplo são as sociedade indígenas, onde a criança é de responsabilidade de toda a tribo, embora existam funções delimitadas por sexo e idade.
Nas sociedades modernas, diante da ausência do real ocupante da função exercendo a mesma, existe uma tendência a sempre alguém ocupar o lugar vago, mesmo que temporariamente.

5. Fantasma.
Consiste em uma unidade formada por apenas um elemento nuclear, pai ou mãe, e o chamado fantasma, além dos filhos.
Isto, mesmo no caso de pai ou mãe vivos, mas ausentes, pois quando a função não é desempenhada, pelo menos em um aspecto, o elemento torna-se um fantasma.


Funções da família.
Dentre as diversas funções da família, as quais tem variado através dos séculos, os estudiosos apontam quatro básicas e quatro subsidiárias.
As funções básicas, também chamadas de fundamentais, são encontradas em todos os grupos humanos, sendo elas:

1. Sexual.
Atende as necessidades sexuais permitidas por meio da institucionalização da união ou casamento.

2. Reprodução.
Visa perpetuar a espécie, mesmo em sociedades onde há liberdade sexual, a procriação é regulada com normas e sanções que legitimam a família.

3. Econômica.
Assegura o sustento e proteção do grupo, conduzindo a divisão de tarefas e a estratificação, com status diferenciados entre os membros.

4. Educacional.
O grupo, através da coesão, arca com a responsabilidade de transferir os conhecimentos acumulados pela humanidade de geração em geração, criando condições para que exista uma cooperação entre os membros.
O que torna, teoricamente, a vida em sociedade possível.

Portanto, as funções básicas da família podem ser desempenhada de várias maneiras, dentro dos mais diversos sistemas culturais, moldando as personalidades individuais.
Como agente educador, a família pode combinar duas funções especificas:

1. Socializadora.
Na medida em que transmite a herança cultural e social durante os primeiros anos de vida (linguagem, usos, costumes, valores e crenças), a família é peça essencial no processo de endoculturação, preparando a criança para o ingresso na sociedade.

2. Social.
Proporciona a conquista de diferentes status dentro da estratificação social, tal como o posicionamento étnico, nacional, religiosa, político, educacional e até de classe.

Além destas divisões, alguns autores classificam quatro funções subsidiárias, apesar de outros afirmarem que perderam sentido na sociedade moderna.
No entanto, cabe ressaltar que, diferente das funções básicas, as subsidiarias não existem em algumas sociedades.
Estas funções subsidiarias podem ser assim divididas:

1. Religiosa.
Une seus membros através de uma rede de direitos e proibições morais, estabelecendo laços afetivos e sentimentais.

2. Jurídica.
Impõem obrigações definidas entre os membros, mas também direitos.
O que garante a reprodução do sistema econômico e político vigente, assim como a manutenção do status individual.

3. Política.
Propicia proteção potencializando apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas.
Neste sentido, reforça a saúde física e mental do individuo, constituindo um recurso para lidar com situações associadas à vida em comunidade.

4. Recreativa.
Constitui uma válvula de escape para as tensões fora do grupo, um elemento de fuga do stress.
Embora esta válvula de escape, desvinculada da função religiosa e associada a outros fatores, possa conduzir a violência domestica.


Casamento e família.
Freqüentemente associada ao casamento, para entender a família integralmente, é necessário discutir o união entre cônjuges.
Na sociedade, em geral, existem duas formas de relação, do ponto de vista antropológico, entre seres humanos: união e casamento.

Tradicionalmente, a união consiste no ajuntamento de indivíduos do sexo oposto sob influencia do impulso sexual.


Modernamente, a união também pode ser caracterizada pelo ajuntamento também entre indivíduos do mesmo sexo, contanto que exista influencia de impulso sexual.
De qualquer forma, a união não estabelece necessariamente direitos e obrigações e, do ponto de vista antropológico, não constitui obrigatoriamente uma família.
Para que isto aconteça é necessário o reconhecimento dos envolvidos e da sociedade.
Entretanto, a união pode conduzir ao matrimonio ou casamento, quer seja reconhecido ou não religiosamente ou pelo Estado.
O que caracteriza o casamento é, justamente, a união orientada para a constituição da família, implicando em costumes complexos e o estabelecimento de laços afetivos mais estreitos, quer dentro da monogamia ou da poligamia.
Assim, o casamento ou a união é a base para a construção da família e seu principal elemento agregador, podendo comportar múltiplas soluções e/ou problemas que afetam todos os seus membros.


Família e escola.
Existe, em quase todas as sociedades, uma tendência para que certos aspectos do adestramento das crianças sejam assumidos por agentes externos à família, tal como a escola.
O grande problema é que o saber escolar, muitas vezes, distancia-se da realidade, impedindo a assimilação democrática do conhecimento, excluindo e limitando o acesso ao saber.
A escola é uma instituição, como tal possui normas e padrões, impostos por aqueles que controlam o sistema educacional, dentro do âmbito do fordismo, acarretando em problemas como a questão da “violência simbólica”, discutida por Bourdieu e Passeron.
Portanto, embora a sociedade transfira, cada vez mais, responsabilidades da família para a escola, cabe lembrar que somente a primeira constitui um grupo primário.
A escola é um grupo secundário e nunca poderá substituir a família na educação das crianças.


Concluindo.
A história da humanidade remonta aos seus antepassados mais remotos há 12 mil anos atrás, desde então um longo caminho foi percorrido até os nossos dias.
Entretanto, a aceleração material e cultural humana só começou com a invenção da escrita, cerca de 4 ou 3 mil anos antes de Cristo, embora a evolução tecnológica só tenha assumido um ritmo mais rápido a partir do século XVIII e ainda mais desenfreado na segunda metade século XX.
Entretanto, a despeito deste fato, o sentimento de família sempre foi o mesmo desde os primórdios da origem da instituição, mas no século XXI passou a sofrer constante modificação.
O que remeteu o que antes era considerado papel da família para dentro da escola, gerando inúmeros problemas, já que instituições educacionais não estão preparadas para cumprir o que a sociedade erroneamente espera dos profissionais da educação.
Seja qual for o problema, a resolução não está apenas no tratamento do educando, mas sim na orientação familiar, principalmente para que assuma suas responsabilidades.
O vinculo dos sujeitos com a família é essencial para um desenvolvimento coerente.
O problema do individuo pode ser, na realidade, um problema de sua família, podendo, inclusive, agravar situações em um efeito em cascata transposto para a sociedade.
Por outro lado, trabalhar com a família, permite ao profissional da educação realizar verdadeiramente uma profilaxia, uma prevenção do agravamento de problemas já existentes.
Para solucionar as questões que diariamente se colocam aos educadores, dentro da escola, talvez devamos pensar em retomar alguns aspectos do ensino tradicional, só assim será possível auxiliar o educando na passagem da heteronomia para a autonomia.


Para saber mais sobre o assunto.
ABRAMOVAY, Miriam et ali. Violência nas escolas. Brasília: UNESCO, 2002.
ANDRADE, Marconi. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2001.
BEYER, H. O fazer psicopedagógico: a abordagem a partir de Piaget e Vygotsky. Porto Alegre: Mediações, 1996.
CASTEL, Robert. “As armadilhas da exclusão”. In: Desigualdade e a questão social. São Paulo: EDUC, 1997.
FERNANDES, Alicia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
GREEN, Bill & BIGUM, Chris. “Alienígenas na sala de aula” In: SILVA, Tomás Tadeu da. (org.) Alienígenas na sala de aula. Uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995.
LINTON, Ralph. O homem: uma introdução à antropologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Contexto, 2003.


Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo.
Bacharel em Filosofia pela FFLCH/USP e Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Educação da USP, com MBA em Gestão de Pessoas pela UNIA.

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Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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