Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 5, Volume dez., Série 18/12, 2014, p.01-03.
Em 1944, atendendo a pressões internas[1] o país mandou tropas para a Europa para combater o Eixo Alemanha – Itália – Japão.
Com a vitória dos Aliados, o governo se viu numa incoerência, pois havia ajudado a derrubar um governo antidemocrático na Itália, mas ele próprio também o era.
Devido a essas pressões, a ditadura de Getúlio Vargas se encerrou.
Partidos políticos de alcance nacional foram formados, algo até então praticamente inédito na história da república[2].
Coube o destaque para a formação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), criado por Vargas e seus apoiadores e com forte base na classe trabalhadora.
Também com a articulação do ex-presidente, foi criado o Partido Social Democrático (PSD), tendo um perfil voltado para a classe patronal e também para o meio rural.
O Partido Comunista do Brasil (PCB), fundado em 1922 foi finalmente foi colocado na legalidade, cabendo ao ex-tenentista e preso político no governo Vargas Luís Carlos Prestes a sua liderança.
Por último, foi criada a União Democrática Nacional (UDN), partido claramente identificado com o liberalismo-conservador.
Esses não foram os únicos partidos surgidos a partir da democratização iniciada em 1945, mas coube a eles o protagonismo na política brasileira até a ruptura do regime democrático em 1964.
O primeiro presidente eleito após o fim do governo de Vargas foi o Mal. Eurico Gaspar Dutra, pelo PSD. Em seu governo entrou em vigor uma nova Constituição em 1946 e também foi marcado por intensificação da aproximação com os Estados Unidos.
O resultado dessa linha adotada foi o rompimento de relações diplomáticas com a União Soviética e a decretação de ilegalidade do Partido Comunista Brasileiro em 1947.
Além disso, houve em seu governo falta de incentivos para o desenvolvimento da indústria nacional, com grande parte das divisas obtidas com exportações durante a Segunda Guerra Mundial tendo sido gastas na importação de bens de consumo, principalmente americanos.
A volta de Vargas e os primeiros indícios golpistas da UDN.
Em 1950 Getúlio Vargas voltou ao poder, dessa vez eleito presidente com 48% dos votos.
Naquele período, não estava prevista a realização de segundo turno caso o candidato não alcançasse mais de 50% dos votos.
Mesmo assim, a UDN questionou a vitória.
A questão foi resolvida e ele tomou posse em 1951.
Seu segundo governo ficou marcado pela criação de empresas estatais em setores estratégicos como a Eletrobrás e a Petrobrás, além de fortalecer algumas criadas por ele durante seu primeiro mandato como a Fábrica Nacional de Motores (FNM) que havia quase encerrado as suas atividades no governo anterior.
Entretanto suas posições de cunho nacionalistas entraram em choque com setores militares e com a oposição, liderada pela UDN que defendiam um modelo econômico liberal, com menor intervenção estatal e maior aproximação com os Estados Unidos.
Com o aumento das tensões, por motivos até hoje não totalmente esclarecidos, o chefe da segurança presidencial tentou assassinar um dos principais líderes da oposição, Carlos Lacerda.
Na ação acabou morrendo um oficial da Aeronáutica e iniciaram-se pressões para a renúncia do presidente por suposto envolvimento no crime.
Como resultado o mesmo optou pelo suicídio em 24 de agosto de 1954, abrindo grave crise institucional.
A instabilidade pós-suicídio de Vargas e o governo JK.
O vice-presidente, o potiguar Café Filho assumiu a presidência. No ano seguinte ocorreram eleições presidenciais vencidas pelo político do PSD mineiro Juscelino Kubitscheck de Oliveira com aproximadamente 36% dos votos válidos.
Mais uma vez a UDN, contrariando a Constituição questionou a vitória por não ter sido por maioria absoluta.
No mesmo ano o presidente se afastou por motivo de saúde em seu lugar assumiu o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, que apesar de ser do partido do presidente eleito, apoiava a bandeira da UDN.
Apenas dois dias após a sua posse foi derrubado pelo Mal. Henrique Teixeira Lott, no que ficou conhecido como “golpe preventivo”, para garantir a posse de Juscelino.
Em seu lugar assumiu o 1º vice-presidente do Senado Federal, o catarinense Nereu Ramos que em 31 de janeiro de 1956 transmitiu o cargo ao presidente eleito.
Neste período também se iniciou forte agitação social na zona rural com o surgimento das Ligas Camponesas no interior de Pernambuco e que reivindicava a reforma agrária.
Sob a liderança de Francisco Julião, o movimento ganhou rapidamente relevância nacional, perdida somente com o golpe militar de 1964.
No governo de JK foi lançado o Plano de Metas. Ele era composto por cinco eixos que eram: Energia, Transportes, Alimentação, Indústria de Base, Educação, e, a chamada meta-síntese: a construção de uma nova capital federal, Brasília.
Houve incentivos para a indústria nacional e para a vinda de estrangeiras, principalmente para as de bens duráveis como eletrodomésticos e automóveis.
Com as intensas mudanças ocorridas na economia, foi necessária a expansão do setor educacional com a abertura de novas universidades e com escolas técnicas e Industriais sendo transformadas em autarquias, permitindo a dinamização dos investimentos e criação de cursos.
Apesar da euforia dos anos JK, com as altas taxas de crescimento econômico, a construção de Brasília, os títulos mundiais do país no futebol em 1958 e no basquete em 1959, as conquistas da tenista Maria Ester Bueno e o surgimento da bossa nova, seu governo passou por sérias atribulações.
Logo após a sua posse em fevereiro de 1956, um grupo de oficiais da Aeronáutica tentou forçar um golpe de estado seqüestrando um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e o levando até a base de Jacareacanga no estado do Pará.
Tropas cercaram o local e os revoltosos se renderam.
Numa tentativa de pacificação, o presidente enviou ao Congresso Nacional projeto de lei de anistia aos envolvidos que foi aprovado.
No entanto, três anos depois houve nova tentativa e de novo envolvendo oficiais da Aeronáutica na base aérea de Aragarças, no estado de Goiás.
Os revoltosos planejavam bombardear o palácio das Laranjeiras e o palácio do Catete que na época eram respectivamente residência oficial do presidente e sede do Governo Federal.
Mas, assim como na primeira tentativa fracassaram. Seus líderes, entre eles o tenente-coronel João Paulo Moreira Burnier (que anos depois seria figura importante no golpe militar de 1964 e na radicalização do mesmo) fugiram para o Paraguai sendo anistiados pelo governo seguinte.
JK passou a faixa presidencial em 1961 para o presidente eleito no ano anterior, o mato-grossense radicado em São Paulo Jânio Quadros eleito com 48% dos votos, mas desta vez sem contestação da UDN, pois a mesma o apoiava.
No mesmo ano o presidente renunciaria após uma série de ações equivocadas que foram desde o envolvimento em questões irrelevantes como as proibições do uso do biquíni e do lança perfume até outras mais complexas como ter agraciado o guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara com a Ordem Nacional Cruzeiro do Sul, maior honraria oferecida pelo governo brasileiro a um estrangeiro.
Seguindo a linha sucessória, quem deveria assumir a presidência era o vice João Goulart.
Naquela época este cargo era escolhido de forma direta. Jango já havia sido eleito para o cargo em 1955 e tentou a reeleição em 1960, derrotando o udenista e aliado de Jânio Milton Campos por estreita margem de votos.
Entretanto setores empresariais e militares tentaram evitar sua posse alegando que o mesmo era comunista.
Seu cunhado, o governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola mobilizou tropas e o país ficou à beira de uma guerra civil.
Como medida conciliatória, foi alterado às pressas o regime de governo para o parlamentarismo, onde o poder presidencial foi consideravelmente esvaziado e transferido para a figura do primeiro ministro.
Dessa forma João Goulart assumiu com poderes militados e Tancredo Neves foi escolhido primeiro ministro.
Foi marcado para 1963 um plebiscito no qual a população deveria escolher pela manutenção ou não do regime parlamentarista.
O fim do parlamentarismo teve vitória esmagadora com 82% dos votos. João Goulart recuperou os seus poderes e deu início à defesa das Reformas de Base, que previam como medidas principais a reforma agrária, urbana e do sistema bancário.
Contava com apoio do movimento sindical e do PCB que apesar da ilegalidade, ainda tinha grande influência entre os trabalhadores, principalmente após 1958, quando o presidente JK permitiu a atuação de Luís Carlos Prestes sem o risco de prisão.
No entanto setores conservadores iniciaram intensa movimentação contra as intenções do governo com a criação de órgãos como o Instituto Brasileiro de Pesquisas e Estudos Sociais (IPÊS) e com ataques na mídia contra o governo.
Após o presidente, com o apoio de outros políticos ligados ao meio sindical ter defendido de forma incisiva as reformas (o presidente não só defendeu como começou a sua efetivação com a assinatura de decreto de desapropriação de terras às margens de estradas, ferrovias federais e barragens) no que ficou conhecida como comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964 a situação se deteriorou.
O clima ficou ainda pior após João Goulart anistiar marinheiros envolvidos num motim liderado pelo cabo Anselmo[3] dias depois em 25 de março.
Para o oficialato das Forças Armadas, o ato se constituía em quebra de hierarquia.
O ato incentivou a ruptura da ordem democrática apoiada por civis e executada por militares entre 31 de março e 1º de abril de 1964.
Após a tomada do poder por parte dos militares, tiveram início as perseguições aos apoiadores do antigo governo.
O Ato Institucional nº 1, também conhecido como AI-1, cassou os direitos políticos de 102 pessoas, entre elas 41 deputados federais.
As pressões pela volta da normalidade democrática aumentaram, principalmente em 1968, após o assassinato do estudante secundarista Édson Luís no Rio de Janeiro.
De um lado o governo reprimia manifestações com extrema violência, de outro a guerrilha armada ia ganhando espaço.
Como conseqüência, em dezembro o governo endureceu e impôs a decretação do Ato Institucional nº 5, mais conhecido como AI-5 que vetou aos brasileiros direitos básicos como a suspensão de habeas corpus a quem tivesse cometido crimes contra a segurança nacional, proibição de manifestações políticas, e até a proibição do exercício de profissões, além do aumento da censura (GASPARI, 2014).
Concluindo.
Este breve período da história brasileira, mesmo com suas imperfeições, como a cassação do registro do PCB marcou um momento único de participação popular em prol de mudanças sociais profundas como a reforma agrária.
No entanto, setores conservadores da sociedade frearam o intento progressista de forma violenta, levando o país a uma brutal ditadura, com a retirada de direitos básicos dos cidadãos como a liberdade de imprensa, torturas e assassinatos de cunho político, além de severa concentração de renda jogando milhões de brasileiros na miséria.
Para saber mais sobre o assunto.
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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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