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Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
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segunda-feira, 13 de julho de 2015

Impressionismo: principais características e representantes.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume jul., Série 13/07, 2015.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.




Embora o Impressionismo tenha sido um movimento artístico característico da pintura europeia do final do século XIX, sua repercussão estendeu-se para o século XX, ampliando-se através da literatura e do cinema.
O impressionismo surgiu como uma arte puramente visual, porque seus temas principais pertencem ao perceptivo, assumindo como tema de representação apenas cenas observadas diretamente pelo pintor, a experiência de ver passou a ser o conteúdo da obra.
Pinturas de Monet Claude | Pinturas de monet, Impressionismo, MonetO nome do movimento foi derivado da obra “Impressão, nascer do sol”, datada em 1872, de autoria de Claude Monet, um artista que iria simbolizar o impressionismo, junto com outros; como Degas, Manet, Renoir e Pissaro.
A noção de visão passou a ser entendida por estes pintores como referente às representações mentais e pictóricas, como expressões de atitudes e interesses.

Focando o fazer arte em significados selecionados, imaginados, modelados e compostos pelo objeto percebido de modo direto.
Assim, no século XIX, houve um remanejamento da imagem em consequência de um enriquecimento do vocabulário plástico.
Embora, segundo Schapiro (2002), o termo “impressionismo” não comporte uma definição estética, pois surgiu como nome de um grupo de expositores que tinha em comum um conjunto de metas relacionadas que foram realizadas em graus diferentes.
Em todo caso, representou uma estética renovada que incluiu a imagem do realmente visto como parte do mundo comum e abrangente do espetáculo, em oposição à inclinação da época pela história, mito e mundos imaginados.
Neste sentido, o impressionismo deve ser entendido como o efeito da cena sob o olhar do artista.
O que envolve o impreciso, indeterminado e vago na natureza, representado fielmente, nesse caso, em seu aspecto momentâneo.
Um livro que dança - O BeneditoEm outras palavras, o método da nova arte se fundamentava na realidade do impreciso e atmosférico da natureza, que possuía uma objetividade e uma precisão refinada própria.
A experiência visual passou a consistir não somente de cores, luzes, sombras e formas; mas também embasada em objetos como entidades reconhecíveis, mesmo quando aparecem turvos ou incompletos.
Esse exercício do olhar requer uma visão aguçada e depende de ocasiões específicas, já que o visível é tido como algo recém-encontrado e em constante mutação.
No impressionismo, portanto, a noção de mimeses, de arte como imitação de um objeto, foi modificada.
Assumindo uma função criadora de outro olhar para o objeto que, em um primeiro momento, buscava uma maneira mais realista de mostrá-lo, mas em um segundo momento, assumiu a representação como construção, uma criação de novos signos.
Uma concepção que se insere na fenomenologia de Merleau-Ponty, relativizando a visão do objeto e o conceito de verdade.
Em seu projeto filosófico Merleau-Ponty se propunha a uma reforma do entendimento, onde as categorias tradicionais da filosofia (sujeito, objeto, substância etc) seriam substituídas por conceitos novos, além de um comentário sobre a palavra “ser” e uma reconciliação com a metafísica.
Dentro da tradição cartesiana, encontramos a palavra “ser” ligada a “ser” como consciência ou objeto.
Para ele existiria um mundo objetivo e outro subjetivo.
O sujeito cartesiano é quem dá valor às coisas, o que o autor chama de “prejuízo do mundo”.
O pensamento objetivo só conhece noções alternativas, conceitos puros que se excluem entre si, relativizando a verdade.
Para Merleau-Ponty, a ciência e a filosofia teriam passado séculos depositando muita fé na percepção.
Pensava-se que a percepção se orientava em direção a uma verdade em si, onde reside a razão de todas as aparências.
A questão é que o mundo da percepção vivida não comporta a ideia de ser determinado.
O mundo vivido admite ambiguidade, comporta um indeterminado positivo.
Seria necessário reconhecer o indeterminado como fenômeno positivo, o qual os impressionistas explorariam.
A própria ideia de verdade, em voga no século XIX e ainda presente hoje, foi construída ao longo de séculos, desde a antiguidade, misturando a concepção grega, latina e hebraica.
É um conceito, portanto, também relativo.
Em grego, a verdade (aletheia) significa aquilo que não está oculto, o não escondido, manifestando-se aos olhos e ao espírito, tal como é, ficando evidente à razão.
Em latim, a verdade (veritas) é aquilo que pode ser demonstrado com precisão, referindo-se ao rigor e a exatidão.
Assim, a verdade depende da veracidade, da memória e dos detalhes.
Em hebraico, a verdade (emunah) significa confiança, é a esperança de que aquilo que é será revelado, ira aparecer por intervenção divina.
Mulher com Sombrinha (1875) - Claude Monet - Tela 60x74 Para ...No século XIX, a verdade espelhava aquilo que é; contudo, o impressionismo mostrou que o problema é encontrar a essência do que as coisas são, uma vez que tudo depende do olhar de quem observa.
Os pintores impressionistas construíram novos signos para o mundo, que ainda não tinham sido observados como luz e atmosfera.

A cor dos impressionistas era mais exata e as sombras eram coloridas.

A cor é um signo da luz do sol e também da sombra.

Antes as sombras escuras e pretas eram signo de volume.

Os impressionistas buscavam qualidades normalmente não observadas, qualidades de cores e luz que se referiam a um ponto no espaço, mas não distinguiam um objeto específico.
As cores e a luz caracterizam um objeto, mas este permanecia indistinto.
A cor não interpretada apresentava uma extensão de propriedades e aplicações.
A essa unidade da pintura corresponde uma relação material, a pincelada palpável ou mancha de tinta nítida.
A pincelada tornava a tela tão viva com a luz refletida quanto à cena ou ao objeto representado.
Isso porque os toques de cor, em relevos desiguais e sutis, refletiam, eles próprios, a luz variavelmente, a luminosidade da tela distinta da luz representada no quadro.
O padrão da pincelada e o mundo se tornavam distintos.
As pinceladas variavam de acordo com o tipo de objeto a ser representado e as diferenças ressaltam diferenças de objetos.
Destarte, a pincelada era muito mais do que isso, representava uma marca pessoal de cada artista, como uma caligrafia, possuindo sentido expressivo, gestual e refletindo sentimentos e humores.
Embora os impressionistas da primeira geração tenham sido tachados como pintores de mal gosto, todos colocados dentro de um mesmo cesto; Claude Monet tinha um traço diferente de August Renoir ou Camille Pissaro.
Igualmente, o neoimpressionismo traria elementos novos para o movimento, como a técnica do pontilhismo, a despeito da desvalorização dos artistas desde segunda geração, taxados simplesmente também como pintores de gosto duvidoso.
Foram necessárias duas décadas até que os pintores impressionistas começassem a ser valorizados, quando o movimento influenciou a nascente fotografia e, depois, o cinema.
Conduzindo ao pós-impressionismo e a questionamentos filosóficos existências que remeteriam ao romantismo.
Isto, a despeito do questionamento da verdade estar presente já no impressionismo da primeira geração de artistas, apesar de poucos contemporâneos terem notado este componente de imediato.
A geração de Van Gogh, Paul Gauguin e Paul Cézanne é que colheu os frutos plantados no final do século XIX, passando a retratar o espírito do inicio do século XX, marcado pelo pela primeira grande guerra e pela revolução russa. 
A arte possibilitou ao mundo perceber que a verdade não possui um significado único, tampouco estático e definitivo; sendo influenciada por inúmeros fatores, entre os quais a percepção, impressões sobre o que externo ao sujeito.
O que conduziria a transição para o expressionismo, a representação das emoções do artista.

Para saber mais sobre o assunto.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
FRANCASTEL, P. Pintura e sociedade. São Paulo: Martins Fontes. 1990.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Marins Fontes, 1999.
RAMOS. Fábio Pestana. “A concepção filosófica da verdade” In: Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume set., Série 05/09, 2011, p.01-04. Disponível em  http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2011/09/concepcao-filosofica-da-verdade.html Acesso em 04/05/2015.
SCHAPIRO, M. Impressionismo. São Paulo: Cosac & Naif, 2002.



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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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