Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
Não possui fins lucrativos, seu objetivo é disseminar o conhecimento com qualidade acadêmica e rigor científico, mas linguagem acessível.


Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Emancipação política de Cachoeirinha, município de Pernambuco, em 1962: uma abordagem a partir da cultura política.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 3, Volume jan., Série 16/01, 2012, p.01-28.

O presente artigo faz parte da Monografia de Conclusão de Curso Licenciatura em História pela Universidade de Pernambuco/Campus Garanhuns, orientada pela Profa. Ms. Maria Lana Monteiro de Lacerda.



Esta pesquisa tem como centro de estudo o movimento de emancipação política do Município de Cachoeirinha/PE, localizado no Agreste Central Pernambucano, com uma área territorial de 179, 261 km2 e uma população de aproximadamente 18.819 habitantes (IBGE, 2011), dedicando-se ao recorte temporal das décadas de 1950 e 1960.
Através do campo teórico da cultura política buscamos compreender este movimento político no âmbito social, passando pelo estudo dos comportamentos e ideias frente à proposta de emancipação política na cidade.
Quando analisamos a cidade de Cachoeirinha em sua trajetória no tempo constatamos que sua história oficial é permeada por nomes de grandes figuras políticas locais como responsáveis pela constituição da cidade, pouco se menciona o povo, suas aspirações e a própria cultura política, a sociedade por muitas vezes some nas entre linhas da história.
Nosso estudo sobre a postura social, então, torna-se importante para entender as atitudes e configurações da sociedade em seus múltiplos segmentos.
Desta forma partimos do entendimento de cultura política segundo alguns teóricos.

Dentre eles destacamos Serge Berstein por seus estudos precisos e claros sobre a temática.

Onde segundo o referido autor:

“Os historiadores entendem por cultura política um grupo de representações, portadoras de normas e valores, que constituem a identidade das grandes famílias políticas e que vão muito além da noção reducionista de partido político” (BERSTEIN, 2009, p.31).

A cultura política como reunião das representações humanas, poderá suscitar respostas claras para o entendimento da sociedade.
Quando se pensa em realizar uma abordagem com esta especificidade se deve ter consciência de sua amplitude, lançar um olhar abrangente sobre a própria sociedade neste momento de emancipação política. “Cultura política se refere às normas, valores e crenças que são internalizados pelos cidadãos” (BAQUERO, 2010, p.06).
Assim, o estudo sobre esta problemática proporcionará uma elucidação da sociedade local, onde a cultura política seria um instrumento para a leitura do comportamento social diante da emancipação citadina.
 A pesquisa, então, acabou por recorrer às memórias da população local para a investigação de sinais, inferindo análises nos depoimentos de forma a lhe atribuir uma significação no contexto da época.
Percebendo-se a dificuldade e riqueza ao se trabalhar com esta fonte histórica devido a sua subjetividade, outras fontes viveram a corroborar nesta investidura como a imprensa oficial do Estado, consultando os diários oficiais disponibilizados no acervo online da Companhia Editora de Pernambuco, além da consulta aos arquivos municipais da Biblioteca, Prefeitura e Câmara de Vereadores de Cachoeirinha.
Uma pesquisa que priorizou pelo qualitativo nas investigações do objeto, ou seja, o estudo dos signos e valores do fenômeno social conforme discute Maria Cecília Minayo (1994).
Buscando sempre ressaltar as visões de uma sociedade que se afligia numa estagnação, onde o descaso e mazelas sofridos são direcionados para a sede municipal, levantou-se, desta forma, uma bandeira pela liberdade, melhoria e desenvolvimento da vila que não caberia mais naquela proposta de união municipal.
As lideranças insurgentes discursaram na ideia da nova cidade como saída para os problemas, o que se observa são inúmeras querelas internas na cidade numa disputa de poder, onde sujeitos agem, muitas vezes, motivados por interesses subjetivos.
De maneira inicial se discute o campo teórico desta pesquisa, na análise da historiografia do político e do conceito de cultura política vêem a guiar os olhares sobre o objeto, servindo como elemento norteador durante o percurso.
Demonstrando as bases por onde se edificaram a produção e vindo a justificá-la, assim como se apresentam os percalços metodológicos utilizados na realização da mesma.
Na sequência discutem-se os desenrolares do movimento emancipatório no contexto de disputas e apreensões locais.
Numa tentativa de compreender como a sociedade se portou frente às novas propostas no espaço citadino, uma história que mescla sociedade e poder no jogo de interesses.



Cultura Política: discussão teórica.
A história como ciências que analisa o homem no tempo (BLOCH, 2011) vem inferido estudos sobre a trajetória humana em diferentes tempos e espaços, sua produção historiográfica[1] é ilustrada por permanência e rupturas.
“A explicação dessas oscilações está na relação entre a realidade observada e o olhar que a observa” (RÉMOND, 2003, p.14).
Desta forma, realizamos um estudo sobre a trajetória da história política para apresentar a visão sobre ela empregada nesta pesquisa.
A partir da obra de Francisco Falcon (1997) pode ser percebido que até princípios do século XX à história política era a própria história.
Uma historiografia que teve suas origens mensuradas nas narrativas gregas, dos grandes heróis e mitos enaltecendo a figuração dos elementos políticos da época.
As mudanças que seguiram dizem mais a respeito da metodologia de pesquisa do que a estrutura historiográfica, como decorre no medievo onde o eclesiástico ganha enfoque, mas a forma do discurso se mantém (FALCON, 1997).
Os renascentistas e românticos buscam a luz da verdade na escrita histórica, uma contestação das fontes na tentativa de provar o fato passado.
Mas é no absolutismo que se tem a guinada histórica, que surge como elemento de justificação do Estado, posto como centro social (FALCON, 1997).
A escola metódica ou factual era a representação desta forma de ver e pensar a história, num modelo fechado, linear, enfocando as rupturas e limitando possíveis explicações (RÉMOND, 2003, p.14-17), contudo não se busca afirmar que não houvesse, neste longo período, outras formas de escrita de história, porém elas surgiram como complementação ao político como propuseram, segundo Francisco Falcon (1997), pesquisadores como Marx, Engels, Tocqueville, Burckhardlt, entre outros.
A sobreposição a esta história, posteriormente chamada de história política tradicional, ocorre apenas com as novas propostas da Escala dos Annales nas primeiras décadas do século XX (FALCON, 1997).
Seus teóricos dentre eles, Marc Bolch e Lucien Febvre, propõe um abandono a essa história “[...] que fica na superfície das coisas e esquece de vincular os acontecimentos as suas causas profundas” (RÉMOND, 1996, p.06 apud HILÁRIO, 2006, p.144).
Na dinâmica da Escola dos Annales se valorizava os estudo da longa duração, teoria marcante de Braudel, e o político foi estigmatizado como história da curta duração, limitado a um espaço humano não explicativo e, portanto, desinteressante.
Neste período houve a máxima valorização da história econômica e social que seriam as reveladoras da sociedade humana e o político uma consequência da mesma.
Contudo, isto não quer dizer que o poder e a política pararam de ser estudados, porém tiveram novas roupagens em segundo plano (FALCON, 1997).
O período do pós-guerra (1945) foi marcante no declínio da história política perdurando até 1970.
Neste período “os historiadores abandonaram a história do sufrágio, das leis e dos regimes eleitorais, e deixaram para os profissionais de outras disciplinas a análise de seus efeitos” (RÉMOND, 2003, p.44).
As áreas como a antropologia, sociologia, ciências políticas e linguística dedicaram-se ao estudo das relações de poder imbricadas no movimento político, destacando-se a contribuição de Michel de Foucault ao levar a análise do poder e política para o campo das representações sociais. (FALCON, 1997).
Pode-se desta forma pensar um estudo do político longe de uma análise factual, partindo para o estudo dos partidos, permanências políticas, entre outros.
As edificações do pensar sobre a multiplicidade do campo de estudo fez ver o político como uma nova possibilidade de estudo, bebendo de outras áreas para o enriquecimento da história política ou nova histórica política como é chamada por alguns. (FALCON, 1997).
A partir da década de 70 observou-se uma renovação da mesma, tentando superar a visão estigmatizada que lhes foi imposta no pós-guerra, alguns autores franceses dentre eles René Rémond, Serge Berstein e Jacques Le Goff lançaram discursos em defesa da nova história política a partir da década de 1990, atrelando política ao estudo do poder (HILÁRIO, 2006).
Vale ressaltar que esse processo de declínio e renovação da história política foi sentido e vivido com mais intensidade na França de onde estas linhas de pensamento seguiram para o restante do mundo.
Abrindo dessa forma novas perspectivas, fontes e metodologia ao campo historiográfico.

Cultura política.
Com esta renovação da História novas linhas de pesquisa foram se edificando e dentre as suas dimensões edificou-se a história cultural que busca uma compreensão de como é realizada a interpretação simbólica das pessoas na sua relação social, segundo Roger Chartier:

“A história cultural, tal como a entendemos, tem por principal objetivo identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma de terminada realidade social é construída, pensada, dada a ler.” (CHARTIER , 2002, p.17)

Entende-se que esta linha histórica tem como fundamento, um estudo voltado para as práticas sociais, visão dos papéis sociais e sua distribuição entre os indivíduos.
A história cultural desta forma proporciona uma visão mais próxima das representações, instituindo um estudo voltado para os agentes históricos.
Nesse sentido, chamava a atenção para os gestos e comportamentos, e não apenas para as ideias e os discursos, e considerava as representações (individuais ou coletivas, puramente mentais, textuais ou iconográficas) não como simples reflexos verdadeiros ou falsos da realidade, mas como entidades que vão construindo as próprias divisões do mundo social (CHARTIER, 2009, p.07).
O estudo das representações se apresenta como um campo de “poder e dominação”.
Onde os discursos, mesmos sem intencionalidades, estão cheios de influências, desta forma se desmitifica a ideologia dos “discursos neutros” (CHARTIER, 2002, p.17-18).
A sociedade se apresenta como núcleo de distintas representações, ideias e comportamentos.
Assim, quando Roger Chartier nos apresenta esta teorização a cerca da história cultural, é pensável desta forma uma leitura do cotidiano.
Quando se transpõe esta teorização para o momento emancipatório da cidade de Cachoeirinha, se reviverá o cotidiano, objetivando o estudo do conjunto de comportamentos sociais inerentes ao convívio através da cultura política local.
Partindo do entendimento que a cultura política abrange os diversos campos das representações humanas inerentes à política, buscando uma aproximação entre história política e história cultural.
Onde a inter-relação entre estes dois campos teóricos históricos só proporcionaram um maior enriquecimento para análise do objeto.

Serge Berstein ao analisar a nova história política fala:

“O móvel principal dessa renovação consistia em aplicar à história política os enfoques e questionamentos das ciências humanas e sociais, da ciência política e os novos horizontes abertos pela voga da história cultural, em particular no campo das representações” (Berstein, 2009, p.29-30).


A abordagem cultural da política possui uma discussão historiográfica recente, na segunda metade do século XX.
Contudo, segundo Almond (1990 apud RENNÓ, 1998), a cultura já foi utilizada como abordagem para o entendimento político desde a antiguidade com autores como Maquiavel, Rousseau, Platão, Aristóteles, entre outros, utilizaram aspectos da cultura para análise de características inerentes a política.
Embora a cultura política enquanto categoria de análise seja remontada ao século XX, década de 1960, com as obras de Almond e Verba (BAQUERO, 2010, p.06-10).
Ambos os autores com a obra The Civic Culture idealizaram métodos de análise de comportamento político através do campo cultural, interagindo com valores, crenças e símbolos sociais como elementos formuladores de comportamentos políticos.
Porém seu campo de teorização sofre árduas criticas ao longo do tempo, os autores dedicaram-se a realização de uma tipologia cultural política, não levando em consideração a multiplicidade histórica e cultural de cada sociedade, buscaram a definição de um modelo cultural como o ideal para a edificação da política democrática, no caso o americano, quando a cultura política só pode ser compreendida em seu campo histórico e múltiplo, onde numa mesma sociedade podem coexistir diferentes culturas políticas (HILÁRIO, 2006); (BAQUERO, 2010); (BORBA, 2005).
Dessa forma, em vez de enquadrar as diferentes sociedades em uma tipologia construída a priori, os estudos de cultura política devem servir para que se construa uma compreensão da realidade que considere as diferentes experiências históricas.” (HILÁRIO, 2006, p.147).
Outra crítica lançada sobre teoria de Almond e Verba consciente na ausência de uma formulação especifica sobre o sentido de causa da cultura política, se dedicaram mais ao estudo do comportamento político.
Também não apresentaram um estudo claro sobre as relações entre cultura política e estrutura política na formação do comportamento político, atualmente autores defendem o relacionamento mutuo de influências entre a cultura política e instituições políticas “[...] valores, atitudes, procedimentos políticos se reforçam a partir da interação entre o comportamento e o funcionamento das instituições políticas [...]” (MOISES, 1995, p.94 apud BORBA, 2005, p.150).
Sendo esta linha de pensamento adotada nesta produção onde a cultura política e as instituições tornam-se contribuintes no comportamento.
Embora que toda instituição tenha uma tomada de decisões e postura baseadas em um bojo também cultural, contudo não cabe aqui uma discussão mais aprofundada sobre estes questionamentos.
Onde se tratando do referido objeto de pesquisa, em Cachoeirinha na década de 1960 acredita-se que as grandes famílias fossem as verdadeiras detentoras de influências políticas em sobreposição as linhas partidárias oficiais, as famílias eram as verdadeiras instituições políticas da época onde a política estava permeada por uma rede de dependência.
Como destaca Oliveira, “[...] na trajetória brasileira coexistem práticas tradicionais enraizadas no contexto das relações corporativas, elitistas, oligárquicas, patrimonialistas e populistas [...]” (OLIVEIRA, 2007 apud BROTTO, 2009, p.09).
Desta forma o estudo sobre esta problemática proporcionará uma elucidação da sociedade local, a cultura política como instrumento para a leitura do comportamento social diante da emancipação citadina.

Onde valores, sentimentos e expressões revelam o jogo de intencionalidades e pretensões no movimento político, como fala Serge Berstein:

“[...] os atos e comportamentos de atores políticos como os cidadãos se explicam mais frequentemente em função de um complexo sistema de representações, partilhando por um grupo suficientemente expressivo dentro da sociedade. Esse sistema de representações, a que os historiadores deram o nome de cultura política” (Berstein, 2009, p.31).
Além disso, se atribui uma significação histórica para a atual configuração da cidade que em seus dias atuais ainda traz na mentalidade coletiva signos de outrora, a cultura política é “capaz de permitir a compreensão dos sentidos que um determinado grupo (cujo tamanho pode variar) atribui a uma dada realidade social, em determinado momento e lugar” (GOMES, 2007, p.47-48).
A história como mediadora temporal das relações humanas, buscando um entendimento sobra às ações do homem.

Cultura política no contexto histórico brasileiro.
A formação histórica brasileira possui como elemento marcante o domínio da terra no contexto social.
Como elemento dominador o latifúndio se constituía como a chave de manutenção social, durante o período colonial a vida nas terras brasileiras estava inscrita num regime de dependência ao senhor de terras com um conjunto de escravos e índios submetidos à autoridade senhorial (SALES, 1994).
Porém este domínio não se restringia ao negro e indígena, já que, o homem livre e pobre estava sujeito a um regime de agregado nas terras do latifundiário, ou seja, recursos básicos para a manutenção de sua vida eram proporcionados pelo consentimento de outra pessoa.
Neste contexto, Tereza Sales (1994) discutiu esta rede de dependência atribuindo a nomenclatura de cultura política da dádiva, ou seja, uma cidadania concedida pelo proprietário das terras, onde o sujeito comum só poderia ter direito a vida na medida em que os recursos essenciais da mesma são cedidos por outro.
Teresa Sales (1994) parte para a concepção que a cultura política da dádiva esta inscrita pela relação de duas proposições a do mando e da sobrevivência.
A primeira estaria centrada no latifundiário que possui o controle das terras, dos aparelhos de justiça, política e instâncias administrativas e desta forma exerce o poder do mando a seus agregados; a segunda estaria vinculada ao homem simples que caberia obedecer cegamente ao mando, este era o seu papel enquanto indivíduo que era livre e preso ao mesmo tempo por vínculos de dependência.

Observe o caso relato por Marcus Carvalho ocorrido em Pernambuco:

“[...] ainda em 1847, o subdelegado do subúrbio de Afogados, o sempre agitado Francisco Carneiro Machado Rios, informava ao Chefe de Polícia da Província que os moradores dos engenhos Uchôa, Santana e Giquiá, estavam sendo ameaçados de ‘despejo, arrancamento de lavouras, e outras violências, pelos respectivos proprietários’ por não apoiarem totalmente nas querelas políticas do momento. Essa prática tornou-se comum na zona da mata. Muita gente sofria esse tipo de pressão na época das eleições” (CARVALHO, 2001, p.145).

Percebe-se uma condição de coação e dominação da vida, uma cidadania concedida.
Não convém falar de uma cidadania concedida em relação a negros e indígenas, porque na época colonial os mesmos não eram vistas como cidadãos gerando um contraste no campo conceitual.
Teresa Sales faz apontamentos que em dois momentos da história brasileira, a independência e o fim da escravidão, poderiam ter rompido com este campo político cultural.
Contudo o que se viu foi uma manutenção desse modelo, José Murilo de Carvalho (1996) ao se debruçar sobre a análise da cidadania brasileira nos revela que a mesma foi muito mais uma imposição da elite no século XIX do que uma conscientização natural, “o brasileiro foi forçado a tomar conhecimento do Estado e das decisões políticas, mas de maneira a não desenvolver lealdade em relação às instituições” (Carvalho, 1996, p.356).
Percebe-se claramente um distanciamento do povo em relação ao exercício cidadão que muitas vezes só seria possível através de outrem, pôde ser verificado que o acontecimento histórico não tem a força de alterar as bases culturais.
Acredita-se que mudanças no nível político cultural veiculam-se a um campo puramente ideológico e cultural, intervenções verticais não chegaria ao campo imaginário coletivo e, desta forma, resultariam em um permanecia reforçada de uma dominação revestida como novos adornos, o que de fato veio a caracterizar a República Velha no Brasil com os moldes coronelistas.



Uma analogia ao coronelismo.
O Brasil na República Velha era um país ainda ligado às bases latifundiárias e do Café isto criava um campo favorável ao coronelismo.
O autor clássico sobre este domínio político Victor Nunes Leal o definiu como um “sistema político” (1975, p.131) que teria suas raízes fincadas e desenvolvidas no interior brasileiro.
Numa relação de troca entre o poder público, tomado como um bem personalista e subjetivo, para com uma elite agrária em decadência, este é o ambiente perfeito para o desenvolvimento.
O meio rural se constituía no lócus privilegiado para a incidência e o desenvolvimento do sistema, pois era lá que se encontravam as condições de dominação e dependência pessoal favoráveis, devido à estrutura agrária baseada no latifúndio (SILVA JÚNIOR, 2008, p.35).
Através da área de influência deste latifúndio que o coronel reunia em torno de si uma grande quantidade de dependentes, sejam a partir de favores, pedidos ou mesmo como seus trabalhadores os coronéis tornavam-se um elo entre o Estado e a população local.
Essa troca de favores de qualquer tipo tendia a fortalecer a força de domínio do coronel, criando uma dependência social para o exercício da vida.
Sendo a partir “[...] dessa política de distribuição de favores para amigos e parentes surgia o paternalismo e o filhotismo, que contribuíam para a desorganização da administração municipal.” (SILVA JÚNIOR, 2008, p.37).
Como o coronel detinha um grande eleitorado sob dependência utilizava-se disso para pleitear benefícios perante os partidos estaduais e municipais para garantir a vitória de seus candidatos, estes benefícios por sua vez serviam para fortalecer ainda mais sua rede de troca de favores e por decorrência de dependência social.
Estes compromissos entre o coronel e seus subordinados eram fundamentados em coisas materiais, ou seja, valores ligados a um conjunto de coisas e acordos da vida prática.
Não se caracterizava segundo Waldemar Júnior (2008), por um relacionamento fundamentado em princípios éticos e ideológicos, mas numa relação de trocas de interesses concretos.

Sobre o coronelismo Waldemar o define como:

“[...] um fenômeno eminentemente político e republicano, só percebido e consolidado em todas as suas práticas em áreas rurais, onde existiam relações de produção pré-capitalistas que permitam visualizar relações de dominação e dependência pessoal” (SILVA JÚNIOR, 2008, p.38).
O meio rural foi local propicio ao coronel enquanto espaço favorável à dominação. Nessa rede de relacionamento o coronel se fortalecia por concentrar votos sob seu controle, “pois as relações de dominação e dependência pessoal impedem que haja a liberdade no exercício do direito do voto” (SILVA JÚNIOR, 2008, p.64).
Dessa forma, ele mina as relações de liberdade do voto tendo um poder decisão nas eleições pelos votos de cabrestos na formação dos currais eleitorais, contudo o poder coronelista não se limitava as eleições ele se estendia pelas áreas mais dinâmicas da sociedade.
Se o coronelismo foi um sistema político marcadamente da República Velha teve sua época de ouro a partir de 1920 se estendendo até 1950, quando decorre um desenvolvimento das relações de trabalho na zona rural e também o êxodo da região para áreas urbanas que concentravam um desenvolvimento econômico, além de uma ampliação de políticas publicas para essas regiões.
No entanto em Pernambuco alguns poucos coronéis, em 1960, ainda tinham seus últimos suspiros no poder local, seriam Veremundo Soares - Salgueiro, Chico Romão Sampaio - Serrita - e José Abílio - Bom Conselho (SILVA JÚNIOR, 2008).



Cultura política da dádiva.
A cultura política da dádiva tem uma forte e clara expressão no coronelismo e Teresa Sales ao analisar as teorias de Nunes Leal na obra Coronelismo, enxada e voto argumenta que o mesmo previa o fim do coronelismo quando o poder do latifundiário se esvai, contudo não foi o que aconteceu.
Segundo a mesma, o poder coronelista se revestiu com novos moldes e atores encontrando outras formas de dominação em áreas como no comercio, saúde, trabalho, entre outros.
O novo coronel sem o chapéu e cavalos pilota carros em estradas asfaltas das cidades saindo à procurada de eleitores desfavorecidos que precisam de seus favores para alcançar recursos básicos para a manutenção de sua vida.
Uma grande quantidade da população ainda está envolvida por laços de dependência o que limita sua liberdade enquanto cidadão, constatando ainda uma aceitação aos princípios patrimonialistas (FANTINEL, 2010).
Quando se caracterizou a cultura política da dádiva na realidade brasileira se pensou no plano macro do contexto brasileiro, não se buscou uma generalização, pois se tem consciência que a cultura política opera nos planos múltiplos e subjetivos do eleitor.
Contudo se buscou discutir como a política brasileira foi sentida amplamente no tempo para propor um entendido sobre a especificidade de Cachoeirinha na década de 1960.



Pegadas que levam a um discurso: os percalços metodológicos.
Uma escrita acadêmica lembra muito uma caminhada que o sujeito vai trilhando racionalmente, para não se afobar inicialmente e perder o fôlego e também não se distanciar do foco e se perder nos próprios passos, é saber lidar constantemente com a documentação e transformá-la em uma possibilidade teórica.
Podendo contar com o apoio e orientação da equipe que estende a mão com um copo d’água nos momentos de exaustão e até mesmo a atira no corpo desidratado e flácido para suportar as angústias e superar as barreiras até o fim.
Contudo a linha de chegada não é o fim para o pesquisador, as primeiras caminhadas servem como experiência e condicionamento físico para as próximas, a cada pegada deixada uma nova aprendizagem se adquire na caminhada eterna do pesquisador.

A metodologia inferida nesta caminhada foi pautada pelo viés da pesquisa qualitativa buscando um estudo voltado para a análise dos fenômenos sociais através dos significados, como apresenta Cecília Minayo a pesquisa qualitativa:

“[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (MINAYO,  1994, p 21-22).
Neste sentido se buscou por uma variedade de fontes para tentar alcançar e se pensar sobre estes significados na sociedade, foram utilizadas as fontes orais e arquivos.
Podendo contar com o auxilio, sugestões e apoio da orientadora no processo de pesquisa e escrita.



Fontes orais.
Os principais referenciais teóricos seriam sobre o campo teórico e metodológico, pouco se tem escrito sobre a cidade de Cachoeirinha.
Assim a história oral tornou-se uma chave para alcançar o objeto de estudo.
Contudo se tem consciência dos percalços desta linha de pesquisa, a memória apesar de retratar o passado está sempre viva nas pessoas, com tais características vê-se sua possível manipulação por seus guardiões.

Como fala David Lowenthal:

“A necessidade de se utilizar e reutilizar o conhecimento da memória, e de esquecer assim como recordar força-nos a selecionar, destilar, distorcer e transformar o passado, acomodando as lembranças às necessidades do presente” (1998, p.77).
Esta etapa da pesquisa se mostrou muito complexa e exaustiva, tanto nos procedimento práticos quanto no tratar do documento.
A memória figura como algo volúvel e de difícil compreensão, entender o outro através de seu universo cultural não é um tarefa simples, ainda mais quando elementos complementares da fala, como gestos, olhares e tom de voz não podem ser transcritos no papel, algo difícil mais que também é recompensador pelo trabalho final.
Uma história local deve ser baseada na própria sociedade e nos aspectos integrantes dela, assim se realizou quatro entrevistas abertas, tendo caráter qualitativo na seleção dos depoentes que vão desde dois ex-políticos até cidadãos comuns, duas funcionárias públicas aposentadas.
“Convém, pois, contar com entrevistados de diferentes origens que desempenhem diferentes papéis no universo estudado” (ALBERTI In: PINSKY, 2010, p.175) para proporcionar uma multiplicidade no discurso produzido.
A partir da teorização de Verena Alberti (2010 In. PINSKY, 2010) foi usada a entrevista aberta de caráter temático, que se direciona especificamente a vivência do depoente ao tema proposto.
Utilizara-se um roteiro geral de entrevistas com eixos norteadores pré-elaborado, evitando questionamentos fechados.
Analisando o discurso dos depoentes, através do modo como viram e viveram aquela época.
Como destaca Verena Alberti, “Deve ser importante, diante do tema e das questões que o pesquisador se coloca, estudar as versões que os entrevistados fornecem acerca do objeto de análise.
Ou mais precisamente: tais versões devem ser elas mesmas objeto de análise” (ALBERTI, 2005, p.30).
Entrevista não como monumento, mas como fonte de análise. Para proteção da imagem dos entrevistados, optamos por nomeá-los através de pseudônimos[2].



Arquivos.
A pesquisa em arquivos pode ser dividas em duas fases distintas.
A primeira foi realizada na biblioteca pública Alfredo Alves Espíndola em Cachoeirinha, apesar de ser um trabalho realizado sem supervisão especializada de historiadores a secção Conhecer para reconhecer – Nossa Terra, nossa gente reuni uma coleção de cartas, crônicas, fotos, folhetos, entre outros documentos da história local.
Dispostos de forma organizada e acessíveis a toda população.
A dinâmica da internet veio a contribuir com o ofício do historiador ao poder disponibilizar documentos em formatos digitalizados, como ocorreu com os Diários Oficiais do Estado de Pernambuco no site da Companhia Editora de Pernambuco.
No campo do legislativo foi possível a consulta as atas de reuniões dos primeiros anos da cidade e ao livro de posse do município, podendo inferir análise e interpretações acerca dos mesmos, numa tentativa de tentar entender o contexto em que foram escritos.

Percebendo que:

“[...] os arquivos constituem a memória de uma organização qualquer que seja a sociedade, uma coletividade, uma empresa ou uma instituição, com vistas a harmonizar seu funcionamento e gerar seu futuro. Eles existem porque há necessidade de uma memória registrada” (ROBERT, 1990, p.137 apud JARDIM, 1995, p.04).
 
Esta necessidade de respeitar a memória e o direito a ela não são seguidos por todos, este foi o cenário do segundo momento da pesquisa nos arquivos.
Os arquivos do executivo estão dispostos num arquivo, ou melhor, num depósito porque chamar aquele espaço de arquivo seria uma ofensa aos arquivistas, não se observa a mínima tentativa de organização, nem tipológica e nem cronológica os documento estão simplesmente espalhados de forma alheatória, por exemplo, um arquivo da década de 1970 estava ao lado de outro de 2007 sem haver correlação entre ambos.
Além de não possuir estantes suficientes às pastas caem ao chão, do mesmo jeito que as memórias se esvaem daquela época, o passado vai sumindo pela ação do tempo, das traças e do descaso humano.
Por isso a defesa pela história local antes que seus vestígios sejam comprometidos.



Relações citadinas: visões de uma vila.
Pôde ser percebido como a trajetória municipal de Cachoeirinha foi sendo edificada paulatinamente ao longo do tempo o que não vem a diferenciar-se de sua emancipação política.
Entraves políticos e disputas por poder vieram a ilustrar esta história, como bem falou Francisco Falcon, “história e poder são como irmãos siameses” (FALCON, 1997, p.61).
Pelo discurso do bem local se agregaram interesses subjetivos que não podiam mais ser suprimidos por uma gestão autoritária da sede municipal.
A antiga vila de Cachoeirinha é rememorada no imaginário dos entrevistados como espaço oprimido e atrasado, onde se sofria com o descaso administrativo da sede municipal de São Bento do Una, ou seja, um espaço sem recursos próprios: um lugar limitado.

Observe-se a descrição:

[...] era uma vila pequena, não tinha calçamento, as ruas hoje tem tudo nome, mas naquele tempo [...] eu me lembro de uma que chamava Rua do Calvão, era tudo assim sempre tinha apelido e não tinha nome [...] a rua Dr. Manoel Borba antigamente era Rua da Várgea e assim pouca coisa se via. Não tinha carro nem moto, eram os fazendeiros, que eram ricos e que tinham carros, aquelas Rurais e Jipes. Circulava mais pela vila carros de bois e cavalos [...] a praça quando era Vila tinha esses bancos de praças e era só [...] e Cachoeirinha era assim, era muito pequena. (Narrativa de Amélia. 65 anos. [Cachoeirinha, 27 de agosto de 2011]. Cedida a Rafael da Silva Abreu).
 
Era vila pertencente a São Bento do Una [...] Bem pequenininha, tinha ali o quadro da rua, tinha aquela estrada que ia pra Cabanas, aquela rua que vai pro matador e o estudo era bem pequenininho [...] (Economia) agricultura no sitio ou se não o pessoal trabalhava no comércio. Tinha feira naquela época como hoje na quinta-feira, a feira era boa para o tamanho da vila. (Narrativa de João. 83 anos. [Cachoeirinha, 20 de agosto de 2011]. Cedida a Rafael da Silva Abreu).

Só tinha isso ai mesmo [referindo-se a praça central da cidade], vamos dizer, ali no Posto era tudo mato [...] não tinha médico, não tinha posto e nem posto de medicamento, não tinha nada e tudo dependia de lá [São Bento do Una]. Nem uma lojinha de fazenda de quinta tinha [...] era muito pequena. (Narrativa de Pedro. 78 anos. [Cachoeirinha, 12 de setembro de 2011]. Cedida a Rafael da Silva Abreu).
 


Imagem 1 - Praça do Comércio da vila de Cachoeirinha na década de 1950. Acervo privado digitalizado de José Cláudio Omena.
 
A breve mensuração da vila de Cachoeirinha apresenta-a como um lugar pequeno e singular, mas nos transmite a ideia de um lugar de dependência. 
A foto acima retrata a praça central, dedicada ao comércio, demonstrando um pouco da paisagem de simplicidade do lugar.
É possível pensar as pessoas na década de 60 assistindo a um desenvolvimento econômico e industrial do país e, ao mesmo tempo, ansiando pelo mesmo processo em sua espacialidade.
O que não demonstrava ser uma proposição e um direcionamento da forças políticas da Sede municipal.
Também é notável a recusa pelo pequeno, cada vez mais se observa uma grande expectativa social de desenvolvimento econômico.
Princípios capitalistas que vislumbram os olhares comuns com projeções sociais e econômicas e os inquietam quanto às limitações espaciais, o pequeno e simples são objetos de fugas na sociedade contemporânea do capitalismo, vive-se na sociedade que idolatra o macro.
Partindo destes pressupostos a sociedade cachoeirinhense, por volta das décadas de 1950 e 1960, foi calcada a partir destes valores de ordem e progresso social.
A difusão de melhores condições de estrutura física, assistencial e, até mesmo, condições sociais básicas.
Teorias que podem ser apreendidas pela documentação oral dos depoentes, anteriormente já citados, nos fragmentos: “[...] era uma vila pequena, não tinha calçamento” (Narrativa de Amélia) e “[...] o estudo era bem pequenininho” (Narrativa de João).
A incompletude passa a ser debatida socialmente.
Será que somos reais merecedores desta situação?
Não, foi provavelmente a resposta elencada a esta, também, provável questão da época.
A forma como se chegou a esta resposta será mais adiante debatida.
 Neste sentido, um problema foi diagnosticado no que se refere ao desenvolvimento social local, “Porque parou as coisas daqui” (Narrativa de Antônia. 86 anos. [Cachoeirinha, julho de 2011]. Cedida a Rafael da Silva Abreu.).
Foi neste cenário de estagnação que se pensou o problema, sua causa e solução, o problema já foi mensurado aqui, no que se refere à difusão do pensamento de limitação da vila de Cachoeirinha enquanto espaço de convivência e desenvolvimento social.
Quanto a sua causa, se pensou no óbvio ou no desejável, em se tratando de emancipação política a culpa cai na sede administrativa municipal de São Bento do Una.
Sendo referenciada como a responsável pelas mazelas da vila, “[...] vivia aprisionada de São Bento, quando tinha um projeto seu Didi, Djalma Agripino[3], ia a atrás e não conseguia nada, só prometiam e não vinha nada.” (Narrativa de Antônia).
Destaca-se o imaginário de uma prisão sendo atribuído na relação com a sede municipal, a partir daí pode se abstrair uma teoria de não pertencimento e integração da vila a espacialidade municipal, decorrendo daí múltiplas leituras de dissociação entre os agentes envolvidos.
Na medida em que esta população não se identifica com o restante de sua comunidade e, ainda pior, lhe atribui a culpa por seus problemas é natural que decorra a reluta em admitir tal permanência.
Torna-se necessário fugir ou lutar contra si mesmos, já que, sede e vila teoricamente compunham uma única unidade territorial enquanto cidade de São Bento do Una, surgindo uma fragmentação internalizada na cidade, a sociedade entra em crise.
Partindo da teorização de crise segundo Nicola Abbagnano.
Em época recente, esse termo foi estendido, passando a significar transformações decisivas em qualquer aspecto da vida social. [...] o progresso necessário da história é dominado por uma lei geral que determina a sucessão de épocas orgânicas e de épocas críticas.
A época orgânica é a que repousa num sistema de crenças bem estabelecido, desenvolve-se em conformidade com ele e progride dentro dos limites por ele estabelecidos.
Mas a certa altura, esse mesmo progresso provoca a mudança da ideia central sobre a qual essa época está apoiada e determina, assim, o início de uma época crítica. (Abbagnano, 1998, p.222. Grifos do autor).
A sociedade defronta-se num conflito, ruptura e reelaboração de ideias, contestando sua realidade e na crise ela reinventa sua realidade para uma nova perspectiva de vida.
A crise predispõe uma ruptura e ao mesmo tempo uma renovação ou inovação e foi nessa época crítica que se idealizou uma vila virar cidade, essa foi a resolução defrontada na crise.
A nova cidade seria a saída natural para um desenvolvimento local e os discursos se direcionaram neste sentido.
Em defesa de uma emancipação “Sem dúvida para ver o aumento da cidade, o crescimento, porque uma vila sem alguém interessado nunca aumenta, né? Naquela época o esforço era para ver Cachoeirinha crescer, era parada.” (Narrativa de João).
Na apreensão deste depoimento se pode constatar que o desenvolvimento econômico da vila dependia de sua emancipação, a relação de interesses entre vila e sede municipal se tornou dispersa.
O sentido de liberdade se amplia, Cachoeirinha não cabia mais dentro de São Bento do Una, o objetivo era parir uma nova cidade.
Este foi a alternativa presente nos discursos proferidos na época, o político e seu discurso são ainda um campo mais amplo de análise.



Mediação política: o problema e o discurso.
A problemática citadina já havia sido detectada, na relação desfavorável para a vila de Cachoeirinha em detrimento da sede municipal.
Os discursos do movimento político de emancipação se direcionaram especificamente no sentido de deflagrar esta problemática como elemento de justificação do pleito emancipatório.
A este fenômeno de análise do problema e o discurso gerado pelo mesmo, os historiadores dão o nome de mediação política.
Partindo dos estudos sobre os partidos realizados por Serge Berstein:


“É no espaço entre o problema e o discurso que se situa a mediação política, e esta, é obra das forças políticas, que têm como uma de suas funções primordiais precisamente articular, na linguagem que lhes é própria, as necessidades ou as aspirações mais ou menos confusas das populações. Por isso a mediação política assume o aspecto de uma tradução e, com esta, exibe maior ou menor fidelidade ao modelo que pretende exprimir” (BERSTEIN In RÉMOND, 2003, p.61).
Mediação política pode ser entendida como a representação do real no discurso político, sendo neste momento que o bojo e objetivos políticos se revelam.
Investigando as falas políticas pode-se abstrair o real sentido da sociabilidade e movimento político.
Assim constatam-se as visões e percepções da vila, porém a ausência de fontes oriundas da sede municipal limitou a construção de um quadro analógico amplo.
Pelas narrativas obtidas verificam-se, em nível material, falta de estrutura física na vila sem calçamentos, saneamento, escolas, entre outros aspectos (Narrativa de João), ou seja, a vila provavelmente tinha reais problemas no nível de estruturação física e amparo à sociedade.
Isto pode ser compreendido em virtude dos primeiros projetos do legislativo de Cachoeirinha, anos após a emancipação, buscava edificar recursos básicos na cidade, como instalação de luz elétrica [4], calçamento de ruas, prédios para prefeitura, fórum e câmara de vereadores [5], ou seja, a vila provavelmente tinha problemas de nível estrutural, porém não se pode afirma que São Bento do Una agia com má fé de propósito.
Tais discursos chegaram à população em crise revestindo os órgãos administrativos de São Bento do Una com grande caráter depreciativo, “São Bento queria comer o dinheiro daqui e não fazia nada, o prefeito vinha e não fazia nada” (Narrativa de Antônia).
Quanto ao resultado do discurso, entende-se que vieram a minar as relações internas da cidade.
O que se destaca seria a metodologia utilizada nos discursos políticos locais, como na fala de um dos lideres políticos da época, José Pedro Raymundo Sobrinho,“[...] lutávamos contra forças adversárias e poderosas que se opunham aos nossos ideais de Libertação [...] Naquela época, o maior sonho dos cachoeirinhenses – como era natural – era libertar a nossa Vila da tutela do Município de São Bento do Uma”[6].
As narrativas políticas edificadas na época se basearam na promoção de uma história de vítimas e vilões, o papel de vilão é claro que ficou com a sede municipal.
Novamente se abstrai a ideia de prisão nas relações citadinas, o que se propunham era a dissolução espacial literalmente entre o distrito e município, não se observa tentativas de acordos e sim uma proposta de ruptura, pois na construção imaginária local São Bento do Una feria e impedia o desenvolvimento de Cachoeirinha.

Abdon Jordão: o subprefeito.
Terra dos meus avós, dos meus pais, Terra dos Simões.
Deixaste de ser a menina travessa e despretenciosa [sic], qual a que corre pelas tuas ruas com cabelos soltos e longos, descalças e de vestido roto, sem responsabilidade e indiferente, pois não és mais menina, és uma cidade que comemora 18 anos de emancipação política[7].
O poder exercido por São Bento do Una na vila era representado pela administração do subprefeito, escolhido diretamente pelo prefeito municipal.
Na temporalidade que circunda a emancipação política de Cachoeirinha, tal cargo era exercido por Abdon Jordão que na citação acima, de sua autoria, faz uma rememoração da vila 18 anos após sua emancipação política, segundo o mesmo Cachoeirinha cresceu e não é mais dependente agora é responsável por si e nos faz lembrar de uma época de conflitos e angústias.
Quanto ao seu papel na trajetória política da cidade, no momento emancipatório, ora é referendado como militantes ora como opositor, “[...] era um cidadão de bem e falava forte também, em São Bento do Uma ele era uma autoridade [...] era subprefeito” (Narrativa de João).
Definido como uma pessoa de personalidade “forte” e que se relacionava bem com seus companheiros, a fala acima é de um companheiro político da época em questão.
Na apreensão dos depoimentos o Subprefeito é percebido como uma pessoa de caráter forte e rígido, ao mesmo é associado aos desmandos políticos da sede municipal.


Ele quem tomava conta daqui antes dos Raimundos. Muito antes da emancipação ele que era o chefe da cidade, ele era quem tomava conta pra São Bento. Ele era quem dominava o Município, com a polícia, todo esse movimento com prisões essas coisas, tudo era ele, era o chefe de qualquer coisa, se denunciava algo a ele. (Narrativa de Antônia).

Diante dessas funções tornou-se malquisto por uma parcela da população, principalmente os ligados a família dos Raimundos, pois “[...] tinham duas alas políticas, uma com senhor Abdon Jordão que não queriam que aqui se emancipasse [...] ele era do PSD[8] e os Raimundos da UDN[9], a UDN aqui sempre superou.” (Narrativa de Antônia).
Atente-se ao fato do subprefeito estar ligado a uma chefia política municipal que não mais interessava a população local, portanto sua imagem tende a ser associada ao desprestígio político que representava.
Em outros depoimentos observou-se que o mesmo também “queria a emancipação” (Narrativa de Pedro ) e foi um dos primeiros a falar de emancipação política na cidade, “se eu não me engano foi José Raymundo e Abdon Jordão” (Narrativa de João).
O que se pode pôr em discussão aqui não é o fato de que Abdon querer ou não a emancipação local, mas definitivamente não a queria para os Raimundos.
Tal percepção pode ser aprendida ao observá-lo um ano após a emancipação, onde em decorrência da manutenção de seu poder sobre as forças policiais da cidade, são relatados abusos no que se refere ao tratar as pessoas.

O secretário da câmara de vereadores de Cachoeirinha, Paulo Leite Martins, em reunião ordinária de 31 de outubro de 1963, faz que se registre em ata o seguinte:

“[...] em Cachoeirinha estamos vendo um clima de tensão política, pior que no tempo da ditadura, às perseguições se repetem constantemente, numa verdadeira sanha mesquinha do chefe político local, que tem como meta de governo, mandar a polícia ‘Revistar’ ‘Correr’ ‘Desarmar’ modestos cachoeirinhense e até mandar prender sem justa causa. O que vemos diariamente deste á manhã até altas horas da noite o Sr. Abdon da Silva Jordão em Comboio com a Polícia [...] a demonstrar poderio político e prestigio perante o povo, que já conhecia esse método desde o tempo da ditadura, e em razão de tal, sempre o derrotou esmagadoramente repetidas vezes nas eleições locais”[10].
Uma pessoa de perfil autoritário, que tem seu exercício político sendo comparado a um regime ditatorial e quanto a esse “tempo da ditadura” se pode entender como o período da administração de São Bento do Una na vila de Cachoeirinha.
Sua representação a partir daí mostra a insatisfação do mesmo pela atual situação, como o mesmo disse anteriormente Cachoeirinha era “Terra dos Simões”, e agora seu papel político se afastará das diretrizes administrativas locais tendo que limitar-se ao comando policial.
Porém, essa não pretende ser uma história de vilões e mocinhos, o que convém frisar são as querelas envolvendo a política local em época da emancipação, se Abdon Jordão demonstrava resistência provavelmente seria mais a ascensão dos Raimundos na política do que ao desmembramento de São Bento do Una.
Cachoeirinha estava repleta de pessoas interessadas em sua autonomia, mas cada disputava uma fatia do poder local que resultaria a partir disso.

Lideranças e liderados.
Para apreensão do movimento político, necessita-se a princípio, de um entendimento sobre o que pode vir a ser político, porém esta conceituação é uma das mais complexas de ser realizada, conforme Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva, em razão de sua postura dinâmica na sociedade “[...] o sentido do que é político muda com o tempo e também com os interesses dos grupos sociais” (SILVA, 2010, p.337).
Cada sociedade elaborou e viveu uma proposta de político que atendia as particularidades de sua época, o que a caracterizou, segundo René Rémond, por “[...] o político não ter fronteiras naturais” (RÉMOND, 2003, p.442).
Mesmo sendo marcado no campo da abstração o político pode ser considerado um dos elementos de maior influência na vida social concreta, sua dinâmica é marcada por lidar com os princípios organizacionais da sociedade e tende a moldar o papel do cidadão, ou seja, seria o maestro da sociedade.


Desta forma ilustra-se claramente o fundamento relacional entre política e poder, onde o político só pode ser entendido diante desta relação, porém não se trata de um poder comum, este poder político possui uma característica mais ampla e dinâmica enquanto força de conjuntura na sociedade, como analisou René Rémond:

“Só é político a relação com o poder na sociedade global: aquela que constitui a totalidade dos indivíduos que habitam um espaço delimitado por fronteiras que chamamos precisamente de políticas” (RÉMOND, 2003, p.444).

O poder político que só limita-se com outro seja ele de proporções equivalentes ou não.
Quando vem a utilizar a democracia representativa como instrumento de atuação e justificação cria-se uma ilusão de democracia ampla.
Nesse modelo, ainda hoje vigente, a participação de todos os cidadãos foi substituída pela eleição de representantes substituída pela eleição de representantes da maioria, políticos profissionais que tomam decisões sobre a vida de todos os representados (SILVA, 2010, p.89).
Desta forma uma minoria que detém o poder político age como legítimos na função de comandar a sociedade como um todo, já a população comumente limita-se a votar como se este fosse seu papel democrático.
Na verdade, é só um dos passos que deveria percorrer no processo democrático, o cidadão deveria ser o sujeito ativo na tomada de decisão.
O que se vê é propriamente uma minoria eleita que atua com os seus poderes políticos e, muitas vezes, exercem suas funções públicas fincadas em interesses subjetivos.
Esta discussão sobre conjunturas políticas veio para elucidar o contexto de emancipação política de Cachoeirinha no que diz respeito ao entendimento sobre político, onde se apreende que na época estes seriam os moldes de caracterização do modelo de político, como são até os dias atuais.
O movimento em si originou-se e foi guiado por um determinado grupo de cidadãos que tomaram esse compromisso por motivos que serão elencados mais a frente.



As lideranças locais.
Para discutir as lideranças políticas de Cachoeirinha nas décadas de 1950 e 1960 torna-se essencial analisá-los pela conjuntura política da emancipação política, tendo em vista, que era o mais significativo movimento de ideias políticas naquele espaço.
Podendo ser mensurada como uma campanha pela “nova cidade”, que mobilizou a vila de forma mais ampla, gerando comoção por um ideal de sociedade.
A vila decidiu lutar por si, como fala José Pedro Raymundo, um dos lideres políticos da época, tem “os primeiros trabalhos iniciados em 1948”[11], contudo a palavra trabalho sendo empregada neste momento nos faz refletir sobre seu significado neste cenário,
“O trabalho, dizem os filósofos, está associado ao esforço para se atingir um fim, esforço esse físico e espiritual” (SILVA, 2010, p.401).
Neste contexto o sentido de trabalho sendo atribuído à emancipação faz pensá-la como um movimento planejado e organizado e não como processo espontâneo e natural, além do mais o sentido de trabalho remete-se em distribuição de tarefas e consequentemente lideranças.
Quando os entrevistados são indagados sobre lideres políticos da época, suas memórias se inflamam com variadas figuras políticas que hoje nomeiam ruas e praças da cidade.
Foram citados José Pedro Raymundo Sobrinho, Euclides Raimundo, Alfredo Espíndola, Paulo Leite Martins (Narrativa de Antônia), Manuel Valença Braga, Diva Valença de Melo, Zé Lino, José Gomes Sobrinho, Elias Alexandre Sobral, Monsenhor Severino Ottoni  e Abdon Jordão (Narrativa de João).
Entretanto realizar um estudo sobre cada membro referendado seria exaustivo e fugiriam da proposta desta pesquisa que não objetiva diretamente um estudo biográfico.
Apesar de se entender que a historiografia biográfica ao tratar da história de vida seja apreendida como um importante elemento para o entendimento histórico (BORGES In. PINSKY, 2010, p.155-204).
A mesma não cabe aqui devido a sua amplitude, optou-se por uma tentativa de compreensão das atitudes políticas dos mesmos, ou seja, priorizou-se pela utilização da categoria de análise da cultura política pelo: 

“[...] fato de permitir explicações/interpretações sobre o comportamento político de atores sociais, individuais e coletivos, privilegiando-se seu próprio ponto de vista: percepções, vivência, sensibilidades” (GOMES, 2007,  p.47).
Assim, um estudo pela intencionalidade dos atos, é claro que o estudo não abarcou todos os sujeitos citados, foi possível inferir análise aos quais as fontes históricas permitiram alcançar.
Nestes pressupostos os Raimundos, José e Euclides, são constantemente referendados como principais líderes do movimento político, segue um relato de José Pedro.

Raymundo Sobrinho:

“Naquela época, para uma vila se emancipar deveria ter, no mínimo mil eleitores, mas, Cachoeirinha possuía apenas, aproximadamente, de quatrocentos a quinhentos eleitores.
Começamos, então, a enviar semanalmente uma média de cem pessoas a São Bento do Una, a fim de serem qualificadas como eleitores. Mas as perseguições contra Cachoeirinha eram, já tão grandes que dessas pessoas mais de cinqüenta por cento eram rejeitadas como eleitores, desqualificadas que eram pelas razões mais absurdas”[12].
As primeiras preocupações para a conquista da emancipação foram dirigidas para alcançar uma meta de eleitores como exigência da Lei nº 445 de 04 de janeiro de 1949 (Lei da Organização Municipal do Estado de Pernambuco) no Capitulo II, artigo 4º e inciso VII determinava como exigência um “corpo eleitoral superior a mil (1.000) eleitores” [13], essa busca por quantitativos também foi mensurada em depoimento, “Aceitaram [São Bento do Una], porque veio a Lei e tal, e pela quantidade de moradores preencheu os requisitos por Lei, tinha os limites, a emancipação veio por isso ai” (Narrativa de Pedro ), tendo em vista que a referida Lei também estipulava metas quanto aos moradores, no artigo 4º, inciso II: “população superior a dez (10) mil habitantes” [14], aparentemente todo esse levantamento foi, de certa forma, guiado e liderado.
Todo esse movimento de “levar” pessoas para serem reconhecidas como eleitor nos faz remeter a uma grande passividade da população que simplesmente vai através dos atos de terceiros.
A ideia de líder se mistura ao papel do mando[15], tendo como função a coordenação da população com um todo, ou seja, o sentido de líder político parece ir além de um comando de representatividade indo para o sentido de líder ideológico e de comando propriamente dito.

Observe-se a fala de um entrevistado sobre os motivos da emancipação:

Porque na emancipação política lutaram muito, a luta foi dos Raimundos. Euclides Raimundo e José Raymundo e Alfredo foi quem arrumaram a emancipação política. Queriam porque tudo dependia de São Bento do Una, não tinha médico, não tinha posto e nem posto de medicamento, não tinha nada e tudo dependia de lá. Nem uma lojinha de fazenda de quinta tinha [...] era muito pequena. (Narrativa de Pedro).


Novamente exibi-se uma forte menção a atuação da família dos Raimundos na tomada de decisão na política local, onde estes sujeitos tomaram para si a função de promovedores da condição social local.
Neste cenário de emancipação se faz refletir: o porquê de tomar para si o papel de liderança local?
Qual o real sentido em si expor socialmente na defesa da vila?
Tais respostas se edificaram, principalmente, no campo da subjetividade.
No jogo político de interesses aparecem de forma gritante em momentos que podem ser atrelados a uma atribuição pessoal, destacando-se a família dos Raimundos.

Quando se questiona sobre os motivos dessa emancipação, obteve se essa argumentação:
 
Porque parou as coisas daqui, num sabe. E eles queriam muito sabe, ele [Abdon Jordão] não tinha amizade com o pai dos Raimundos [...] sofriam muito e tinha uma época que outros mandavam aqui também, eram muito perseguidores. Por exemplo, se os Raimundos consegui-se uma amizade pra arrumar um emprego, ele travava botava um deputado amigo dele de São Bento do Una, o Valença, e botava abaixo, se arruma alguma coisa vinham logo botar abaixo, quer dizer tudo era ele que mandava. Depois houve a emancipação que ele caiu e depois foram os Raimundos que entraram na política. (Narrativa de Antônia).
 
Entende-se que não era apenas a cidade que passava por limitações, a população em si sofria restrições.
Entretanto não se tratava da população simples e comum da vila, seria uma elite em ascensão que cada vez mais buscava uma projeção do poder local, fazendo menção da fala acima transcrita pôde ser observada uma personalidade subjetiva sendo estigmatizada no que se refere ao contexto social.
Antônia ao ser questionada sobre os motivos que levaram ao desejo de emancipação política, na transcrição acima, foi constatado que inicialmente a entrevistada partiu para análise diante do contexto social amplo “Porque parou as coisas daqui”, onde decorreria uma estagnação local, porém em sequência o depoimento centralizou na posição da família dos Raimundos[16] como elemento de justificação da emancipação política local, ou seja, a emancipação política estava atrelada à ideias e contextos subjetivos que foram sendo massificados no contexto social local.


Filiação política as famílias.
O poder exercido por essas famílias na espacialidade de Cachoeirinha muito se assemelhou a um partido político.
As famílias eram os verdadeiros partidos políticos da época, onde se responsabilizavam, em sobreposição, aos partidos oficiais pela articulação política na conquista de votos e na própria administração local.
Para uma melhor compreensão do surgimento desta filiação política se torna necessário recorrer à teorização de Serge Berstein, contudo se transpôs a teoria dos partidos do autor para elucidar a condição das famílias.


“Para que se nasça um partido, é necessário além disso, no interior do movimento evolutivo constatado, se produza uma crise, uma ruptura bastante profunda para justificar a emergência de organizações que, diante dela, traduzam uma tendência da opinião suficientemente fundamental para durar e criar uma tradição capaz de atravessar o tempo. Essa crise não é necessariamente um acontecimento histórico” (BERSTEIN In. RÉMOND, 2003, p. 67)
 
E foi no contexto de crise em que a sociedade se encontrava de não pertencimento ao espaço municipal de São Bento do Una, numa visão social de estagnação e desvalorização enquanto agentes sociais, em meio a crises e rupturas, que um partido nasce fazendo enfretamento aos problemas.
Ganhando força e prestígio social ao desenvolver práticas que venham a viabilizar a saída da crise, ou seja, solucionar o problema em foco.
Quando confrontamos esta teoria no contexto da vila de Cachoeirinha nas décadas de 50 e 60 apreendemos que os partidos eram, na verdade, as famílias que concentravam o bojo cultural político da época.
Onde a partir de depoimentos (Entrevistas de Antônia, João e Pedro ), constatou-se de haviam duas linhas políticas na cidade, uma ligada ao conservadorismo com Abdon Jordão (PSD) e a segunda de oposição com os Raimundos (UDN).
Onde mesmo ambas as alas políticas estarem filiadas a partidos oficiais, não se percebe uma progressividade ideológica entre partidos e políticas locais na documentação consultada.
Em termos de demonstração de apoio político ou o sujeito estava atrelado a uma família ou a outra, os vínculos políticos eram edificados através de uma personificação política do líder local, que passava a ser visto não como um integrante de um partido nacional, porém como representação de uma linha ideológica subjetiva.
Os laços com os partidos centrais estavam presentes mediante a busca por acordos, geralmente próximos aos pleitos eleitorais, onde ambas as partes construíam um rede de reciprocidade visando à manutenção de suas condições políticas.
No contexto cachoeirinhense as famílias seriam as reais detentoras das coordenadas partidárias, constatando a forte oposição entre Abdon Jordão e os Raimundos, o primeiro marcado pela administração de São Bento do Una e o segundo levantava a bandeira pela nova condição de cidade tendo como proposta uma ruptura à condição social de opressão.
Neste sentido, houve um reforço ideológico estereotipado no partido da família dos Raimundos, os mesmos representavam a saída da crise.



A gênese citadina em 1962: os antecedentes.
Após alcançar-se o quantitativo, aproximadamente, mil eleitores e dez mil moradores exigidos por Lei, os trabalhos seguiram-se no sentido de aprovação do projeto de emancipação municipal.
Segundo o relato de José Pedro Raymundo Sobrinho[17], as querelas envolvendo o projeto foram inúmeras sempre em depreciação da aprovação do mesmo.
Os deputados por São Bento do Una Décio Valença e Lívio Valença são mesurados como opositores a municipalização da vila, a então poderosa família dos Valença não comungou das ideias de independência política da vila de Cachoeirinha.
As primeiras tentativas são remontadas para o ano de 1948, passando pela aversão do Deputado Décio Valença de São Bento do Una, que teria utilizado sua influência política frente ao governo estadual para barrar a tentativa de municipalização de Cachoeirinha[18].
São Bento do Una não aceitava a emancipação de Cachoeirinha, porque segundo depoimentos a vila “rendia” muito financeiramente para a sede, onde já possuía uma feira-livre forte para seu tamanho (Narrativa de Antônia ) a sede municipal não queria perder “um braço forte” que a vila representava na época. (Narrativa de Pedro).
O mesmo desacerto foi sentido em 1953 quando novamente tentou-se uma aprovação estadual e dessa vez o Deputado Lívio Valença agiu de forma “traiçoeira” contra os cachoeirinhenses.
Convencendo-os a retirar o projeto das mãos do Deputado Tabosa Almeida para ser relatado por, seu amigo, Clélio Lemos sendo que o mesmo no momento da plenária teria retirado o projeto de emancipação de Cachoeirinha dentre os demais que estavam sendo apresentados, por acreditar que a vila não tinha condições de ser projetada para uma cidade.
A recepção a este acontecimento teria sido de decepção e revolta para os moradores, “a nossa terra cobriu-se de tristeza”.
A oposição também vinha dos outros municípios vizinhos, no município de Altinho teriam sido demonstradas intencionalidades também contrarias ao movimento[19].
 
[...] duas ou três vezes que levaram para o Governador emancipar foi ao pau, porque ele fingia que estava alimentando e por trás atrapalhando, [...] o Valença, que ele tinha um prestigio muito grande com o Governador. [...] teve um ano que tava tudo pronto e por ele veio a abaixo, depois começaram, trabalharam muito e conseguiram a reconciliação. O deputado e ele [Abdon Jordão] absteve porque teve muita reação, fizeram muita coisa, ele teve até medo. Foi uma reação muito grande o povo todo que saíram em desagrado em passeata e tudo e ele teve medo, tinham dinheiro então cedeu, foi ai que emancipou. (Narrativa de Antônia).

A articulação entre o município e as instâncias Estaduais não parece ter sido fácil, os obstáculos colocados sempre minavam o processo e geravam momentos de insatisfação perante a população local, como pôde ser observado na citação a acima, as reações dos cachoeirinhenses ocorreram dentro de suas limitações.
Os protestos acabavam por gerar um ambiente onde a mudança tronava-se necessária e a permanência insuportável.
Neste sentido, os desencontros da emancipação favoreciam o prolongamento de seus discursos e um fortalecimento de seus idealizadores que se tornavam líderes dessa insatisfação.
É preciso se fundamentar e analisar como estava a conjuntura política estadual na época, porque mesmo as esferas estaduais passarem por intermediários para alcançar a população do interior à tramitação da emancipação teria que passar necessariamente pelo congresso e governo estadual.
Dessa forma, a compreensão de seu momento ajuda a elucidar diversas situações envolvendo a proposta de emancipação.
Sendo na década de 1950 que se observam grandes reviravoltas na política estadual pernambucana, Agamenon Magalhães morreu em 1952 deixando o Partido Social Democrático (PSD) como máxima hegemonia em Pernambuco, tendo o apoio maciço dos chefes político do interior do Estado, responsáveis pela grande máquina eleitoral do partido.
Na sua linha de sucessão partidária estava Etelvino Lins, que tentou pleitear sua candidatura única para o cargo de governador do Estado em 1952 numa coligação conhecida como “união sagrada dos partidos”, obteve apoio da maioria dos partidos da época (PSD, UDN, PDC, PL, PTB, PST, PTN e PR), faltando 20 dias para o pleito surge à candidatura de Osório Borba (PSB) que obteve apoio basicamente dos comunistas (PANDOLFI , 1984).
No desenrolar da política observa-se a figura de Osório sendo constantemente relacionada ao comunismo, ateísmo e defensor do divorcio, ou seja, o mesmo iria contra a moralidade dogmatizada da época encontrado forte oposição, até mesmo, dentro das esferas religiosas.
A máquina pessedista mostra sua força elegendo Etelvino Lins com grande margem eleitoral, a partir dos estudos de Dulce Pandolfi, foi possível constatar que o mesmo obteve 78,65% dos votos válidos, sendo que destes: 85,68% vieram do interior do Estado, Etelvino, inclusive, foi derrotado na capital e cidades vizinhas, podemos observar o controle eleitoral dos chefes políticos do interior que concentravam as decisões eleitorais em suas mãos (PANDOLFI , 1984).
Apesar do líder político estadual ter aparentemente o controle sobre a política pernambucana o mesmo tinha outras pretensões.
Almejava a Presidência da República e neste sentido passou a trabalhar realizando variados acordos entre diferentes partidos para alcançar esse objetivo.
Tais pretensões passam por cima dos ideias de outros chefes políticos do PSD, como Pandolfi analisa:
“Geralmente homens criados dentro do esquema construído por Agamenon Magalhães, possuíam, como este, um forte espírito pessedista, onde o espaço para a negociação com os ‘inimigos’ udenistas era praticamente nulo. A política nestas regiões funcionava dentro do padrão tradicional do clientelismo, numa transferência quase direta da troca de favores entre o eleitor, o chefe local e o poder estadual” (PANDOLFI , 1984, p.153).


Etelvino realiza um conjunto de acordos e alianças partidárias em depreciação a alguns lideres políticos da época, como ocorreu com Chico Heráclio, chefe político de Limoeiro e adjacências que tira o seu apoio a Etelvino e ao PSD, pois o partido já não era mais o mesmo.
O que se observa é uma fragmentação interna do PSD, entre aliados de Etelvino e a dissidência dos “pessedistas históricos”, como ficaram conhecidos.
Os dissidentes acusavam Etelvino de romper com os princípios do partido edificados por Agamenon Magalhães e, portanto, não viam o PSD como o mesmo partido que deviam filiação.
Já Etelvino também utilizava da figura de Agamenon para se apoiar, nem mesmo a morte tirou Agamenon da política estadual (PANDOLFI , 1984, p.152-154).
Esta fragmentação pode ser observada na campanha para governador do Estado em 1954.
O grupo de Etelvino apoiava a campanha de Cordeiro de Farias, já os pessedistas históricos lançaram a candidatura de Jarbas Maranhão, os mesmo não aceitavam o apoio recebido por Etelvino da UDN nacional, viam essa atitude como egoísta e não partidária.
“Dentro do PSD colocava-se a questão de saber quem era efetivamente o grupo dissidente: a facção liderada por Etelvino ou aqueles que defendiam a tese de uma candidatura pessedista e condenavam uma candidatura extrapartidária” (PANDOLFI , 1984, p.157).
Ao final do pleito Cordeiro estava eleito com uma diferença de apenas 35.704 votos.
A eleição teve um significado maior demonstrando a fragmentação do PSD, já que, o interior que se caracterizava por ser seu reduto eleitoral, onde obteve mais de 80% de seus votos na eleição de 1952, agora em 1954 caiu para 56,71%.
Os dados reunidos por Pandolfi demonstram o inicio da falência pessedista, onde chefes políticos do interior começam a olhar outras possibilidades (PANDOLFI , 1984, p.154-164).
Outro ponto chave foi à candidatura de Etelvino Lins para presidente da república em 1955 pela UDN nacional contrariando a proposta do próprio PSD nacional que tinha Juscelino Kubitschek como candidato, porém ao perceber o fracasso de seu plano de união partidária renúncia, seu substituto Juarez Távora perde a eleição presidencial deixando os pessedistas pernambucanos em maus lençóis com o diretório nacional.
Apesar das tentativas de reunificação partidária do PSD, foi na eleição ao governo estadual de 1958 que se viu a decadência da maior força política pernambucana, o PSD tinha como candidato Jarbas Maranhão que obteve 40,3% dos votos válidos perdendo a eleição para Cid Sampaio da coligação “Oposições Unidas de Pernambuco” (UDN, PTB, PST e PSB).
Esta eleição significou mais do que uma derrota, foi na verdade uma quebra na hegemonia política da elite local (PANDOLFI , 1984, p.173-194).
A política da oposição ao PSD estava centrada na conquista dos eleitores da base, “estimulando a participação dos diversos setores da cidade” (PANDOLFI , 1984, p.177) tinha o prefeito de Recife Pelópidas Silveira como seu representante, os mesmos traziam a proposta de mudanças estruturais no Estado, como a industrialização.
Desta forma, a campanha que elegeu Cid Sampaio tinha um programa de governo voltado para a conquista dos eleitores da base, se aproximando de sindicatos, associações populares, movimentos religiosos, entre outros campos de atuação.
 
“[...] a oposição definia concretamente um programa político e a sua campanha centrava-se em torno deste programa, as forças situacionistas restringiam-se a uma posição moralista de crítica à frente oposicionista, quer pela aliança com os comunistas” (PANDOLFI , 1984, p.188).

A derrota do PSD não pode ser atribuída apenas à desarticulação do partido, pois a conjuntura política havia se alterado e a população demonstrava um maior envolvimento nas relações e decisões políticas, embora ainda existissem chefes políticos impondo seu poder à liberdade do seu apadrinhado.
A consternação à derrota foi duramente sentida fazendo com que o atual governador pessedista Cordeiro de Farias renunciasse no dia 14 de novembro de 1958, assumido seu vice Otávio Correa de Araújo (PANDOLFI , 1984, p.194).
Sendo neste momento de instabilidade política que o projeto nº 122 de emancipação municipal de Cachoeirinha apresentado na Assembléia Legislativa do Estado Pernambucano passa por aprovação no dia 19 de novembro de 1958.
Em sua ementa estipula: “Cria o Município de Cachoeirinha, desmembrado do de São Bento[20].
Intrigantemente o presidente da Assembléia Legislativa nesta época seria o Deputado Clélio Lemos que, como já foi mencionado, a partir de outras fontes [21] demonstrou oposição à elevação de Cachoeirinha à cidade em 1953 alegando que a mesma não teria condições para tal mudança, porém apenas cinco anos depois como Presidente está envolvido na aprovação do mesmo.
Quais poderiam ter sido os reais motivos que o levaram em 1953 a impetrar contra o projeto?
Seria falta de condições estruturais e econômicas como alegara na época ou pura e simples jogatina política?
Direcionar este discurso para algum destes dois pólos seria uma mera especulação por falta de documentação que contribuísse para elucida esta questão.
Aparentemente esta seria a formação definitiva da cidade de Cachoeirinha, porém o Governado do Estado Octávio Correa numa atitude de consternação aos cachoeirinhenses vetou o projeto nº 122, sob estas alegações “de fato, o projeto ora vetado não preenche todos os requisitos exigidos pela Lei n.º 445, de 1949 (Organização Municipal), além de contrariar, fundamentalmente, o interêsse público” [22].
O poder executivo deixou claro que a emancipação não representava um interesse público, tendo em vista que também vetou com a mesma justificativa, simultaneamente, mais doze projetos que visavam os mesmo fins, propunham a criação das cidades de Pontas de Pedras, Itaibá, Condado, Fazenda Nova, Barra do Guabiraba, Terra Nova, São José da Coroa Grande, Venturosa, Belém de Maria, Catende, Ipubi e Betânia[23].
Entende-se que não seria do interesse estadual abarcar com todas as municipalizações propostas, recorrendo aos seus meios para evitá-las.
No que diz respeito à Lei mencionada pelo Governador que faz uso para vetar os projetos, Lei n.º 445, de 1949 (Organização Municipal), prescrevia as exigências para a constituição de Municípios.
Além das que já foram mencionadas aqui, quantitativo de eleitores e moradores, nos oito incisos do artigo 4º prescreviam sobre território; quantidade de casas (superior a 300); a renda anual de impostos deveria ser superior a cem mil cruzeiros; estradas que interligassem o futuro município as seus vizinho, prédios para o paço municipal, cadeia pública e local para a instalação de escolas primárias; que a desmembração do Município sede não causasse uma desestruturação do mesmo; e por fim, que a área do novo Município não ferisse as Leis estaduais, no que diz respeito ao art. 102 da Constituição do Estado[24].
O Governador Octávio Correa vetou sobre os argumentos dessa Lei e também deixou claro que contrariavam os interesses públicos, a segunda proposição pode ter sido o elo mais forte na tomada de decisão, tendo em vista que os projetos foram aprovados na Câmara de Deputados e se os mesmo não estivessem nos argumentos da Lei teriam sido barrados neste primeiro momento.
O que se pode interpretar a partir dos documentos foi a relutância do Estado em admitir tais mudanças, como o Governador se pronunciou não estava nos interesses no momento, até mesmo porque o projeto vinha através da ala opositora (UDN) representado pela família dos Raimundos.
Os pessedistas não aceitaram facilmente a derrota para as Oposições Unidas, onde como já foi mencionado decorre a própria renuncia de Cordeiro de Farias diante da contrariedade, onde Otávio Correa apesar ter assumido o governo por alguns meses fez questão de vetar os projetos de emancipação política, talvez de forma proposital contra a oposição ou por qualquer outro motivo.
O que se pode perceber é que a política estadual não estava favorável a estas discussões, um momento de mudanças e reviravoltas nas bases políticas do Estado.


Contra esta imposição feita pelo Governador Otávio Correa à Assembléia Legislativa cria no dia cinco de dezembro do mesmo ano uma comissão partidária[25] para análise dos vetos realizados pelo Governador contra as emancipações de nove cidades:
Cachoeirinha, São José da Coroa Grande, Barra de Guabiraba, Venturosa, Betania, Terra Nova, Ipubi, Condado e Itaiba. O projeto que criaria o município de Fazenda Nova é retirado da análise a pedido do Deputado Olímpio Ferraz por, segundo o mesmo, não atender as exigências da Lei, enquanto o projeto de criação de Pontas de Pedras é incluído na comissão a pedido do deputado Vieira de Menezes. Consta na ata da 1ª reunião da comissão partidária, publicada no Diário Oficial no dia 10 de dezembro de 1958, onde a proposta da comissão teve “aprovação unânime” após as modificações já citadas[26].


O passo seguinte no desenrolar da tramitação nas esferas legislativas estaduais foi a promulgação da Lei nº 3309, que estipulava:

ART. 1.º - Fica criado o Município de Cachoeirinha, desmembrado do de São Bento, de acordo com o art. 103 da constituição do Estado.
ART. 2.º - O novo Município, cuja sede será a Vila do mesmo nome, terá como território o do atual distrito, acrescido do Distrito de Cabanas de São Bento do Una[27].
ART. 3.º - Limitar-se-á com o Município de Altinho pela Linha da Companhia Hidro-Elétrica de Paulo Afonso, e, com o Município de São Caetano, pelo limite sul da propriedade Mocambo, seguindo pela estrada carroçável até encontrar Estrada Tronco Central entre São Caetano e Cachoeirinha, e em seguida por uma linha reta, passando pela propriedade Furnas, até encontrar a propriedade Lagôa da Lage, nos limites do município com São Bento do Una.
ART. 4.º - Revogadas as disposições em contrário, a presente lei entrará em vigor a partir de 1.º de janeiro de 1959. Assembléia Legislativa do Estado, em 17 de dezembro de 1958[28].


Após a publicação da Lei no dia 18 de dezembro de 1958 expectativas se criam e difundem no convívio social, porém o governo estadual novamente se apresenta em oposição e recorre ao Supremo Tribunal Federal contra a referida Lei.
A querela envolvendo o processo emancipatório que parecia ter cessado com a promulgação da Lei foi novamente estendida para o sofrimento da população local.
 


É chegada à hora: 1962 é o ano da emancipação.
Os entraves da emancipação foram longos, apenas quatro anos depois de 1958 se vêem novos desenrolares nesta história que mais parece uma desventura.
A população teve quatro anos para se consternar e até mesmo sofrer, numa jornada de anos a fora em busca de um ideal, ou melhor, num conjunto de ideias que envolveu a sociedade de tal forma que a emancipação tornou-se necessária para o prolongamento da mesma.
 
Observe o relato do morador durante este período de incertezas e angustias quanto à condição de Cachoeirinha:


Esses quatro anos foram de sofrimento, de luta. Uma foi abaixo, ai deu uma revolta e o povo arrancava cartazes com o nome de Dr. Lívio Valença, ai ele ficou muito chocado com isso, criou vergonha e conseguiu, porque ele tinha muito prestigio com o governador, a população saiu arrancando o nome dele [cartazes] e pulando e riscando os olhos dele. Um dia eu fui a primeira a sai com a turma pra fazer isso. (Narrativa de Antônia).


A ira era direcionada no sujeito que representava o poder da sede opressora, saindo às ruas depreciando os representantes desses males, rasgando e rabiscando os cartazes do político em questão, a população já estava saturada.
Toda essa energia emocional foi sanada apenas em 1962 quando o Supremo Tribunal Federal deliberou em favor em favor das emancipações municipais de várias cidades, dentre elas a de Cachoeirinha.


“[...] declarou emancipada a nossa querida Cachoeirinha, transformou em realidade os sonhos dos nossos antepassados”[29]. 


A cidade explodia de felicidade e alegria, uma querela que durou mais de uma década chagará ao fim, como o entrevistado nos informa:


“[...] era um contentamento tão grande que eu tinha medo das senhoras que sofriam do coração morrer [...] até bomba soltavam, eu reclamava disso, soltava na porta dele [Abdon Jordão], pintaram e bordaram mesmo e eu dizia pra que isso? Alegria ninguém pode guardar e depois foi nomeado um prefeito” (Narrativa de Antônia).


A cidade é mensurada como palco da felicidade após a boa nova, o entrevistado também nos forneceu dados importantes sobre a continuidade desse momento, onde a cidade agora é administrada pelo primeiro prefeito, embora nomeado.
O senhor Izidio Almeida Calado, assumiu a Prefeitura Municipal de Cachoeirinha em 22 de fevereiro de 1962 por indicação do atual Governador Cid Sampaio.
A posse de Izidio Almeida ocorre num período de transição política na nova cidade, mesclando momentos de felicidade e euforia popular com novas projeções políticas internas na cidade.
Sujeitos que lutaram demasiadamente por este fim agora desejavam uma fatia do bolo e não apenas o do aniversário, a cidade deveria ser regida por um prefeito eleito.


Dessa forma, um dos principais papéis exercido por Izidio Almeida foi a divulgação e a busca pelo reconhecimento da emancipação de Cachoeirinha, no primeiro Oficio da Prefeitura Municipal de Cachoeirinha ele apresenta:
 
“Tenho a subida honra de comunicar a V. Excia., que em data de 23 de fevereiro [...] tomei posse do cargo de Prefeito interino, deste recém-criado Município, nomeado que fui, por ato do Eximo Sr. Governador do Estado, em 22 do citado mês. No desempenho das minhas árduas funções frente dos destinos do novel Município, aspiro contar com o imprescindível apoio [...]”[30].
 
O prefeito enviou 26 ofícios com o mesmo conteúdo para diferentes esferas do poder público e privado, como secretárias estaduais, municípios vizinhos, entre outros.
O seu governo de apenas oito meses teve como atividade a preparação para a primeira eleição constitucional que ocorrerá em agosto do mesmo ano.
Durante o mandato de Izidio a população faz mensurações das dificuldades da administração do mesmo, sem câmara de vereadores e nenhum outro tipo de administração municipal para auxiliá-lo, “era ele só” (Narrativa de João).
Foi perceptível durante as entrevista que as memórias ficavam vagas quando se buscava uma caracterização da administração de Izidio Calado, isto nos faz lembrar David Lowenthal quando afirma que: “o conteúdo que lembramos torna-o da mesma forma singularmente pessoal: inclui detalhes pormenorizados e íntimos de acontecimentos, relacionamentos e sentimentos do passado” (Lowenthal , 1998, p.79), acredita-se que a passagem do prefeito nomeado não tenha tido grande significação para a população, não houve um reconhecimento com o mesmo, que foi mensurado apenas como um elemento de passagem.
A população de forma depreciativa o apelidou de “prefeito tampão” (Narrativa de Pedro), porque popularmente estava ali para tapar um buraco que não era seu por direito.
 
Para completar a satisfação popular faltava a tomado do poder pelos Raimundos, o que de fato veio a ocorrer ainda naquele ano, após as eleições em agosto decorre à posse do primeiro prefeito eleito Euclides Raimundo em 15 de novembro de 1962, como consta no livro de posse e compromisso da Câmara de Vereadores de Cachoeirinha e declara:


“Prometo e juro manter de findes e cumprir a Constituição Federal, a deste Estado, observar as leis, promover o bem coletivo e exercer o meu cargo, sob a inspiração das tradições de lealdade, bravura e patriotismo do povo pernambucano”.


Cumprido o juramento da Lei o Sr. Presidente declarou empossado o primeiro prefeito constitucional de Cachoeirinha.
Neste momento, as autoridades, convidados, representantes de vários municípios e grande público presente às solenidades, aplaudiram de pé, delirantemente por alguns instantes[31].
Cumpridas as formalidades toma posse o tão desejado perfeito da nova cidade e como é descrito da ata de posse a população aplaudiu “delirantemente” por alguns minutos se congratulando ao novo prefeito.
A equipe administrativa é ilustrada na imagem abaixo, onde inclusive no seu mandato foi construído o prédio da prefeitura municipal, utilizado até hoje, que também é retratado nas imagens 2 e 3.
 


                  Imagem 2 – Equipe da Prefeitura Municipal de Cachoeirinha, 1962/66. Acervo privado digitalizado de José Cláudio Omena.








                   Imagem 3 - Prefeitura Municipal de Cachoeirinha, ano da inauguração 1964. Acervo privado digitalizado de José Cláudio Omena.



Articulação política: conquistando eleitores.
Ao nos projetarmos para o estudo acerca desta primeira eleição municipal de Cachoeirinha podemos apreender o contexto político da época, assim como uma leitura do processo de conquista de votos.
O político possui dentre sua personalidade pública um bojo de elementos políticos que promovem a conquista do eleitor e consequentemente a sua permanência no meio, tendo isso em vista a análise desses discursos nos darão ideias sobre como era desenvolvida a rede de relacionamentos da década que envolveu o processo de emancipação política local.
Não se pretende julgar tais discursos como meios certos ou errados do exercício político e nem mesmo desmerecer ou enaltecer alguma figura partidária.
Cada sujeito viveu em sua época como os hábitos que lhes eram comuns, buscar uma comparação pela óptica atual seria cometer uma injustiça temporal, o objeto de estudo deve ser analisado dentro de seu contexto social e desta forma evitar uma sobreposição de valores culturais.
Buscou-se a partir de entrevistas uma maior aproximação sobre este momento, sendo possível a descrição do mesmo por dois vereadores da época, os mesmos foram uns dos primeiros vereadores de Cachoeirinha.


Sendo eles João e Pedro, primeiramente analisar-se-á o bojo cultural que circundava a atuação de João, que teve uma atuação política marcadamente na zona rural do município, observe-se sua narrativa:
Minha eleição foi no sítio, com o povo do sítio. Eu tava desacreditado na cidade, ninguém acreditava na minha eleição, agora quando eu tava no exército aprendi a aplicar injeção, colocar soro e tudo. No sítio que eu morava, no sitio salgadinho, tinha uma pessoa que sabia aplicar, mas cobrava de um doente, nessa época não tinha essa seringa descartável nós tínhamos um estojo que esterilizava na hora e eu aplicava e não cobrava nada. Às vezes ia pra casa do doente a cavalo, às vezes meio distante e não cobrava, isso sem nem pensar em eleição. E o dono da fazenda que eu gerenciava senhor Leocárdio Porto queria que nem água de um açude que tinha era pra dar, mas eu dava e um dia ele chegou e eu discuti com ele, porque disse que não era para dar água e nem lenha e eu disse que dessa forma eu ia embora. Ele mandava tocaiar para não pegarem e eu disse que não ia, porque se eu tivesse com sede e fosse num barrero buscar uma lata d’água eu ia trazer de todo jeito e do mesmo jeito era os outros. Então ele disse, e quando ele secar o gado num vai beber? Ai eu disse: gado pode beber água salgada e o povo não pode e ele falou: e quando secar pra limpar o barrero? Eu disse que me ajeitava com eles e de fato foi o que aconteceu, o barrero secou e eu chamei o povo pra limpar e eu nem gastei com cachaça, porque a boa vontade que eu tive com eles, eles tiveram comigo. De forma que o gado bebeu água salgado por sete dias, que depois choveu. Então quando eu vi resultado resolvi me candidatar a vereador fui na casa desse pessoal e pedi voto. Ai ninguém se nego de forma que foi uma surpresa geral aqui na cidade (Narrativa de João).


Como pôde ser visto na narrativa o sentido e poder que o latifúndio exercia ainda se edificava como elemento definidor dos papéis sociais.
Apesar de não ser efetivamente o proprietário da fazenda detinha o papel gerencial, ou seja, o poder de atração das terras era representado através da sua pessoa.
O contexto social difere da realidade do coronelismo vivenciado, principalmente, na República Velha no sentido em que agora o detentor das terras era o próprio político.
Anteriormente o coronel tinha um intermediário na sua relação com o poder estatal com o qual promovia uma articulação de troca de objetivos (SALES, 1994).
Diferenças também são visível nos novos modelos de dependência, na narrativa foi possível constatar as diferentes formas de alcançar o eleitor.
Os favores médicos exercidos pelo narrador nos mostram que novas modalidades foram sendo arraigadas nas relações de políticas, os favores vão além da posse das terras, o político agora vai até a casa do eleitor na prestação de serviços.
Algo que também se chama atenção seria o fator de enfretamento ao real proprietário das terras, neste sentido, João não figurava apenas como um mantedor de elementos necessários ligados à vida no campo, mas também incorporava o ideal de protetor frente a um fazendeiro desinteressado pelos problemas alheios.
Pode-se entender que nesta relação, compreendida a partir da ideia de cultura da dádiva de Teresa Sales (1994), criou-se uma relação de dependência onde a representação de João estava atrelada ao direto de ser cidadão na medida em que proporcionava elementos essenciais à vida, foi reunido pessoas sobre sua proteção, em sua maioria pobres da zona rural.
Quando decorreu o pleito eleitoral seus apadrinhados se sentiram quase numa obrigação de tentar retribuir tais auxílios, numa rede de dependência recíproca.
Quando se volta para o estudo da realidade urbana os meios se alteram, porém o sentido do político permanece o mesmo.
Na cidade a terra já não tinha tanta influência quanto no campo coube-se procurar alternativas, os caminhos da saúde foi um recurso utilizado por Pedro que também foi eleito vereador numa das primeiras eleições constitucionais de Cachoeirinha.


Sobre seu processo de conquista de voto ele fala:


Fazia assim, os doentes precisavam de mim e eu levava para Garanhuns, Caruaru e Recife. Quando não podia eu mandava levar e fui me ampliando, comecei na saúde. Era credenciado pelo Juiz para dar atestado de óbito. Depois chegou o hospital e eu sai da jogada. Não tinha médico e eu tinha que fazer de tudo (Narrativa de Pedro).


Os modelos de política encontraram meios diferentes de chegar ao povo, a saúde foi centro de favores, percebe-se que essa prática de dependência tinha fortes laços onde havia uma desassistência do Estado.
Na fala do entrevistado ele destaca que a construção do hospital no município o tirou da “jogada”, ou seja, a dependência da população que estava centrada na sua figura ganha nova possibilidades de exercício, quando não há um amparo de órgãos governamentais as camadas mais desassistidas tendem a buscar auxilio sob a proteção de grupos que detém maiores recursos materiais e/ou intelectuais.
Tais sujeitos se apresentam como essenciais para a vida na sociedade surgiam e se edificavam através da dependência dos demais.
Os Raimundos também tinham uma rede de laços com a população local eles “adiantavam dinheiro e depois compravam os cereais, todos os cereais eram vendidos a eles e prendeu a cidade” (Narrativa de Pedro), Cachoeirinha na época tinha como principal meio de subsistência a agropecuária e o controle de mercado estando concentrado nas mãos de uma família fizeram com que os laços virem correntes, como falou o entrevistado, que acabaram por prender a população.
Como bem analisou Teresa Sales (1994) a herança da cultura política do coronelismo do mando e subserviência foi com o passar do tempo sendo revestidas com novos padrões na sociedade.
Onde novos instrumentos de dependência foram postos e não apenas a terra como ocorria no sistema político do coronelismo brasileiro na República Velha.
Entende-se que o contexto político de Cachoeirinha por volta da década 1960 estava mergulhado numa cultura política da dádiva, onde o ser cidadão vivia num sistema de dependência para o exercício da vida comum.
Desta forma, toda esta rede de dependência limitava sua liberdade política, onde durante o pleito eleitoral tais laços eram relembrados de forma a reforçar o sentido de reciprocidade.
Favores pessoais como barganha política não são destoantes da realidade política brasileira, até mesmo na atualidade, revestem a política de forma a não permitir a cidadania plena, pois ela esta presa por laços.
Desta forma a nova cidade dá seus primeiros passos neste contexto o que virá a elucidar uma serie de questionamentos na atualidade.
 

  
Concluindo.
O estudo sobre cultura política foi compreendido como campo de difícil atuação, na busca por entender o campo simbólico de sujeitos num momento diverso.
Muitas vezes a ausência/escassez de documentação contribui dificultando enxergar uma dada realidade, porém ao término mostrou-se recompensador por chegar perto de outra realidade e poder elucidar variadas questões da época, ou seja, as raízes da atual sociedade.
Uma sociedade em aparente crise, vivendo numa angustia e insatisfação espacial de não pertencimento ao todo, culpando a sede municipal por sua estagnação e por prendê-la naquela situação.
Junto à crise veio a ideia de mudar e esta só seria possível se evadindo da opressão de São Bento do Una, neste contorno viu-se a edificação de lideres e opositores, personagens que marcaram a época e foram marcados por ela, tornando-se referências para a sociedade na edificação de sua proposta.
Uma política marcada pela construção de laços de dependência, onde a necessidade de auxílios tirava do cidadão a liberdade política de participação, ser eleitor lhe garantia acesso a recursos básicos (SALES, 1994).
Neste sentido a população de Cachoeirinha foi sendo guiada na proposta de melhorias coletivas, onde uma elite se destacou na construção da nova possibilidade, embora a mesma também agisse mediante interesses subjetivos.
Destacando a manutenção destes líderes como políticos locais, a cultura política da emancipação criou campo ideológico propicio para esta permanecia, onde os agentes envolvidos na emancipação foram tidos como lideres e responsáveis pela nova cidade, assegurando-lhe o direito a mesma.
Percebe-se que a cultura política posterior a este momento é ampla e cabe-se de novos estudos, a conjuntura política da emancipação é um ponto de partida para o entendimento da política local cachoeirinhense.
A proposta de estudo deste trabalho nunca foi encerra-se nele, a dinâmica da cultura política de Cachoeirinha se prolonga e amplia-se no tempo, sendo marcada por rupturas e permanências.
Desta forma, tendo consciência de sua ondulação, este momento da emancipação foi o berço de uma nova conjuntura social promovendo a edificação de uma elite política local.
Observa-se a permanência política da família dos Raimundos no contexto cachoeirinhense, onde desde 1962 a oposição a esta família só venceu duas eleições municipais para prefeito.
A partir da emancipação foram nove mandatos representados por membros da família ou algum aliado da mesma, deve-se parar e refletir sobre as dimensões reais que a liberdade política local alcançou após 1962.
Não se pretende edificar, ou mesmo rotular, a emancipação política como responsável pela construção ou massificação de uma ideologia política, até porque o acontecimento histórico não tem o poder de moldar a sociedade.
Na verdade é o inverso, são os discursos antes, durante e depois que criam o campo ideológico propicio ao acontecimento, as rupturas e manutenções.
Espera-se que este trabalho venha contribuir nos estudos sobre a cidade de Cachoeirinha, podendo elucidar questionamentos ou construir outros.
Sirva para uma ampliação da ideias aqui discutidas ou, mesmo, sua contestação e reformulação, acreditando que um passo foi dado na construção historiográfica e espera-se que outros mais sejam dados.


  
Para saber mais sobre o assunto.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
BAQUERO, Marcello. “Cultura política e processo eleitoral no Brasil: o que há de novo?” In: Debate, v.2, n.7, Belo Horizonte: jul. 2010, p.06-10.
BERSTEIN, Serge. “Culturas políticas e historiografia” In: AZEVEDO, Cecília (org) Et all. Cultura política, memória e historiografia. Rio de Janeiro: FGV, 2009, p.29-45.
BLOCH, Marc Leopold Benjamin. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
BORBA, Julian. “Cultura política, ideologia e comportamento eleitoral: alguns apontamentos teóricos sobre o caso brasileiro” In: Opinião pública, vol. 11, n.1. Campinas: mar. 2005, p.147-168.
BROTTO, Marcio Eduardo. “Cultura política: criticas, expressões e influências” In: Revista comunigranrio, vol. 1, n. 1. 2009,  p.01-18.
Carvalho, José Murilo de. “Cidadania: tipos e percursos” In: Estudos históricos, vol. 9, n 18, 1996, p.337-359.
CARVALHO, Marcus J. M. de. “Tráfico, traficantes, sociedade pernambucana” In:  Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo no Recife, 1822-1850. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2001, p.95-171.
CHATIER, Roger. A História ou a leitura do tempo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
CHATIER, Roger. A História cultural entre práticas e representações. Lisboa: Difusão Editorial. 2002.
FABER, Marcos. “História dos partidos políticos no Brasil” In: História livre. Disponível em: http://www.historialivre.com/brasil/partidos_politicos.pdf. Acesso em: 04 dez 2011.
FALCON, Francisco. “História e poder” In. CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da história. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p.61-89.
FANTINEL, Letícia Dias. “Representações sobre cultura política no Brasil” In: VI Encontro de estudos multidisciplinares em cultura. Salvador: Facon-UFBA, maio 2010.
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
GOMES, Angela de Castro. “Cultura política e cultura histórica no Estado Novo” In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel; GONTIJO, Rebeca (orgs). Cultura política e leitura do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p.44-63.
HILÁRIO, Janaina Carla S. Vargas. “História política – cultura política e sociabilidade partidária: uma proposta metodológica” In: História unisinos, v. 10, n .2, mai/ago 2006, p.142-153.
IBGE. Cidades. Disponível em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1  Acesso em: 21 nov 2011.
JARDIM, José Maria. “A invenção da memória nos arquivos públicos” In: Ciência da informação, vol. 25, n 2. 1995, p.01-13.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Alfa-Ômega, 1975.
LOWENTHAL, David. “Como conhecemos o passado” In: Prof. História, n 17. São Paulo: Nov. 1998, p.63-183.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1994.
PANDOLFI, Dulce Chaves. Pernambuco de Agamenon Magalhães: consolidação e crise de uma elite política. Recife: Massangana, 1984.
PINSKY, Carla B.(org). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2010.
SALES, Teresa. Raízes da desigualdade social na cultura política brasileira. Revista de ciências sociais, n 25. São Paulo: jun. 1994, p.26-37.
SCHILLING, Voltaire. “Os partidos da república redemocratizada: 1945- 1965” In: Educação. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2003/08/ 18/002.htm Acesso em 04 dez 2011.
SILVA JÚNIOR, Waldemar Alves da. O coronelismo em Salgueiro: uma análise da trajetória política do coronel Veremundo Soares: (1920 – 1945). Recife: Bagaço, 2008.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2010.   
RENNÓ, Lúcio. “Teoria de cultura política: vícios e virtudes” In: Revista brasileira de informação bibliográfica em ciências sociais, n 45. Rio de Janeiro: 1ª semestre de 1998, p.71-92.
RÉMOND, René (org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
 

Texto: Prof. Rafael da Silva Abreu.
Licenciado em História pela Universidade de Pernambuco/Campus Garanhuns.

[1] Pode-se entender por historiografia, uma “reflexão sobre a produção e a escrita da história” buscando dessa forma analisar como a história foi escrita e pensada em determinado tempo e espaço, assim como os seus elementos influenciadores. SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2010, p.189. 
[2] Esta pesquisa foi guiada pela ética profissional de ocultação da autoria dos entrevistados, sendo respalda pelo código de ética da Universidade de Pernambuco, assim como da Constituição brasileira através da Lei de direitos autorais 9.610/98.
[3] Djalma Agripino de Melo foi uma das lideranças política da vila de Cachoeirinha.
[4] Ata da 1ª Reunião extraordinária realizada no dia 28 de janeiro de 1963, manuscrito, livro de atas de reuniões 1962-1966, p.04v-05. Acervo da Câmara Municipal de Vereadores de Cachoeirinha, Casa Vereador Cícero Cintra.
[5] Ata da segunda reunião da primeira sessão ordinária, realizada no dia 21 de fevereiro de 1963, manuscrito, livro de atas de reuniões 1962-1966, p.06-07v. Acervo da Câmara Municipal de Vereadores de Cachoeirinha, Casa Vereador Cícero Cintra.
[6] Relato de José Pedro Raymundo Sobrinho à sua filha Helenice Espíndola Melo. Cachoeirinha 21 de novembro de 1980. Texto datilografado, 5 folhas, p. 1. Acervo da Biblioteca Pública Alfredo Alves Espíndola - Cachoeirinha/PE. Seção: Conhecer para reconhecer – Nossa Terra, nossa gente. Pasta diversos I nº 4, arquivo 03.
[7] Jordão Filho, Abdon. Cachoeirinha, terra da minha infância. Crônica, dezembro de 1980. Texto datilografado. 2 folhas, p. 1. Acervo da Biblioteca Pública Alfredo Alves Espíndola - Cachoeirinha/PE. Seção: Conhecer para reconhecer – Nossa terra, nossa gente. Pasta diversos I nº 4, arquivo 04.
[8] Partido Social Democrático, fundado em 1945 pela ala conservadora getulista foi um forte aliado no governo do mesmo. Em Pernambuco o partido teve Agamenon Magalhães como principal representante e força política do Estado. (SCHILLING, Voltaire. Os partidos da república redemocratizada: 1945- 1965. Educação. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2003/08/18/002.htm. Acesso em: 04 dez 2011; PANDOLFI, 1984).
[9] União Democrática Nacional, fundado em 1945 o partido reunia a ala conservadora de direita brasileira opositora ao Governo de Getúlio Vargas, representantes das antigas oligarquias regionais. O PSD e UDN já nascem como oponentes políticos. (FABER, Marcos. História dos partidos políticos no Brasil. História livre. Disponível em: http://www.historialivre.com/brasil/partidos_politicos.pdf. Acesso em: 04 dez 2011).
[10] Ata da 4ª reunião da 4ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Cachoeirinha, realizada em 31 de outubro de 1963, manuscrito, livro de atas de reuniões 1962-1966, p. 20. Acervo da Câmara Municipal de Vereadores de Cachoeirinha, Casa Vereador Cícero Cintra.
[11] IBIDEM, p. 1.
[12] IBIDEM, p. 1.
[13] Diário Oficial do Poder Executivo de Pernambuco, ano XXVI, nº 8, Recife, 05 de janeiro de 1949, p. 38 Acervo digitalizado da Companhia Editora de Pernambuco. Disponível em <http://www.cepe.com.br>, Acesso em ago 2011.
[14] Diário Oficial do Poder Executivo de Pernambuco, ano XXVI, nº 8, Recife, 05 de janeiro de 1949, p. 38 Acervo digitalizado da Companhia Editora de Pernambuco. Disponível em <http://www.cepe.com.br>, Acesso em ago 2011.
[15] O mandonismo pode ser entendido a partir de José Murilo de Carvalho, onde “[...] exerce sob a população um domínio pessoal e arbitrário que a impede de ter livre acesso ao mercado e à sociedade política. O mandonismo não é um sistema, é uma característica da política tradicional” (1998, p. 134 apud SILVA JÚNIOR, Waldemar Alves da. O coronelismo em Salgueiro: uma análise da trajetória política do coronel Veremundo Soares: (1920 – 1945). Recife: Bagaço, 2008, p.37).
[16] Vale destacar que a entrevista anteriormente estava centrada na análise da figura de Abdon Jordão, diante disso a associação à família dos Raimundos partiu do entrevistado, neste sentido recorremos a David Lowenthal quando nos diz que “Cada tipo de recordação subtende sua própria perspectiva sobre o passado” (1998, p. 93). Assim, pode-se supor que na visão do entrevistado a família dos Raimundos teve um papel de destaque na articulação do movimento político.
[17] Relato de José Pedro Raymundo Sobrinho à sua filha Helenice Espíndola Melo. Op. Cit.
[18] Relato de José Pedro Raymundo Sobrinho à sua filha Helenice Espíndola Melo. Op. Cit., p.02-03.
[19] IBIDEM, p.02.
[20] Diário Oficial do Poder Executivo de Pernambuco, ano XXXV, nº 267, Recife, 02 de dezembro de 1958, p. 6595. Acervo digitalizado da Companhia Editora de Pernambuco. Disponível em <http://www.cepe.com.br>, Acesso em ago 2011.
[21] Relato de José Pedro Raymundo Sobrinho à sua filha Helenice Espíndola Melo. Op. Cit., p. 2.
[22] Diário Oficial do Poder Executivo de Pernambuco, ano XXXV, nº 267, Recife, 02 de dezembro de 1958, p. 6595. Acervo digitalizado da Companhia Editora de Pernambuco. Disponível em <http://www.cepe.com.br>, Acesso em ago 2011.
[23] Ibidem, p. 6592-6595.
[24] Diário Oficial do Poder Executivo de Pernambuco, ano XXVI, nº 8, Recife, 05 de janeiro de 1949, p. 38 Acervo digitalizado da Companhia Editora de Pernambuco. Disponível em <http://www.cepe.com.br>, Acesso em ago 2011.
[25] Pode-se entender por comissão partidária um conjunto de parlamentares reunidos temporariamente para analisar e discutir um determinado fato.
[26] Diário Oficial do Poder Legislativo de Pernambuco – 2ª Secção, Recife, 10 de dezembro de 1958, p. 2112. Acervo digitalizado da Companhia Editora de Pernambuco. Disponível em <http://www.cepe.com.br>, Acesso em ago 2011.
[27] O distrito de Cabanas pode ter sido acrescido no projeto para alcançar as metas estipuladas pela Lei de Organização Municipal do Estado de Pernambuco (445/49).
[28] Diário Oficial do Poder Legislativo de Pernambuco – 2º secção, Recife, 18 de dezembro de 1958, p.2130. Acervo digitalizado da Companhia Editora de Pernambuco. Disponível em <http://www.cepe.com.br>, Acesso: ago 2011.
[29] Relato de José Pedro Raymundo Sobrinho à sua filha Helenice Espíndola Melo. Op. Cit., p.04.
[30] Ofício nº 1, Prefeitura Municipal de Cachoeirinha – 1 de março de 1962, manuscrito, p. 1. . Acervo da Biblioteca Pública Alfredo Alves Espíndola - Cachoeirinha/PE. Seção: Conhecer para reconhecer – Nossa Terra, nossa gente. Pasta diversos I, nº 4, arquivo 14.
[31] Termo de posse do primeiro Prefeito Constitucional e do Subprefeito de Cabanas, 2ª distrito de Cachoeirinha, livro nº 29 – Termo de posse e compromisso 1962, p.02-03. Acervo da Câmara Municipal de Vereadores de Cachoeirinha, Casa Vereador Cícero Cintra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esteja a vontade para debater ideias e sugerir novos temas.
Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.