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terça-feira, 28 de junho de 2011

O diferencial do pensamento de Farias Brito.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume jun., Série 28/06, 2011, p.01-03.


O espírito não é somente a base do edifício do pensamento, o princípio dos princípios: é também fato que resiste a toda a dúvida, verdade que desafia o capricho mais desordenados dos céticos. E negá-lo é coisa, que, só por si, envolve absurdo, porque negar é ato da consciência e a consciência é fenômeno do espírito”.
Farias Brito, O mundo interior.


A auto-consciência faz com que o pensamento de Farias Brito seja diferenciado em relação às correntes cientificistas de sua época?
No contexto da Filosofia no Brasil, Farias Brito vive época diferente de outros pensadores, como o Padre Antonio Vieira e o escritor Gonçalves de Magalhães.
Não se vive mais em um período em que prepondera o aristotelismo-tomismo presente nos sermões do primeiro, nem o cartesianismo no qual o raciocínio do segundo baseia-se e discute.
Estamos no final do século XIX, e o primado da ciência está em seu apogeu.
O empirismo dá às discussões metafísicas um estatuto semelhante que se dá à religião: são constatações marginais, que não podem ser consideradas conhecimento verdadeiro, observáveis que não são.
Neste sentido, qual o papel que encontra a consciência de si?
De onde partirá?
Qual será o olhar que Farias Brito lança sobre a questão?


Filosofia e Ciência.
Farias Brito procura detectar e denunciar um fenômeno que ocorria no pensamento de seus coetâneos: a filosofia está sendo abandonada em nome da ciência.
Constata isso mais claramente a partir da psicologia, a partir de onde verifica uma tendência ao desprezo do pensar espiritualizado e poético:
“Numa coisa andaram acertadamente os psicólogos modernos: no qualificativo que deram à sua ciência de 'psicologia sem alma'.
Realmente a psicologia dos tratados, feita nos laboratórios de experimentação, com suas descrições anátomo-fisiológicas, com seus quadros demonstrativos, com suas tentativas de medida das sensações e da duração dos atos psíquicos, etc, é, não há negá-lo, e forçoso é reconhecer que a expressão é justa e precisa, 'uma psicologia sem alma'.
E isto equivale a dizer: uma psicologia morta” (BRITO, 1979).

Mas é justamente neste ponto que a filosofia de Farias Brito ganha em originalidade.
Ele não vai em movimento contrário à ciência e sua conseqüente sanha de experimentação, mas também não despreza as instâncias que vão além do alcance empírico-científico.
Sua intensão é “ir além”, transcender.
Para tanto, lança mão de uma psicologia baseada na espiritualidade e, no limite, da autoconsciência como forma de conhecimento essencial.
“Eu chamo psicologia a ciência do espírito, e entendo por espírito a energia que sente e conhece, e se manifesta, em nós mesmos, como consciência, e é capaz, pelos nossos órgãos, de sentir, pensar e agir.
É essa energia em nós uma manifestação particular da matéria?
Pouco importa.
Nessa manifestação particular a matéria adquire caracteres especiais que a constituem um princípio à parte e sui generis, que é o ponto de partida para uma série de fenômenos que são essencialmente distintos dos fenômenos da matéria, pelo menos, considerada esta em suas manifestações exteriores.
Sob esse ponto de vista, tanto importa considerar o espírito como uma substância independente, ligada apenas acidentalmente à matéria, como considerá-lo como fenômeno da matéria, ou mesmo como simples epifenômeno” (BRITO, 1979).


Concluindo.
Podemos verificar que, no pensamento de Farias Brito, a questão da organicidade da consciência é encarada como menos importante do que as suas próprias manifestações.
Nesta relação, observamos que é dada ênfase no efeito mais que à causa.
Disso deriva uma psicologia baseada no potencial criativo do espírito, que é capaz de agir no mundo, modificar seu meio, dominar-se, tomar conhecimento de si.
É através dessa consciência que o homem duvida, afirma-se e nega-se, sempre de acordo com as circunstâncias.
Este é, portanto, um ponto de diferenciação bastante relevante entre o pensamento de Farias Brito e os demais filósofos da modernidade.
Enquanto o cientificismo apresentava uma clara propensão a negar o espiritual, o transcendente, o metafísico e, em última instância, o filosófico, Farias Brito aponta uma tendência conciliatória, onde a ciência não será minimizada e o filosofia não será esquecida.


Para saber mais sobre o assunto.
BRITO, Raimundo de Farias. O mundo interior. Brasília: MEC, 1979.


Texto: Décio Cagnin Junior.
Aluno do 3º. Ano do curso de licenciatura em Filosofia no Centro Universitário Claretiano.

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