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Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Saberes e fazeres na aprendizagem histórica.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume jun., Série 21/06, 2011, p.01-06.


"Os filhos dos homens,                                                                                 
dentre, todos os animais jovens,
são os mais difíceis de serem tratados".
(PLATÃO)


Atualmente, vivemos em um mundo de conflito, onde as certezas são poucas e as dúvidas são muitas, ainda, mais se tratando de educação.
A mitológica “forma perfeita” de ensinar é perseguida dia-a-dia pelos professores.

As atividades docentes, cada vez mais, são postas em “xeque”, tanto pelas dificuldades inerentes a sala de aula como também pelas imposições avaliativas do governo (entre estas podemos citar a Prova Brasil, o ENEM, dentre outros exames, além do tradicional vestibular).

A todo o instante, o professor é atacado, criticado, exigido e avaliado.
Os desafios do ensino no mundo contemporâneo são muitos, mas, podemos destacar alguns: uso das novas metodologias de ensino, as compreensões do aluno, o processo de aprendizagem e, por fim, um velho debate o desafio da avaliação.
Este artigo discutirá alguns desses desafios, tendo como objetivo pensar a prática docente na área de história.


Repensando o Ensino.                                                                
Para pensarmos o ensino devemos nos questionar sobre o local no qual atuamos.
A resposta parece óbvia, a escola.
Mas, em qual tempo está situada esta escola? 
Alguns responderam, certamente, na contemporaneidade.
Porém, a escola na qual atuamos mantém paradigmas oriundos da escola moderna, dos quais podemos citar dois que serviram de base para o nosso debate.
O primeiro, a idéia do professor como irradiador do conhecimento.
Segundo, a escola como produtora do saber incontestável.
Estes são os principais paradigmas que devem ser atacados pelo professor, quando assume a posição de mediador/produtor de um conhecimento técnico e científico para a construção de um saber escolar palpável aos alunos.

Segundo a autora Schimidt (2005: p.48):

É no espaço da sala de aula que os professores e aluno de história travam o embate, em que o professor novidadeiro do passado e da memória, sente-se com a possibilidade de guiar e dominar em nome do conhecimento.
Mas ao mesmo tempo, ele sente como um igual e completamente aberto aos problemas e projeto dos seus alunos.

Será por meio deste sentimento de igualdade que o professor poderá assumir uma postura de mediação, onde é mais que um simples professor, para assumir uma nova postura, a de produtor de conhecimento junto ao aluno.
Esta atividade não é fácil, porque torna o professor um mero “ser humano”, tira-o do limbo da sua formação acadêmica.
Fazendo com que o professor entre contato em com as experiências cotidianas dos alunos.
 Esta posição de mediação do conhecimento transpassará pela função docente que preparará os alunos para a utilização das “indumentárias” conceituais, para que estes se “apropriem” do saber. 
Segundo o filosofo Gilles Deleuze (1980): “mas por um lado os conceitos não são dados prontos, eles não preexistem: é preciso inventar, criar os conceitos”.
Tendo como base a afirmação que os conceitos são inventados, podemos concluir que sua construção ou invenção, como queiram, é datada e pragmática, ou seja, foi criado em determinado momento para atender uma demanda específica.  
Logo, o professor deve auxiliar o seu aluno, para que este realize a apropriação dos conceitos e, assim, os utilize para compreender as suas vivências no mundo.
Os desafios da construção e da apropriação do saber histórico entram em choque com as fragilidades das experiências dos alunos, para que ocorra a interação entre aluno-professor, sempre deve haver uma nítida compreensão da ligação, existente, entre o passado e o presente. 
Para Cardoso, a função da historia é organizar e analisar o passado a fim de atender as demandas do presente, “em função da vida ela interroga a morte” (LEFVRE, APUD - CARDOSO, 1991: p.26).
Claro que esta compreensão funcional da história, como matriz básica para entender os acontecimentos do presente, pode ser um desafio à compreensão dos alunos, mas, é um bom estímulo e um começo para que o professor possa iniciar seu trabalho.
                                   

As ligações entre o Passado-Presente.
À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele (DELORS, 1998: p.89).
O professor de história, como qualquer outro professor das múltiplas matérias, enfrenta o desafio do mundo globalizado ou da informação, onde os nossos alunos vivem. 

Segundo Dellors (1998: p.39):

As novas tecnologias fizeram à humanidade entrar na era da comunicação universal; abolindo as distâncias, concorrem muitíssimo para moldar a sociedade do futuro, que não corresponderá, por isso mesmo, a nenhum modelo do passado.

As fronteiras foram rompidas, a comunicação é contínua, todos sabem o que ocorre do outro lado do mundo.

Mas, será que os nossos alunos possuem a capacidade de utilizar estas informações em seu proveito ou para o melhor proveito de todos que o cercam, ou simplesmente, compreendem as conseqüências que fatos têm nas suas vidas.

Para Cruz (2008: p.1205):

 A avalanche informacional dificulta, por exemplo, a aprendizagem do aluno, pois o acesso a muitos conteúdos associado à falta de tempo para processá-los ou para digeri-los pode deixar o discente na superficialidade do saber.

Apesar dos alunos terem acesso à informação, isso não significa a compreensão, sabendo que inúmeras vezes estes não possuem o aparato conceitual para entender a fundo as informações com as quais eles estão em contato. 
Sabendo que os alunos estão em contato com estas múltiplas formas de saber, o professor deve utilizar estas para a sua prática docente.
Assim, a função do professor de história, como propõe Rüsen (2007: p.88): “trata-se de ensinar e de aprender a história, de saber como escrevê-la afim de que seus destinatários aprendessem alguma coisa para a vida”.
O docente vive o constante aprendizado tanto pelas suas experiências de sala de aula, como pela sua atividade na pesquisa.
A dificuldade do trabalho de docência, segundo Kaercher (2003: p.77), esta contido, nas contradições da própria formação docente que é livre de contradições e intempéries devido a sua busca pelo saber cientifico na educação, sem levar em consideração as múltiplas contradições e incertezas ou certezas da experiência docente.
Portanto, o professor tem que estar apto ao improviso e a estabelecer um contato com o mundo, a fim de utilizar as inumeráveis formas de interação existentes no mundo em prol da construção do saber escolar.
A história como ciência do passado-presente, ou seja, feita pela permanência, pela manutenção de dúvidas e perguntas, busca responder estas perguntas oriundas dos problemas contemporâneos e é a partir destas que volta seu olhar para o passado.
Para Cardoso (1997: p.30) é isso que: “permite ao historiador-homem de seu tempo-, bem como aos seus contemporâneos a que se dirige uma compreensão melhor das lutas de hoje”.
Na busca de levar aos alunos esta compreensão, o professor deve estar pronto para interagir com o incontável número de fontes, que se tornam disponíveis para a construção das aulas de história.
Dentre estas fontes podemos citar: os jornais, filmes, fotos e músicas.
Esta variada gama de fontes faz com que o professor consiga contemplar um grande número de formas de aprendizado.
A idéia de introduzir novas fontes busca romper com a postura “conteudista” que tem, como base, a utilização sistemática do livro didático, como única fonte nas aulas de história.
A pior ou a melhor compreensão dos conteúdos sempre estará condicionada ao interesse dos alunos.
Cabe assim, ao professor, fazer com que os alunos se interessem pelo que está ensinando.
Para isso, segundo Rüsen (1998: p.30), o professor deve romper com a “didática da cópia”, baseada na cópia textual sem a interpretação e apropriação.
Logo, não serve de nada, ao aluno, ter o contato com as fontes utilizadas no trabalho de produção científica (entenda-se como histórica) se ele não tiver a capacidade de compreender como ocorre a construção deste saber e os motivos da construção.
O que é necessário para que o aluno seja capaz de produzir a sua própria concepção histórica de mundo.
Na área da história ocorre uma prática comum que é negar, por parte do professor, a crítica ao livro didático, que muitas vezes, torna-se algo sagrado.
O livro didático deve ser usado, como fonte de debate a construção do saber, mesmo, que ele, tenha fraquezas quanto ao conteúdo, estas devem ser debatidas pelo professor junto com os alunos.
A história como disciplina é construída pelo debate, pela sua constante mudança.

Como afirma Morin (2001: p.83):

A história é um complexo de ordem, desordem e organização. Obedece ao mesmo tempo a determinismos e aos acasos em que surgem incessantemente o “barulho e o furor”.
Ela tem sempre duas faces opostas: civilização e barbárie, criação e destruição, gênese e morte.

O aluno deve, através da mediação realizada pelo professor, ser capaz de “ver” os fluxos e refluxos da história para, assim, construir o seu próprio saber. 
Este saber será construído por meio da leitura, da apropriação conceitual e da interação com as fontes.
Os debates que surgiram na sala de aula, durante este processo de construção do saber crítico, serviram para “tensionar” o saber que foi construído pela interação professor/aluno.
Como afirma Libanêo (2002: p.20), “a pratica educativa é, pois, ponto de partida para a construção da reflexão”.
A reflexão histórica ou compreensão deve ser o objetivo das práticas educativas nas aulas de história.

                                                                                                                               
Concluindo.
O grande desafio que está sendo posto a nós professores é o de estimular os alunos para a aprendizagem, tendo em vista que a escola há muito tempo perdeu sua “varinha mágica” e seu “pó-de-pirlimpimpim”, por fim, o encantamento se desfez. 
Os nossos alunos estão, cada vez mais, desmotivados pelo ensino.
A proposta deste artigo é estimular os professores para que desenvolvam as competências históricas interpretativas junto aos alunos.
Para propiciar que o aluno compreenda melhor o mundo em que vive. 
Esta compreensão estará ligada à interação desenvolvida pelo professor entre o saber científico e o saber escolar.
Neste processo o professor media e produz conhecimento junto com o aluno e para o aluno.

Para Bergmann (1990: p.36):

O ensino de história elabora e transmite conhecimentos e percepções, contribuindo, destarte, para a formação de convicções que permitem aos alunos na sua respectiva sociedade que é consistente e, ao mesmo tempo, resistente até certo grau às mudanças e aberta para novas experiências e perspectivas de futuro. 

 Outro aspecto aqui debatido foi o acesso à informação e a constituição do conhecimento.
A informação não é igual ao conhecimento, por que este ocorre pela reflexão e a interiorização do saber.
Portanto, o aluno tem, de fato, acesso a informação, mas, não tem a capacidade de transformá-la em conhecimento, cabe ao professor auxilia-lo.
A globalização e o imediatismo, existentes na sociedade em que vivemos, não pode atingir a função docente.
Porque um bom livro não se compreende lendo apenas a conclusão, porque cada capítulo deve ser lido para que a narrativa tenha sentido.
Assim também são os passos necessários para a compreensão histórica e seu aprendizado como processo.


Para saber mais sobre o assunto.
BERGMANN, K. “História e reflexão” In: Revista Brasileira de História, v.9, n°19. 1990, p.29-42.
CARDOSO, Ciro Flamarion. “História e paradigmas rivais” In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Uma introdução à história. São Paulo: Brasiliense, 1991.
CRUZ, José Marcos de Oliveira. “Processo de ensino-aprendizagem na sociedade da informação” In: Educ. Soc., vol. 29, nº. 105. Campinas: set./dez. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br Acesso em 15/06/2011.
DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 1998.
KAERCHER, N. A. “Hércules, Sísifo, Atlas eram professores? Garrafas e muitas dúvidas mais na formação de professores” In: REGO, Nelson et ali. (org.). Um pouco do mundo cabe nas mãos: geografizando em Educação o local e o global. Porto Alegre:  2003 p.75-104.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática: velhos e novos temas. Goiânia: Edição do Autor, 2002.
RÜSEN, Jorn. História Viva - Teoria III: formas de conhecimento histórico. Brasília: UNB, 2007.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001.
SCHIMIDT, Maria A. “A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula” In: BITTENCURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2005. p.54-66.
Trecho da entrevista de Gilles Deleuze ao Jornal a "Liberácion", em 23 de outubro de 1980: disponível em http://rizomas.net/filosofia/rizoma/107-rizoma-e-um-sistema-aberto-deleuze-e-guattari.html Acesso em 15/06/2011.


Texto:

Cássio Michel dos Santos Camargo.
Licenciado pelo Instituto Metodista IPA do Sul, Pós-graduando em História e Geografia pela UFRGS.
Professor de História do Pré-vestibular Esperança Popular/Restinga-RS.

Cristiano Anflôr.             
Graduado em História pala faculdade ULBRA/Canoas/RS, Pós-Graduando em Ensino de História e Geografia pela UFRGS.
Professor do I. E. Mathilde Zatar - Sapiranga/RS.

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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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