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sexta-feira, 15 de julho de 2016

A etiqueta no Antigo Regime.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume jul., Série 15/07, 2016.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.


Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.



O rei Luis XIV, mais conhecido como o rei Sol simboliza a personificação do monarca absolutista. Incorporou a ideia de soberano, iluminado, sagrado, divino entre outros adjetivos inerentes ao Antigo Regime.
Porém, não foi o único, seus antecessores e seus contemporâneos também compartilhavam ideias semelhantes como forma de se manterem distantes daqueles que os cercava e dos quais temiam se aproximar: as camadas populares.
É neste contexto que a etiquete emergiu como diferencial que os homens da nobreza, do século XVII, utilizavam simbolizando seu direito a pertencerem a uma categoria repleta de regalias, demonstrando sua superioridade frente ao povo.
A nobreza do Antigo Regime vivia em um mundo a parte, teoricamente mais civilizado, cheio de regras de etiqueta que se tornam fundamentais para distanciar os grupos sociais entre aqueles que nasceram para viver no luxo e cheio de pompa, e aqueles que nasceram para serem grosseiros, rudes e sem modos civilizados.
Os civilizados, portanto, eram aqueles que sabiam sentar à mesa, comer, andar, vestir, falar, gesticular e também se divertir.
Como ressalta Renato Janine Ribeiro, é interessante lembrar a origem de algumas palavras que simbolizam o peso da etiqueta e dos bons modos ou boas maneiras, tal como o rústico (a palavra vem do latim “rus”, campo), cortesia (a palavra vem de “corte”), urbanidade (vem de “urbs”, grande cidade) ou civilidade (vem de “cives”, cidadão ou morador da cidade).
A etiqueta teve, então, em sociedades altamente hierarquizadas, dois sentidos.
O primeiro era o do respeito ao outro. Mas este sentido indica uma certa igualdade entre aqueles pertencentes a uma mesma categoria social. E o segundo aponta para a desigualdade entre estamentos diferentes, conferindo status igualmente diferenciado. Por isso, a etiqueta não é uma coisa simples. Não é só igualdade, não é só desigualdade.
Portanto, a primeira ideia é de respeito ao outro enquanto igual ou igualmente civilizado. Os bons modos mostram respeito e estima pelo dito igual: meter a mão na travessa de comida é, por exemplo, um desrespeito por si mesmo e seus iguais. Então, a saída é tomar certos cuidados que provam consideração e respeito.
A segunda ideia é a da hierarquia entre as pessoas. Os bons modos podem ser também um meio de reforçar a desigualdade social. Tratar de maneira diferente o superior e o inferior.
Segundo consta, a rainha Maria Antonieta, da França, era excelente nisso, conseguia, encontrando um grupo de pessoas, saudar cada uma de um jeito diferente.
Tocava com o dedo o chapéu para cumprimentar a menos importante, virava-se para a segunda e retirava levemente o chapéu da cabeça, diante da terceira tirava-o um pouco mais e inclinava o corpo discretamente para frente para mostrar maior respeito pela quarta pessoa.
Assim, a etiqueta no Antigo Regime simbolizava as aparências, era proibido, por exemplo, o plebeu usar certas roupas, que fariam os outros pensarem que ele fosse nobre, porque havia a questão da demonstração do poder envolvida.
Trata-se de uma teatralização de comportamentos, demonstrando e justificando o poder.
É curioso notar que ainda hoje, nos preocupamos com a etiqueta quando estamos em determinados meios sociais, pois tememos "gafes" diante de amigos, conhecidos para não parecermos "mal-educados".
A má educação ainda é sinônimo de não comer direito com os talhares, sentar de pernas abertas para homens e mulheres, cuspir no chão entre outros tipos de comportamentos. Seriam reminiscências nas mentalidades?

Para saber mais sobre o assunto.
BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
RIBEIRO, Renato J. A Etiqueta no Antigo Regime. São Paulo: Brasiliense, 1983.



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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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