Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
Não possui fins lucrativos, seu objetivo é disseminar o conhecimento com qualidade acadêmica e rigor científico, mas linguagem acessível.


Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

sábado, 19 de março de 2011

Conceitos básicos em torno da Didática.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 19/03, 2011, p.01-06.


Contemporaneamente ouvimos constantemente educadores e leigos alardearem a falta de didática dos professores no ensino fundamental, médio e superior, a ausência do domínio de técnicas pertinentes a prática em sala de aula.
Muitos educandos chegam a afirmar que o professor “x” possui muito conhecimento, mas não consegue passar aos alunos, pois ninguém entende o que ele diz.

Entretanto, quando se trata de definir o que é didática, poucos conseguem fazê-lo de forma correta, existe uma grande confusão conceitual entre leigos e educadores.

Portanto, tentaremos aqui de alguns conceitos básicos em torno da didática, contribuindo, assim, para um maior entendimento de questões atreladas aos aspectos teóricos que, a reboque, estão ligadas a prática docente.



Distinções entre Educação, Pedagogia e Didática.
Antes de definir o que é didática, é necessário analisar o que é pedagogia, o que remete ao conceito de educação.
Em sentido amplo, a educação poderia ser definida como socialização do conhecimento acumulado pela humanidade, englobando, portanto, a produção, transmissão e assimilação de informações.
O que extrapola o âmbito escolar, sendo produzida a partir das necessidades imediatas da vida, sendo registrada também de maneira informal (sem forma ou norma), não possuindo critérios, horários, hierarquia ou sistema de avaliação.
Em contrapartida, temos a educação formal, institucionalizada pelo sistema escolar, onde o conhecimento é sistematizado, transmitido a partir de critérios e métodos, constituindo um saber cientifico.
No âmbito da escolarização da educação, a pedagogia surgiu como ciência teórica em época relativamente recente.
Percorreu antes um longo caminho que começou na antiguidade e foi acelerado durante a Revolução Francesa, com o iluminismo.
Por definição, a pedagogia seria um conjunto de doutrinas, princípios e métodos da educação; um ponto de encontro e de construção de metodologias visando possibilitar a transmissão e assimilação de conhecimentos.
A pedagogia, sendo método, é um sistema de orientação, indicando caminhos para compor teorias, propostas de explicação para os fenômenos observados, levantando hipóteses, problemáticas e soluções.
No entanto, para se efetivar como método, a pedagogia precisa da didática, portanto, técnicas, conjuntos de procedimentos.
A técnica seria, justamente, a prática necessária para efetivar o método, compondo o domínio de procedimentos e instrumentos.
Assim, a pedagogia diz aonde ir e por onde passar para tornar a educação efetiva, mas é a didática que permite transitar de um ponto ao outro para percorrer o caminho, constituindo puro conhecimento técnico em sentido estreito.


O conceito de didática.
A palavra didática deriva da expressão grega “techné didaktik”, o que pode ser traduzido por arte ou técnica de ensinar.
A didática é uma arte, uma vez que confere sentido ao caos, mas é também técnica, já que constitui um conjunto de procedimentos que busca atingir objetivos, alcançar resultados práticos.
Neste sentido, a didática é a arte e técnica de ensinar, de dirigir e orientar a aprendizagem, englobando também o estudo das técnicas de ensino.
Pensando assim, embora a didática seja um dos elementos da pedagogia, é, simultaneamente, uma ciência autônoma, pois tem o objetivo de se ocupar das estratégias de ensino.
Além disto, busca o entendimento de questões práticas relativas às metodologias, sintetizando e funcionando como ferramenta de transformação da teoria pedagógica em pratica aplicável no dia-a-dia.
No ensino, a didática tem sua atenção voltada para a execução de um programa, a transmissão de conteúdos fixados como mínimos, de modo que o educando consiga absorve-los.
Assim, tenta fazer a passagem da heteronomia para a autonomia, transformando o educando de ser que executa o que é ensinado em autodidata que pesquisa e questiona.
Porém, a didática considera, além do conteúdo, a relação professor/aluno, o contexto vivenciado, o material empregado, a necessidade do educando e sua capacidade momentânea e gradativa de cognição.
É sua função primordial instigar a curiosidade, onde se insere o processo de avaliação como mecanismo para medir o feedback, o retorno do trabalho do educador.


O desenvolvimento histórico.
Embora a prática didática possa ser recomposta desde a antiguidade, quando, por exemplo, entre os gregos foi criada a maiêutica, surgiu como área autônoma em época relativamente recente na história da humanidade.
Para os gregos antigos a maiêutica foi um dos principais recursos didáticos, a palavra significa parto, englobando o conceito socrático de transmissão do conhecimento que, tal como o parto, seria demorado, difícil e dolorido, carecendo da assistência externa de uma parteira, no caso o professor.
Até o século XVII, a didática, como outras áreas do conhecimento, fazia parte da filosofia, somente começou a se separar dela por esta altura.
O responsável foi Jan Amos Komesnský, conhecido como Comênio, um professor e cientista ligado a matemática e astronomia, considerado o pai da didática.
Nascido em 1592, na Moravia, atual República Checa, Comênio transpôs a ideologia protestante calvinista para a educação.
Defendia a idéia de que seria necessário criar um sistema articulado de ensino, acessível a todos, que buscasse unificar todas as ciências e artes, transmitindo teorias a partir de experiências cotidianas, estabelecendo uma ponte entre o conteúdo e a necessidade do aluno.
Pensando nestas questões, escreveu, em 1627, a obra “Didáctica Checa”, depois traduzida para o latim como “Didacta Magna” em 1631.
Na obra ele sintetizou a prática pedagógica que entendia como didática:

“Uma maneira de ensinar de forma direta e clara, mostrando a verdadeira natureza das coisas, partindo de suas causas para explicar os princípios gerais, tudo em seu devido tempo, aproximando o homem de Deus”.

Para a ética protestante era essencial popularizar o acesso a educação, promovendo o autodidatismo, permitindo a livre interpretação das sagradas escrituras e uma relação direta do homem com Deus.
No século XVIII, o filosofo francês Jean Jacques Rousseau promoveu o segundo grande avanço didático.
Ele escreveu “Emílio, ou da Educação”, uma obra onde expressou sua opinião em relação aos preceitos educacionais, mostrando como conservar a bondade natural humana através de um sistema educacional, sobretudo, voltado a formar o cidadão ideal.
Seria necessário centralizar a educação nos seus aspectos humanos, transformando o professor em um membro da família do educando, estimulando a igualdade de direitos e deveres, a vontade de apreender, o amor pela pátria e a austeridade moral.
Uma concepção que criou o paradigma didático tradicional, raiz de varias tendências que passaram a encarar a educação como uma função paternal.
Uma abordagem didática dominante até 1920, quando surgiu a tendência escolanovista, através da qual o professor deixou de ser o centro do processo didático para se tornar um facilitador, passando a se preocupar com a natureza psicológica do educando.
A partir de então, ao invés do estimulo a competição, a didática substituiu o sistema de prêmios pela solidariedade e a cooperação, minimizando a importância do conteúdo.
Na década de 1960, uma nova mudança de orientação fez surgir à abordagem didática tecnicista, a qual adotou o modelo empresarial do taylorismo e do fordismo, o qual enfatiza o behaviorismo.
Em outras palavras, o paradigma didático dominante no Brasil, a valorização da tecnologia como meio de transmissão do conhecimento em detrimento das pessoas.  


Concluindo.
Devido aos excessos do tecnicismo e da didática escolanovista, hoje, o grande desafio é romper com a especialização para tentar promover um trabalho interdisciplinar, contextualizando teoria e prática.
Ao mesmo tempo, é necessário transformar a didática em um processo que articule técnica, ideologia e política para buscar alcançar o educando.
Este último, cada vez mais, com um perfil inquieto, visual, voltado ao conteúdo rápido e condensado.
Para tal, várias metodologias didáticas foram desenvolvidas, sendo também um desafio escolher procedimentos adequados a cada contexto ou conseguir combiná-los.
O que implica em pensar em algumas questões voltadas a prática didática, como:

1 – Como prender a atenção do aluno?
2 – Como transmitir com eficiência conteúdos?
3 – Quais meios e recursos usar?
4 – Como manter o domínio sobre a turma?
5 – Como avaliar?
6 – As avaliações podem facilitar e ajudar a criar meios de estimular o educando?


Para saber mais sobre o assunto.
BUARQUE, C. A Aventura da Universidade. São Paulo/Rio de Janeiro: Unesp/Paz e Terra, 1994.
CHIRARLDELLI,JR, Paulo. História da educação. São Paulo: Cortez, 1999.
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. Campinas, São Paulo: Papirus, 1992.
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
GONZALEZ, J. A. T. Educação e Diversidade: Bases Didáticas e Organizativas.  Porto Alegre: Artmed, 2002.
PERROTA, M. Novos Fundamentos Para Uma Didática Critica. Rio de Janeiro: Sete Letras, 2000.
PILETTI, Nelson; PILLETI, Cláudio. História da educação no Brasil. São Paulo: Ática, 1990.
PIMENTA, Selma Garrido & ANASTASIO, Léa das Graças. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2005.
RAMOS, Fábio Pestana. “A constituição afetiva da infância e da família no período colonial? O nascimento da profissão docente no Brasil” In: ALMEIDA, Jane Soares de (org.). Profissão docente e cultura escolar. São Paulo: Intersubjetiva, 2004, p.13-40.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930/1973). 25. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
TURRA, Claudia Maria Godoy et alli. Planejamento de ensino e avaliação. Porto Alegre: DC Luzzato, 1996.
VALE, M. I. P. As Questões Fundamentais da Didática. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1995.


Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Um comentário:

  1. OI,SEMPRE DIGO PARA MEUS COLEGAS DE CLASSE QUE TEMOS PROFESSORES QUE ENTENDEM MUITO DO ASSUNTO DA DISCIPLINA A SER DADA,PRINCIPALMENTE POR SEREM PROFESSORES "ANTIGOS" MAS MESMO TANTA EXPERIÊNCIA NÃO PERMITE QUE ELES PASSEM O SEU CONHECIMENTO ADQUIRIDO AO LONGO DOS ANOS...SE BEM ENTENDI NÃO HÁ MUITO DE DIDÁTICO NISSO...ESPERO QUE ESTA NOVA GERAÇÃO DE PROFESSORES POSSAM PROPORCIONAR UM ENSINO DE QUALIDADE POSSAM SER PEDAGOGOS EDUCADORES E PRINCIPALMENTE DIDÁTICOS...MAS COMO DIZIA MEU EX PROFESSOR DE FILOSOFIA...ENFIM ABRAÇOS

    ResponderExcluir

Esteja a vontade para debater ideias e sugerir novos temas.
Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.