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Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A ascensão da monarquia absolutista na Inglaterra.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume out., Série 04/10, 2010, p.01-10.


Os primórdios.
Os historiadores ingleses gostam de pensar e defendem a ideia de que a Inglaterra é formada por um povo miscigenado.
É verdade que a Grã-Bretanha foi inicialmente povoada por celtas e iberos, sofrendo inúmeras invasões de povos do norte da Europa, mas nunca foi ponto de passagem como a Península Ibérica.
A base da organização social destes povos que ocuparam a Inglaterra era o clã, estruturado através de laços legais e sentimentais de consanguinidade, a base moral da sociedade.
Quando os romanos chegaram, os clãs estavam em permanente estado de guerra entre si, porém havia uma tentativa belga de estabelecimento de um reino com poder centralizado na figura de um rei.
No entanto, rapidamente as ricas jazidas de ouro e estanho das ilhas britânicas logo chamaram a atenção de Roma, a qual dominaria grande parte do território entre o século I e III d.C
Comandados por Júlio César, os romanos empreenderam uma rápida campanha contra os bretões, conquistando a Gália, futuro País de Gales.
Entretanto, enfrentaram problemas no resto do território, postergando a ampliação do domínio romano para o governo do Imperador Cláudio em 43 d.C.
Apesar da prosperidade da cidade de Londres, então fundada pelos invasores romanos, o domínio de Roma nunca foi totalmente aceito pelos bretões.
O exercito romano enfrentou forte oposição dos nativos, os quais dificultaram a ampliação da ocupação.
Para tentar manter a ordem sobre a Gália Peninsular, os romanos estabeleceram um enorme número de fortificações ligadas por várias estradas, com cidades prestando apoio logístico as tropas.
A resistência da população nativa, por fim, culminou com a construção da Muralha de Adriano em 123 d.C, em uma tentativa de isolar os belicosos escoceses do resto da Gália.

No século III, a crise do Império Romano, somada aos elevados custos com a ocupação da Gália, abriu caminho para a expulsão dos romanos a partir da invasão de alanos, jutus, dinamarqueses, noruegueses, anglos e normandos.

Os quais seriam expulsos pelos saxões, estabelecidos como senhores da Grã-Bretanha a partir de ondas de invasão que duraram entre 300 e 1010.
É interessante notar que, expulsos, diferente do que aconteceu na Península Ibérica, os romanos deixaram para trás somente o cristianismo, as estradas e algumas cidades importantes.
A vida urbana latina, a organização social e política, as artes, a língua e a cultura romana nunca foram aceitas pela população bretã.
Possuindo um caráter negativo entre os nativos, tudo desapareceu em poucos anos junto com a expulsão das tropas romanas.

A formação do componente anglo-saxão.
Embora um permanente estado de guerra entre normandos e saxões tenha sido estabelecido a partir do século IV, uma união entre os dois povos possibilitou a predominância dos saxões, depois de mais de 700 anos de batalhas sangrentas.
É interessante notar que alguns teóricos consideram os anglo-saxões como um povo só, enquanto outros dividem as etnias, afirmando que elas foram se unindo através de sucessivos casamentos entre as tribos.
Seja como for, os anglo-saxões eram nômades, migravam de terra em terra, possuindo uma monarquia apoiada por uma solida aristocracia.
O centro da autoridade era o chefe guerreiro, o qual conquistava a posição pela força e não pela descendência, apesar de manter seu governo coeso pelos laços de sangue.
Na antiguidade, os anglo-saxões tinham fama de terríveis piratas, com uma tradição naval fortemente estabelecida, sendo regidos por uma sólida disciplina militar, vivendo da pilhagem.
Uma das razões que facilitou a invasão da Grã-Bretanha a partir de suas terras de origem no continente europeu junto ao canal da Mancha, no que hoje é parte da França e Holanda.
Quando eles chegaram à costa britânica, a guerra pela posse das terras estava acirrada entre os mais diversos invasores, o que diante da belicosidade dos anglo-saxões só ampliou a migração.
Por sua vez, o clima de instabilidade fez levas de bretões fugirem para as regiões permanentemente isoladas das montanhas de Galés, Escócia e Irlanda.

No século VII e VIII, estes contingentes bretões iriam invadir a região da França que ficaria conhecida como Bretanha, a qual nunca mais se integraria totalmente a cultura francesa.
Tamanha a população bretã a se instalar no continente que a Bretanha, unida a Normandia, iriam depois acabar entrando em guerra com a França, arrastando para a guerra, obviamente, a Inglaterra.

As invasões vikings e o domínio normando.
No século IX, o estado medieval de caos sobre as ilhas britânicas se alastrou para a Irlanda, Escócia e Gália, foi quando sucessivas invasões vikings aconteceram.
Na realidade, foi inicio de um período de colonização nórdica que trouxe ainda mais desordem e guerras entre os reinos feudais.
Esta enorme gama de invasões tornou a mortandade, os assassinatos e saques lugar comum na Grã-Bretanha Anglo-Saxã.
Acuada a população vivia escondida pelos pântanos e montanhas, vivendo, sobretudo, da caça.
Historiadores estimam que, inclusive, por esta época seria impossível manter a população com a produção de trigo, sempre insuficiente e constantemente devastada pelas guerras e saques.
Justamente quando as invasões vikings acabaram, por volta do ano 1066, os normandos finalmente conseguiram se estabelecer na Grã-Bretanha.
Sob o comando de Guilherme, o Conquistador, utilizando a vantagem militar da cavalaria de lanceiros com espadas, os normandos fundaram uma aristocracia normanda unida através de casamentos com a nobreza nórdica, passando a governar a maior parte dos feudos.
Os normandos modificaram a estrutura social da Grã-Bretanha, separando a justiça secular da eclesiástica, um momento em que aparece a figura do xerife, representante do rei, em oposição ao bispo, representante do Papa católico.
Entre 1066 e 1087 foi consolidado o domínio normando, sob o governo primeiro do já mencionado Guilherme I e, depois, através de Guilherme II (1087-1100) e Henrique I (1100-1135).
No entanto, apesar do rei teoricamente centralizar o poder me torno de si, a Grã-Bretanha ainda era apenas um punhado de feudos lutando constantemente pelo poder e pela coroa.
Não havia ainda uma monarquia absolutista estabelecida na Inglaterra e muito menos na Grã-Bretanha.
Existia ainda um grande problema que conduziria a Guerra dos Cem Anos com a França, a Normandia era um reino vassalo do rei da França e, portanto, todos os normandos na Grã-Bretanha também eram seus vassalos, devendo obediência segundo o código dos cavaleiros medieval.

Avanços e retrocessos na centralização do poder.
Os historiadores ingleses distinguem a Idade das Trevas da Idade Média, cujo marco é justamente a consolidação do domínio normando.
Na verdade, o governo de Henrique II, entre o ano 1154 e 1189, marca o inicio da formação do Estado Nacional inglês, constituindo um longo processo que se estendeu até o século XVI, com avanços e recuos.
Henrique II estabeleceu a sucessão através do primogênito nos feudos da Inglaterra, ao mesmo tempo, esmagou uma revolta e iniciou a centralização do poder, mandando demolir todos os castelos não autorizados, além de organizar a profissionalização do exercito.
Entretanto, os avanços conseguidos no seu governo sofreram um retrocesso com o seu sucessor, Ricardo, Coração de Leão (1189-1199).
Ricardo deixou o governo entregue nas mãos de seu irmão João e do arcebispo de Cantuária, Huberto Walker, partindo para as cruzadas.
 João traiu o irmão quando este foi capturado na Áustria, recusando-se a levantar o valor do resgate.
No entanto, Huberto Walker expropriou a população, contornando a traição de João, pagando o resgate.
Quando Ricardo retornou a Inglaterra, agradeceu os esforços dos compatriotas esvaziando novamente os cofres, partindo para a França para lutar por seu direito de herança sobre Angelim.
Ele nunca retornaria, falecendo cinco anos mais tarde em uma disputa com um vassalo.
A negligência de Ricardo para com os assuntos internos representou um enorme retrocesso à centralização.
Empobrecida, a nascente burguesia inglesa deixou de apoiar o rei, os barões ganharam maior poder e passaram a contar com o apoio da população.
Quando João (1199-1216) assumiu a Coroa, sob a alcunha João Sem Terra, uma série de derrotas militares na França estimularam os barões a forçar o rei a assinar a Magna Carta em 1215.
Pela mesma o rei deixava de ter direito a aumentar impostos ou alterar Elis sem o consentimento de uma assembléia de nobres, o Grande Conselho, o qual se transformaria, posteriormente, no Parlamento inglês.

A coroa enfraquecida.
Quando Henrique II assumiu o trono, o poder o rei estava tão enfraquecido que ele foi obrigado a aceitar a formação de um parlamento, do qual passaram a participar dois burgueses e dois cavaleiros de cada burgo, município ou condado, então divididos na Câmara dos Comuns e dos Lords.
Seus sucessores, Eduardo I e II, tentaram reduzir o poder do parlamento, sem sucesso.
Eduardo II, inclusive, terminou deposto por sua esposa Isabella, em favor de seu filho Eduardo III.
Embora Eduardo I tenha conquistado o País de Gales e chagado quase a se tornar senhor absoluto da Grã-Bretanha, ocupando a Escócia e a Irlanda, enfrentou forte oposição da revolta liderada por Wallace e, depois, Robert de Bruce, um contexto retratado no filme Coração Valente.
Quando por ocasião da morte de Eduardo I, seu sucessor foi obrigado a se retirar da Irlanda e da Escócia em 1307.


Eduardo III, no entanto, sob pretexto de fazer valer seu direito sobre a Bretanha e Normandia, na França, iniciou a Guerra dos Cem Anos (1337-1453).

Foi um período em que o rei e a nobreza estiveram fora da Inglaterra, lutando em solo francês, deixando o governo entregue ao parlamento, principalmente a Câmara dos Comuns, formada basicamente por burgueses.
O poder estava centralizado, mas a Coroa era fraca, não constituía ainda propriamente uma monarquia absolutista.

A guerra das duas rosas e a formação do absolutismo.
Ao termino da Guerra dos Cem Anos, os ingleses viveram uma guerra civil, o que adiou a criação de um Estado Nacional absolutista.
A Guerra das Duas Rosas (1455-1485) representou a luta de duas casas da nobreza pelo trono da Inglaterra.
Os Lancaster, cujo símbolo era uma rosa vermelha, lutaram contra os York, representados na heráldica por uma rosa branca, daí o nome do conflito.
Depois de uma série de batalhas, os dois lados começaram a confiscar bens da nobreza para manter a guerra, empobrecendo o país.
As duas casas se alternaram no trono, até que, em 1471, Eduardo IV, da casa de York, assumiu o poder, derrotando Ricardo Neville de Lancaster, mandando assassinar seus filhos para evitar futuros aborrecimentos.
A guerra só foi retomada depois que, em 1483, Eduardo V e seu filho foram assassinados por Ricardo III, tio do rei.
Momento no qual a casa de Lancaster passou a apoiar as pretensões ao trono de Henrique Tudor, um adolescente criado na Bretanha, na costa francesa.
Henrique desembarcou na Inglaterra com cinco mil soldados, depôs e assassinou rei, casando-se com Isabel de York, unindo as duas casas em conflito e assumindo o trono como Henrique VII.
Foi justamente este adolescente, um conceito que na época nem existia, portanto, um jovem adulto, que acabou se tornando o primeiro monarca absolutista da Inglaterra.
Henrique VII aproveitou o enfraquecimento da nobreza, casada e prejudica pelas guerras, para eliminar os prováveis inimigos, obtendo o apoio da burguesia.
Henrique VIII, seu filho, realizou uma série de reformas, confiscando os bens da Igreja Católica e rompendo com Roma, criando a Igreja Anglicana, colocando-se como chefe supremo.
Sob o seu governo o parlamento passou a funcionar apenas esporadicamente, apenas para ratificar as decisões do rei, uma política continuada pela sua filha Elizabeth I (1558-1603), período de grande prosperidade econômica.
Estava formada e consolidada a monarquia absolutista inglesa, embora ainda não a Grã-Bretanha.

A formação da Grã-Bretanha.
A rigor, o governo da Grã-Bretanha se formou a partir da conquista do País de Geles em 1282, por Eduardo I, transformado em principado até 1536, quando foi totalmente integrado a Inglaterra por meio da unificação das leis e a imposição do inglês como língua oficial.
Além da conquista da Irlanda, iniciada em 1169 e somente consolidada em 1603, depois dividida em duas, por conta do antagonismo religioso entre católicos e anglicanos, em 1916.
Uma questão complexa que envolveu a guerra anglo-irlandesa, encerrada em 1919.
Alias, a Republica da Irlanda do Sul foi reconhecida pela Inglaterra somente em 1921, ao passo que os ingleses mantiveram o controle da Irlanda do Norte, onde até hoje enfrentam problemas com o IRA (Exercito Revolucionário Irlandês).
Quanto à Escócia, foi unida a Inglaterra por meio da junção das duas Coroas.
Mary Stuart, representando a Escócia, casou-se com o herdeiro do trono inglês, tornando-se regente em nome da filha, sendo depois deposta pela prima Elizabeth I, cujo filho Jaime I tornou-se rei da Inglaterra e Escócia e Príncipe de Gales.
Entretanto, até esta altura ainda não existia uma Grã-Bretanha propriamente.
Em 1649, durante a Revolução Gloriosa que depôs o rei, o Lord Protetor da Republica restringiu a autonomia da Irlanda e da Escócia, abrindo caminho para a unificação da Grã-Bretanha.
Posteriormente, porém, com a restauração da monarquia, a ampla autonomia irlandesa e escocesa foi devolvida.
De fato, surge o que poderíamos chamar de Grã-Bretanha somente em 1707, quando a rainha Ana unificou o parlamento inglês e escocês, cedendo quarenta e cinco cadeiras para deputados da Escócia.
Somente nesta data foi criado o Reino Unido da Grã-Bretanha, depois estendido a Irlanda pelo Ato de união de 1800, renomeando o novo Estado como Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda.
Não obstante, a verdade é que até hoje a Grã-Bretanha não é uma nação, apesar dos laços sociais, econômicos e culturais, entendendo este conceito, obviamente no seu sentido estreito de um mesmo povo ocupando um território.
 Estando sob a preponderância inglesa, os quais impõem um domínio sobre as ilhas britânicas, a Grã-Bretanha é formada por várias nações distintas.

Concluindo.
Enfrentando graves problemas internos, a instauração de uma monarquia absolutista na Inglaterra foi construída com muita dificuldade.
Diferente de parâmetros adotados no continente europeu, os ingleses conseguiram consolidar um regime absolutista forte, embora tardio, retardando a entrada do nascente Estado Nacional na corrida expansionista rumo ao oceano Atlântico.
Todavia, graças ao fortalecimento da burguesia, posteriormente, os ingleses iriam restringir sua monarquia aos interesses capitalistas, recuperando o tempo perdido, tornado a Inglaterra uma potencia hegemônica que reprimiria outros povos pelos quatro continentes como havia feito antes com o País de Gales, Irlanda e Escócia.

Para saber mais sobre o assunto.
ANDERSON, P. Linhagens do Estado Absolutista. São Paulo: Brasiliense, 2004.
TREVELYAN, G. M. História concisa de Inglaterra. Lisboa: Publicações Europa-América, 1990.

Texto:

Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.



2 comentários:

  1. Prof.Achei curiosa essa história da Inglaterra, Grã Bretanha e Reino Unido.Eu tinha certeza que eram três países totalmente distintos, acabei de crer que não sei nada...Gostaria de saber como funciona isso, quem é o país, a capital, quem manda, quando viajar para lá, estou indo pra onde verdadeiramente!?!É confuso mesmo ou eu é que sou "burra"? Grata

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  2. Olá, o Reino Unido da Grã-Bretanha é a junção de quatro nações independentes (Inglaterra,País de Galés, Escócia e Irlanda do Norte) que formam um único país, embora já tennham constituido países separados.
    Cada nação tem seus representantes do parlamento britânico, a capital é Londres e todas as nações possuem a mesma monarquia, hoje a rainha Elisabete.
    Embora exista um predominio da Inglaterra sobre as demais nações.
    O Reino Unido da Grã-Bretanha, também simplesmente chamado Reino Unido ou Grã-Bretanha, duas abreviações, possui uma moeda comum, a libra, um exercito unico e leis em comum, mas cada nação também tem suas próprias leis.
    Uma comparação: o Brasil tem muitos Estados, mas todos formam um único país, com leis e moeda em comum, apesar de cada Estado também ter suas leis, o seu governador, etc.
    Espero ter ajudado.
    Forte abraço.

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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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