Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume ago., Série 14/08, 2010.
Há alguns anos venho pesquisando o contexto da história das navegações portuguesas, na época que desenvolvi o doutorado em história social na USP, vasculhando os arquivos portugueses e brasileiros, encontrei fortes evidências de que o Brasil não foi descoberto por Pedro Álvares Cabral em 1500.
Timidamente tratei do assunto na tese de doutorado, em meio à hipótese central e outras secundárias, o objetivo era então demonstrar como o Brasil não tinha importância nenhuma para os portugueses quando comparado a Índia no século XVI.
Mais tarde, quando publiquei
No tempo das Especiarias (Editora Contexto: 2004), novamente toquei no tema, no entanto, abordei detalhadamente a questão no livro
Por Mares Nunca Dantes Navegados (Editora Contexto: 2008); duas obras que deixo aqui ao leitor como referência e Possibilidade de ampliação da compreensão da verdade sobre o pseudo descobrimento do Brasil.
Na realidade é falsa a informação amplamente divulgada em nossas escolas que afirma que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 1500, o próprio uso do termo descobrimento não é politicamente correto e constitui grave erro teórico.
Embora indícios arqueológicos, como moedas, encontradas em escavações, demonstrem a presença de povos da Antigüidade, como cartagineses e romanos, na América, boa parte das teorias que defendem datas anteriores a 1500 para viagens transatlânticas ao continente americano anteriores à realizada por Colombo, inclusive, não é mera especulação.
Participei de um documentário, em certa ocasião, defendendo esta posição, em oposição a outros acadêmicos mais tradicionais e, curiosamente, não especialistas na questão, tal como Ronaldo Vainfas. O vídeo pode ser assistido através do youtube, basta procurar usando como referência meu nome.
É certo que, desde a Antigüidade, desbravar os limites do mundo conhecido, então simbolizado pelo oceano Atlântico, sempre fascinou os aventureiros. Textos hebraicos, hoje incorporados ao Antigo Testamento da Bíblia, mencionam que o rei Salomão teria estabelecido uma aliança com o monarca Hiram, da cidade fenícia de Tiro, tencionando participar de expedições marítimas para além das Colunas de Heracles, nome pelo qual era conhecido o estreito de Gibraltar, onde haveria uma terra conhecida como Braazi.
Entre os gregos, nas obras Timeu e Crítias, Platão falou da existência de uma civilização altamente avançada, localizada para além dos limites do mundo conhecido, difundindo a lenda de Atlântida.
Tais indícios demonstram que os antigos possuíam a noção da existência de terras habitáveis no que, mais tarde, seria identificado como mar Tenebroso (o que hoje chamamos de oceano Atlântico). O mar Tenebroso apareceu em uma lenda árabe como um oceano desconhecido, desprovido de terras, habitado por seres estranhos, composto por água fervente e cercado por uma escuridão perpétua, acabando em um imenso abismo sem retorno.
Recentemente, uma importante descoberta cartográfica deu ainda mais apoio à hipótese de que a existência da América era conhecida, muito antes de Colombo ou Cabral.
Mapas chineses, cuja data de confecção comprovou-se estar em torno do ano de 1421, retratam com relativa precisão os contornos do continente americano. Naquele ano, quatro gigantescas frotas, totalizando 800 juncos, enormes navios, com até 150m de comprimento e 9 mastros, comandadas pelo almirante Zheng He, um eunuco da corte do imperador Zhu Di, foram encarregadas de desbravar os quatro cantos do mundo, em busca de povos a serem submetidos.
No entanto, partindo da premissa que o Brasil teria sido encontrado pelos navegadores portugueses ou a serviço do rei de Portugal, devemos ter em mente que, em 1488, o navegador Bartolomeu Dias dobrou o cabo das Tormentas, mais tarde rebatizado, pelo rei de Portugal, como cabo da Boa Esperança.
Um feito, devido ao regime de ventos e correntes marítimas, impossível de ser realizado sem encontrar o Brasil pelo caminho.
Igualmente, em 1497, Vasco da Gama iniciou sua viagem rumo à Índia. Outro provável navegador que poderia ter encontrado o Brasil antes de Pedro Álvares Cabral.
Como se não bastasse, entre essas duas datas (1488 e 1497), abre-se um leque de possibilidades para o ano e o nome do verdadeiro autor da descoberta lusitana do Brasil.
Não podemos esquecer que a expedição de Cabral que rumava para a Índia e teria descoberto o Brasil no percurso, ao contrário destas outras viagens, foi relativamente um fracasso. Navios foram afundados, a feitoria fundada na Índia destruída pelos nativos em menos de um ano e Cabral entregue ao ostracismo pelo resto de sua vida, tanto que nunca mais recebeu nenhum outro comando, ao contrário de outros capitães bem sucedidos, tal como o mencionado Vasco da Gama.
Para saber mais sobre o assunto:
RAMOS, Fábio Pestana.
No tempo das especiarias. São Paulo: Contexto, 2004.
RAMOS, Fábio Pestana.
Por mares nunca dantes navegados. São Paulo: Contexto, 2008.
Texto:
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor
em Ciências Humanas - USP.
MBA
em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado
em Filosofia - FE/USP.
Bacharel
em Filosofia - FFLCH/USP.
nada aver Pedro Alvares Cabral nao descobriu o Brasil, no Brasil ja tinham os Indios pataxós...
ResponderExcluirPois, vejamos assim: Foi o meu ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-taravô que descobriu esta vasta Terra. Quanto aos Pataxós, estes foram os anfitriões ou nativos, se preferirem. Isto sim, tem tudo 'HAVER'. Deu pra entender Luan?!
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