Para
entender a história... ISSN
2179-4111. Ano 4, Volume jul., Série 08/07, 2013, p.01-28.
Este
artigo representa a monografia de Natanael Vieira de Souza apresentada como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de graduado em Licenciatura Plena
em História, ao Departamento de História do Instituto de Ciências Sociais e
Aplicadas da Universidade do Estado de Mato Grosso. Área de Ciências Humanas, orientada
pelo Prof. Ms. Rubens Gomes Lacerda.
Prof. Natanael Vieira de Souza.
Licenciado em História pela
Universidade do Estado de Mato Grosso.
O objetivo deste trabalho é mapear, analisar, problematizar
e dessacralizar alguns discursos que envolvem a “moda de viola” enquanto
expressão cultural “pura e inocente”, discursos estes advindos, principalmente
de agentes culturais, propagados pelos canais midiáticos e reiterados por
muitos intelectuais de diversas áreas do conhecimento.
Procuramos analisar determinados elementos da
prática discursiva – e, em alguns momentos, também de algumas práticas sociais
– presentes nas modas de viola: “Boiadeiro
de palavra, Preto de alma branca, Preto inocente e Caboclo na cidade”.
Para tanto, elegemos o método
arqueológico/genealógico de Foucault, que visa fazer uma arqueologia dos
saberes que impregnam os compositores das modas de viola, que dão vida a
discursos que reverberam até os dias de hoje, bem como perscrutar como esses
saberes agiam/agem no tecido social.
Em alguns momentos, também utilizamos a metodologia
da história do cotidiano, no intuito de melhor observar as ressonâncias deste
discurso sobre determinadas praticas sociais contemporâneas a sua elaboração,
como também, nos dias atuais.
Toda esta pesquisa nos possibilitou perceber que a
própria imagem do caipira, deve ser problematizada, historicizada e percebida
como uma construção discursiva atualizada e reatualizada por algumas práticas
sociais, ou seja, não devermos perceber esta identidade como óbvia e natural,
ou natural porque óbvia.
Introdução: o show.
Um
dia alguém teve a idéia bastante curiosa de utilizar um certo número de propriedades
rítmicas ou musicais da linguagem para falar, para impor suas palavras, para
estabelecer através de suas palavras uma certa relação de poder sobre os
outros. Também a poesia foi inventada ou fabricada.
Logo
na entrada do conceituado clube de campo, um grande outdoor anuncia em letras
garrafais o espetacular evento que será realizado neste espaço, nesta noite, a
partir das 00hs e 30min.
Na
verdade este é apenas um dos muitos anúncios que os canais/espaços midiáticos
(mass media) massificaram nos últimos vinte dias passados.
Na
verdade um acirrado bombardeio, em forma de convite, ao show tão
esperado/desejado por muitos fãs que a dupla sertaneja “Rick e Renner” fizeram
durante a sua carreira e que se encontram espalhados por vários lugares.
Desde
as primeiras horas do dia há grande movimentação de trabalhadores
operacionalizando a montagem de palco, luzes e som, enfim, todo o aparato
necessário para a realização de um evento com tamanha envergadura, “Show
nacional”.
Muitos
curiosos se acercam da equipe de trabalhadores, alguns são proprietários de
palco, outros de som e iluminação, há aqueles que são técnicos e/ou engenheiros
de som ou, ainda, simplesmente curiosos que estão ali para ver o que há de novo
– última palavra em tecnologia – que esperam descobrir como se opera, para que
serve; quais os novos modelos de amplificadores, crossover’s, compressores,
equalizadores, processadores de efeitos, direct in Box, phanton power’s,
consoles digitais, microfones, cabeamentos, plugs, instrumentos; quais os novos
modelos de caixas de som que compõem o P.A.[ii],
se a resposta de som é satisfatória; quais alto-falantes são melhores na
atualidade, enfim vários sujeitos que se deixam capturar pelos ritornelos[iii]
da tecnologia que constroem suas linhas em forma de um imenso emaranhado de
teias.
Nesta
data a cidade está em polvorosa, salões de beleza lotados, as comunidades
virtuais estão “bombando” (twiter, facebook, Messenger e até o “démodé”,
Orkut), torpedos cruzam as linhas virtuais/celulares que se emaranham num misto
de convites e esperas.
Já
é noite, uma parada à praça central da cidade se faz obrigatória, pois este
espaço de sociabilidades e subjetividades é que torna evidente a dimensão dos
acontecimentos citadinos. É aqui, neste imenso “zoológico” que “os gatos
multicolores” querem se diferenciar dos “gatos pardos”.
É
neste espaço que, dado o acontecimento, há que se desfilar carros, perfumes,
roupas, calçados, cabelos, unhas, equipamentos (celulares, iPods, iPads,
tablets...), consumo em geral, que diferenciem-se dos demais “desfilantes” que
por aqui trafegam num ir e vir circular muito familiar, ao que em décadas
anteriores fora chamado de footing[iv].
Ao
cruzar os portões do Clube de Campo, qualquer observador pode notar que tudo
esta pronto; no fundo do palco, um grande banner com fotos dos referidos
artistas; de ambos os lados do palco, telões de vídeos posicionados
estrategicamente; o palco se encontra esquadrinhado, revelando o lugar de cada
músico e, próximo a cada um deles, uma lista do repertório que será executado
nesta noite; os holdings, já fizeram a passagem do som; os iluminadores
marcaram a luz, posicionaram os moving’s e
os lasers; o engenheiro de som faz os últimos acertos nos cortes de frequência;
o locutor oficial sobe ao palco e observa a plateia eufórica e vislumbra este
imenso “jardim/cenário”, repleto de pessoas ávidas pelo início do show que se
aproxima.
O
clube de campo agora se torna um não lugar, lugar de breve passagem[v],
onde cada um, numa constante emissão de signos, cartografam cada polegada deste
espaço desejante, a espera, enfim, o locutor anuncia os nomes dos artistas –,
e: o show começa!
A
intensidade do som aumenta; a luz e a fumaça tomam conta, desenham e redesenham
formas; os lasers cortam a escuridão, os acordes e as síncopes rítmicas enchem
o ar e invadem os corpos em êxtase.
A
cena vislumbrada pela dupla de cantores (Rick e Renner) se revela a sua frente
como uma imensa torre de babel, onde as “linguagens” são as mais diversas;
corpos que falam; outros corpos que gritam, porém quase nenhum corpo fica imune
ao espetáculo que se desenha/re-desenha e reconfigura a cada momento num
frenesi incontrolável.
São
corpos multiformes, multicolores, corpos vibrantes, ultrapassados por múltiplas
sensibilidades, vibrações, fumaça, intensidades, profundidades, frequências,
reverberações sonoras, odores, nuances, luzes, cores e timbres; corpos que se
enroscam, se tocam, se beijam, se seduzem; corpos que expressam ansiedade,
volúpia… desejo.
A
plateia grita enlouquecida ao ouvir vibrar os acordes, pulsações sonoras e
rítmicas iniciais que anunciam a primeira canção e, extasiada, canta junto com
os artistas como se fora um imenso coral a-tonal/a-rítmico, sem dar importância
à métrica silábica/escansão ou a qualquer coisa que valha.
Neste
instante estes corpos estão numa outra “dimensão imaginária”, talvez vivendo um
momento “transcendental”, suscetíveis, alcançáveis pelos discursos; corpos que
se “deixam” moldar, corpos de uma “rostidade multi-máscaras[vi]”;
corpos que podem ser objetivados a práticas, passíveis às novas e outras
sensibilidades; momento este, onde se tornam “presas” diante de todo este
dispositivo de captura; momento significante onde a música, o discurso e os
seus ritornelos se encontram à caça.
As
palavras cantadas pelos artistas, com efusão, pouco altera o humor do grande
público que o aplaude com entusiasmo, público este formado predominantemente
por pessoas do sexo feminino, ávidas por ouvi-los, tocá-los, senti-los, mesmo
que fosse a distancia. Rick e Renner brindam o público presente com as músicas
que mais fizeram sucesso durante a sua carreira.
É
claro que este repertório é o mesmo apresentado do Monte Caburaí ao Chuí, é o
que os artistas e produtores culturais chamam de “montar um show para uma turnê”, como se de um extremo a outro do
país, as vontades, preferências e desejos fossem o mesmo, como se vivêssemos
num país de comportamentos homogêneos; sem levar em conta a diversidade rítmica
e variedade de estilos musicais, que, se observados, teremos aí uma multiplicidade
cultural pululando aos nossos olhos.
Dentre
tantas músicas que tiveram grande repercussão, uma em especial chama atenção,
trata-se da música “Paixão de Peão[vii]”,
que com euforia e animação, parte do público canta e dança junto com os
artistas, sem questionar o discurso presente nestes maravilhosos versos: “Meu
amor fugiu de mim, meu cavalo se mandou, chorei pelo meu cavalo, sorri pelo meu
amor, cavalo bom é difícil, difícil de se achar, mulher bonita é mais fácil, se
encontra em qualquer lugar”, sem titubear parte da plateia repetia em coro
com grande entusiasmo.
A problemática.
Diante
desta “quietude”, aparente falta de reação a estes discursos presentes nas
músicas que ouvimos no dia a dia – fiquei a pensar – sobre qual estilo ou
modalidade de música estaria isenta desta lógica discursiva em que, uma mulher,
tem menor valor que um cavalo ou, discursos similares, carregados de signos
outros.
Afinal
nenhuma música está totalmente livre de alguma lógica discursiva, porém é
importante lembrar que nem todas as músicas estão dentro desta lógica
discursiva de desvalorização da mulher.
Lembrei-me
de uma das frases do locutor ao apresentar os artistas que dizia: “venham valorizar a nossa verdadeira música,
a música sertaneja com as lindas vozes em dueto e a viola chorando”, é
notório que esta frase não é de autoria do locutor, esta é uma construção
discursiva que vem de muitos anos, hoje é sempre referida quando se trata de
músicas chamadas de “raiz”, este estilo de música com o passar dos anos
“ganhou” o status de: a verdadeira música
brasileira e/ou a mais pura, a nossa cultura, a nossa música raiz.
Estes
enunciados vêm se impondo como mais um discurso muito usado para, classificar,
rotular, hierarquizar e/ou para refutar – estrategicamente –, outras formas e
estilos de canto/arte enquanto expressão do desejo.
Cabe
a nós questionarmos, afinal, o que há de puro nas “modas de viola”?
Os
discursos nela veiculados estão isentos de questionamentos? São por acaso
discursos neutros?
A
moda de viola em sua “origem” (Ursprung)[viii] ou
essência
absoluta, nada tem de segredo a ser velado ou desvelado?
É
exatamente disso que trata esta pesquisa, é este o problema eleito neste texto
que visa desnaturalizar/dessacralizar os discursos que constroem este
documento, aqui denominado música ou mais especificamente moda de viola e os enunciados que o cercam e o mumificam como um
monumento a ser divinizado, cultuado, sacralizado pelo discurso dominante.
Creio
serem válidos todos estes questionamentos e outros que porventura vierem povoar
este texto, mais ainda, creio ser justificado um esforço
arqueológico-genealógico, para, nos sedimentos discursivos, abaixo da crosta da
verdade cristalizada, escavarmos e darmos visibilidade ao que o tempo e as
intencionalidades se encarregaram de envolver/inventar.
Neste
trabalho, já em seu primeiro capítulo, estaremos indicando quais ferramentas
teóricas e metodológicas vamos usar, ou seja, a ferramenta mais apropriada para
problematizar as “verdades” discursivas das modas de viola aqui trabalhadas,
bem como, qual vertente historiográfica permite-nos a usar discursos musicados
como fonte documental; no segundo capítulo, já analisando as nossas fontes
documentais, trabalharemos as possibilidades de se fazer uma
arqueologia/genealogia dos conhecimentos que talvez impregnem a escrita dos
compositores da década de 1950, e que irão reverberar em suas composições
poético/musicais, ao mesmo tempo em que pensamos esta escrita com o olhar
voltado para uma história de gênero, identidade e outras possibilidades, de forma
que este texto, tal qual uma medusa, acaba sendo um apontamento das várias e
múltiplas possibilidades de se trabalhar com o objeto música na perspectiva histórica; no terceiro capítulo estaremos
analisando/problematizando músicas que deixam escapar ressonâncias racistas e
patriarcais, na parte final deste capítulo usaremos uma abordagem mais próxima
da história do cotidiano que nos permite um olhar mais amiúde, tal qual uma
história de “pequenos detalhes”, um “cluster” não formatado ou um “pixel” de
uma grande imagem que sutilmente se sobressai.
Nesta
empreitada não se pretende esgotar todas as possibilidades de análise dos
documentos nele mencionados.
Como
pudemos notar no próprio período de pesquisa, o objeto música é extremamente
rico, instigante e profícuo enquanto objeto analisado.
Portanto
ao analisarmos apenas uma música já teríamos subsídio para escrevermos uma
tese, ao escrevermos sobre quatro músicas, como é o caso deste texto, sobrarão
muitas outras possibilidades que no futuro, por mim ou por outros
historiadores, ou mesmo a partir de outras vertentes historiográficas, poderão
ser exploradas de outras maneiras.
Breve balanço historiográfico.
De antemão vale
destacar o percurso desenvolvido por um significativo número de historiadores,
principalmente a partir do início do século XX, na busca por uma disciplina de
história que privilegiassem novos sujeitos, documentos, fontes e etc.
A construção de
novas perspectivas com a contribuição de intelectuais, quanto a dimensão do
entendimento e amplitude que se deveria dar ao campo da história se fazia
necessária, pois a mesma se encontrava presa em seus próprios paradigmas,
fechada em seus próprios claustros, daí a necessidade de um rompimento com os
ideais positivistas e historicistas predominantes à época, o que significou um
salto quantitativo e quiçá, qualitativo de novas possibilidades para as
pesquisas posteriores.
Até então grande
parte dos historiadores utilizavam conceitos da ciência para produzir e provar
resultados de suas pesquisas, a eles se viam presos e limitados, só podendo
afirmar como verdade, aqueles resultados que pudessem ser provados através dos
métodos científicos da época ou então documentos oficiais, enfim, somente através
da ciência haveria credibilidade às afirmações tidas como “verdadeiras”.
Neste caso o
autor se pretendia neutro, objetivo, sem qualquer subjetividade, e, ainda, não
interferia no resultado da pesquisa, pois o documento bastaria por si mesmo à
confirmação necessária.
Caberia ao
historiador, tão somente, recuperar a verdade sobre as coisas e deixá-la à
mostra.
A primeira
geração da escola dos annales,
nascida do encontro de Marc Bloch e Lucien Febvre, traz importantes inovações
ao campo historiográfico promovendo aproximações e possíveis diálogos entre a
história e as ciências sociais, novos olhares que contrapõe a história
tradicional enraizada nos discursos grandiloquentes, que marginalizava muitos
aspectos das experiências humanas.
Para a os
autores, acima referidos, toda vivência humana é portadora de uma história e,
neste caso, a primeira geração dos Annales contribui para novas e
possíveis abordagens da história.
Segundo Peter
Burke[ix],
a escola dos Annales, foi um movimento dividido em três fases: a primeira
(1929-1946), como já dissemos anteriormente, com Marc Bloch e Lucien Febvre,
apresenta a guerra radical contra a história tradicional, a história
política...; na segunda fase, o movimento inova com novos conceitos (estrutura
e conjuntura) e novos métodos (história serial das mudanças na longa duração)
marcada, pela presença de Fernand Braudel (1946-1969); a terceira fase, com
Jacques Le Goff entre outros, traz um período marcada pela fragmentação e por
exercer grande influência sobre a historiografia e sobre o público leitor, uma
nova perspectiva com novas abordagens que virá a ser chamada de Nova História ou História
Cultural. Le Goff, inclusive tecerá fortes e importantes críticas às fases
anteriores:
Existe um renascer do interesse pelo
evento, embora seduza mais a perspectiva da longa duração. Esta conduziu alguns
historiadores, tanto através do uso da noção de estrutura quanto mediante o
diálogo com a antropologia, a elaborar a hipótese da existência de uma história
"quase imóvel". Mas pode existir uma história imóvel? E que relações
tem a história com o estruturalismo (ou os estruturalismos)? E não existirá
também um movimento mais amplo de "recusa da história"?[x]
Este embate
sobre como e o que deveria ser a história não é dado, senão com muita persistência
e resistência de ambos os lados, ainda no século XIX já havia vozes dissonante
do modelo de história ciência capitaneada por, Leopold Von Ranke
(historicismo), historiadores como Michelet ou Burckhardt[xi]
já ofereciam uma nova perspectiva diferente de Ranke. Logo
após a segunda metade do século XX a historiografia brasileira se espanta ao
deparar-se com alguns escritos de Paul Veyne[xii]
chamando a atenção dos historiadores para as considerações de um filósofo que
escreve sobre história, com um “novo e rico” arsenal de conceitos, chamado
Michel Foucault que imediatamente desconcerta todos os seguidores dos antigos
cânones científicos, estruturantes e grandiloquentes, segundo Margareth Rago:
Ademais, este
filósofo irreverente que, aliás, nem era historiador, cometera outro
sacrilégio, outra irreverência, ao ir buscar no final do século 18, onde todos
celebravam a conquista da liberdade e dos ideais democráticos durante a
Revolução Francesa, nada menos do que a invenção da prisão e das
modernas tecnologias da dominação. Enquanto todos os olhares convergiam para a
centralidade da temática da Revolução, Foucault deslocava o foco para as
margens e detonava com a exposição dos avessos.[xiii]
E mais, um filósofo que diz que a
“história dos historiadores” havia erroneamente se preocupado com a compreensão
do passado, quando na verdade deveríamos “cortar”, despedaçar, esmiuçar,
desconstruir e não compreender, e continua:
A história será ‘efetiva’ na medida em que ela reintroduzir
o descontínuo em nosso próprio ser. Ela dividirá nossos sentimentos;
dramatizará nossos instintos; multiplicará nosso corpo e o oporá a si mesmo.
(...) É que o saber não é feito para compreender, ele é feito para cortar.[xiv]
Segundo Rago, o passado, após Foucault,
se reduz a discursos, os documentos a monumentos e a história agora, não
prometia um reino de paz e liberdade, não mais as utopias, não mais um lugar
inexistente como expressão de um futuro que se recusa a chegar, mas sim o
sujeito em relação ao agora, suas relações, suas vontades, o lugar que este
sujeito ocupa nesta imensa teia de dispositivos que visam normatizá-lo, dentro
desta emaranhada rede de saberes e poderes.
A partir de então, a história vista como
interpretações/reinterpretações constante de signos passa a ocupar espaço
privilegiado entre alguns historiadores, que proporcionarão visibilidade a
novos sujeitos, que serão vistos por múltiplos olhares, por múltiplas lentes,
sob várias perspectivas deslocadas de seu olhar comum. Michel Foucault, não
apenas inaugura uma nova perspectiva revolucionária, mas a partir de suas
reflexões, contribui para a revitalização de outras perspectivas, como para o
próprio marxismo, segundo Margareth “[…] os historiadores anti-foucaultianos não puderam prescindir das noções
de discurso, poder disciplinar, genealogia e, sobretudo da contundente crítica
à ideia da transparência da linguagem.” E ainda, “[…] a redescoberta do simbólico, do subjetivo, do
cultural, nas análises históricas, cada vez mais próximas da Antropologia
Histórica”. (Rago,
1995, p. 70).
A
Nova História é realmente nova?
Desde o início do século XX, “um
movimento lançado por James Harvey Robinson sob a bandeira da ‘Nova História’
defende que a história inclui qualquer traço ou vestígio das coisas que o homem
fez ou pensou, desde o seu surgimento sobre a terra.”[xv]
Jaques Le
Goff dirá que:
Ao mesmo tempo ampliou-se a área dos
documentos, que a história tradicional reduzia aos textos e aos produtos da
arqueologia, de uma arqueologia muitas vezes separada da história. Hoje os
documentos chegam a abranger a palavra, o gesto.[xvi]
O que me permite pensar que: se o
passado se reduz a palavra e/ou discurso, como quer Michel Foucault e Jaques Le
Goff e se a história inclui qualquer traço ou vestígio do homem sobre a terra,
como no caso da “Nova História”, penso que os discursos musicais podem e devem
ser objetos de pesquisa do historiador, pois a música se constitui como
discurso em vários aspectos, a saber, discurso oral/alfabético (letras de
músicas cantadas), discurso oral/sonoridade (melodia de música vocalizada),
ritmos, estilos musicais, sequência de notas e acordes, síncopes rítmicas,
portanto, passíveis de serem problematizados e historicizados.
No caso deste texto escolhi trabalhar,
principalmente, com os discursos orais/alfabéticos das “modas de viola”,
sobretudo as que tiveram grande repercussão em sua época (décadas de 1950,
1960, 1980), ultrapassando décadas até este início do século XXI, sendo
regravadas e seus discursos sendo difundidos e reiterados por diversos setores
midiáticos e alguns intelectuais, mantendo vivo e atualizado o enunciado “A nossa cultura, nossa verdadeira música
raiz”[xvii].
Em recente entrevista[xviii],
Álvaro Castelan[xix]
disse o seguinte sobre a moda caipira na contemporaneidade: “[…] no entanto, o homem brasileiro, que tem
consciência da importância de sua identidade cultural, jamais vai abandonar
suas raízes, as raízes culturais de seu povo”.
Como se não bastassem o discurso
midiático, temos aí o discurso intelectual o reiterando.
Bem, se Foucault revoluciona a história,
podemos também buscar pensar esta pesquisa a partir desta perspectiva, passando
pela leitura de vários historiadores e historiadoras e/ou outros intelectuais
de outras áreas do conhecimento que inspirados (as) e/ou afetados (as) por tais
reflexões possam vir a contribuir na problematização proposta.
Esta análise, de alguma forma há de
cortar em minha própria carne, pois parte da minha infância foi embalada ao som
de viola e vozes duetadas em terça[xx],
as quais serviam de trilha sonora para as noites enluaradas nas rodas de
“causos” e poesias, pão caseiro, chá de cravo e café quente.
De forma que durante muito tempo
deixei-me embalar por esta música tradicional
que me permitia a percepção de um pertencimento identitário, tornado-me
assim, partícipe de uma mesma cultura do meio tradicionalista no qual eu estava
circunscrito.
Parafraseando/parodiando Rubens Gomes
Lacerda, declaradamente com inspiração nietzschiana/foucaultinana, “A
desvantagem desta música tradicional
está no fato de começarmos a respeitar demasiadamente o passado e perdermos a
oportunidade de construir algo de novo no presente.”[xxi]
Ou ainda corremos o risco de transformar
certas músicas ou determinados estilos musicais em monumentos, desumanizá-los,
torná-los digno de adoração, sacralizá-los, porém como historiadores, acabamos
descobrindo que, no final, são discursos e como todos eles, devem ser
problematizados, pois são vulneráveis e passíveis de incorrerem ao erro.
Entretanto, ao fazer do criticismo uma
bandeira, também, temos que nos preocupar em não correr o perigo “[…] de se
cair em um excesso desconstrutivista, ou seja, na neura de tudo questionar e
nada construir ou propor.” (LACERDA, 2010, p. 42).
Portanto, não se pretende neste texto
fazer uma reflexão tradicional, monumental e nem mesmo uma história crítica,
nos moldes do criticismo exacerbado. Menos ainda reiterar o discurso do
respeito demasiado às músicas tradicionais ou fazer delas monumentos
sacralizados, tampouco nos colocar na posição de supremos inquisidores e
acendermos a fogueira da “verdade” que a tudo consome incorrendo, ao final de
tudo, de nada propor.
Decerto que os discursos sobre as
chamadas modas de viola,
sacralizam-na, alguns destes discursos remetem-nos a sua origem, quando tudo
era perfeito, porém ao escavarmos e remexermos os discursos, em meio aos
sedimentos e extratos que os compõem, vê-se que em sua essência não há toda
esta pureza tão apregoada e
evidenciada por tantos, vê-se, inclusive, que eles próprios não têm essa
suposta essência.
Diante destes discursos, vemos a
possibilidade de munidos de uma desafiadora epistemologia da sensibilidade,
evidenciar e discutir/problematizar alguns enunciados presente nas modas de viola e nos discursos que a
construíram/inventaram.
A “origem”.
Segundo o professor Arnaldo Daraya
Contier, a revolução[xxii]
de 1930 passou a demarcar não somente o momento da ruptura política, mas também
a ruptura do passado musical e cultural, pois este, na visão de alguns
intelectuais dentre os quais figura o músico e compositor Heitor Villas-Lobos, era atrasado ou sem nenhuma importância
social.
“A revolução despertou no intelectual
(compositor) o desejo de acercar-se do povo, das massas…, o ano de 1930 passou
a datar o nascimento de um país novo, onde o folclore deveria desempenhar um
papel preponderante.[xxiii]”.
Fato este que objetivara músicos e
folcloristas ao interior do Brasil em busca das raízes da nossa cultura, da pureza do nosso folclore.
Sob este ponto de vista Flaustino
Rodrigues Valle dirá que “A música
brasileira tem que vir do sertão no bojo da viola”[xxiv].
E ainda, “a melodia que escapa da garganta rústica de um sertanejo inculto, é
como se fora a própria natureza cantando pela boca”.[xxv]
Vive-se
então, desde 1922 – sobretudo, em função do evento da semana de arte moderna –,
a euforia e o desejo de modernização da arte, da cultura, da estética, da
arquitetura, enfim, de estabelecer novos parâmetros nacionalistas de comportamento em uma sociedade marcadamente
patriarcal que, estarrecida com os novos tempos, começam a ver transformações
cada vez mais díspares das convenções vigentes, tais como observadas por Durval
Muniz de Albuquerque Junior, ao buscar cartografar as principais práticas
discursivas desta sociedade patriarcal, a partir da emergência de enunciados
como: desvirilização da sociedade; horizontalização das relações de gênero.
Ou
seja, lembrando Fernando Vojniak, resenhando Durval[xxvi]:
[…]
a modernidade trouxera o crescimento da prostituição em função do fim da
proteção que, na sociedade patriarcal, era dada, pelos homens poderosos, às
meninas pobres que defloravam; a velocidade do automóvel em detrimento do
cavalo de sela, símbolo de distinção e de masculinidade; o aumento do número de
suicídios entre os homens, o que parecia demonstrar o enfraquecimento do sexo
masculino, […] que vinha se deixando levar, cada vez mais, pelos desatinos do
coração, como faziam as mulheres[xxvii]
(p. 115).
A
partir da década de 1930, uma série de manifestações culturais emerge
poderosamente, atingindo todos os segmentos sociais do mundo urbanizado.
O
rádio, o cinema e a música popular[xxviii]
avançavam a grandes saltos influenciando e sendo influenciado pelas práticas,
anseios e desejos da sociedade como um todo, neste momento de grande impulso
modernizante.
Diante
dos aspectos acima apresentados, sobretudo, em virtude da suposta ameaça do
modelo de sociedade patriarcal, provocada – segundo importantes autores do
período – pela exacerbada modernidade, arruinadora das continuidades e, ao
mesmo tempo, aceleradora das rupturas de paradigmas, que procuro situar a minha
análise, tanto sobre os discursos transcritos das modas de viola e, seus
respectivos efeitos, no passado e no presente, quanto a respeito das
influências e efeitos de outros discursos que a “construíam” diante de um mundo
em transformação, ou, ainda, e talvez principal, buscar enquanto historiadores,
não perceber estes discursos como naturais e óbvios, ou naturais porque óbvios,
talvez seja mesmo necessário procurarmos problematizar o próprio conceito de
origem e essência.
Moda de viola – Moda de raiz.
A
palavra moda segundo o dicionário da
MPB é de origem portuguesa, significando canto, melodia ou música[xxix].
No
Brasil, varia de região para região o “formato”, poético/sonoro como este
estilo musical é apresentado para o público consumidor, porém na maioria das
vezes a sua temática é voltada para o meio rural.
Os
cantadores nordestinos a apresentam “improvisando” versos ao som da viola,
enquanto que nas demais regiões, as letras das músicas ou modas são previamente
compostas.
Apesar
de genericamente se convencionar, nos dias de hoje, que toda música apresentada
com viola é moda de viola, as primeiras gravações em discos diferenciam-nas,
por exemplo: pagode e moda de viola;
o pagode, como sendo uma música ritmada, onde a viola e o violão fazem batidas
diferentes e os solos são realizados pela viola; diferentemente, a moda de viola é quase uma letra recitada
ao som da viola, com pequenos intervalos de estrofe para estrofe, narra as suas
estórias bem compassadamente onde o ritmo é ditado pela silábica/escandir da
letra composta e “solada” pela viola em uníssono com a voz[xxx].
A
viola é um destes instrumentos que nas últimas décadas, com o aperfeiçoamento
das técnicas musicais, volta a fazer parte do cenário musical, com participação
em vários estilos musicais, talvez sob o efeito da fusão musical (fusion music)[xxxi].
Em
grande escala, a viola tem cada vez mais ocupado espaço entre os instrumentos
de corda e, ainda, transformado seu repertório de forma que, não expressa mais
somente um repertório estritamente rural e/ou sertanejo/caipira.
Contudo, este estilo musical – moda de
viola –, ao contrário do ecletismo/cosmopolitismo da própria viola, muitas das
vezes, também é mencionado como música
raiz ou moda de raiz. Em se
tratando de música raiz o jornalista, Romildo Sant'Anna[xxxii]
elabora sua análise calcada nos valores de cultura e civilização.
Para ele, a
categoria “raízes” remonta a tempos imemoriais e a-históricos e se
revela através da criatividade e espontaneidade do caipira, por isso só pode
estar inserida em seu próprio contexto, que ele considera primitivo e original.
Em sua tese
de livre docência intitulada A moda é viola: ensaio do cantar caipira, o
autor não baseia seus estudos na compreensão de um gênero música caipira,
mas sim sobre o que ele chama de “moda caipira
de raízes” ou de “literatura popular
de longa procedência”.
A definição
de “raiz”, segundo o próprio autor, é retirada de Simone Weil, que afirma que o
“enraizamento diz respeito à
participação real, ativa e natural na existência de uma coletividade que
conserva vivos certos tesouros do passado e certos pressentimentos do
futuro”.
Assim, para o
autor, a noção de raiz pressupõe a totalização da vida do caipira no tempo e no
espaço, compreendendo a moda caipira de raízes como aquela que efetiva esta
totalização, o que, consequentemente, a torna compreensível apenas em seu
próprio contexto.
Deste modo,
tanto as músicas sertanejas e modas de viola gravadas em disco como também os
shows caipiras seriam, apenas “simulacros”
da sociabilidade e dos ritos caipiras, reproduções infiéis que visam assegurar
– um tanto sem êxito – a aura das canções (Sant'Anna, p. 20).
Neste texto
evitaremos usar o termo música de raiz,
sempre que este termo for usado será para descrever algum enunciado, afinal,
não é intenção deste texto, buscar a origem de tal estilo musical, mas dar
visibilidade e dizibilidade a alguns discursos que, apesar de “refutados
teoricamente” nos dias de hoje, ainda permeiam nossas práticas sociais e,
inclusive, discursivas.
Dentre tantas
“nuances discursivas” que podemos notar nestas músicas, tentaremos localizar
quais destas, causam tanto estranhamento em um sujeito, hoje, afetado por
tantos outros discursos que, apesar de num primeiro momento, sofrer lancinantes
inquietações, por ter que cortar na carne, tentar desvencilhar de algo muito
forte em sua existência passada e/ou, ainda, presente, não conseguiu, por outro
lado, deixar de ser afetado e capturado por agenciamentos do presente, que lhe
impelem a continuar a cortar na carne, pois mesmo tendo demasiada influência
destas práticas discursiva e sociais vinculadas à moda de viola, não consegue
se desvencilhar das emaranhadas linhas rizomáticas de Deleuze e Guatarri[xxxiii],
Keith Jenkins[xxxiv],
Michel Foucault[xxxv],
entre tantos outros, não menos importantes, como Margareth Rago[xxxvi],
Durval Muniz[xxxvii],
Roland Barthes[xxxviii],
Jaques Le Goff[xxxix],
enfim, dos agenciamentos e afetamentos que estes textos provocaram e provocam
desde o primeiro momento em que adentrei ao curso de História.
Os
precursores.
As
músicas ou, modas de viola, começaram a ser gravadas no final da década de 20 do
século passado e início de 30, após o trabalho corajoso, audacioso do precursor
Cornélio Pires[xl],
com destaque para as duplas caipira, Mandi e Sorocabinha[xli],
Zico Dias e Ferrinho[xlii],
Caçula e Marinheiro[xliii],
Laureano e Soares[xliv],
entre outros, formando assim o primeiro time
ou, os precursores, da memória registrada em gravações da então chamada,
moda de viola ou moda caipira.
Mais
tarde surgiram várias duplas que deram prosseguimento a este estilo de música
que inspirou tantos outros, para citar dois exemplos, a atual música sertaneja
que aparece no final da década de 1970 capitaneada por Léo Canhoto e
Robertinho, Milionário e José Rico e logo depois Chitãozinho e Xororó; e
atualmente o sertanejo universitário com sua grande gama de meteóricos artistas.
Moda de viola e gênero.
Ao
analisarmos o momento do ápice da moda de viola ou moda caipira (década de
1940-1950), principalmente as mais populares e, o contexto político/cultural,
em que estas músicas foram compostas e/ou gravadas, verificamos, por parte da
historiografia sobre a história brasileira, que, se trata de uma época
relacionada ao momento em que as populações rurais começam a intensificar o
abandono do seu meio e, se veem diante das complicações de novos desafios da
vida citadina, representados pelo avanço do processo de modernização e a
expansão capitalista. Possibilitando assim, um momento de quebra das
hierarquias familiares e contribuindo com o “declínio” do modelo de família
nuclear patriarcal.
Nesta mesma
época, intelectuais, compositores, cantores, artistas de um modo geral, davam
vazão aos discursos poéticos e musicais de seu tempo, discursos que os
construíam. Um desses discursos pode ser lido ou ouvido já na década de 1950,
como por exemplo, a música intitulada: “Boiadeiro de palavra[xlv]”,
composta por Moacyr dos Santos, Lourival dos Santos e Tião
Carreiro.
Boiadeiro de palavra[xlvi].
Autores:
Moacyr dos Santos. - Lourival dos Santos. - Tião Carreiro.
Interpretes:
Luis
Goiano e Girsel da Viola[xlvii].
Boiadeiro de palavra
que nasceu lá no sertão.
Não pensava em casamento por gostar da profissão.
Mais ele caiu no laço de uma rosa em botão.
Morena cor de canela cabelos cor de carvão.
Esses cabelos compridos quase esbarravam no chão.
E pra encurtar a história era a filha do patrão.
Boiadeiro deu um pulo de pobre foi a nobreza.
Além da moça ser rica dona de grande beleza.
Ele disse assim pra ela com classe e delicadeza.
Esses cabelos compridos é a minha maior riqueza.
Se um dia você cortar nóis separa na certeza.
Além de te abandonar vai haver muita surpresa.
Um mês depois de casado o cabelo ela cortou.
Boiadeiro de palavra nessa hora confirmou.
No salão que a esposa foi com ela ele voltou.
Mandou sentar na cadeira e desse jeito falou.
Passe a navalha no resto do cabelo que sobrou.
O Barbeiro não queria a lei do trinta mandou.
Com o dedo no gatilho pronto pra fazer fumaça.
Ele virou um leão querendo pular na caça.
Quem mexeu nesse cabelo vai cortar o resto de graça.
A navalha fez limpeza na cabeça da ricaça.
Boiadeiro caprichoso caprichou mais na pirraça.
Fez a morena careca dar uma volta na praça.
E lá na casa do sogro ele falou sem receio.
Vim devolver sua filha pois não achei outro meio.
A minha maior riqueza eu olho e vejo no espelho.
É um rosto com vergonha que à-toa fica vermelho.
Sou igual a um puro sangue que não deita com arreio.
Prefiro morrer de pé do que viver de joelhos.
Como dito anteriormente, os autores desta música são homens
de seu tempo, vivendo em cidades, onde o embate entre as mudanças de costumes e
tradições são mais acirrados e evidentes, estes homens (autores da música
analisada) reiteram com toda intensidade o discurso do lugar que este macho
ocupa nesta relação familiar patriarcal, que – segundo alguns intelectuais[xlviii]
–, estava em declínio, mas que, ao fim e ao cabo, esperava ser salva pela arte,
pela cultura, pela literatura, pelas ciências...; ainda, neste caso, coube a
músicos, a intelectuais e compositores a missão de “perpetuar” e manter vivo
este discurso.
O jornalista Romildo Sant’Anna[xlix],
em sua tese de livre docência, analisa a mesma música e argumenta que um homem
levado a uma situação-limite, de honra maculada, há de sublimar o amor que se
transformará em fúria demente; a punição de raspar a cabeça da mulher foi,
segundo Sant’Anna, trazida pelos portugueses que buscaram tal prática no código
Visigótico e que, este ato, se justificava quando a honra ultrajada tivesse que
ser reparada, quando não, com sangue. Sant’Anna, ainda dirá que:
Esta forma de
resolução, quase sempre trágica, é um atrativo nas modas caipiras mais bem
aceitas pelo público, como os assassinatos em Cabocla Teresa, de Raul Torres e João Pacífico, e Chico Mineiro, de Tonico
e Francisco Ribeiro, ou, como vimos, o aprisionamento da mulher até a morte por
inanição, como na fábula de João de Barro,
de Teddy Vieira e Muibo César Cury[l].
Lourival dos Santos, Moacyr dos Santos e
Tião carreiro, compõem esta música/discurso no final da década de 1950 e este
discurso patriarcalista/sexista estava bem próximo de seu modo de vida, da sua
realidade, das mentalidades de sua época.
É claro que este fato não justifica o
teor e a gravidade do enunciado, quando muito nos permite buscar compreender as
possíveis razões de desrazões que motivam esta prática social e discursiva,
porém, não servem, ou pelo menos, não deveriam servir para explicar o
raciocínio do “ilustríssimo” jornalista Romildo Sant’Anna, que escreveu estas “pérolas”
em 2000, quase cinco décadas depois.
Temos assim, além dos veículos
midiáticos nos bombardeando com discursos “sacralizantes” da nossa verdadeira cultura, ainda mais o discurso de um intelectual do
jornalismo, reiterando e procurando “justificar” e “naturalizar” tais
narrativas.
Voltando um pouco mais a análise da
própria temporalidade desta música, poderíamos conjecturar algumas questões
como: qual seria o modelo do corte de cabelo que a mulher escolheu?
Talvez, à
La garçom, afinal este corte de cabelo foi moda durante a década de 1930 e
parte da década de 1940, embora duramente criticado, inclusive por muitos
intelectuais[li].
O Brasil desta época, é importante
ressaltar – sob forte influência do cinema americano –, sofria várias
transformações culturais e não foi diferente com a moda.
Críticas
foram tecidas, na maioria das vezes, sem levar em conta o
desejo desta nova mulher, “filha do seu tempo”, que em muitas circunstâncias
buscou resistir e negociar, com as força que tinha, para inventar novas formas
de existência.
Tais críticas, grosso modo, eram frutos
de uma mentalidade intrinsecamente atada à situação de
dependência em relação ao colonizador europeu, atrelada ao coronelismo, à
escravidão e a influência da igreja católica, como força política ainda
bastante forte e presente na vida de milhões de brasileiros e, ainda,
funcionado como importante instrumento de controle social, capaz de engendrar
aspectos socioculturais diretamente influenciadores do patriarcalismo,
conservadorismo e machismo brasileiro.
Tais
aspectos, se bem observados nos respectivos versos, nos permitem entender
significativas características da condição feminina no Brasil.
Outro aspecto que podemos pensar e que
também pode se notar neste discurso é que, o poder masculino sobre a esposa e
filhos no Brasil, ainda em 1950 é, significativamente, grande; um poder que foi
legitimado, por exemplo, pelo Código civil, de 1916[lii],
que identificava o status civil da mulher casada ao dos menores, silvícolas e
alienados, tornando as esposas civilmente incapazes. Mesmo as mudanças, no
código civil em 1940, não trouxeram grandes melhorias neste quadro, continuou,
legalmente limitado o acesso das mulheres ao trabalho e à propriedade.
Perante a justiça a esposa só deixou de ser tutelada pelo
marido com a promulgação da Lei n. 4.121, de 1962, conhecida com o Estatuto da
Mulher Casada. Mesmo assim, a Lei do divórcio só foi aprovada em 1977[liii].
O “Pátrio poder” (o poder do homem, do pai) na família só foi revogado com a
Constituição, de 1988[liv],
que em seu artigo 226 estabelece a paridade de direitos e deveres entre
cônjuges e, de ambos, em relação aos filhos.
O novo Código Civil brasileiro, afinado com a Constituição
Cidadã, só entrou em vigor em janeiro de 2003.
Na música ora analisada vemos que, além de haver resquício do
código visigótico como diz Romildo Sant’Anna, há, ainda, uma antiquíssima
prática, a saber, a execração pública; o boiadeiro de palavra (personagem da
música) não satisfeito com o fato de humilhar a mulher frente ao barbeiro, obrigando-o a raspar a cabeça
da morena, ainda, a fez dar uma volta
na praça[lv];
quantas pessoas circulavam neste espaço de sociabilidades neste momento?
Quantas outras a olharam com desprezo ou desdém?
E talvez, principalmente, quantas teriam coragem de
interferir nesse suplício?
Provavelmente poucas, pois adágios populares como: em briga de marido e mulher ninguém mete a
colher, possuíam e talvez ainda possuam força significativa sobre a forma
de pensar e, sobretudo, agir em uma sociedade brasileira fortemente contaminada
pela prática patriarcal.
Também está presente neste discurso
musical, a distância social do patrão e do empregado.
Logo no início da música, a frase que
termina a primeira sextilha: “e pra
encurtar a história, era filha do patrão”; faz-nos pensar que ser filha do
patrão significava ocupar um importante degrau na hierarquia social, afinal, a morena, não era “qualquer uma”, apesar do
patriarcalismo privilegiar geralmente a figura masculina, o lugar social
destinado à morena é dotado de relativa significância[lvi].
O boiadeiro era o empregado, portanto
ocupava um degrau bem abaixo nesta hierarquia social, tanto que ao se casar com
a morena, ele salta para um lugar bem mais confortável socialmente, pois
segundo os autores da música “boiadeiro
deu um pulo, de pobre foi à nobreza” e, assim, podemos inferir que o
casamento o elevou moralmente diante daquela sociedade.
Vemos aqui um discurso, inicialmente de
classe social, porém não poderíamos ficar restritos apenas a uma análise classista,
mas, sim, também em ressaltar importantes fatores culturais, pois, mesmo o
boiadeiro sendo de uma classe social menos abastada ou relevante
socialmente/economicamente, o seu discurso/prática de macho, de homem de
palavra é louvado no final da música, “sou
igual um puro sangue que não deita com arreio. Prefiro morrer de pé do que
viver de joelhos”, inclusive, lhe permitindo entregar a filha do patrão,
sem que a este, fosse possibilitado a peculiar e cotidiana relação de respeito
incontestável.
Também podemos observar que, esta
prática discursiva, pode revelar mais que uma luta de classes ou fatores
culturais, nela há ainda, a possibilidade de pensarmos o enunciado sobre a pureza de sangue, tão presente na época,
podendo corroborar e reiterando o antissemitismo, endossado pelo Estado; talvez
não seja o caso de discutirmos tal temática nesta oportunidade, mas, ainda
assim, devemos salientar, a dimensão e a multiplicidade de enunciados passíveis
de serem problematizados na respectiva moda de viola; podemos, inclusive,
acrescentar que no Brasil, essa modalidade do antissemitismo político existiu
enquanto política de bastidores nos governos Vargas (1937-1945) e Dutra
(1946-1950)[lvii],
que consideravam o judeu como “raça indesejável” para compor a população
brasileira.
É claro que, não estamos aqui atribuindo
o sentimento antissemita a toda população
brasileira, mas no Brasil dos anos 30, a Ação Integralista Brasileira (AIB), já
adotava o discurso antissemita em suas mais diversas formas, e não se pode
esquecer que se tratava do primeiro partido de massas do Brasil, tendo milhares
de adeptos em todo o país e utilizando-se de uma estrutura organizacional em
nível nacional até então inexistente nos partidos políticos brasileiros[lviii].
Segundo
Natália dos Reis Cruz:
[…] as elites
intelectuais, já na década de 20, voltavam seus olhos cada vez mais para os
judeus, utilizando a linguagem de influência eugênica do anti-semitismo europeu.
O fato de a maioria dos imigrantes judeus virem do Leste Europeu pós-Revolução
Russa serviu para que os principais intelectuais e políticos brasileiros
confirmassem seus preconceitos de que todos os judeus eram comunistas e
exploradores econômicos[lix].
Entre tantas outras ações antissemitas,
é interessante observar que, tratavam os judeus como “uma anomalia a ser
combatida” (Cruz, 2009) e, ainda, lhes faziam paradoxais “acusações de que eram tanto capitalistas
gananciosos como comunistas demoníacos, viviam em cidades e nunca poderiam ser
lavradores, bem como eram criminosos e bem sucedidos demais”. (Lesser, 1995, p. 29).
A análise de cada discurso é
justificada, não somente pela reiteração do discurso dominante dos autores,
pois, não custa lembrar que, Lourival dos Santos, um dos autores da música ora
analisada, pertencia a uma casta privilegiada, casado com Jandira, professora
de filosofia, irmã do dramaturgo Oduvaldo Vianna, o qual implantou as novelas
no Rádio brasileiro, Lourival, compositor desde a infância teve sua primeira
música gravada em 1938, pela Columbia, teve a oportunidade de ter suas músicas,
cantadas por Lambari e Laranjinha, nos intervalos das novelas, na antiga Rádio
São Paulo[lx].
Tais obras devem também ser analisadas, a partir do interesse
de desconstruir, dessacralizar, formulações de discursos/práticas
patriarcalistas (machistas); discursos - é importante ressaltar - normalmente
não tolerantes à diferença do outro enquanto “ser que deseja”;
discursos/práticas que buscam evidenciar a hierarquização como algo natural;
discursos estes que ficaram, sobremaneira, impregnado e arraigado, pela busca
da imposição de sentidos, no comportamento da nossa sociedade que, apesar de
viver em pleno século XXI, ainda emprega e vivencia muitas práticas características
dos padrões morais advindos destes discursos musicais, presentes na religião,
na arte/cultura, na literatura, na historiografia, etc.
Hoje, como se não bastassem alguns apresentadores de
televisão e locutores de rádio repetindo a velha ladainha: “A verdadeira cultura brasileira, a nossa
moda raiz”, estes hits musicais
estão voltando a ser gravados – em grande parte pelos então chamados, sertanejo
universitário - neste caso uma das grandes duplas expoentes deste novo estilo
musical, e que tem em seu repertório, várias destas composições, às quais são
apresentadas ao público em shows, é Cesar Menotti e Fabiano, que recentemente
declararam o seguinte em uma entrevista cedida ao ospaparazzi:
OSPAPARAZZI
– Por terem o sertanejo de raiz como principal referência, vocês cantam nos
shows algumas músicas desse estilo. Qual o segredo para fazer músicas caipiras
caírem no gosto da geração atual?
César Menotti e Fabiano: O segredo é ser autêntico e cantar o
que faz parte da sua alma. A música caipira faz parte da nossa. Nós cantamos o
que gostamos de ouvir e o público se identifica com isso, tanto que o auge do
nosso show é o momento dos “banquinhos”, onde cantamos as modas de viola[lxi].
Veja como, estes discursos ainda causam echo, ressonância e
reverberação, em meio a nossa sociedade.
Causam echo porque
repetem de maneira imperfeita, já que o echo é a repetição distorcida de um som[lxii],
ou seja, reflete velhos discursos que deveriam ser problematizados,
re-significados e/ou quiçá refutados por uma sociedade que se quer mais humana,
mais tolerante com as diferenças; os sons destes discursos soam tão alto e tão
fechado em suas verdades que a ressonância
é insuportável a ouvidos mais críticos e tolerantes às diferenças; resulta que
as reverberações destes discursos prolongam
sobremaneira que por décadas se vão ultrapassando incólumes e sacralizados.
A faixa etária das pessoas que formam o público consumidor
desta categoria de arte e/ou deste produto (Shows de artistas “universitários”)
é em sua grande maioria de trinta anos para baixo, vivem sendo bombardeados por
estes discursos, diante de um suporte bem mais prazeroso que uma cadeira em uma
sala de aula, portanto, bem mais “fácil” de ser assimilado o conteúdo
veiculado, a música!
Esta maravilhosa arte que constrói sensibilidades, motiva
passionalidades, e inventa/reinventa desejos.
Além de uma
análise dos discursos poético-musicais da referida música, este texto trata,
obviamente, de uma história de gênero, pois, também é disso que a música fala –
de uma relação de gênero.
Cada um com
seus desejos, suas vontades, seus sonhos, mas infelizmente, uma relação onde,
na maioria das vezes, apenas um gênero prevalece sobre o outro, será que
podemos chamar este relacionamento com o outro,
de relação de gênero, onde cada um exerce uma parcela de poder?
Ou será esta
uma relação de dominação, onde um busca
sistematicamente prevalecer sobre o outro
que se “deixa” assujeitar?
Marilena
Chauí concebe estas práticas “[…] como resultado de uma ideologia de dominação
masculina que é produzida e reproduzida tanto por homens como mulheres.”[lxiii],
Martha Narvaz e Henrique Caetano Nardi argumentam que:
“[…] as
feministas compreendem que há relações em que o poder está
congelado, saturado, não havendo mobilidade ou fluidez, o que caracteriza os
estados de dominação. A dominação se dá, então, de forma assimétrica, desigual,
linear e vertical.”[lxiv]
Porém, pensando numa escrita de um texto
acadêmico, uma poesia, uma peça teatral ou numa composição musical que
distancie desta prática enunciativa onde não há lugar para a heterogeneidade a
multiplicidade, distancio-me dos discursos
ideológicos, como quer Marilena Chauí, ao mesmo tempo não concebo a ideia
de poder congelado como Martha Narvaz
e Henrique Caetano Nardi, mas me aproximo das argumentações de Durval Muniz de
Albuquerque Junior que diz:
“[…] Os
estudos de gênero ao questionarem as hierarquias entre o masculino e o
feminino, ao porem em questão a ordem heteronormativa, a ordem patriarcal,
devem ser capazes de pôr em questão a ordem que rege a escritura, devem ser
capazes de transgredir a hierarquia de gêneros tanto na literatura, quanto nas
artes e nas ciências.”[lxv]
Durval Muniz com contagiante inspiração
em Gilles Deleuze e Maurice Blanchot, nos prescreve uma escrita que, embora
exprima o pensamento e a vida, possa ir através/além de ambos; escrita que
ultrapasse a vida cotidiana, como se nos afigura no presente, neste modo de
funcionar repetitivo da sociedade; uma escrita experimental que transpusesse a
si mesmo, a memória e a história; escrita capaz, sobretudo, de se desprender
das teorias, dos clichês gramaticais, lexicais e conceituais que insistem em
explicar a vida.
Muito mais que uma escrita amorosa, quiçá
uma escrita apaixonada, pois:
A paixão seria esta fraternidade de almas, algo que não é mais do plano da
individualidade, mas algo que desmancha o próprio indivíduo. A escrita de
gênero talvez seja esta escrita apaixonada por ser uma escrita movida não pelo
amor a alguém, mas pela paixão por algo, a paixão pelo devir, pela história,
pela possibilidade de mudança, paixão por um ser que ainda está por vir, ainda
está por criar.[lxvi]
Talvez neste
discurso de Durval Muniz esteja contido muito mais que uma escrita de gênero,
mas uma bela sugestão de como deve ser a escrita de um historiador sobre
qualquer temática abordada, pois qualquer temática passível de ser abordada
pelo profissional da história diz respeito à vida humana, consequentemente, a
gênero.
Ressonâncias racistas
e “Patriarcais” na moda de viola.
Na década de 1950, outro grande compositor de moda de viola
surge no cenário artístico, Teddy Vieira[lxvii],
neste mesmo ano tem uma de suas obras primas gravada, a música intitulada “Preto de alma branca”, vejamos a letra:
Preto de Alma Branca.
Interpretes: Liu e Léu.
Compositores:
Teddy Vieira, Lauripe Pedroso.
Fazenda da liberdade onde coronel vivia
seus colonos e empregados gozavam da regalia
mas tudo que é bom se acaba cada coisa tem seu dia
foi numa tarde de maio que o coronel falecia
um preto velho chorou na hora que o caixão saia
era o peão mais antigo que na fazenda existia
Com a morte do coronel o seu filho ficou patrão,
mas não herdou do seu pai aquele bom coração,
mandou chama o preto velho e disse sem compaixão,
vou manda você embora, não tenho mais precisão,
preciso aqui gente nova pra cuidar das criação,
foi outro golpe doído, na vida desse cristão.
No palanque da mangueira o preto velho encostou
ali de cabeça baixa seu passado relembrou
de quantos boi cuiabano nos seus braços já berrou
quantos potros redomão sua chilena quebrou
um estalo no portão de repente ele escutou
um pantaneiro furioso na mangueira penetrou
A filha do fazendeiro a sua prendinha querida
aquele anjo inocente brincava muito intertida
o preto saiu correndo com as pernas enfraquecidas
parou na frente do boi quando ele deu a investida
no chifre do pantaneiro as suas força foi vencida
pra salvar a sinhazinha ele arrisco sua própria vida
O fazendeiro correndo cinco tiros disparou
derrubou o pantaneiro mas nada disso adiantou
abraçando o preto velho o coitado inda falou
mande benze a sinhazinha do susto que ela levou
eu preciso ir embora minha hora já chegou
e o preto de alma branca deste mundo descansou ai
Nesta música vamos notar resquícios das relações
coronelísticas e o efeito da modernidade agindo no tecido social pela via do
discurso poético/musical, mais uma vez notamos os compositores sendo
objetivados pelas práticas e discursos dominantes e os reiterando
constantemente.
Bem, de forma sucinta e talvez apressada, tentemos ver quem
foi Teddy Vieira: Cursou o ensino primário em Itapetininga e em seguida
transferiu-se para São Paulo, onde concluiu o secundário no Colégio João Kophe
e Oswaldo Cruz, fez a primeira composição aos 18 anos, foi funcionário público,
e aos 22 anos começou a trabalhar na Colúmbia, da qual foi diretor artístico, em
1958, transferiu-se para a Chantecler como diretor artístico.
Procuramos saber informações como estas, pelo fato de muitas
músicas deste estilo, serem compostas por pessoas analfabetas ou
semi-alfabetizadas, que nem por isso deixam de ter sua importância, mas no caso
de Teddy Vieira, estamos falando de um profissional com status privilegiado
socialmente, culturalmente, politicamente e, apesar de ser nascido no interior
de São Paulo, posteriormente se muda para a capital, passando a ser um homem
com acesso a muitas informações, pois se relacionava com muitos jornalistas e
radialistas importantes no meio midiático.
Este homem nascido em 1922 acompanhou, com estranhamento,
todo o efeito que a modernidade causou no modelo de família patriarcal; nas
relações coronelísticas, paradigma daquela sociedade; na economia; na política...;
e, principalmente, nas relações interpessoais.
Ao gravar esta música – Preto de alma branca, em 1950;
primeiro, denota certo saudosismo quanto às relações coronelísticas, sobretudo,
quando ressalta a “bondade” do coronel em “permitir” que seus colonos e
empregados gozassem de regalias, quais seriam tais regalias?
Talvez fosse o “consentimento” de uso da terra para plantio
de subsistência, o qual, não raro, possibilitava a este coronel o
“desbravamento” quase gratuito da área e, principalmente, logo depois da terra
toda formada, expulsar estes colonos, depois é claro, do pagamento de
arrendamento pelo uso desta terra e, assim, deixa-la toda plantada com capim
para o gado[lxviii];
esta era uma prática muito comum entre os “benevolentes coronéis”.
O filho do coronel, o herdeiro, cheio de
ideias[lxix]
decidiu que precisava de gente nova, com mão de obra especializada para o seu
empreendimento e sem “compaixão” mandou o preto velho embora.
Não esqueçamos que na década de 1950,
houve vultosos investimentos para os grandes agropecuaristas, segundo FIBGE – Censos Agrícolas do Brasil de 1950 e 1960;
Censos Agropecuários do Brasil de 1970, 1975, 1980 e 1985, somente a venda de
tratores passou de 8,372 em 1950 para 665,280 em 1985[lxx],
apesar do crescimento se dar a partir da década de 1950, podemos pensar o filho
do coronel como um sujeito de grande visão empreendedora, que após a morte do
pai coloca em prática seu plano de modernização das suas propriedades. Será que o preto, personagem da música foi
qualificado para as novas atividades/trabalhos que surgiram desde então?
Este discurso
musical não seria uma forma de esconder que desde a libertação dos escravos, em
1888, pouco foi feito, pelo Estado e/ou pelas elites, em relação à educação e a
qualificação destas e outras pessoas?
Na narrativa que se segue prevalece o pensamento maniqueísta
que vive norteando boa parte da literatura, da política, da historiografia,
enfim, das várias áreas do conhecimento.
Parece-nos que, constantemente, temos que ter um deus e um
demônio ou, um bom e outro ruim, um bem e outro mal, para compreendermos e
explicarmos as relações que nos cercam sem levar em conta as muitas outras
variáveis, dentre as quais, o desejo do outro.
Outra faceta discursiva da música ora analisada que me chamou
a atenção é, sem dúvida, o enunciado/título, “O preto de alma branca”, pois lembra muito ainda os discursos de
branqueamento da raça, e neste caso, começando pelo branqueamento da alma do
negro.
O período que compreende o final do século XIX e primeira
metade do século XX é tido como um dos mais eugênicos na história do Brasil,
entre as várias medidas de eugenia, podemos ressaltar a que visava o
branqueamento da raça, era sem dúvida uma das mais preocupantes, Maria
Aparecida Silva Bento nos alerta que, “[…] Havia uma expectativa de o Brasil
tornar-se um país branco, como consequência do cruzamento de raças.”[lxxi]
Maria Bernardete Ramos Flores[lxxii],
também faz alusão a este período em que vários intelectuais de diversas áreas do
conhecimento propagandearão várias medidas com o claro intuito de padronização
brasílica de beleza; para dar efeito de verdade às medidas propagadas,
Psicólogos, sexólogos, artistas plástico, intelectuais, políticos, educadores,
religiosos, juristas, artistas, jornalistas, antropólogos…, todos imbuídos,
engajados na “invenção” de um novo modelo de beleza brasílica, pautados nos
modelos propagandeados na Europa. Renato Kehl[lxxiii],
Afrânio Peixoto[lxxiv],
Hernani de Irajá[lxxv],
Oliveira Viana[lxxvi],
são alguns dos pensadores com farta produção intelectual e que visavam esculpir
novos corpos e padrões de beleza, gestados na Europa dos séculos XVIII e XIX,
fruto do liberalismo e formação das nações.
No século XX, com a crise do liberalismo e a instalação dos
governos totalitários, transfere-se a questão da auto-perfectibilidade
individual para a perfectibilidade da nação como sujeito coletivo.
Estes são alguns discursos que reverberavam nos meios
científico, cultural, artístico e religioso durante a primeira metade do século
XX. Talvez entendendo estes dispositivos de saber e poder, possamos também
entender o que objetivavam e inspiravam estes compositores e as suas canções.
O discurso desta música composta na década de 1950, talvez
seja o fruto discursivo deste modelo de sociedade.
Hoje seis décadas depois, elegermos tais enunciados musicais
como nossa cultura e/ou nossa raiz, talvez explique porque ainda somos tão
preconceituosos, porque não toleramos as diferenças, porque a nossa sociedade
ainda queima índios, moradores de ruas e outros “anômalos”, porque ainda tratamos de modo preconceituoso pessoas que
nos prestam serviços, como o caso incansavelmente noticiado pela rede Globo
sobre o médico Heverton Otacílio de Campos Menezes contra mulheres
afrodescendentes durante o exercício de seu trabalho[lxxvii].
Implícitas no discurso desta música são as objetivações a estas práticas
sacralizadas em versos, prosas, acordes e cantos, que ainda permeiam os
sedimentos do enunciado, nossa verdadeira
cultura, nossa música raiz.
Em 1963, Tião carreiro e Pardinho gravou um disco intitulado,
“Casinha da serra” e, na sexta faixa
do disco uma música chamada, “Preto
inocente”, de composição de: Teddy Vieira, Campão e Bento Palmiro. Nesta
música, como na anterior, os compositores apresentam um discurso que visa de
certa forma, “promover” o negro ou o
preto à condição de ser humano, um ser que tem, entre outras características, a
faculdade de ter bondade, benevolência, como o nosso personagem anterior (Preto
de alma branca), e mesmo quando o querem “inocentá-lo”
de algo que não cometeu, não conseguem se livrar do racismo que os objetivam,
vejamos:
Preto inocente.
De: Teddy Vieira - Campão - Bento
Palmiro.
Interpretes: Tião Carreiro e Pardinho.
Quando eu soube desse
fato pelo radio anunciado
Que um tal preto fugido morreu por haver roubado
As façanhas que ele fez me deixou muito amolado
Por alembrar que os pretos sempre são os mais visados
Mas diante da verdade eu vi que estava enganado
Vou contar o causo direito
do modo que se passou
Porque o pai de Suzana num criminoso virou
Na hora que deu o tiro foi que a Suzana gritou
Oh papai porque fez isso o senhor nem me consultou
Se eu ainda estou com vida é o preto que me salvou
No mato eu tava lenhando logo pegou escurecer
O caminho que eu voltava eu não podia mais ver
Naquilo avistei o preto de susto peguei tremer
Mocinha não tenha medo escutei ele dizer
Eu sou preto só na cor mal nenhum vou lhe fazer
Eu tava muito cansada o meu corpo não agüentou
Fui sentar debaixo dum toco uma cobra me picou
O preto rancou da faca o meu pé ele sangrou
O veneno da serpente com a boca ele tirou
Pra salvar a minha vida com a morte ele brincou
E aqui nessa cabana ele
trouxe eu carregando
E que nem um sentinela na porta ficou vigiando
Lá fora na mata escura as feras tava uivando
Abatido pelo sono coitado foi cochilando
Veio o senhor de surpresa e a vida foi lhe tirando
Com as palavras de Suzana o seu pai pegou chorar
Fosse coisa que eu pudesse de novo a vida eu lhe dar
Com o sangue desse inocente minha honra eu fui manchar
Este chão que ele pisava eu não mereço pisar
Sei que vou ser condenado só Deus pode me livrar
Logo na primeira parte da música os autores aludem o discurso
da perseguição aos negros, podemos pensar que um “preto fugido” poderia
significar que este era um fora da lei, os autores deixam claro que o preto
supostamente “fugia porque roubou”; se não houvesse roubado o mesmo não estaria
fugindo (o que se descobre mais tarde), os compositores deixam claro que pela
condição de sua negritude que já o coloca na condição de “visado”, caso um branco roube e um preto esteja por perto,
fatalmente o preto será o primeiro suspeito.
Bem, podemos observar que o racismo nesta época ainda é muito
grande, a começar pelo próprio enunciado/título da música, “Preto inocente”,
pois não se diz desta forma de um branco, “o branco inocente”.
Esta prática discursiva impregna os nossos enunciados até
hoje como forma de nomear, classificar, hierarquizar; é comum ver designações como
estas, na televisão, nos jornais, revistas, etc., quando se é negro, vez ou
outra se é estereotipado de: ator negro,
a atriz negra, cantor ou cantora negra, mulher ou homem negro, como se a
cor da sua pele fizesse parte da descrição, do rótulo ou marca registrada, como
se estivesse falando de eletrodoméstico “a geladeira Brastemp, o fogão Dako, a
batedeira Arno”; engraçado, não se fala assim do ser humano branco.
Na terceira parte da música, o preto se torna assombroso,
pois Suzana (personagem da música) ao avistá-lo começa a tremer, e para
tranquiliza-la e ser digno de credibilidade, ele deve renunciar à cor das suas
ações: “Eu sou preto só na cor, mau
nenhum vou lhe fazer”.
Vemos aí no discurso dos compositores o negro ou preto sendo
objetivado a renunciar a sua cor para obter credibilidade e respeito.
Em 1951, Gilberto Freyre deixa clara as suas ideias em Sobrados e Mocambos[lxxviii],
sobre uma suposta democracia racial, com grande acesso a mobilidade para o
negro; porém o que se constata na década de 1960, num estudo patrocinado pela
UNESCO, encabeçadas por Florestan Fernandes e Roger Bastide, dentre outros, é a
constatação da existência do preconceito racial no Brasil, segundo Francisco
Carlos de Lucena:
“[…] as
pesquisas de Florestan Fernandes e dos demais estudiosos do projeto da Unesco,
denunciaram tal democracia racial como sendo um mito falseador da real situação
dos “negros” e “mestiços” no país. Ao contrário de uma democracia racial,
Fernandes (1966) declara que no Brasil as pessoas têm vergonha de afirmar que
são racistas”[lxxix].
Continuando, nesta terceira parte da música, podemos notar o
quanto a figura do preto ainda assombra as pessoas, Durval Muniz ao escrever “A
Invenção do Nordeste e outras Artes”, nos alerta sobre os discursos que
construíram o medo do negro[lxxx],
ou seja, este é um discurso datado do final da década de 1920 e que vem
reverberando nas décadas seguintes. Só o fato de o preto ser encontrado perto
de uma donzela ferida, já o transformou em culpado, sem júri e nem clemência,
sua pena foi a máxima. A morte!
Segundo pesquisamos, na década de 1970 parece haver um hiato
na produção de modas de viola de grande repercussão na mídia, década de muita
turbulência política e grande efervescência no mundo artístico, dado o
descontentamento de parte da sociedade com o regime instaurado pela ditadura
militar no Brasil e, que não se deixaram levar pelos versos de Miguel Gustavo
(Pra frente Brasil, hino à seleção brasileira).
De um lado tínhamos os cantores e compositores que eram
denominados “da MPB” que se empenharam em dar vazão ao seu descontentamento em
forma de protesto musical; de outro lado, na música sertaneja, vão aparecer
novos nomes de grande repercussão na mídia da época, tais como, Léo Canhoto e
Robertinho, Milionário e José Rico, Chitãozinho e Xororó, entre outros, com
outra proposta musical; proposta esta que se tornará um marco, contudo, por uma
questão de espaço e, sobretudo, de objetivos não a estudaremos neste momento.
Talvez não tenha sobrado espaço na mídia para as modas de
viola e/ou as mesmas não tiveram grande repercussão, creio que uma pesquisa
mais apurada, no futuro, poderá apontar novos e esclarecedores dados.
Na década de 1980, várias duplas sertanejas gravaram a moda
de viola intitulada, “Caboclo na cidade” dos compositores “Nhô Chico e Dino
Franco”. Sobre Nhô Chico, poucas informações puderam ser apuradas, tais como:
começou a sua carreira em 1974 como cururueiro ao lado do, já famoso,
“Parafuso”, compôs junto com os mais renomados violeiros e compositores da
época e tem como o seu maior sucesso a música, “Caboclo na cidade” que fez em
parceria com Dino Franco e que foi regravada por muitas duplas posteriormente.
Por outro lado temos Osvaldo Franco (Dino Franco) nascido em
1936 que em 1954 começa a sua carreira artística na Rádio Marconi de Paraguaçu
Paulista.
Dois anos após, em 1956, estava na Capital e cantou com
Tibagi (da dupla Tibagi Miltinho). Nessa época Dino Franco tinha o nome
artístico de Pirassununga[lxxxi].
Após várias tentativas com muitos parceiros e alguns discos
gravados, se tornou produtor de elenco da gravadora Chantecler, passando a
produzir os discos das duplas famosas da época: Lourenço e Lourival, Abel e
Caim, Liu e Léu, entre outras.
Trabalho este que permitiu, após tantas e tantas
experiências, “a felicidade de encontrar Mouraí (Luiz Carlos Ribeiro) nascido
em Ibirarema/SP, em 19 de julho de 1946, com quem gravou um total de 16 discos.
A dupla só veio apartar com a morte de Mouraí ocorrida em 17
de outubro de 2005”[lxxxii].
No início da década de 1980 a dupla Dino Franco e Mouraí
lançam o disco (LP) intitulado “Rancho da paz” e, neste mesmo disco a canção
“Caboclo na cidade”, vejamos a letra na íntegra.
Caboclo na cidade.
Autores: Nhô
Chico e Dino Franco.
Interpretes: Dino Franco e Mouraí.
Seu moço eu já fui roceiro no triângulo mineiro
onde eu tinha meu ranchinho.
Eu tinha uma vida boa com a Isabel minha patroa e quatro barrigudinhos.
Eu tinha dois bois carreiro, muito porco no chiqueiro e um cavalo bom, arriado.
Espingarda cartucheira quatorze vacas leiteiras e um arrozal no banhado.
Na cidade eu só ia a cada quinze ou vinte dias pra
vender queijo na feira.
E no mais estava folgado todo dia era feriado pescava a semana inteira.
Muita gente assim me diz que não tem mesmo raiz essa tal felicidade
Então aconteceu isso resolvi vender o sítio e vir morar na cidade.
Já faz mais de doze anos que eu aqui já to morando
como eu to arrependido.
Aqui tudo é diferente não me dou com essa gente vivo muito aborrecido.
Não ganho nem pra comer já não sei o que fazer to ficando quase louco.
É só luxo e vaidade penso até que a cidade não é lugar de caboclo.
Minha filha Sebastiana que sempre foi tão bacana me
dá pena da coitada.
Namorou um cabeludo que dizia Ter de tudo, mas fui ver não tinha nada.
Se mandou pra outras bandas ninguém sabe onde ele anda e a filha tá abandonada.
Como dói meu coração ver a sua situação nem solteira e nem casada.
Até mesmo a minha veia já tá mudando de idéia tem
que ver como passeia.
Vai tomar banho de praia tá usando mini-saia e arrancando a sobrancelha.
Nem comigo se incomoda quer saber de andar na moda com as unhas todas
vermelhas.
Depois que ficou madura começou a usar pintura credo em cruz que coisa feia.
Voltar pra Minas Gerais sei que agora não dá mais
acabou o meu dinheiro.
Que saudade da palhoça eu sonho com a minha roça no triângulo mineiro.
Nem sei como se deu isso quando eu vendi o sítio para vir morar na cidade.
Seu moço naquele dia eu vendi minha família e a minha felicidade!
Esta música, segundo as arguições dos seus autores (Nhô Chico
e Dino Franco) denotam, o saudosismo, a perplexidade e a frustração de um
pequeno proprietário de terras, que dado os efeitos da modernização da
agricultura e pecuária que privilegiaram apenas os grandes proprietários, vende
o que tem pra vir morar na cidade, o que o deixará frustrado, pois se vê num
mundo em transformação, onde estas transformações acontecem em grande
velocidade e se sente deslocado de seu meio, perplexo diante do “novo” que
vislumbrava a sua frente.
Este fenômeno ocorrido entre o campo e a cidade foi muito comum
no final da década de 1970 e início da década de 1980[lxxxiii].
Este homem já estava acostumado com a rotina da vida no
campo, ao ato costumeiro de se levantar cedo e tirar o leite, correr até o
paiol para pegar o milho e debulhar para as galinhas no terreiro (separar as
palhas “boas” pra o cigarro palheiro), a tratar dos porcos, a cuidar do arrozal
no banhado, e, a cada quinze ou vinte dias selava o seu cavalo e ia vender os
seus queijos na cidade, aproveitava para tomar umas pingas com os amigos
enquanto proseava sobre as novidades, saber as notícias da capital e da região,
talvez até passasse – com muito cuidado – na zona do “baixo meretrício”, afinal
a carne é fraca e em alguns momentos o desejo fala mais alto, porém voltava
logo para o sítio, pois tinha que apartar os bezerros, para no outro dia
recomeçar tudo outra vez.
Apesar da rotina dura e da lida diária deste pequeno
proprietário, que não é pouca, o mesmo considerava todo dia, feriado.
Afinal, todos estes afazeres davam sentido pra sua existência
de macho, ter “domínio” deste pequeno “feudo” fazia-o senhor de um reino que
era “seu”, um reino regido pela natureza e movido pela sua determinação, por
sua vontade, sua força, sua figura de homem.
Um homem regido por outros códigos de honra, outros signos, o
mundo deste caboclo caipira é cheio de peculiaridades, homem que conversa com a
terra, as plantas, os bichos; onde o tempo é quase imóvel, as mudanças são
quase imperceptíveis.
Antonio Candido descreverá este mundo e seu ator principal da
seguinte forma:
“[…] A cultura do caipira, como a do primitivo, não
foi feita para o progresso; a sua mudança é o fim, porque está baseada em tipos
tão precários de ajustamento ecológico e social que a alteração destes provoca
derrocada das formas de cultura por eles condicionada. Daí o fato de
encontrarmos nela uma continuidade, uma sobrevivência das formas essenciais,
sob transformações de superfície que não atingem o cerne senão quando a árvore
já foi derrubada – e o caipira deixou de o ser”[lxxxiv].
(CANDIDO, 1987: 82-83)
Como vemos nesta citação, a literatura procura afixar este
caboclo a uma identidade imóvel, a uma continuidade eterna sem nenhuma ruptura,
o que nos leva a questionar, será que a cultura deste caboclo é tão frágil que
não suporta mudanças?
Será este ser condenado eternamente à imutabilidade
cultural/social? Será a vida humana - consequentemente a natureza - a história,
tão linear e previsível?
A tela de Almeida Junior e de seu “Caipira picando fumo” durante muito tempo foi interpretada e
elogiada pela sua simplicidade e naturalismo[lxxxv],
Monteiro Lobato a via como uma verdadeira representação de um mundo simples,
singelo, pobre e que deveria ser ultrapassado pela modernização, urbanização,
industrialização, que dado os seus efeitos no tecido social transformaria este
caipira em um novo ser, moderno, afeito à escolaridade, higiênico e
trabalhador.
Vemos que enquanto a literatura busca o afixar, a arte quer
que o caipira mude, venha compor este “seleto” grupo de seres modernos, urbanos
e que contribuem para o progresso, pois o caipira “jeca”, sempre foi
considerado um entrave para a modernização e consequentemente para o progresso.
Se bem que logo depois o próprio Monteiro Lobato volta atrás
nesta análise, e pede desculpas ao caipira por tê-lo criticado sem ter a real
noção de suas condições[lxxxvi].
Os autores/compositores desta música buscam construir no seu
presente algo pescado “em fragmentos de um passado rural e pré-capitalista; são
buscadas em padrões de sociabilidade e sensibilidade patriarcais, quando não
escravistas”[lxxxvii].
Dino Franco, um dos compositores e interpretes da música,
“Caboclo na cidade”, nasceu em 1936, a sua infância e adolescência caminharam
juntas com todas estas significativas mudanças culturais, sociais, políticas,
etc., todas estas mudanças o influenciaram, e esta influência idílica estará
presente nas suas composições.
O caboclo é apresentado como um ser que desconhece o luxo, a
vaidade, o desejo, ou que restringe o seu desejo à “imutabilidade identitária”;
de repente se vê vítima de todas estas novas experiências que com o tempo se
tornam objeto do desejo de sua família.
Segundo o discurso dos compositores desta moda de viola, o
caboclo ao sair do campo, ao abandonar todas as coisas que dão sentido a sua
vida, perde a sua identidade, identidade esta que o fixou num tempo e num
espaço em que as rupturas eram lentas, o tempo tinha outra duração, o sol e não
o relógio, as estações do ano, as fases da lua...; o seu espaço era, por ele
limitado/ilimitado, o rio pra pescar, o sítio seu refúgio e labor; e idas esporádicas
à cidade.
Ao deparar-se com uma vida agitada na cidade, onde as suas
qualificações como homem do campo, que inventa o seu próprio horário de
trabalho, sem ninguém lhe dar ordens, não são bem vistas.
O caboclo constata que não se dará bem com essa gente, não se
adaptará a essa nova vida, nesse mundo afetado/contaminado pela velocidade e
transformações advindas da modernização.
Sua filha desejosa por um homem, diferente do seu pai, com
uma linguagem também diferente, cheia de gírias; deseja também novos trajes,
não mais o vestido de chita e a sandália havaiana, mas o tênis All Star – muito
popular na época –, a minissaia com legging em cores cítricas, jaquetas de
brilho, vestido acinturado, saia balonês, em geral um look colorido e ousado,
talvez inspirado em Madona; novos pensamentos e comportamentos, afinal as
músicas que invadiam as ondas sonoras do rádio brasileiro objetivam a novas
práticas, enfim, novos desejos; Sebastiana, a filha do nosso personagem, agora,
possivelmente ouve outros estilos musicais, tais como, Rock nacional e internacional,
MPB e/ou Eletromusic; as ondas sonoras agora transitam por frequências modulada
(FM) e não apenas pelas amplitudes modulada (AM).
Um cabeludo adolescente ou adulto na década de 1980 poderia
ser um dos hippies da década de 1970 que acreditava no amor livre, que não se
prendia a lugares ou apenas a uma pessoa, sem uma identidade que o fixava a
apenas um desejo, quase um nômade!
Veste-se de forma despojada; talvez influenciado por Maikon
Jackson ou Kurt Cobain com seus tênis All star e suas calças rasgadas e blusas
que abusavam das cores e muito coladas ao corpo, todas peças de vestuários que foram
fundamentais no comportamento da juventude da década de 1980.
A sua mulher, talvez cansada de ser “Amélia”, resolve
experimentar novos desejos, satisfazer velhas e/ou novas vontades que lhe
proporcionasse escapar da mesmice, da vida monótona de mulher de sitiante de
vida sedentária, talvez ela tenha sentido vontade de desconstruir/dessacralizar
esta tão propagada “Amélia”, enfim, descobre que tem pernas bonitas e resolve
mostrá-las, passa a usar minissaia, apesar de pequenas imperfeições causadas
por cicatrizes e efeitos do implacável tempo, suas pernas longas e bem
desenhadas agora são protegidas por meia calça; descobre que seu rosto tem
traços lindos, passa a usar a pintura para delineá-lo, com um delineador preto
usado na parte superior e inferior do olho, que darão um olhar profundo; os
lábios bem corados e destacados, desenhados com o batom vermelho dá o efeito de
boca aveludada; nas maçãs do rosto a escolha recai sobre os tons bronzeados de
blush – não mais o rouge -, o indicado é usar um pincel com cerdas macias e
fazer movimentos suaves na diagonal; suas mãos agora não servem apenas para as
lides domésticas, mas também uma extensão de beleza adornada pelo esmalte
vermelho ou cores inspiradas no new wave dos anos 80; e qual seria o lugar
ideal pra desnudar toda esta beleza e provocar desejos, ser elogiada, ser
novamente olhada com descarada volúpia?
A praia, aonde ela vai se banhar, ou ainda, dar voltas na
praça da cidade local.
Afinal o seu marido, o caboclo, está muito ocupado em se
adaptar à modernidade, em lamentar a venda do sítio, em criticar sua esposa e
envergonhar-se da gravidez da sua filha que desconhece o paradeiro do namorado.
Estes desejos não são levados em conta pelos compositores,
pois os mesmos estão impregnados pelo discurso “neo-atávico”, saudosistas do
tempo em que o núcleo da família era o caboclo, o homem, o macho; saudosos de
um tempo em que os desejos desta família passavam pelo crivo deste chefe
provedor.
O personagem principal da música, no final da letra diz o
seguinte: “Nem sei como se deu isso
quando eu vendi o sítio para vir morar na cidade. Seu moço naquele dia eu vendi
minha família e a minha felicidade!”.
Ao dizer que vendeu a sua família, o mesmo pressupõe que esta
família era sua propriedade, ao fazer esta afirmativa “eu vendi minha família”
presume-se que esta “propriedade” não poderia ser vendida e, ele, o caboclo,
detém ou deteria este poder de dispô-la ou não, portanto os discursos da
masculinidade – patriarcalista e sexismo, presentes na respectiva música –,
estavam em voga mais do que nunca, talvez ressoando até hoje, mesmo que
nuançados pelas diferenças do tempo.
Concluindo.
Escolhemos trabalhar este tema por várias razões, uma das
quais nasceu da inquietação causada pela reiteração de muitos discursos – discursos
que, como efeito de verdade, ressoam pelos corredores da memória com ênfase em
enunciados tais como: moda de viola, a
mais pura, a nossa verdadeira moda raiz –, que sempre incomodaram a mim e a
várias pessoas com quem convivemos no meio acadêmico e social; outra razão, não
menos importante, foi notar que algumas duplas[lxxxviii]
ou cantores solo, estão voltando a regravar estas músicas ou similares a estas,
que dado a sacralização pelos meios midiáticos serviram de inspiração para
outros compositores prosseguirem compondo na mesma lógica discursiva; ainda, pessoas
estão sendo objetivadas a ouvi-las; a nosso ver, curiosamente as críticas
tecidas – em sua grande maioria – sobre este tema tem sido, de certa forma,
efetuadas por uma crítica rasa, sem nenhuma historicidade, e nem mesmo a partir
de uma problematizarão do tema; vemos que no próprio meio acadêmico, muitos
intelectuais, porém não todos, não se incomodam com os efeitos destes e outros
discursos musicados, sacralizados e propagados na grande mídia, talvez estejam
preocupados demais com outros aspectos da vida acadêmica.
Somos sabedores que, sempre devemos nos espantar com o óbvio,
com relação ao discurso da arte e, neste caso, especificamente a música não é
diferente, consideremos que devemos sim, questionar toda vez que ouvirmos da
boca de locutores de rádio, de apresentadores de televisão ou de agentes
culturais, de forma generalizante, que precisamos preservar esta ou aquela arte
pelo motivo de ser esta a expressão da nossa cultura, a nossa raiz, pois, se
continuarmos a cultuar estes discursos estaríamos assim contribuindo para que
muitas práticas – algumas descritas, historicizadas e problematizadas neste
trabalho – condenáveis continuassem a existir.
Talvez por mantermos estes discursos (impressos em algumas
modas caipiras ou moda raiz) em evidência; talvez por mantermo-nos sacralizando
estes monumentos, ainda sejamos racistas, patriarcalistas, sexistas,
preconceituosos e não tolerante com as diferenças.
Procurei inserir neste texto, como fonte documental, músicas
que tiveram grande repercussão no passado ou que ainda repercutem nos dias de
hoje, pois a nosso ver, o que estes compositores criaram em seu tempo,
retratava até certo ponto o pensamento da sua época, o que já se caracterizava
em um problema, pois muitos destes discursos objetivaram práticas nocivas à
sociedade, afinal o discurso inventa/constrói o mundo e, ao reiterarmos estes
discursos nos dias de hoje, continuamos a perpetuar práticas e discursos
sociais catastróficos para a nossa sociedade, pois o discurso da eugenia, da
fealdade da nossa raça[lxxxix],
do racismo, do sexismo…; continua vivo em muitas destas músicas.
No
entanto de nada adianta termos uma hipertrofia de leis, “punindo” ou cerceando
certas práticas, se não mudarmos as nossas relações diante do outro, do
diferente, da diferença, da diversidade, da multiplicidade.
Para
ficarmos apenas com um simples, porém elucidativo exemplo, enquanto esta
pesquisa estava em andamento a Assembleia Legislativa da Bahia aprovou um
projeto que proíbe o governo do Estado de contratar bandas que tenham em seu
repertório canções cujas letras veiculem "atentados contra a dignidade da
mulher".
Caso
sancionada, a chamada lei "antibaixaria", proposta pela deputada
estadual Luiza Maia (PT), criará regras diversas para coibir a ação[xc].
Ainda, um vídeo de um programa da Redetv circulava na internet e discutia a
letra da música “Bruto, Rústico e Sistemático,” cantada por João Carreiro e
Capataz, que segundo o vídeo, gerou indignação por conter traços homofóbicos[xci].
Neste
programa houve reivindicações por parte de grupos que se sentem ofendidos e
desrespeitados pelo teor da letra, mas o que nos chamou mais atenção foram as
novas formas de nomear as ofensas, se alguém ainda não se acostumou com o
conceito chamado de “homofobia”, prepare-se pois no vídeo acima citado, novos
conceitos estão surgindo, tais como: transfobia e lesbofobia.
Outros pontos
importantes nestes dois acontecimentos – o projeto de lei aprovado pela
Assembleia Legislativa da Bahia e o vídeo da Redetv – é que, em ambos os casos,
os comentários a respeito, atribuem à falta de sensibilidade humana como sendo
falha da escola, falha dos educadores que não trabalham adequadamente com a
temática “diversidade sexual” nas escolas.
Este
discurso tem me preocupado, pois o educador tem sido culpabilizado por muitas das
maldades humana; parece que as pessoas não sentem desejos e/ou não são
objetivadas a novos desejos pelos mais diversos meios midiáticos que,
constantemente privilegiam o consumo conspícuo sem levar em conta uma sociedade
melhor e mais educada.
Os pais,
nesta sociedade moderna, não dispõem de tempo para educar os filhos, dado as
demandas desta nova ordem técnico-científica
empresarial, aludida brilhantemente por Denise Bernuzzi Sant’ Anna,[xcii] sobrando
ao professor mal-pago e desmotivado a incumbência de fazer este trabalho.
Os meios
midiáticos procuram se isentar da culpa alegando que o mesmo financia a
educação por meio dos seus impostos, ou seja, os meios midiáticos ao pagarem
seus impostos justificam a dês-educação que os mesmos prestam a sociedade
bombardeando as crianças, jovens e adultos com o que há de pior em suas programações
todos os dias, em contrapartida, colocam os educadores na linha de tiro.
Assim,
empurrando a responsabilidade de um para o outro – ora o poder privado empurra
para o Estado, ora o Estado empurra para o poder privado a responsabilidade da
educação – a educação vai ficando cada vez mais esquecida, o professor (a)
desmotivado, a escola desinteressante e os alunos desinteressados.
Talvez tenhamos que incutir em nossas práticas uma nova épistémè, uma epistemologia da sensibilidade que possa
dar conta de nela transbordar a multiplicidade; que o outro possa ser levado em
conta, não só na música, na poesia, na literatura, na historiografia, ou mesmo
em todas as relações interpessoais do dia-a-dia, desde a moça que vende o passe
para a entrada no cinema, o senhor que entrega o botijão de gás, o frentista do
posto, enfim a qualquer ser humano que venhamos a nos relacionar.
Talvez devamos ser e agir como o acorde musical que
naturalmente suporta as dissonâncias e mesmo assim harmoniza, ou então o
compasso musical que suporta as mudanças das síncopes rítmicas, dando
possibilidades mil de variações, dependendo apenas da
inventividade/criatividade humana.
Não se trata, obviamente, de hierarquizarmos as nossas
músicas – esta tem qualidade, aquela não tem – trata-se de reelaborarmos os
nossos discursos, dar novos sentidos às palavras, para que os nossos discursos
venham objetivar, inventar, re-inventar novas práticas, novas sensibilidades,
novas formas de fazer canções, poemas, textos, telas, vídeos, aulas, relações...
Para saber mais sobre o assunto.
BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 1988.
BURKE,
Peter. A Escola dos Annales. São
Paulo: UNESP, 1977.
CONTIER,
Arnaldo D. – Passarinhada do Brasil:
canto orfeônico, educação e getulismo. Bauru: EDUSC.
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no Brasil e o anti-semitismo no discurso das elites. Política &
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DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 1995-1997. Mil Platôs. Rio de
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brasileiro na década de 30. São Paulo: Difel, 1979.
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026X2003000200026&lng=en&nrm=iso>. access on 12
Jan. 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S0104
026X2003000200026
[i] “falando a respeito da poesia,
sempre, na Gaia Ciência, Nietzsche
afirma haver quem procure a origem, Usprung
da poesia, quando na verdade não há Usprung
da poesia, há somente uma invenção da poesia” FOUCAULT, Michel. A verdade e
as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim
Morais. Rio de Janeiro: Nau Ed, 1996. p, 15.
[ii] Há polêmica sobre a definição de
"P.A.". Em algumas interpretações significa "Aparição
Pessoal" do artista, e uma grande parte mantém a opinião de que significa
"Endereço Público" (Public Address), Os técnicos em larga escala
usam o termo pra designar caixas de som e periféricos destinados à audição
pública.
[iii] Termo deleuziano aqui agenciado
da seguinte forma: “Os sons de martelos ao montar o palco onde será realizado o
Show (ritornelo 1) se conectam com o ouvido de um passante na rua (território
sonoro das marteladas), que imediatamente se deixa capturar pela curiosidade de
saber o que está acontecendo. Ao aproximar, em seu devir curiosidade, seus
olhos conectam com as tecnologias que estão sendo usadas e novamente se deixa
capturar pelo desejo de conhecê-las, seu olhar continua se conectando com
vários elementos heterogêneos, cabos, plugs, designer,
etc. (ritornelo 2), por fim, o som é ligado, o engenheiro de som começa a fazer
os ajustes do som (expande o território), frequências, volume, luzes, fumaça e,
novamente é formado novo ritornelo de elementos heterogeneos que vão se
conectando, territorializando, etc. (ritornelo 3).
[iv] Ritual de paquera (flerte)
desempenhado pelos jovens, desde a Belle
epóque, em que moças e rapazes circundavam a praça em sentido contrário na
intenção de escolher um (a) pretendente.
[v] O termo não lugar foi cunhado por Weber (1964) que considerava o acesso a
um lugar mais importante que a proximidade com ele; O termo foi amplamente
usado por vários pesquisadores como, Marc Auge e Michel de Certeau, este último
cita como exemplo de não lugares as estradas, ferrovias, aeroportos, hotéis,
etc. GRAEML, Karin Sylvia. – A relação entre lugares e não lugares na cidade:
um estudo da apropriação do serviço de acesso a internet nos Faróis do Saber de
Curitiba. 2007. 185 f.
[vi] Por rostidade
multi-máscaras quero dizer: o rosto como superfície mutável. Penso este conceito como no sentido de Mil Platôs (Deleuze e Guatarri),
o rosto/corpo como superfície onde o sentido se articula, o corpo decodificado
e codificado por esse rosto: o rosto não é animal, mas tampouco é humano, (...)
há mesmo algo de absolutamente inumano no rosto. (p. 36). DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. 1995-1997. Mil Platôs vol. 3 / Gilles v.3 Deleuze,
Félix Guattari; tradução de Aurélio Guerra Neto et alii. — Rio de Janeiro : Ed.
34, 1996 (Coleção TRANS)
[vii]Paixão de Peão - Warner 30 anos:
Rick e Renner – Lançamento 2006
[viii] Palavra usada por Nietzsche para
criticar a pesquisa da origem nestes termos, pois “ursprung” visa encontrar o
que há de mais puro, verdadeira essência, sua verdadeira identidade
cuidadosamente recolhida em si mesma… Foucault, Michel. Microfísica
do poder / Michel Foucault; Organização e tradução de Roberto Machado. -
Rio de Janeiro: Edições Graal, 4ª. Ed. 1984. p. 17.
[ix] A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia
(Fundação Editora da UNESP, Tradução Nilo Odalia,
1997, 153 páginas)
[x] Goff, Jacques,
1924. História e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão... [et
al.] --Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990. (Coleção Repertórios). p. 008
[xi] Michelet e Burckhardt, que escreveram suas histórias sobre o
Renascimento mais ou menos na mesma época, 1865 e 1860 respectivamente, tinham
uma visão mais ampla do que os seguidores de Ranke. Burckhardt interpretava a
história como um corpo onde interagem três forças - Estado, Religião e Cultura
- enquanto Michelet defendia o que hoje poderíamos descrever como uma 'história
da perspectiva das classes subalternas. In. Uma Reflexão sobre a História.
Disponível em:
http://www.assis.pro.br/public_html//hcomp/ReflexaoSobreHistoria.html - Acesso
em: 02/04/2012
[xii] Veyne, Paul. (1982) Como se escreve a história. Foucault revoluciona
a história. Brasília,
Editora da UnB.
[xiii] RAGO, Margareth. O efeito-Foucault na historiografia brasileira.Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S.
Paulo, 7 (1-2): 67-82,outubro de
1995. Disponível em:
http://www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/site/images/stories/edicoes/v0712/efeito.pdf
acesso em 27/03/2012
[xiv] Foucault,
Michel. Microfísica do poder / Michel Foucault;
Organização e tradução de Roberto Machado. - Rio de Janeiro: Edições Graal, 4ª.
Ed. 1984. p.p. 27-28
[xv] BURKE, Peter. A Escola dos
Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia: Fundação Editora
da UNESP, 1977, 153 páginas. Tradução Nilo Odalia.
[xvi] Goff, Jacques, 1924. História e
memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão... [et al.] --Campinas, SP
Editora da UNICAMP, 1990. (Coleção Repertórios). p. 010.
[xvii] Neste caso, alguns enunciados
que constam nas modas de viola são: alguns de certa conotação racista que com o
tempo se transformam em preconceito; outros são machistas, eugênicos e até
sexistas; ao serem regravados e propagados como sendo expressão da nossa cultura,
muitos agentes culturais tais como promotores de eventos, locutores de rádio,
apresentadores de televisão, aliados a alguns intelectuais, alguns citados
neste texto, estarão colaborando com a reiteração destes discursos nos dias de
hoje e se constituindo em meu objeto/problema.
[xviii] Entrevista disponível em:
http://www.nadiatimm.com/nt01/index.php?option=com_content&view=article&id=243:cultura-caipira&catid=42:entrevistas&Itemid=61
– acesso em 01/05/2012.
[xix] Álvaro Castelan é formado em
letras pela universidade católica de Goiás, radialista, publicou vários livros
entre eles: De Repente, a Viola e "Mundo Caipira"; Viola Caipira,
Viola Quebrada; atualmente é coordenador do departamento de cultura e membro da
comissão goiana de folclore. – disponível em: http://www.colegiodinamico.com.br/PAGINAS/ALUNO/o_professor/arquivos/catelan/catelan_curiculum_vitae.pdf
- acesso em: 01/05/2012.
[xx] Diz-se da terceira nota de uma
escala musical, por exemplo: se a voz principal tem como tônica a nota “dó”, a
terça voz terá como referência a nota “mi”.
[xxi] LACERDA, Rubens Gomes. POR UMA
EPISTEMOLOGIA DE SENSIBILIDADE: O DESAFIO DE ENSINAR HISTÓRIA NO LIMIAR DO
SÉCULO XXI. In: DAN, E. M. C; outros.... (Org.). Contribuições Científicas do I
Semináro sobre Ambiente Urbano: Políticas Públicas e Desenvolvimento
Sustentável. Cáceres: Editora Unemat, 2010, v. , p. -. p. 41.
[xxii] Sobre esta questão não pretendo,
neste texto, discutir se em 1930 houve uma revolução ou um golpe, afinal há
vários historiadores que de consenso e de quase comum acordo convencionaram que
sobre 1930 a
hipótese de golpe é a mais acertada e aceita.
[xxiii] Contier, Arnaldo D. –
Passarinhada do Brasil: canto orfeônico, educação e getulismo/Arnaldo D.
Contier. - - Bauru, SP. EDUSC, 1998. 68p. ;21.6 cm - - (Coleção
Essência). pp. 45-46
[xxiv] Elementos do folklore musical
brasileiro. São Paulo. Ed. Nacional, 1936. p. 11-4.
[xxvi] VOJNIAK, Fernando.
Desconstruindo falas do falo. Rev.
Estud. Fem., Florianópolis, v. 11, n.
2, Dec. 2003. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104
026X2003000200026&lng=en&nrm=iso>. access on 12
Jan. 2012.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104 026X2003000200026
[xxvii] Nordestino:
uma invenção do falo - uma história do gênero masculino (Nordeste 1920/1940).
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Maceió: Edições Catavento, 2003. 256 p.
[xxviii] Termo ora usado para definir
músicas de apropriação popular no sentido de “apelo às massas” e não no sentido
ideológico que o enunciado MPB ganha a partir da década de 1970.
[xxix] http://www.dicionariompb.com.br/moda-de-viola/dados-artisticos
acesso 30/10/2011.
[xxx] Estas informações vinham
escritas nas capas dos discos, como exemplificado na imagem 01 em anexo.
[xxxi] Movimento chamado nos EUA de Fusion nusic e que começa no Brasil, com mais evidência, na década
de 1970, com Wilson Simonal, Jorge bem-Jor, Tim Maia, Jair
Rodrigues, Sandra de Sá, entre muitos outros; no final da década de 1980 surge
entre os grandes violeiros de renome nacional, Almir Sater que irá misturar
cateretês com folk, blues, Country,
influenciando uma geração de seguidores, como por exemplo, João Ormond entre
outros.
[xxxii] Sant.Anna, Romildo - A
moda é viola: ensaio do cantar caipira / Romildo Sant.Anna. . São Paulo: Arte
& Ciência; Marília, SP: Ed. UNIMAR, 2000. 398 p. ; 21 cm. p. 19-20.
[xxxiii] Deleuze, Gilles,
1925-1995 D39m Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia, vol. 1 / Gilles v.l
Deleuze, Félix Guattari; Tradução de Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa.
—Rio de janeiro: Ed. 34, 1995 94 p. (Coleção TRANS)
[xxxiv] Jenkins, Keith – A História
repensada / Keith Jenkins; tradução de Mário Vilela, 3. Ed. – São Paulo:
Contexto, 2005.
[xxxv] FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. edª16. Rio
de Janeiro: Graal. 2001.
[xxxvi] RAGO, Margareth. O efeito-Foucault na historiografia brasileira.Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S.
Paulo, 7(1-2): 67-82, outubro de
1995.
[xxxvii] Albuquerque Júnior, Durval Muniz
de. – A invenção do Nordeste e outras artes / Durval Muniz de Albuquerque
Júnior; prefácio de Margareth rago. – 2. Ed. – Recife: FJN, Ed. Massangana; São
Paulo : Cortez, 2001.
[xxxviii] BARTHES, Roland. Aula.
Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 1988.
[xxxix] LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução
Bernardo Leitão, et all. 2° Ed. Campinas: UNICAMP, 1992.
[xl] Cornélio Pires, nascido em Tietê, São Paulo, em 1884, foi escritor,
compositor, conferencista, jornalista, contador de causos, folclorista e poeta.
http://www.widesoft.com.br/users/pcastro4/cornelio.htm - Mais informações em:
http://www.widesoft.com.br/users/pcastro4/biogrcp.htm
[xli] A dupla Mandi e
Sorocabinha gravou de 1929 a 1940 e, sem contar as reedições, totalizou 55
discos com 110 músicas, todas de sua própria autoria, pois cantador de verdade
não cantava música dos outros. São quase todas modas-de-viola, com
acompanhamento, conforme a tradição, de apenas uma viola, tocada por um ou
outro. Disponível em
http://cifrantiga7.blogspot.com/2011/03/mandi-e-sorocabinha.html#ixzz1cfvSjrnw
[xlii] Zico Dias foi motorista e
Ferrinho trabalhador agrícola. Era uma dupla especializada em gêneros
tipicamente rurais. Participaram da primeira Turma Caipira formada no final dos
anos 1920, por Cornélio Pires. Disponível em:
http://saudadesertaneja.blogspot.com/2009/06/zico-dias-e-ferrinho.html
[xliii] Em 1941, Caçula, com apenas sete
anos, apresentou-se tocando sanfona na Rádio Rio Preto. Em 1956, Caçula e
Marinheiro se conheceram em visita à Rádio Bandeirantes e resolveram formar uma
dupla. Começaram a se apresentar na Rádio Nacional no programa "Alvorada
cabocla", apresentado por Nhô Zé. Em março de 1960, lançaram pela
Sertanejo o primeiro disco. De um lado, a guarânia "Não chores assim"
e do outro a canção rancheira "Destino de um boêmio", ambos de Caçula
e Marinheiro. Disponível em: http://www.dicionariompb.com.br/cacula-e-marinheiro/dados-artisticos
[xliv] "Laureano e Soares" chegaram a gravar 14 discos 78 RPM, sendo
que o primeiro deles, lançado em 1931, continha as músicas "Desafio"
(Laureano e Soares) e "Casamento" (Laureano e Soares). No mesmo ano,
gravaram na Ouvidor as toadas caipiras "A Crise" (Laureano) e "O
Diabo No Mundo" (Laureano), as quais falavam sobre a crise que o Brasil e
o mundo viviam naquela época. E, na mesma esteira, no ano seguinte, a dupla
lançou as modas de viola "Revolta de São Paulo" (Laureano) e
"Moda dos Tecelões" (Laureano), onde também foi retratada a situação
política e social brasileira da época. A dupla foi desfeita no final dos anos
30. Disponível em:
http://violaenluarada.blogspot.com/2007/04/grandes-compositores_12.html
[xlv] Lourival dos Santos ao final da década
de 1950, compôs, juntamente com Teddy Vieira, várias músicas que foram gravada
por Tião Carreiro e Pardinho. Este “cateretê” foi a primeira composição do novo
gênero denominado “Pagode”, que foi criado pelo Tião Carreiro a partir da
batida específica na Viola por ele estabelecida. Nesse mesmo rítmo, vieram a
seguir "Nove e Nove", "Em Tempo de Avanço", "A Viola e
o Violeiro", "Boiadeiro de Palavra" e várias outras composições
imortais. Disponível em: http://www.recantocaipira.com.br/lourival_dos_santos.html
- Acesso em 10/04/2012
[xlvi] Neste texto é analisado quatro
músicas, esta música é rotulada como “moda de viola”, porém como já foi
esclarecido no texto, o ritmo desta música é “cateretê” e não “moda de viola”.
[xlvii] Música relançada no ano de 2001
por Luiz Goiano e Girsel da viola - O Melhor da Moda De Viola (2001).
Disponível em:
http://saudade-da-minha-terra.blogspot.com.br/2008/07/luis-goiano-girsel-da-viola.html
- Acesso em 10/04/2012
[xlviii] Sobre esta questão, ver Gilberto
Freyre em sua publicação de 1937, “Nordeste”.
[xlix]Sant’Anna,
Romildo - A moda é viola: ensaio do cantar caipira /
RomildoSant’Anna. - São Paulo: Arte & Ciência; Marília, SP: Ed.UNIMAR, 2000.398 p. ; 21 cm. p. 175 – 178.
[li] Sobre esta questão ver, Gilberto
Freire “Ordem e Progresso”.
[lii] http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/70309
- acesso em: 13/12/2012
[liii]
http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1977/6515.htm - Acesso em:
13/12/2012
[liv]
http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf226a230.htm - Acesso em:
13/12/2012
[lv] Roberto DaMatta, ao analisar a
oposição entre o mundo doméstico e o público na sociedade brasileira, opõe a
casa a rua, e não a praça. A praça favorece a circulação, a praça
é espaço de sociabilidades. Disponível em:
http://www.renatojanine.pro.br/FiloPol/elosocial.html - acesso em 01/02/2012
[lvi] O autor não usaria o enunciado
inocentemente, pois até hoje ser filha (o) do patrão ou de alguém importante
perante a sociedade tem sua significância, até mesmo para ser usado como
tráfico de influência. A morena filha do patrão, provavelmente fora criada para
ser uma boa esposa, uma mulher que soubesse administrar e dotar de significados
o tempo e o espaço de um lar. Para melhor analisar esta questão, ver: (Ritos da
vida privada burguesa, Anne Martin-Fugier. p. 194).
[lvii] LESSER, Jeffrey. O Brasil e a questão judaica. Imigração,
diplomacia e preconceito. Rio de Janeiro: Imago, 1995. p. 65
[lviii] Sobre as
questões anti-semitas da AIB (Ação Integralista Brasileira) ver: TRINDADE, Hélio. Integralismo.
O fascismo brasileiro na década de 30. São Paulo: Difel, 1979.
[lix] CRUZ, Natália
dos Reis - A imigração judaica no Brasil e o anti-semitismo no discurso das
elites. Política & Sociedade, v. 8, p. 225-250, 2009.
[lx] Disponível em:
http://www.violatropeira.com.br/3%20gera%C3%A7ao.htm – Acesso em: 13/12/2012
[lxi] Disponível em:
http://www.ospaparazzi.com.br/celebridades/cesar-menotti-e-fabiano-revelam-detalhes-da-carreira-3801.html
- Acesso em: 13/12/2012
[lxii] Sobre esta
questão ver: Joan Scott - Fantasy Echo: História e a construção da Identidade -
http://vsites.unb.br/ih/his/gefem/labrys1_2/scott1.html - acesso em 05/07/2011
[lxiii] SANTOS, Cecília Macdowell.
IZUMINO, Wânia Pasinato. - Violência contra as mulheres e violência de gênero:
Notas sobre Estudos Feministas no Brasil. Disponível em: http://www.nevusp.org/downloads/down083.pdf
- Acesso: 11/04/2012.
[lxiv] NARVAZ, Martha; NARDI, Henrique
Caetano. Problematizações feministas à obra de Michel Foucault. Rev. Mal-Estar Subj.,
Fortaleza, v. 7, n. 1, mar. 2007 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482007000100005&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 11 abr. 2012.
[lxv] Albuquerque Júnior,
Durval Muniz de. Escrever como fogo que
consome: reflexões em torno do papel da escrita nos estudos de gênero –
Disponível em: http://ebookbrowse.com/escrever-como-fogo-que-consome-pdf-d50791439
- Acesso em 10/04/2012
[lxvii] Teddy Vieira Azevedo (Itapetininga/SP, 23 de dezembro de
1922 — Itapetininga/SP, 16 de dezembro de 1965) É considerado um dos
compositores mais famosos do Brasil, tendo deixado mais de 200 composições
gravadas. Sem dúvidas a sua principal obra foi o “Menino da porteira”, sendo um
sucesso sertanejo regravado inúmeras vezes. Disponível em: http://compositorhg.blogspot.com.br/2012/11/teddy-vieira-luisinho-homenagem.html
- Acesso em: 13/12/2012.
[lxviii] Sobre esta questão ver:
FERNANDES, Bernardo Mançano. - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO
CAMPESINATO BRASILEIRO: Formação e Territorialização do Movimento dos
Trabalhadores Rurais sem Terra - MST (1979 –1999). Disponível em:
http://www2.fct.unesp.br/nera/ltd/Tese_BMF.pdf - acesso em 21/04/2012.
[lxix] Efeito da modernização, talvez
tenha buscado estas ideias na Europa ou nos Estados Unidos da América, já que
nas décadas de 1930-1940, foi muito comum à elite mandar os seus filhos
estudarem nestes lugares, ideias não muito bem vistas pelos conservadores.
[lxx] TEIXEIRA,
Jodenir Calixto. - MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO BRASIL: IMPACTOS ECONÔMICOS,
SOCIAIS E AMBIENTAIS. – Disponível em:
http://www.cptl.ufms.br/revista-geo/jodenir.pdf - acesso em: 07/05/2012
[lxxi] BENTO, Maria Aparecida Silva - BRANQUEAMENTO E BRANQUITUDE NO BRASIL – Disponível
em: http://www.ceert.org.br/premio4/textos/branqueamento_e_branquitude_no_brasil.pdf
- Acesso em 24/04/2012
[lxxii] A política da Beleza:
Nacionalismo, corpo e sexualidade no projeto de padronização brasílica –
Diálogos latinoamericanos, número 001 – Universidade de Aarhus – Aarhus,
Latinoamericanistas, pp. 88 – 109 /
http://redalyc.uaemex.mx/pdf/162/16200108.pdf – acesso em 05/07/2011
[lxxiii] Segundo Maria Bernardete Ramos
Flores, Renato Kehl foi o fundador e diretor do Boletim de Eugenia em 1929. Um
dos organizadores dos congressos de Eugenia no Brasil. Entre os livros de sua
autoria, citamos alguns, os quais tem relação direta com a questão da eugenia,
escritos entre os anos de 1920 e 1940: Pais,
Médicos e Mestres; Como Escolher um bom Marido; Como Escolher uma boa Esposa;
Catecismo para Adultos; Porque sou Eugenista; Aparas Eugênicas; Sexo e
Civilização; A Cura da Fealdade; Melhoremos e Prolonguemos a Vida. – Idem.
[lxxiv] Afrânio Peixoto, escritor,
médico, educador, historiador, romancista, escreveu 141 obras: tratados de
medicina legal e de higiene, poesias, novelas e romances sertanejos e urbanos,
livros de e sobre educação, biografias, estudos literários, monografias sobre
folclore, pensamentos e reflexões, História, teatro, perfis, impressões de
viagens, terras e países. Na área da medicina legal, escreveu várias obras. Em
1910, Elementos da medicina legal; Em
1916, Psicopatologia Forense; em
1927, Medicina legal dos acidentes de trabalho
e das doenças profissionais; em 1932, Novos
rumos da medicina legal; em 1934, Criminologia
e Sexologia Forense. – Idem.
[lxxv] Hernani de Irajá, artista plástico e médico sexólogo - Principal obra: Morfologia da Mulher. Nesta obra o autor
afirma que como os seus livros anteriores “[…] este será de grande utilidade
não só aos estudiosos, aos médicos, ginecologistas, antropologistas, como
também aos escultores e pintores que se interessam pelos problemas da raça e
assuntos brasileiros”. –
Idem.
[lxxvi] Para Oliveira Viana, “[…] em
regra, o que chamamos mulato é o mulato inferior, incapaz de ascensão,
degradado nas camadas mais baixas da nossa sociedade…”. – Idem.
[lxxvii]
http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/v/policia-do-df-indicia-psicanalista-por-racismo/1930016/
[lxxviii] FREYRE, Gilberto. - Sobrados
e Mocambos: Decadência do Patriarcado Rural e Desenvolvimento Urbano. Rio
de Janeiro; José Olympio, 1951.
[lxxix] LUCENA, Francisco Carlos de. A
mistura das "raças": o caso brasileiro. Revista Ágora, v. 3, p.
46-61, 2009. – Disponível em:
http://www.iseseduca.com.br/pdf/revista3/arquivo36.pdf - Acesso em: 02/05/2012
[lxxx] Sobre a construção/invenção do
medo do negro, ver: Albuquerque Júnior, Durval Muniz de - A invenção do
Nordeste e outras artes / Durval Muniz de Albuquerque Júnior; prefácio de
Margareth Rago. – 2. Ed – Recife: FJN, Ed. Massangana; São Paulo : Cortez,
2001. p. 61
[lxxxi] Disponível em:
http://www.recantocaipira.com.br/dino_franco.html Acesso em: 13/02/2012 às 17hs
e 56 min.
[lxxxiii] História da vida privada no
Brasil: contrastes da intimidade contemporânea / coordenador-geral da coleção
Fernando A. Novais; organizadora do volume Lilia Moritz Schwarcz – São Paulo:
Companhia das Letras, 1998. – (História da Vida Privada no Brasil; 4). p. 619.
[lxxxiv] CANDIDO, Antonio. Os parceiros
de Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus modos
de vida. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1987.
[lxxxv] Hoje há várias outras
interpretações, para Jorge Coli: “Sem nenhuma concessão a um pitoresco feito de
detalhes supérfluos, o picador de fumo, na sua postura concentrada, expondo de
modo crucial sua faca, interpondo-a de fato entre si mesmo e o expectador,
protege-se, protege a sua autonomia individualizada, protege pela violência
possível, o lugar frágil que ocupa no mundo”. (Coli, 2002, p. 31) - OLIVEIRA,
Lucia Lippi. Do Caipira Picando Fumo a Chitãozinho e Xororó, ou da roça ao
rodeio. Rev. USP, São
Paulo, n. 59, nov. 2003 . Disponível em
<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-99892003000400022&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 07 maio 2012.
[lxxxvi] BUENO, Eva Paulino. (In)
Tolerância Linguística e Cultural no Brasil. Revista Espaço Acadêmico – N° 31 –
Dezembro 2003. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/031/31bueno.htm
- Acesso em: 19/06/2012.
[lxxxvii] Albuquerque Júnior, Durval Muniz
de - A invenção do Nordeste e outras artes / Durval Muniz de Albuquerque
Júnior; prefácio de Margareth Rago. – 2. Ed – Recife: FJN, Ed. Massangana; São
Paulo : Cortez, 2001. p.77
[lxxxviii] Chitãozinho e Xororó - 1996 – Clássicos
Sertanejos (Polygram) – Gravaram entre várias canções caipiras
a moda de viola “Caboclo na cidade”.
[lxxxix] A política da Beleza:
Nacionalismo, corpo e sexualidade no projeto de padronização brasílica–
Diálogos latinoamericanos, número 001 – Universidade de Aarhus – Aarhus,
Latinoamericanistas, pp. 88 – 109 /
http://redalyc.uaemex.mx/pdf/162/16200108.pdf – acesso em 05/07/2011 – 22hs e
28 min.
[xc]http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5689233EI306,00BA+aprovada+lei+que+veta+shows+publicos+com+musicas+machistas.html
- Acesso em: 29/03/2012
[xci]http://www.redetv.com.br/Video.aspx?124%2C28%2C245960%2Centretenimento%2Cmanhamaior%2Cmusica-gera-polemica-ao-incitar-a-homofobia-1
[xcii] SANT’ANNA, Denise Bernuzzi. “Transformações
do corpo: controle de si e uso dos prazeres”. In: RAGO, M.; ORLANDI, L. B. L.;
VEIGA-NETO, A. (orgs.). Imagens de Foucault e Deleuze: ressonâncias
nietzschianas. Rio de Janeiro: DP&A, 2005, p. 99-110.
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