Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 7, Volume jul., Série 15/07, 2016.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.
O rei Luis XIV,
mais conhecido como o rei Sol simboliza a personificação do monarca
absolutista. Incorporou a ideia de soberano, iluminado, sagrado, divino entre
outros adjetivos inerentes ao Antigo Regime.
Porém, não foi o
único, seus antecessores e seus contemporâneos também compartilhavam ideias
semelhantes como forma de se manterem distantes daqueles que os cercava e dos
quais temiam se aproximar: as camadas populares.
É neste contexto
que a etiquete emergiu como diferencial que os homens da nobreza, do século
XVII, utilizavam simbolizando seu direito a pertencerem a uma categoria repleta
de regalias, demonstrando sua superioridade frente ao povo.
A nobreza do
Antigo Regime vivia em um mundo a parte, teoricamente mais civilizado, cheio de
regras de etiqueta que se tornam fundamentais para distanciar os grupos sociais
entre aqueles que nasceram para viver no luxo e cheio de pompa, e aqueles que
nasceram para serem grosseiros, rudes e sem modos civilizados.
Os civilizados,
portanto, eram aqueles que sabiam sentar à mesa, comer, andar, vestir, falar,
gesticular e também se divertir.
Como ressalta
Renato Janine Ribeiro, é interessante lembrar a origem de algumas palavras que
simbolizam o peso da etiqueta e dos bons modos ou boas maneiras, tal como o
rústico (a palavra vem do latim “rus”, campo), cortesia (a palavra vem de
“corte”), urbanidade (vem de “urbs”, grande cidade) ou civilidade (vem de
“cives”, cidadão ou morador da cidade).
A etiqueta teve,
então, em sociedades altamente hierarquizadas, dois sentidos.
O primeiro era o
do respeito ao outro. Mas este sentido indica uma certa igualdade entre aqueles
pertencentes a uma mesma categoria social. E o segundo aponta para a desigualdade
entre estamentos diferentes, conferindo status igualmente diferenciado. Por
isso, a etiqueta não é uma coisa simples. Não é só igualdade, não é só
desigualdade.
Portanto, a
primeira ideia é de respeito ao outro enquanto igual ou igualmente civilizado.
Os bons modos mostram respeito e estima pelo dito igual: meter a mão na
travessa de comida é, por exemplo, um desrespeito por si mesmo e seus iguais.
Então, a saída é tomar certos cuidados que provam consideração e respeito.
A segunda ideia
é a da hierarquia entre as pessoas. Os bons modos podem ser também um meio de
reforçar a desigualdade social. Tratar de maneira diferente o superior e o
inferior.
Segundo consta,
a rainha Maria Antonieta, da França, era excelente nisso, conseguia,
encontrando um grupo de pessoas, saudar cada uma de um jeito diferente.
Tocava com o
dedo o chapéu para cumprimentar a menos importante, virava-se para a segunda e
retirava levemente o chapéu da cabeça, diante da terceira tirava-o um pouco
mais e inclinava o corpo discretamente para frente para mostrar maior respeito
pela quarta pessoa.
Assim, a
etiqueta no Antigo Regime simbolizava as aparências, era proibido, por exemplo,
o plebeu usar certas roupas, que fariam os outros pensarem que ele fosse nobre,
porque havia a questão da demonstração do poder envolvida.
Trata-se de uma
teatralização de comportamentos, demonstrando e justificando o poder.
É curioso notar
que ainda hoje, nos preocupamos com a etiqueta quando estamos em determinados
meios sociais, pois tememos "gafes" diante de amigos, conhecidos para
não parecermos "mal-educados".
A má educação
ainda é sinônimo de não comer direito com os talhares, sentar de pernas abertas
para homens e mulheres, cuspir no chão entre outros tipos de comportamentos.
Seriam reminiscências nas mentalidades?
Para saber mais sobre o assunto.
BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem
pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
RIBEIRO, Renato
J. A Etiqueta no Antigo Regime. São
Paulo: Brasiliense, 1983.
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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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