Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume
jul., Série 06/07, 2016.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
Embora o
conceito seja amplo e comporte múltiplas definições, segundo José Luiz Santos (1997),
a cultura é definida com o conjunto de padrões de ser, estar e pensar de um
determinado grupo social.
Através do
estudo da Cultura, percebem-se as ligações entre as manifestações culturais e o
modo do povo viver, com seu cotidiano e sua realidade sócio-econômicas.
Existe, porém,
várias classificações para o termo cultura, entre as quais a chamada cultura
popular, erudita e de massa.
Cada uma
comportando especificidades e vinculações.
A cultura
popular está ligada a tradições, costumes, ações do cotidiano e valores, é uma
cultura de origem histórica, portanto natural.
Por esta razão,
nem sempre está em concordância com a ideologia dominante ou com a cultura
erudita. Estas últimas tentam de impor uma nova ordem que, em muitos casos,
serve ao interesse dos grupos dominantes, pregando, defendendo e impondo uma
cultura globalizada e alienadora.
A cultura
erudita está ligada à Elite, ou seja, subordinada ao capital pelo fato deste
fator viabilizar sua perpetuação e adoção como padrão culto.
Este tipo de
cultura exige estudo, pesquisa para obtenção do conhecimento, portanto, não é
viável à maioria da população, mas sim as classes sociais mais abastadas que,
por sua vez, possuem condições gerais para investir nesses aspectos.
A cultura de
massa não é necessariamente a cultura do povo, ou uma cultura “gratuita”
oferecida ao povo, mas acaba constituindo uma cultura alienadora, pois é construída
pelos meios de comunicação de massa que transforma a cultura popular ou erudita
em massificada, em geral, com fins mercadológicos capitalistas.
A despeito da
cultura de massa ser utilizada também como mecanismo de controle social e
manipulação ideológica pelas camadas sociais que controlam a mídia.
Dentro deste
contexto, retrocedendo um pouco, estudos efetuados no século XIX, pretenderam
catalogar as culturas humanas em escalas hierárquicas.
Segundo estes
estudos haveria escalas sucessivas de evolução social pelas quais as populações
passariam, primeiramente, se diferenciando de outras espécies animais até
alcançar o índice de evolução conhecido na Europa Ocidental da época.
Sendo assim as
sociedades todas fariam parte desta escala de evolução em linha única.
Com base nesta
proposta as diversas sociedades do século XIX estariam inseridas em diferentes
estágios da evolução humana quando as civilizações indígenas seriam
classificadas como “selvagens”, as tribos africanas como “bárbaras” e as
populações europeias como “civilizadas”.
Obviamente que
nesta concepção de evolução hierarquizada há todo um critério europeu de visão
da humanidade.
Isto serviria
inclusive como forma de consolidação do domínio de países capitalistas sobre os
demais povos.
Esta concepção
linear de evolução foi combatida com base no princípio que cada cultura tem
suas características próprias e múltiplos critérios a serem considerados.
Acima de tudo,
estas classificações, tinham como função principal considerar os povos não europeus
como inferiores e passíveis de domínio e exploração.
Estudos mais
contemporâneos reclassificaram a cultura, justamente em erudita, de massa e
popular, também hierarquizando os saberes para tentar impor a erudição como
padrão desejável, embora não alcançável.
Enquanto a
massificação da cultura pretendeu destruir as superstições, então colocadas
como elementos da cultura popular.
Entretanto, a
industrialização da década de 1930 e 1950 não foi capaz de acabar com o
folclore, representante da cultura popular, enquanto constituído por
manifestações, costumes, crenças e práticas nascidos espontaneamente, tido como
superstições.
Especificamente
na década de 1960, no Brasil, a cultura popular se mostra presente nos
movimentos sociais como o MCP (Movimento de Cultura Popular) e os CPCs (Centros
Populares de Cultura), trazendo para esta uma visão politizada que só considera
popular o que é revolucionário.
Pode-se dizer
que cultura popular é a cultura formada pelo o povo, a cultura nascida no meio
popular.
É algo dinâmico
que não se confundem com práticas imutáveis e isoladas.
A cultura
popular se modifica com o contexto histórico e a situação sócio-econômica da
sociedade em que está inserida, trazendo, em si, características do passado.
A cultura tem
forte ligação com os contextos sociológicos que formam a sociedade, e nela os
fatores econômicos, sociais e políticos estão em constante interação.
A cultura
popular é produzida como resposta dos subalternos ao sistema capitalista que os
excluem.
Segundo Marcos
Ayola (1987), a cultura popular é entendida como produção historicamente
determinada, elaborada e consumida pelos os grupos subalternos de uma sociedade
capitalista, que se caracteriza pela a exploração econômica e pela distribuição
desigual do trabalho, da riqueza e do poder.
Estando presente
com mais força no meio rural, cidades do interior e nos subúrbios das grandes
metrópoles, mudando apenas as manifestações e as sua intensidade.
Neste sentido, a
cultura popular não constitui um sistema, no mesmo sentindo em que se pode falar
de sua existência na cultura erudita - um conjunto de produções artísticas,
filosóficas, científicas etc., elaboradas em diferentes momentos históricos e
que têm como referência o que foi realizado anteriormente, pelo menos desde os
gregos, naquele campo determinado e nos demais.
As próprias
condições de existência dos grupos subalternos das sociedades de classes
implicam não só a desigualdade de acesso aos produtos da cultura dominante, mas
também a falta de meios materiais de registro duradouro de sua produção
cultural (desde a escrita aos modernos instrumentos de registro sonoro e
visual).
A documentação
da cultura popular, por conseguinte, depende da memória, que tem seus limites,
ou do registro realizado por estudiosos, fragmentário e dirigido por critérios
diferentes dos que são próprios aos grupos subalternos.
Assim,
comparadas com a cultura erudita, as manifestações culturais populares são, de
certa forma, dispersas, elaboradas com um maior desconhecimento de sua própria
produção anterior e de outras manifestações, produzidas por integrantes dos
mesmos grupos subalternos, às vezes em locais bastante próximos e com
características estéticas e ideológicas semelhantes.
Pensada deste
modo, a cultura popular pode ser encarada como revolucionária, pois sendo
massificada, termina modificando o próprio padrão imposto pela cultura erudita,
subvertendo a ordem e intenções estabelecidas pelas elites dominantes.
Para saber mais sobre o assunto.
AYALA, Marcos. Cultura Popular no Brasil. São Paulo:
Ática, 1987.
ARANTES, Antonio
Augusto. O que é cultura popular. São
Paulo: Brasiliense, 1981.
BRANDÃO, Carlos
Rodrigues. O que é folclore. São
Paulo: Brasiliense, 1982.
CANCLINI, Néstor
Garcia. As culturas populares no capitalismo.
São Paulo: Brasiliense, 1983.
LARAIA, Roque de
Barros. Cultura um conceito
antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
ORTIZ, Renato. A consciência fragmentada; ensaios da cultura
popular e religião. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
SANTOS, Jair
Ferreira. O que é Pós-Moderno. São
Paulo: Brasilense, 1986.
SANTOS, José
Luiz dos. O que é Cultura. São Paulo:
Brasiliense, 1987.
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Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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