Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
Não possui fins lucrativos, seu objetivo é disseminar o conhecimento com qualidade acadêmica e rigor científico, mas linguagem acessível.


Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

O poder revolucionário da cultura popular.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume jul., Série 06/07, 2016.




Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.

Embora o conceito seja amplo e comporte múltiplas definições, segundo José Luiz Santos (1997), a cultura é definida com o conjunto de padrões de ser, estar e pensar de um determinado grupo social.
Através do estudo da Cultura, percebem-se as ligações entre as manifestações culturais e o modo do povo viver, com seu cotidiano e sua realidade sócio-econômicas.
Existe, porém, várias classificações para o termo cultura, entre as quais a chamada cultura popular, erudita e de massa.
Cada uma comportando especificidades e vinculações.
A cultura popular está ligada a tradições, costumes, ações do cotidiano e valores, é uma cultura de origem histórica, portanto natural.
Por esta razão, nem sempre está em concordância com a ideologia dominante ou com a cultura erudita. Estas últimas tentam de impor uma nova ordem que, em muitos casos, serve ao interesse dos grupos dominantes, pregando, defendendo e impondo uma cultura globalizada e alienadora.
A cultura erudita está ligada à Elite, ou seja, subordinada ao capital pelo fato deste fator viabilizar sua perpetuação e adoção como padrão culto.
Este tipo de cultura exige estudo, pesquisa para obtenção do conhecimento, portanto, não é viável à maioria da população, mas sim as classes sociais mais abastadas que, por sua vez, possuem condições gerais para investir nesses aspectos.
A cultura de massa não é necessariamente a cultura do povo, ou uma cultura “gratuita” oferecida ao povo, mas acaba constituindo uma cultura alienadora, pois é construída pelos meios de comunicação de massa que transforma a cultura popular ou erudita em massificada, em geral, com fins mercadológicos capitalistas.
A despeito da cultura de massa ser utilizada também como mecanismo de controle social e manipulação ideológica pelas camadas sociais que controlam a mídia.
Dentro deste contexto, retrocedendo um pouco, estudos efetuados no século XIX, pretenderam catalogar as culturas humanas em escalas hierárquicas.
Segundo estes estudos haveria escalas sucessivas de evolução social pelas quais as populações passariam, primeiramente, se diferenciando de outras espécies animais até alcançar o índice de evolução conhecido na Europa Ocidental da época.
Sendo assim as sociedades todas fariam parte desta escala de evolução em linha única.
Com base nesta proposta as diversas sociedades do século XIX estariam inseridas em diferentes estágios da evolução humana quando as civilizações indígenas seriam classificadas como “selvagens”, as tribos africanas como “bárbaras” e as populações europeias como “civilizadas”.
Obviamente que nesta concepção de evolução hierarquizada há todo um critério europeu de visão da humanidade.
Isto serviria inclusive como forma de consolidação do domínio de países capitalistas sobre os demais povos.
Esta concepção linear de evolução foi combatida com base no princípio que cada cultura tem suas características próprias e múltiplos critérios a serem considerados.
Acima de tudo, estas classificações, tinham como função principal considerar os povos não europeus como inferiores e passíveis de domínio e exploração.
Estudos mais contemporâneos reclassificaram a cultura, justamente em erudita, de massa e popular, também hierarquizando os saberes para tentar impor a erudição como padrão desejável, embora não alcançável.
Enquanto a massificação da cultura pretendeu destruir as superstições, então colocadas como elementos da cultura popular.
Entretanto, a industrialização da década de 1930 e 1950 não foi capaz de acabar com o folclore, representante da cultura popular, enquanto constituído por manifestações, costumes, crenças e práticas nascidos espontaneamente, tido como superstições.
Especificamente na década de 1960, no Brasil, a cultura popular se mostra presente nos movimentos sociais como o MCP (Movimento de Cultura Popular) e os CPCs (Centros Populares de Cultura), trazendo para esta uma visão politizada que só considera popular o que é revolucionário.
Pode-se dizer que cultura popular é a cultura formada pelo o povo, a cultura nascida no meio popular.
É algo dinâmico que não se confundem com práticas imutáveis e isoladas.
A cultura popular se modifica com o contexto histórico e a situação sócio-econômica da sociedade em que está inserida, trazendo, em si, características do passado.
A cultura tem forte ligação com os contextos sociológicos que formam a sociedade, e nela os fatores econômicos, sociais e políticos estão em constante interação.
A cultura popular é produzida como resposta dos subalternos ao sistema capitalista que os excluem.
Segundo Marcos Ayola (1987), a cultura popular é entendida como produção historicamente determinada, elaborada e consumida pelos os grupos subalternos de uma sociedade capitalista, que se caracteriza pela a exploração econômica e pela distribuição desigual do trabalho, da riqueza e do poder.
Estando presente com mais força no meio rural, cidades do interior e nos subúrbios das grandes metrópoles, mudando apenas as manifestações e as sua intensidade.
Neste sentido, a cultura popular não constitui um sistema, no mesmo sentindo em que se pode falar de sua existência na cultura erudita - um conjunto de produções artísticas, filosóficas, científicas etc., elaboradas em diferentes momentos históricos e que têm como referência o que foi realizado anteriormente, pelo menos desde os gregos, naquele campo determinado e nos demais.
As próprias condições de existência dos grupos subalternos das sociedades de classes implicam não só a desigualdade de acesso aos produtos da cultura dominante, mas também a falta de meios materiais de registro duradouro de sua produção cultural (desde a escrita aos modernos instrumentos de registro sonoro e visual).
A documentação da cultura popular, por conseguinte, depende da memória, que tem seus limites, ou do registro realizado por estudiosos, fragmentário e dirigido por critérios diferentes dos que são próprios aos grupos subalternos.
Assim, comparadas com a cultura erudita, as manifestações culturais populares são, de certa forma, dispersas, elaboradas com um maior desconhecimento de sua própria produção anterior e de outras manifestações, produzidas por integrantes dos mesmos grupos subalternos, às vezes em locais bastante próximos e com características estéticas e ideológicas semelhantes.
Pensada deste modo, a cultura popular pode ser encarada como revolucionária, pois sendo massificada, termina modificando o próprio padrão imposto pela cultura erudita, subvertendo a ordem e intenções estabelecidas pelas elites dominantes.

Para saber mais sobre o assunto.
AYALA, Marcos. Cultura Popular no Brasil. São Paulo: Ática, 1987.
ARANTES, Antonio Augusto. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 1981.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore. São Paulo: Brasiliense, 1982.
CANCLINI, Néstor Garcia. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
ORTIZ, Renato. A consciência fragmentada; ensaios da cultura popular e religião. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
SANTOS, Jair Ferreira. O que é Pós-Moderno. São Paulo: Brasilense, 1986.
SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esteja a vontade para debater ideias e sugerir novos temas.
Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.