Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 7, Volume jul., Série 27/07, 2016.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.
A tecnologia e a
educação sempre caminharam juntas, mas, com os avanços técnicos, passou a
existir uma falsa imagem que não corresponde a real demanda.
O tecnicismo da
década de 1970, no Brasil, criou uma tendência que passou a tentar substituir
professores por vídeos e computadores.
No entanto, a
efervescência dos cursos de ensino à distância (EAD), a partir do inicio do
século XXI, tem demonstrado que docentes não são dispensáveis.
Pelo contrário,
com a popularização de internet e da banda larga, quanto mais cresce o EAD,
maior se torna a necessidade de profissionais capacitados para lidar com as
novas tecnologias que, dia-a-dia, evoluem com extrema rapidez.
O EAD exige do
aluno maior esforço e dedicação que os cursos presenciais, porém, carece de
suporte de educadores para que a tecnologia possa ser usada em beneficio da
construção do conhecimento.
Os cursos EAD
têm facilitado o acesso ao ensino superior, estendendo-se pelo Brasil e
possibilitando alcançar regiões onde antes seria impossível cursar uma universidade.
É por isto que,
segundo especialistas, a tendência EAD deve dominar o panorama do mercado
educacional, praticamente extinguindo o ensino presencial. Entre 2005 e 2008 os
cursos EAD tiveram um crescimento de 600% no numero de alunos, enquanto os cursos
presenciais encolheram por conta de uma concorrência predatória entre
universidades privadas.
Seguindo a
tendência, escolas tradicionais, como USP e UNESP, começaram a investir em
cursos EAD, adotada por universidades de ponta, como o Massachusetts Institute
of Technology (MIT), Berkeley e Yale.
A ideia do EAD é
democratizar o acesso ao saber, mas se inserir neste meio exige do educando
autodisciplina e domínio dos instrumentos necessários ao bom andamento do
curso.
Pensada na
educação, a tecnologia é o que torna possível a transmissão e aperfeiçoamento
do conhecimento. Configura o processo educacional em sentido amplo, inclusive
no âmbito que extrapola a educação formalizada nas escolas.
Portanto, a
relação entre educação e tecnologia não poderia ser mais estreita.
As tecnologias
são a síntese produzida pelas relações sociais, sistematizadas em um momento
histórico, de acordo com as necessidades humanas para subjugar a natureza.
A humanização só
aconteceu a partir do processo educacional, a apropriação de saberes através de
diferentes linguagens, formas simbólicas de mediação materializadas nas
interações socioculturais.
Neste sentido, a
tecnologia pode ser entendida como uma das linguagens que o homem utiliza na
construção social para transformar as relações socioeconômicas e culturais,
além do próprio acumulo e transmissão do conhecimento, denotando as
características típicas de uma civilização.
Segundo Marx, “a
tecnologia revela o modo de proceder do homem com a natureza, o processo
imediato de produção da sua vida material e assim elucida as condições de sua
vida social e as concepções mentais que dela decorrem”.
Contemporaneamente,
a globalização criou um determinismo tecnológico que subordinou às produções
histórico-sociais a informação rápida e condensada, cunhando a concepção de
sociedade da informação.
Os discursos que
acompanham a sociedade da informação elegeram como lei o princípio da tabula
rasa.
Não há nada mais
que seja absoluto, tudo muda rapidamente, por isto não existem respostas únicas.
Ao mesmo tempo,
a informação foi coisificada, tornando-se um produto.
Na educação, a
transmissão do conhecimento também se tornou uma mercadoria, o aluno se
converteu em cliente e o professor em prestador de serviço.
O professor foi
transformado em um facilitador, animador, tutor, monitor, etc.
A primeira
vista, o professor tornou-se um item dispensável, facilmente substituído pelos
recursos tecnológicos.
No entanto, a
tecnologia carece de pessoas para gerenciar as informações, de forma que o
professor passou a ser parte indispensável do uso da tecnologia em favor da
educação.
Em outras
palavras, simultaneamente, a tecnologia serve a reprodução do sistema
capitalista, podendo assumir um papel integrador interdisciplinar, ajudando a
contornar o fordismo educacional, reelaborando o contexto cultural para
transformar o mundo.
É óbvio que
tanto professor como aluno necessitam conhecer as linguagens tecnológicas e
tomarem consciência do contexto em que estão envolvidas, estabelecendo criticas
e até mesmo questionando esta realidade.
É necessário
desconstruir ilusões forjadas por interesses políticos e econômicos.
Devemos ter em
mente que a tecnologia pode mediar a aprendizagem, mas o processo educacional
necessita da interação entre as pessoas.
Em resumo, a
tecnologia na educação, seja ela de qualquer natureza, deve estar a serviço do
professor e do educando, sendo o docente um mediador.
Caso contrário,
corremos o risco de desvincular esta importante ferramenta de seu propósito
primeiro: servir ao progresso da humanidade.
Para saber mais sobre o assunto.
BARRETO, R. G. “As tecnologias na formação de professores”
In: Educação e pesquisa, nº. 30. Jul/dez de 2003, p.271-286.
FREIRE, F. M. P.
et. alli. “Implantação da informática no
espaço escolar: questões emergentes ao longo do processo” In: Revista
Brasileira de Informática na Educação. São Paulo: jul de 2004.
MANASSÉS, B.et.
alli. Tecnologia da educação. Rio de
Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1980.
MORAN, J. M. “Os
novos espaços de atuação do professor com as tecnologias” In: RUMANOWSKI et.
alli. (org.). Conhecimento local e
conhecimento universal. Curitiba: Champagnant, 2004, p.245-254.
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