Para
entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 3, Vol.
abr., Série 24/04, 2012, p.01-09.
O artigo faz parte da
Monografia de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia
Institucional pelo INEC/Universidade Cruzeiro do Sul, orientada pelo Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
A existência de alunos com necessidades educacionais
especiais é uma realidade bem concreta e quem tem que enfrentar essa realidade
é quase que exclusivamente o corpo docente.
Com ou sem recursos, os alunos estão lá, e, é preciso
atendê-los, ajudá-los, avaliá-los assim como aos outros alunos cumprindo os
objetivos pedagógicos de seus planos de trabalho.
Assim, o objetivo geral desta pesquisa foi descrever a
problemática pedagógica enfrentada pelos professores de uma escola municipal na
zona leste de São Paulo que lidam diretamente com os alunos portadores de algum
tipo de necessidade educacional especial, e, os objetivos específicos foram
verificar como os professores conceituam as NEE, identificar e descrever as
dificuldades pedagógicas enfrentadas por estes professores.
Introdução.
A temática da inclusão dos alunos com necessidades
educacionais especiais sempre esteve presente como um assunto urgente e ao
mesmo tempo polêmico. É certo que essa urgência e polêmica tenham sido
responsáveis, em grande medida, pela apresentação de tantos trabalhos a esse
respeito.
Sabe-se que ao assegurar a todos o direito à educação, a
Constituição Federal de 1988 garantiu aos portadores de necessidades especiais
o atendimento educacional.
Os instrumentos legais que a sucederam estabeleceram que a
rede regular de ensino fosse quem tem que oferecer preferencialmente a educação
especial e que deve haver ali serviço de apoio especializado, quando for
necessário.
Essas conquistas da sociedade em lei, todavia, ainda não se
concretizaram na prática:
É interessante considerar que os serviços especializados e o
atendimento das necessidades específicas dos alunos garantidos pela lei estão
muito longe de serem alcançados. Identificamos, no interior da escola, a
carência de recursos pedagógicos e a fragilidade da formação dos professores
para lidar com essa clientela (MIRANDA, 2003).
Se essas condições fundamentais não são uma realidade, a
existência desses alunos sim é uma realidade bem concreta e quem tem que
enfrentar essa realidade é quase que exclusivamente o corpo docente.
Com ou sem recursos, os alunos estão lá, é preciso
atendê-los, ajudá-los, avaliá-los assim como aos outros alunos cumprindo os
objetivos pedagógicos de seus planos de trabalho.
Este trabalho, portanto, é uma tentativa de direcionar o foco
da atenção acadêmica a esse aspecto peculiar da inclusão.
Essa problematização gerou algumas hipóteses, porém,
sustentaram este estudo as seguintes hipóteses:
A. Os professores
da escola, de uma maneira geral, desconhecem as necessidades educacionais
especiais;
B. Os professores,
de uma maneira geral, ouviram falar das necessidades educacionais especiais,
mas não sabem lidar com os alunos portadores, por isso, simplesmente, ignoram
as dificuldades de tais alunos;
C. Os professores,
de uma maneira geral, conhecem as necessidades educacionais especiais, mas a
escola não oferece instrumentos suficientes para que seja realizado um trabalho
eficaz com os alunos portadores;
D. Os professores,
de uma maneira geral, transferem suas responsabilidades em relação ao não aprender
dos alunos para outros profissionais, como os psicólogos, fonoaudiólogos,
enfermeiros, psicopedagogo para que eles possam encontrar no campo médico as
causas e soluções para o fracasso escolar;
E. De uma maneira
geral, os professores ignoram os alunos portadores de necessidades educacionais
especiais, não se preocupam em desenvolver atividades diferenciadas e utilizam
o discurso da inclusão e da socialização, isto é, defende apenas o socializar e
a inclusão deste aluno, logo, não se preocupa com seu desenvolvimento
cognitivo;
F. De uma maneira
geral, os professores não aceitam a inclusão de pessoas com NEE.
Assim, o objetivo geral desta pesquisa foi descrever a
problemática pedagógica enfrentada pelos professores de uma escola municipal na
zona leste de São Paulo que lidam diretamente com os alunos portadores de algum
tipo de necessidade educacional especial, e, os objetivos específicos foram
verificar como os professores conceituam as NEE, identificar e descrever as
dificuldades pedagógicas enfrentadas por estes professores.
Terceira revolução educacional: novo paradigma, novos
dilemas.
Quando lida ou pronunciada a palavra revolução nos conduz,
quase que imediatamente, a ideia de mudança de paradigmas os quais subverterão
radicalmente a forma de se interpretar ou agir diante dos fatos que constituem
a realidade.
De acordo com a perspectiva de Esteve, apresentada no livro
“A Terceira Revolução Educacional”, a escola em princípio, destinava-se a
educação dos filhos da aristocracia, os quais deveriam conhecer por meio de
seus preceptores os modos e saberes pertinentes a sua classe.
Estes, ao mesmo tempo em que afirmavam sua identidade com a
elite, evidenciavam a diferença entre os nobres e os demais.
A educação, nesse momento, tinha status de privilégio e não
de direito como a entendemos nos dias de hoje, tendo em vista que seu principal
objetivo era legitimar a submissão das classes trabalhadoras à classe nos
nobres.
Seguindo o exposto por Esteve, a segunda Revolução Educacional
se processa ao longo do século XVIII, durante o contexto da consolidação dos
Estados Nacionais europeus.
Nesse momento, a educação se transforma em instrumento de
sublimação das diferenças culturais e linguísticas e é utilizada em nome da
constituição de um sentimento de pertença e identidade com uma pátria
recém-nascida.
Assim como no caso do período que antecede essa segunda
revolução, o professor é o detentor e transmissor do conhecimento e aos alunos
restava ouvir e se esforçarem para armazenar em si o conhecimento transmitido.
A Terceira Revolução Educacional se estabelece em resposta a
necessidade de universalização do ensino e é decorrente da necessidade de
formar as massas urbanas que precisarão dominar os códigos que lhe assegurarão
a cidadania.
O pressuposto da universalização, isto é, da escola para
todos, exige, entretanto, a adaptação dos métodos e mentalidades de modo que se
torne possível responder às demandas do mundo contemporâneo.
Gadotti faz menção a esse momento e o alinha com a emergência
do nascimento do terceiro milênio, junto com o qual advém uma série de rupturas
paradigmáticas as quais podem ser inseridas no feixe de fenômenos sociais,
políticos, históricos e culturais pertinentes a Nova Ordem Mundial.
No início dos anos 50, dizia-se que só havia uma alternativa:
“socialismo ou barbárie” (Cornelius Castoriadis), mas chegou-se ao final do
século com a derrocada do socialismo burocrático de tipo soviético e
enfraquecimento da ética socialista.
E mais: pela primeira vez na história da humanidade, não por
efeito de armas nucleares, mas pelo descontrole da produção industrial, pode-se
destruir toda a vida do planeta. Mais do que a solidariedade, estamos vendo
crescer a competitividade. Venceu a barbárie, de novo? Qual o papel da educação
neste novo contexto político? Qual é o papel da educação na era da informação?
Que perspectivas podemos apontar para a 9
educação nesse
início do Terceiro Milênio? Para onde vamos? (GADOTTI, 2000, p.3).
Os questionamentos a respeito do papel da educação e o
desconforto gerado pela incerteza da quebra de velhos paradigmas estão
presentes em todos os diálogos, acadêmicos e cotidianos, e a educação não
poderia estar fora deles.
Ao contrário, não raro ela é posicionada como a detentora da
solução destas e de outras crises, ao mesmo tempo em que é socialmente mal
avaliada em seu papel: educar.
Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta-se numa
dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do sistema escolar não tem dado
conta da universalização da educação básica de qualidade; de outro, as novas
matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência global necessária para
indicar caminhos realmente seguros numa época de profundas e rápidas
transformações (GADOTTI, 2000, p.6).
É neste terreno instável que caminha o educador: sem o
respaldo de suas antigas convicções, porém ciente de que seu papel na sociedade
se ampliou em razão inversamente proporcional ao moral e reconhecimento social
de sua carreira.
O brasileiro desvaloriza o professor.
É o que se poderia deduzir de um dito que se tornou popular
nas últimas décadas no Brasil: “Quem sabe faz, quem não sabe ensina”.
É sinistro. Essa destruição da imagem do professor custará
muito caro, dizia já em 1989, o jornalista Leonardo Trevisan: “Todos dizem que
gostam muito dos professores, mas não chegam a incomodar-se muito com o fato de
que há tempos eles recebem um salário de fome. O salário é a parte mais visível
de uma condição – da qual decorre um papel social que se descaracterizou por
completo... Só quem não quer ver não percebe o sentimento de cansaço, de
esgotamento de expectativas de quem encarava com dignidade o seu desempenho
profissional (GADOTTI: 2002, p.5).
A escola inclusiva se insere nesse contexto como mais uma
demanda de alta complexidade a ser absorvida pela escola.
Há o reconhecimento de que a universalização do ensino irá
contemplar a todos os seres humanos, independentemente de suas características
ou necessidades, e há também o entendimento de que o esforço da inclusão não
pertence apenas ao professor.
[...] as restruturações proclamadas pela Declaração de
Salamanca envolvem mudanças em diversos níveis (como política, economia,
financiamento, organização sociocultural, pesquisa acadêmico científico até a
escola e a formação de seus profissionais) e para além disso encontram-se
vários desafios como: a) o novo confronto com as questões ligadas à igualdade e
a diferença, a democratização e qualidade de ensino, bem como os objetivos dos
projetos educativos; b) a ampliação dos sujeitos educativos contemporâneos:
crianças com dificuldades de aprendizagem, minorias de gênero, e de rua e em
situação de abandono, mulheres, jovens, adultos e idosos não alfabetizados.
Sujeitos que
provocam a reflexão e as atitudes sociais contra a discriminação, o preconceito
e a exclusão; c) a condução de um modelo da sociedade e projeto educacional:
realizar um tipo de convivência social que satisfaça qualquer necessidade do
indivíduo e possibilitar que o indivíduo possa realizar-se em todos os seus
aspectos (LIMA: 2010, p.16).
O excerto acima destaca a importância de uma ressignificação
da escola e de todo o seu contexto incluindo financiamento, políticas e
formação de professores. Isto indica que uma mudança radical se faz necessária
na estrutura da educação.
Entretanto, sempre que se evidencia o fracasso no alcance dos
novos objetivos da educação, emergem como culpados os velhos vilões:
professores supostamente incompetentes e alunos irremediavelmente incapazes.
A consequência desse fenômeno de crise está na legitimação da
classificação e do fracasso escolar.
Com isso observamos uma massa de alunos rotulados como
indisciplinados, desinteressados, e até incapazes; ao lado deles estão os
professores isolados, desconsolados e apontados como „bodes expiatórios‟ do
fracasso escolar.
Esta é a situação da escola diante da sociedade organizada
para o mercado, para a formação de cidadãos consumidores.
O equilíbrio entre suas finalidades histórico-culturais e
sociais e os ideias da educação inclusiva não será fácil de realizar (LIMA,
2010, p. 98).
Se a palavra crise puder ser compreendida como o ínterim
existente entre a agonia daquilo que é velho e o esforço de parir o novo, será
possível definir esse momento.
Sendo assim, serão os educadores de hoje os algozes das
velhas ideias, aquelas que insistem em viver onde já não há espaço para elas?
Serão eles os anunciadores do nascimento de uma nova forma de
educar? Espera-se que sim.
Não obstante à visão turva e ao padecimento das dores desse
longo e difícil parto, seguem os educadores, tateando e caminhando vacilantes
rumo ao incerto.
Nas palavras de Gadotti:
Parece que todos hoje estão de acordo quando se trata da
necessidade de mudança. A maioria afirma que a profissão docente deve mudar -
sobretudo em função da complexidade da nova sociedade - mas não se diz como,
nem porque e para onde devemos mudar.
Daí, como diz Francisco Imbernón, “não é de admirar que nos
últimos tempos não apenas o professor, mas também as instituições educacionais
passem uma sensação de desorientação que faz parte da confusão que envolve o
futuro da escola e do grupo profissional”. Onde há desorientação há falta de
sentido (2002, p.13).
Panorama da Educação Inclusiva no Brasil.
A educação, quando voltada aos portadores de Necessidades
Educacionais Especiais (NEE), tem como principal objetivo minimizar as
condições impeditivas que os impossibilitam de participar de maneira plena do
exercício da cidadania.
Nessa perspectiva, a educação inclusiva propõe uma inclusão
mais ampla dos portadores de deficiência, porque busca tanto uma aprendizagem
factual quanto o desenvolvimento de suas potencialidades.
No Brasil, o principal desafio é relacionar a educação e a
prática inclusiva.
De acordo com dados do IBGE, é um país que apresenta
condições que, de certa forma, desfavorecem a população: conta com mais de 50
milhões de pessoas pobres, a quarta pior distribuição de renda no mundo, um
país rico, injusto, que apresenta grande desigualdade econômica e social e que,
de acordo com o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) está
no 73º lugar mundial no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) que apontou como
maior problema a educação de baixa qualidade do país, e que não conta com
programas amplos e suficientes voltados para a educação, saúde e assistência, o
que reflete também na população com necessidades educacionais especiais.
A escola e organização social no país não correspondem tanto
assim, àquele aspecto fraterno e acolhedor do discurso que se tem acerca da Inclusão.
Mas há indícios importantes de que se tem ampliado o acesso
de grupos que foram historicamente excluídos do acesso à educação ou que de
alguma forma, tiveram uma condição de exclusão.
A educação das pessoas com necessidades especiais é
relativamente recente e suas discussões à respeito também são.
Já existiam classes especiais em escolas públicas desde a
década de 30.
No Brasil, as primeiras instituições criadas para atender
pessoas portadoras de deficiência eram voltadas para o atendimento de deficientes
visuais e auditivos em 1854 e 1857 respectivamente, por meio de um decreto
imperial, ambos no Rio de Janeiro.
Nos anos de 1905 a 1950, as instituições voltadas para as
pessoas com deficiência eram particulares, com forte caráter assistencialista.
As primeiras iniciativas oficiais também ocorreram nesse
período, porém, tanto as instituições particulares quanto as oficiais não foram
suficientes para atender o número de pessoas deficientes existentes.
A Educação Especial no Brasil foi se ampliando gradativamente
e foram criados mais institutos particulares.
Os serviços públicos eram oferecidos por meio das escolas
regulares, através das classes especiais para o atendimento dos deficientes.
Em 1957, a Educação do portador de deficiência passou ser
oferecida nacionalmente, pelo governo federal.
Em 1961, é criada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional.
Nessa Lei os artigos 88 e 89 se referiam à educação dos
excepcionais, garantindo, dessa forma, o direito à educação das pessoas
deficientes.
Pelo menos, na forma da Lei, a integração das pessoas com
deficiência na sociedade estava garantida.
Outro ponto importante dessa Lei, é que no artigo 89, o
governo se comprometia em ajudar as organizações não-governamentais (ONG´s) a
prestarem serviços educacionais à pessoas com deficiência.
Entre 1960 e
1970, o governo resolve transferir sua responsabilidade, no que se refere à
educação inclusiva para as ONG´s, devido ao crescente número de instituições
filantrópicas criadas. Em 11 de agosto de 1971, na época voltada para os
ensinos de 1º e 2º graus, fez referência à educação especial em apenas um
artigo (art. 9), deixando claro que os Conselhos Estaduais de Educação
garantiriam aos deficientes o recebimento de tratamento especial nas escolas.
Em 1973, houve a criação do Centro Nacional de Educação
Especial (CENESP), por meio do decreto nº 72.425, de 3 de julho de 1973, ligado
ao Ministério de Educação e Cultura.
Art. 1º Fica criado no Ministério da Educação e Cultura o Centro
Nacional de Educação Especial (CENESP), Órgão Central de Direção Superior, com
a finalidade de promover em todo o território nacional, a expansão e melhoria
do atendimento aos excepcionais.
As principais referências a respeito da Educação Inclusiva no
Brasil estão presentes na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB,
1996), na Constituição Federal, que além de afirmar a educação como um direito
público e de todos, registrou no Artigo 208, como dever do poder público a
garantia de atendimento educacional especializado para os portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, nas Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, do Conselho Nacional de
Educação (CNE) – 2001 e no Plano Nacional de Educação (PNE, 2001).
A LDB prevê o atendimento especializado, de maneira distinta,
ou seja, os alunos com Necessidades Educacionais Especiais serão atendidos por
órgãos e apoios especializados, em função de suas especificidades.
Já o Plano Nacional de Educação, de 2001, incorpora uma visão
menos patológica da questão e mais educacional dela, prevê a plena integração
dos portadores de NEE junto com os demais alunos nas salas regulares sempre que
possível.
Ele traz como meta, um aumento de recursos destinados à Educação
Especial, de modo à atingir em dez anos, o mínimo de 5% juntamente para
parcerias com as áreas da saúde, assistência social, previdência e trabalho num
conjunto de ações.
Em 2003, a média do orçamento voltado para a Educação
Especial era de 0,4%.
O termo “Necessidades Educacionais Especiais” foi adotado
pela Resolução nº 2/2001 e o descreve da seguinte maneira:
Art. 5º Consideram-se educandos com necessidades educacionais
especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem:
I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no
processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades
curriculares, compreendidas em dois grupos:
a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica;
b) aquelas
relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II -
dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos,
demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis.
III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de
aprendizagem que os levem a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e
atitudes.
Essa mesma Resolução prevê o atendimento dos alunos com NEE
nas classes regulares comuns, sendo possível às escolas criarem classes
especiais em caráter “extraordinário” e “transitório”, cabendo as escolas
especiais reservadas para o atendimento de caráter “extraordinário” de alunos
que necessitem de programas especializados que a escola regular não possa ou
não consiga prover.
A formação inicial e continuada dos professores é uma outra
questão acerca da Educação Inclusiva.
Programas regulares de capacitação dos docentes em convênios
com Estados e Municípios estão sendo desenvolvidos pelo Ministério da Educação.
Estes, dão ênfase à Educação à Distância e segundo a
Secretaria de Educação Especial (SEESP) do governo federal, de 1997 a 2002
cerca de 80.000 professores já haviam participado desses programas.
A meta até então, estava em alcançar 1.200.000 docentes.
No Brasil, a formação de professores, ainda segue um modelo
tradicional, desatualizado e totalmente inadequado para suprir as demandas de
uma Educação Inclusiva.
Ainda estão voltados para um modelo “especializado”, com
pouca ênfase para a questão da Inclusão, tida como algo atual, porém complexo.
Por tudo isso, percebe-se atualmente, que a inclusão de
alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) nas escolas está mais
nítida e bem estruturada nos documentos oficiais e que, a cada dia, paradigmas
e estigmas estão sendo “quebrados” e ultrapassados.
Metodologia.
Para realizarmos o estudo proposto, adotamos como Metodologia
de Pesquisa o Método Indutivo dentro de uma abordagem Qualitativa.
A Fundamentação Teórica selecionada para esta pesquisa
possuiu como referencial a Educação Inclusiva, Transversalidades, a
Interdisciplinaridade e a Estratégia de Projetos, além da Formação Continuada
Docente a partir da orientação Teórico-Conceitual Crítico-Reflexivo.
Materiais e métodos.
Todos os procedimentos foram previamente agendados e
autorizados pelos professores, direção e/ou coordenação da escola pública
visitada.
Foi aplicado um questionário on-line, elaborado pela
pesquisadora, com questões abertas e fechadas para os professores.
Após as coletas, as respostas foram analisadas e
classificadas em categorias nominais, conforme a semelhança das suas
características e intenções.
Antes de aplicar o questionário foi explicado para o
professor que o objetivo era coletar informações para um projeto de pesquisa,
de um curso de especialização.
Foi instruído a cada professor que a sua participação deveria
ser voluntária e que seria facultativo desistir durante o preenchimento do
questionário.
Foi garantido o anonimato das suas identidades e o sigilo dos
dados coletados através do questionário.
O objetivo do questionário foi encontrar possíveis variáveis
comuns e/ou específicas, que potencialmente permitiram analisar a relação entre
professores e alunos portadores de necessidades educacionais especiais em uma
escola da zona leste de São Paulo.
Tratamento e análise de dados.
O questionário utilizado foi composto por quatro questões.
O tratamento das informações obtidas foi realizado nos meses
de setembro e outubro de 2011.
Na questão de número 1 “Você já teve contato com crianças
com NEE?” e na questão de número 2 “Você faria uma Pós-Graduação em
Educação Especial?”
O professor pesquisado respondeu assinalando uma ou mais
opções.
Nessa primeira etapa da pesquisa, os dados obtidos foram
registrados e armazenados em planilhas do programa “Microsoft Excel”, e
posteriormente foram realizadas análises descritivas, apresentando os resultados
na forma de gráficos.
Nas questões 3 “Cite as NEE com as quais você teve contato
direto em seu cotidiano escolar” e na questão 4 “Qual o seu procedimento
ao identificar um aluno portador de uma NEE?”, tratou-se de uma questão
aberta para que o professor tivesse total liberdade de expressar-se.
Para a análise e tratamento das informações coletadas por
meio dessas duas questões, foi realizado:
- Leitura de todas as respostas;
- Reflexão acerca das falas dos professores;
- Criação de categorias a partir das quais fosse possível
agrupar as respostas de acordo com suas semelhanças e com vistas à apreensão
das informações que fossem pertinentes aos objetivos do presente trabalho e à
verificação das hipóteses aventadas.
Resultados e Discussão.
Após análise dos questionários proposto pela presente
pesquisa, foi possível verificar que, os professores da escola, de uma maneira
geral, já tiveram contato com alunos com necessidades educacionais especiais e
conhecem algumas dessas necessidades como por exemplo deficiências física e
múltipla, mental, visual e auditiva.
Entretanto, que a escola não oferece instrumentos suficientes
para que seja realizado um trabalho eficaz com esses alunos.
Outro fator relevante refere-se ao fato que os professores
entrevistados não fariam uma pós-graduação na área de necessidades educacionais
especiais porque de maneira geral, transferem suas responsabilidades para
outros profissionais, como os psicólogos, fonoaudiólogos, enfermeiros etc. para
que eles possam encontrar no campo médico as causas e soluções para o fracasso
escolar.
Concluímos que embora os entrevistados não ignorem os alunos
portadores dessas necessidades educacionais especiais, os mesmos não se
preocupam em desenvolver atividades diferenciadas e utilizam o discurso da
inclusão e da socialização, isto é, defendem apenas o socializar como forma
eficaz de inclusão deste aluno, não se preocupando com seu desenvolvimento
cognitivo, como observar na transcrição de algumas respostas analisadas.
“No primeiro momento causa
um impacto bastante grande, pois, essa situação é preocupante, porque, assim como eu a maioria dos
professores, não são preparados e
treinados para trabalhar com esses alunos. (...) nos esforçamos bastante, mas é muito sofrido, pois, a sala é
composta de 30 a 40 alunos e com inclusão é sacrificante para o professor”.
(Professor(a) com 24 anos de magistério; atualmente leciona
no Ensino Fundamental I).
“A realidade foi bem diferente que a teoria, hoje eu acredito que não temos recursos nem
humanos, nem materiais para atender esses alunos que são cada vez mais
excluídos e o pior dentro da escola”.
(Professor(a) com 2 anos de magistério; atualmente leciona no
Ensino Fundamental I).
“Sinto-me insegura,
pois não tenho formação específica para trabalhar com aluno NEE. Teria muita
dificuldade com esse processo de inclusão”.
(Professor(a) com 12 anos de magistério; atualmente leciona
no Ensino Fundamental I).
Concluindo.
O princípio democrático da educação para todos só se
evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em todos os alunos, não
apenas em alguns deles, os alunos com deficiência.
A inclusão, como consequência de um ensino de qualidade para
todos os alunos provoca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e é
um motivo a mais para que o ensino se modernize e para que os professores
aperfeiçoem as suas práticas.
É uma inovação que implica num esforço de atualização e
reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas de nível
básico.
O motivo que sustenta a luta pela inclusão como uma nova
perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem dúvida, a qualidade de
ensino nas escolas públicas e privadas, de modo que se tornem aptas para
responder às necessidades de cada um de seus alunos, de acordo com suas
especificidades, sem cair nas teias da educação especial e suas modalidades de
exclusão.
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola
regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos
significativos desses alunos na escolaridade, por meio da adequação das
práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes.
E só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola
regular assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas
resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é
concebida e avaliada.
Pois não apenas as deficientes são excluídas, mas também as
que são pobres, as que não vão às aulas porque trabalham, as que pertencem a
grupos discriminados, as que de tanto repetir desistiram de estudar.
Para saber mais
sobre o assunto.
ARAÚJO, U. F. Temas transversais e a estratégia de projetos.
São Paulo: Moderna, 2003.
CABRAL, A. ; NICK, E. Dicionário técnico de Psicologia.
13ª ed. São Paulo: Cultrix, 2007.
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COLLARES, C. A. L. ; MOYSÉS, M. A. A. “Inteligência
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MICHELS, M. H. “Gestão, formação docente e inclusão: eixos da
reforma educacional brasileira que atribuem contornos à organização escolar”
In: Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v. 11, n. 33, Dec. 2006 .
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em Paulo Freire : uma contribuição para a formação continuada de
professores. S.d.
Texto:
Profa. Alzirene Moraes Follador Lopes.
Pós-Graduanda
em Psicopedagogia Institucional pelo INEC/UNICSUL.
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