Para
entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 3, Vol.
abr., Série 16/04, 2012, p.01-18.
O artigo faz parte da Monografia
de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional pelo
INEC/Universidade Cruzeiro do Sul,
orientada pelo Prof. Dr. Fábio Pestana
Ramos.
A
presente monografia vem demonstrar que o jogo na educação infantil é de um
aspecto muito importante na interação da criança com o adulto, com o
outro.
A
brincadeira em grupo serve para socializar crianças e a compreensão de regras.
Elas
aprendem a lidar com os sentimentos, interagir, resolver conflitos e
desenvolver a imaginação e criatividade para resolver problemas.
É,
portanto, contra este pensamento que buscamos e é de fundamental importância
que professores tenham conhecimento do saber que a criança construiu na
interação do ambiente familiar e sócio cultural e assim adotar na sua prática
pedagógica as brincadeiras, jogos
para que as crianças desenvolvam,construam, adquiram conhecimentos
e se tornem autônomas e cooperativas.
Introdução.
“...O brinquedo é uma atividade inútil. E ,
no entanto o corpo quer voltar a ele. Por quê? Por que o brinquedo, sem
produzir qualquer utilidade, produz alegria? Felicidade é brincar. E sabem por
que? Porque no brinquedo nos encontramos com aquilo que amamos. No brinquedo o
corpo faz amor com objetos de seu desejo. Pode ser qualquer coisa: ler um
poema, escutar uma música, cozinhar, jogar xadrez, cultivar uma flor, conversar
fiado, tocar flauta, empinar papagaio, nadar, ficar de barriga para o ar
olhando as nuvens que navegam, acariciar o corpo da pessoa amada, coisas que
não leva a nada. Porque não é para levar a nada. Quem brinca já chegou. Coisas
que levam a outras , úteis, indicam que ainda estamos a caminho: ainda não
abraçamos o objeto amado. Mas no brinquedo temos uma amostra do Paraíso...”
(Rubem Alves- Tudo que é pesado flutua no ar).
Quando pensamos em brincar – nada é a toa –
brincadeira é coisa séria.
Jogos, limites, regras, lazer e prazer
incitam o convívio social, permitem o contato da criança consigo mesma ao
simbolizar internamente alguma brincadeira.
A criança brinca porque gosta, porque
necessita.
Seu universo infantil é repleto de testes,
hipóteses e indagações sobre o mundo, é a partir destes que ela vai tirando
suas conclusões sobre o mundo e formatando sua concretude para com ele.
O jogo e a brincadeira são atividades
inerentes a criança desde sempre. Indissociáveis no seu dia a dia, o brincar
esta relacionada com as atividades da criança, independente do seu grau de
desenvolvimento e seus aspectos cognitivos.
O tema escolhido para esta pesquisa é uma
reflexão sobre o “brincar das crianças”.
Minha prática como educadora levou-me à uma
reflexão sobre a forma como se apresenta a brincadeira para as crianças. Como
ela acontece, em que momento e em que espaço.
O objetivo deste trabalho, é contribuir
singelamente para uma ação Psicopedagógica na Educação Infantil, enfatizando a
técnica de jogos como estímulo ao desenvolvimento da criança.
Fui percebendo ao longo de minha experiência
que o espaço da criança para a brincadeira está cada vez mais restrito.
Nós adultos esquecemos a criança que fomos e
“sufocamos” as outras que convivem conosco.
Os adultos poucas vezes se permitem um
momento de lazer, de prazer, pois a vida social não permite que eles dêem um
tempo para relaxar, descansar e serem mais felizes.
O que acontece com os espaços de brincar das
crianças?
Este está sendo suprimido a cada dia dentro
desse mundo social totalmente adulto.
Seja em casa, onde a família muitas vezes não
dá oportunidade para brincadeiras; pais e mães de famílias que trabalham, não
tem tempo e nem condições de garantir a atenção aos filhos.
Os adultos nem sempre conseguem perceber ou
dar a importância devida às brincadeiras infantis.
Também temos a questão da exploração do
trabalho infantil que afasta muitas crianças da escola e das brincadeiras.
E, como se não bastasse todas essas questões,
a própria escola que ainda é o “único espaço lúdico só da criança”, está
diminuindo a cada dia o tempo de brincar substituindo-o por atividades que
considera mais importantes.
As brincadeiras, para muitos profissionais de
educação, são marcadas por momentos concretos, horas e espaços delimitados com
objetivos específicos de ludicidade enquanto disciplina ou relaxamento. Nem
sempre revela que pela técnica do jogo e brincadeiras há substancialmente a
aprendizagem.
Diante desses questionamentos é que se fez
necessário uma pesquisa que aprofundasse e estimulasse a reflexão da
importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil.
Então para uma melhor compreensão do
trabalho, recorri a alguns autores, como Jean Piaget, Ronca e Escobar, Nylse
Cunha, Winnicott, kischimoto e Adriana Friedmann, todos preocupados com a
educação da criança.
Definindo
os termos.
BRINCADEIRA: divertimento, sobretudo entre
crianças; folgança; gracejo; zombaria; festa familiar.
BRINCAR: fazer algo por brincadeira;
divertir-se infantilmente; saltar com alegria; não levar as coisas a sério.
JOGO: brinquedo, folguedo, divertimento,
passatempo, sujeito a regras e em que, por vezes se arrisca dinheiro; regras
que devem ser observadas quando se joga; vicio de jogador; série de coisas que forma
um todo ou uma coleção.
(Dicionário – AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA
FERREIRA).
BRINCADEIRA: refere-se basicamente ação de
brincar ao comportamento espontâneo que resulta de atividade não estruturada.
JOGO: trata-se de uma brincadeira que envolve
regras.
BRINQUEDOS: referem-se ao objeto de brincar.
ATIVIDADE LÚDICA: abrange de forma mais
ampla, os conceitos anteriores.
(FRIEDMANN e outros ,2002).
A educação
infantil.
A educação infantil é o primeiro e decisivo
passo para garantir todo o processo escolar do individuo.
É o início da educação básica necessária para
um desenvolvimento completo e sadio.
Robert Fulghum (1988) diz [...] “Tudo o que
eu preciso mesmo saber sobre como viver, o que fazer, e como ser, aprendi no
jardim da infância. A sabedoria não estava no topo da montanha mais alta, no
último ano de um curso superior, mas no tanque de areia do pátio da escolinha
maternal.
Vejam o que aprendi:
Dividir tudo com os companheiros.
Jogar conforme as regras do jogo.
Não bater em ninguém.
Guardar os brinquedos onde os encontrava.
Arrumar a bagunça que eu mesmo fazia.
Não tocar no que não era meu.
Pedir desculpas se machucava alguém,
Lavar a mão antes de comer.
Apertar a descarga da privada.
Biscoito quente e leite frio fazem bem a
saúde.
Fazer de tudo um pouco – estudar, pensar e
descansar,
pintar, cantar e dançar, brincar e trabalhar,
de tudo um
pouco, todos os dias.
Tirar uma soneca todas as tardes.
Ao sair pelo mundo, cuidado com o transito,
ficar sempre de mãos dadas com o companheiro e sempre “de olho” na professora”
[...] (1988 – p.10).
Pode-se observar neste pequeno trecho de
Fulghum que diversos tipos de jogos estão presentes no universo infantil.
Nesse período marcante, da vida da criança,
são importantes todos os aspectos que garantam sua formação.
A criança vive, sente, pensa, cria, recria,
constrói, destrói, brinca, e é nesse brincar que está presente todo o seu
conhecimento.
A criança imita os adultos na sua função
social e vai aos poucos construindo o seu mundo dentro de um mundo imaginário.
A socialização desenvolve-se de forma
harmoniosa em contato com outros, onde interage e constrói conhecimento a
partir da inter- relação : sujeito – ação – objeto.
A criança aprende o real de forma diferente
da forma adulta, ainda não tem o poder de abstração que lhe permitam a
concepção correta da realidade, por isso exercita durante todo o tempo o seu
papel no mundo através das brincadeiras.
As atividades devem ser programadas de acordo
com as necessidades e interesses das crianças, pois estas estão prontas para
explorar, experimentar tudo o que o meio oferece.
Devem desenvolver os aspectos físico, mental,
social, emocional e moral.
Desenvolver também habilidades necessárias
para a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática (FULGHUM, 1988).
Segundo Piaget (1988), o processo de cognição
da criança se efetiva por estágios ou fases sucessivas que ocorrem na mesma
ordem e são os mesmos para todos os indivíduos.
Em cada estágio é importante observar os
esquemas mentais adquiridos independentemente da idade cronológica, sem
considerar diferenças individuais.
Uma estrutura construída sempre se integra às
estruturas que estão por vir.
Cada estágio representa um avanço no
desenvolvimento, preparando a criança para o próximo estágio.
Todo esse desenvolvimento da criança não
ocorre de forma isolada, apenas pelo processo genético ou apenas em contato com
o meio em que vive.
Ele ocorre através da interação entre
indivíduo e sua bagagem genética em contato com os estímulos oferecidos pelo
meio em que está inserido.
Nessa interação estão presentes os processos
de adaptação, acomodação e assimilação, onde a criança conhece, aprende e
repete o produto aprendido quando necessário (PIAGET, 1988).
O meio social onde a criança está inserida é muito dinâmico e nos permite
uma reflexão sobre os jogos e brincadeiras, sua importância nesse meio.
É aí que a criança participa como agente
deste processo, pois o jogo permite a vivência de vários papéis no mundo que a
rodeia.
Explorando o mundo à sua volta a criança
descobre a si própria (CUNHA, 1988).
Para entender como funciona o universo
infantil , não se pode deixar de citar, principalmente, as duas primeiras fases do desenvolvimento,
segundo Piaget (1988).
Período
Sensório-Motor (0 a 2 anos).
“...Pose-se chamar-lhe período “sensório
motor” porque, à falta de função simbólica, o bebê ainda não apresenta
pensamento, nem afetividade ligada a representações que permitiam evocar
pessoas ou objetos na ausência deles...”
(Piaget e Barbel – 1998).
A criança desenvolve, nesse estágio, os
reflexos inatos através de exercícios práticos.
Ao nascer a criança está pronta para ser
amamentada, começa então interagir com o meio através do contato com a mãe,
outras pessoas e objetos; o seio, a mão, o banho, as roupas, a mamadeira, etc.
Nessa fase a criança assimila sua própria
reação, ela repete ações que lhe oferecem prazer naquele momento.
Inicialmente o universo está centrado em seu
próprio corpo, ele é a referencia para tudo o que o cerca, está é a fase oral,
onde tudo o que a criança explora é através da boca, sua porta para o
conhecimento.
Aos poucos começa a perceber os objetos em
si, coordena alguns movimentos, pegar, agarrar, saltar e segurar. Seu brincar é
livre e explorativo, não reconhece a função dos brinquedos, seu prazer está
centrado somente na manipulação dos objetos, constrói e destrói, joga objetos
no chão para ouvir barulho.
Assim nesse exercício vai através da
brincadeira aprendendo a conviver com um meio tão diferente daquele em que foi
gerada.
A criança passa depois para o esquema de
imitação, onde reproduz ações feitas pelos adultos ou crianças. Através da
observação e reprodução de movimentos, livremente, a criança tem a
possibilidade de construir outros esquemas de ação.
Todos esses fatores explicam à falta de função
simbólica dita por Piaget, pois o brincar da criança está totalmente ligado a
figura o objeto permanente, ou seja, ela ainda não é capaz de lembrar-se
sozinha de atos, vistos anteriormente, não consegue por exemplo, brincar de
carrinho sem a presença de um modelo, algo que faça a criança referi-se a um
carrinho.
Sua capacidade de representação ainda é muito
pequena, porém todo esse processo é fundamental para que a criança comece a
vivenciar novos esquemas que ajudem a construir seu processo de cognição, sua
inteligência.
Período
Pré-Operatório (2 a 7 anos).
Quando a criança entra em outro período ela
organiza todo o conhecimento construído em suas ações anteriores.
A criança aproveita tudo o que aprendeu como
instrumento de aprendizado acrescenta a linguagem verbal, que se efetiva nesse
período, para a construção de novos esquemas de ação.
Em suas brincadeiras surge uma pequena
capacidade de abstração, de representação de acordo com seus pensamentos.
Essa capacidade já envolve a função
simbólica, ou seja, a criança consegue pensar e pode expressar um significado
ao objeto mesmo sem sua permanência.
A imitação ocorre, porém mais “lapidada”,
utiliza a memória, a imaginação para criar suas brincadeiras.
Nessa fase a criança já é capaz de fazer
desenhos e de nomeá-los para um adulto, também é capaz de transformar qualquer
objeto, como uma caixa qualquer num carrinho ou numa casa, em seu mundo
imaginário.
A capacidade de representação da criança
apresenta-se de diversas maneiras: a representação através da imitação, a
brincadeira simbólica sem a presença de objetos, os brinquedos de faz de conta,
as histórias, o próprio desenho como brincadeira, o mundo imaginário, as
fantasias e a linguagem oral com os relatos e as músicas.
Segundo Piaget, depois do esquema de
imitação, “[...] Há, em seguida o jogo simbólico, ou jogo de ficção,
desconhecido no nível sensório motor. ...a representação é nítida e o
significante diferenciado é, de novo, um gesto imitativo, porém acompanhado de
objetos que se vão tornando simbólicos [...]” (Piaget e Barbel-1998).
“O jogo simbólico assinala, sem dúvida o
apogeu do jogo infantil” (Piaget, 1988).
De fato como afirma a frase acima, a criança
assimila o meio em que vive através do jogo simbólico de acordo, é claro, com
os seus interesses.
Nessa fase surge um pensamento totalmente
egocêntrico da criança, então ela se apropria do jogo simbólico para
representar vários papéis sociais, como brincar de casinha, de ser mãe ou pai,
de professora, de médico, enfim, ela tenta através das brincadeiras resolver
situações que a incomoda, e ela não sabe como lidar, pois ainda não é capaz de
compreender suas emoções.
O desenho nesta fase é a representação mais
pura e verdadeira que a criança tem do mundo real em que ela vive.
Ela desenha o mundo da forma como ela o vê.
Também ocorre um aumento significativo do
vocabulário nesta fase, a criança experimenta, brinca, ouve e fala, não só
consigo mesma, mas com outras crianças, com adultos estabelecendo o diálogo.
Surge também nesta fase a representação da
fala em forma de escrita, a criança começa a construir o processo de leitura e
escrita, tentando representar ainda mais o mundo que a cerca.
Suas brincadeiras apresentam características
animistas, a criança da vida a todos os objetos de seu interesse, uma simples
peça de montar pode ser transformada num animal ou numa planta, assim ela tenta
explicar o surgimento de toda a natureza em sua volta.
No fim desse período a criança começa a
conferir suas ações, quer explicações sobre tudo o que tem dúvida, começa a
surgir um raciocínio imediato que a faz pensar sobre os acontecimentos e que
também a prepara para a construção do raciocínio lógico presente nos períodos
posteriores.
A imitação
e o jogo simbólico.
A imitação é uma representação do que esta por
vir, no período sensório-motor através de ações concretas com a presença do
objeto.
Nessas ações ainda não esta presente o
pensamento abstrato na resolução de conflitos.
O esquema de imitação tem papel importante
como instrumento de conhecimento do próprio corpo.
A criança começa a estabelecer a relação de
semelhança de coisas que tem alguns traços comuns. É um instrumento essencial
na construção do conhecimento.
O jogo simbólico é o ponto fundamental do
jogo infantil.
A criança torna-se obrigada a viver num mundo
totalmente adulto, onde não lhe é oferecido espaço social e físico adequado.
E tem muitas vezes que cumprir regras que não
fazem parte do seu mundo real.
Ela convive com pessoas e exerce papeis
diferentes na sociedade, porem não consegue administrar suas emoções ou usar o
raciocínio lógico, como os adultos nas resoluções de problemas.
A brincadeira simbólica é uma atividade onde
os objetos são apoio para o dialogo com a criança. Sua linguagem é desenvolvida
através das trocas verbais feitas através da brincadeira.
A criança utiliza desses recursos para
solucionar os problemas (CUNHA, 1988).
Depois surge o desenho que é uma imagem
gráfica que permeia o jogo simbólico e a
passagem para imagem mental.
Esta surge como uma imitação, mas uma imitação
interiorizada, onde representa o mundo como vê e sente.
Para que ela se relacione, nesse mundo
harmoniosamente, se faz necessário uma técnica muito utilizada pelas crianças
para transformar o mundo em que vive em seu mundo real.
Esta técnica é jogo.
Portanto o trabalho com jogos, assim como
qualquer atividade pedagógica ou psicopedagógica, requer uma organização prévia
e uma reavaliação constante.
Muitos problemas de ordem estrutural podem
ser evitados ou, pelo menos, antecipados, se determinados aspectos relativos ao
trabalho com jogos e brincadeiras forem considerados.
Enfim, definir o objetivo ou a finalidade da
utilização do jogo é fundamental para direcionar o trabalho e dar significado
às atividades, bem como para estabelecer as extensão das propostas e as
eventuais conexões com outras áreas envolvidas.
Histórico
sobre jogos e brincadeiras.
“O jogo tradicional guarda a produção
espiritual de um povo em certo período histórico” (KISCHIMOTO – 1995).
Quando se pensa na evolução do brincar, deve-se
voltar até a antiguidade, época na qual o brincar era uma atividade
característica tanto das crianças quanto dos adultos, representando para ambos
um importante seguimento de vida.
As crianças participavam das festividades,
lazer e jogos dos adultos, mas tinham ao
mesmo tempo uma esfera separada de jogos.
Os jogos aconteciam em praças publicas
espaços livres, sem a supervisão do adulto, em grupos de crianças de diferentes
idades e sexos.
O testemunho daquela época mostra o acontecer
de uma vida social infantil rica e dinâmica através dessas brincadeiras: era o
mais vigoroso elemento da cultura do riso, do carnaval e do folclore.
As brincadeiras eram formulas condensadas de
vida, modelos em miniatura da historia e destino da humanidade (KISCHIMOTO – 1995).
A brincadeira era o fenômeno social do qual
todos participavam, e foi só bem mais tarde que ela perdeu seus vínculos
comunitários e seu simbolismo religioso,
tornando-se individual.
Paralelamente, houve um processo e abandono
das brincadeiras (antes comum a todas as idades e classes sociais), pelos
adultos das classes superiores, sobrevivendo porem, entre as crianças dessas
classes e o povo.
Quando não abandonadas, as brincadeiras eram
transformadas (KISCHIMOTO – 1995).
Os processos sociais e civilizatórios de
produção deram forma a sociedade industrial moderna e a ordem social burguesa,
constituíram assim mesmo a infância e a brincadeira e a brincadeira
contemporânea.
A atividade lúcida foi segregada para
transformar-se no trabalho infantil.
Esse processo visava formar o “novo homem”
(KISCHIMOTO- 1995).
A infância tornou-se pedagogizada: o objetivo
básico dos pedagogos dentre as instituições e das famílias era de criar um novo
homem: os documentos da época mostram as medidas aplicadas para suprimir a
esfera físico-sensorial-emocional e estabelecer prioridades racionais
produtivas e disciplinadas da personalidade.
A brincadeira considerada como vicio no
começo da idade moderna, foi introduzida nas instituições educacional por
filantropia, com o intuito de tomar esses espaços prazerosos e também como um
meio educacional.
Porem querendo reabilitar a brincadeira e
fazê-la útil na educação, o brincar foi colocado sob os mesmos princípios que
sustentaram a ideia do novo homem: era necessário treiná-lo (KISCHIMOTO – 1995).
O problema do crescimento das crianças na
sociedade contemporânea, sobrevém, do fato de que o desenvolvimento social, as
interações sociais da criança com o adulto e entre as próprias crianças estão
seriamente ameaçadas pelo avanço tecnológico.
A socialização é tão necessária no
desenvolvimento infantil quanto a nutrição, cuidados e outros fatores que
satisfazem as necessidades vitais.
Tais interações sociais acontecem através de
descoberta e da interiorização da criança nos sistemas culturais e sociais que
representam as propriedades determinadas historicamente pelo homem.
A brincadeira tem um papel especial e significativo
na interação criança/adulto e criança/criança. Através da brincadeira as formas
de comportamento experimentadas e socializadas.
Cada geração de crianças transforma
brincadeiras antigas, ao mesmo tempo em que cria suas próprias brincadeiras.
Assim usando o antigo e o novo, cada geração
tem suas próprias características e padrões de sensibilidade.
Na sociedade infantil, a efetividade lúdica é
a forma através da qual essa sensibilidade e potencial são liberados e
modelados, o que outorga a mesma um papel importante nas realizações culturais
e sociais.
Assim as brincadeiras fazem parte do
patrimônio lúdico-cultural, traduzindo valores, costumes, forma de pensamentos
e ensinamentos.
Dentre as causas mais significativas da
transformação do brincar no decorrer do século nas grandes cidades, destacam-se
(KISCHIMOTO – 1995):
· Uma significativa redução do espaço físico com o
crescimento das cidades e a falta de segurança, os espaços lúdicos viram-se
seriamente ameaçados e diminuídos.
· O incremento da indústria de brinquedos colocou
no mercado objetos muito atraentes, transformando as interações sociais, nas
quais o objeto passa a ter um papel relevante.
· A propaganda contribuiu para o incremento do
consumo de brinquedos industrializados no mundo infantil.
De acordo com Kischimoto (1995, p.16):
“O jogo tradicional infantil é um tipo de
jogo livre, espontâneo, no qual a criança brinca pelo prazer de fazê-lo. Por
pertencer a categoria experiências transmitida espontaneamente conforme
motivações interna da criança, ele tem
um fim em si mesmo e preenche a dinâmica da vida social, permitindo alterações
e criações de novos jogos”.
Confrontando o passado e o presente, não ha
duvida quanto ao fato da criança continuar a brincar- desde a criança da cidade
até a criança do interior ou do Campo, desde a criança mais estimulada e com
mais condições econômicas até a criança de rua ou criança institucionalizada
todas elas procuram espaços e formas de expressar-se e descobrir o mundo
através da brincadeira.
Nesses diferentes contextos, as crianças
estabelecem relações com o mundo, transformando-o, buscando significados
através do brincar.
O jogo infantil é considerado parte da
cultura popular de acordo com o seu período histórico. Sofre influências indígenas,
africanas e europeias (KISCHIMOTO – 1995).
Não se sabe ao certo onde e quando teve
origem. Sabe-se que são práticas de adultos, como são fragmentos de romances,
poesias e rituais religiosos.
Os povos indígenas da Grécia e Oriente,
brincavam de amarelinha, papagaios, jogos de pedrinhas, Xadrez, tiro ao alvo,
paio, cama de gato, gamo, entre outros.
Estes jogos foram transmitidos de geração a
geração e até hoje as crianças brincam com eles.
Os jogos possuem o poder da expressão oral,
alguns tem função de perpetuar uma cultura popular desenvolvendo formas de
relação com o mundo.
O Brasil devido a sua colonização portuguesa
sofreu muitas influências do folclore português que por sua vez foi trazido do
Japão e da china.
Podemos citar como exemplo o papagaio que
para os portugueses é conhecido como estrela, raia, arraia, bacalhau, gaivotão,
e no Brasil como papagaio, pipa, cafifa, pandorga, arraia, quadrado e raia
(KISCHIMOTO – 1995).
A pipa foi introduzida no Maranhão pelos
portugueses no século XVI, foi utilizada tempos atrás, no oriente como fim
pratico para militares, para medir a distância entre o campo onde estava o
palácio do imperador; também servia como veiculo de comunicação, para comunicar
posição ou pedir ajuda.
Somente com o passar do tempo é que o
papagaio de papel transformou-se em brinquedo infantil (KISCHIMOTO – 1995).
Os portugueses trouxeram, também, como
influencia as adivinhas e parlendas como: o Lobisomem, a Moura-Encantada, as
Três Cidades do Amor, a Maria Sabida e muitos outros, assim como as histórias
de bruxas, fadas, assombrações, gigantes, príncipes, castelos, tesouro
enterrado, etc (KISCHIMOTP – 1995).
As lendas e contos trazidos pelos portugueses
acompanham a infância brasileira e participam também dos jogos.
As crianças brasileiras desde a colonização
escutavam canções de ninar de origem portuguesa como (KISCHIMOTO – 1995):
“Vai-te, papão
vai-te embora
de cima desse telhado,
deixa dormir o menino
um Soninho descansado”
Os jogos de bater palmas acompanhadas de
versos como:
“Fiorito que bate, bate;
Fiorito que já bateu;
quem gosta de mim é ela
quem gosta dela sou eu”
Em São Paulo, as crianças cantam esse jogo
trocando Fiorito por pirulito, não só esse jogo foi adaptado para os dias
atuais, muitos outros jogos foram transmitidos por muitas gerações, como estes
conhecidos através das pesquisas de Kischimoto (1995).
Da transição indígena ficou para os
brasileiros o gosto pelos jogos e brinquedos imitando animais.
O jogo para os indígenas era preparo para a
vida, pois as crianças indígenas imitavam os adultos nos seus afazeres, caça,
pesca arco e flecha, etc.
Com o passar do tempo entra no Brasil, para
substituir o trabalho indígena, os negros africanos.
Estes têm profunda participação na vida dos
brasileiros, trazendo contribuições em diversos setores, tanto na vida
econômica como na vida cultural e social.
Os negros deixaram sua marca na literatura
oral, as histórias da mãe – preta, os contos, as lendas, os mitos, os deuses e
as animais encantados.
Alguns brinquedos como a espingarda de talo
de bananeira, usada na brincadeira de guerra (KISCHIMOTO – 1995).
As crianças africanas que não frequentavam
escolas auxiliavam nas tarefas domésticas. Seus brinquedos eram construídos com
materiais naturais.
A influência maior dos negros é através de
seu folclore, sua cultura, sua crença, que perpetuou na vida dos brasileiros.
Em todo o tempo de construção da história, em
todos os períodos históricos vivenciados no desenvolvimento da humanidade
percebe-se que o jogo não é visto como um fator importante para a formação da
criança.
Essa colocação vem sendo discutida atualmente
entre vários teóricos e profissionais da educação.
Uma abordagem sobre a formação da criança vem
sendo discutida, pensa-se que a criança constrói todo seu conhecimento
brincando, manipulando objetos, imaginando e imitando situações do mundo
adulto, necessitando apenas de um individuo orientador que faça a leitura de um
mundo contextualizando assim a criança no seu universo.
A
importância do brincar.
“É no brincar, e talvez apenas no brincar,
que a criança ou o adulto fruem sua libertação de criação...” (WINNICOTT –
1975).
Brincar é essencial a saúde física, emocional
e intelectual do ser humano.
Ao brincar há o reequilíbrio, há reciclagem
das emoções e necessidades de reconhecer e reinventar.
É brincando que a criança mergulha na vida
sentindo-a na dimensão de suas possibilidades.
No espaço criado pelo brincar nessa aparente
fantasia, acontece à expressão de uma realidade interior que pode estar
bloqueada pela necessidade de ajustamento expectativas sociais familiares
(WINNICOTT – 1975).
A
brincadeira espontânea proporciona oportunidade de transferências significativas
que resgatam situações conflituosas.
O brinquedo é oportunidade de
desenvolvimento.
Brincando, a criança experimenta, descobre,
inventa, exercita e confere suas habilidades.
O brinquedo estimula a curiosidade, a
iniciativa de autoconfiança.
Proporciona aprendizagem, desenvolvimento de
linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.
Brincar é indispensável a saúde física,
emocional e intelectual da criança.
É uma arte, um dom natural que, quando bem
cultivado, irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do
adulto (WINNICOTT – 1975).
O brinquedo espontâneo pode ser considerado
sob dois aspectos (WINNICOTT – 1975):
· Auto expressão.
· Auto realização.
Vinculado a auto expressão estão as
atividades livres, construções, dramatizações, musicas, artes plásticas, etc.
E a auto realização, o brinquedo organizado,
ou seja, aquele que tem uma proposta e, portanto requer determinado desempenho.
Quanto mais simples o material, mais fantasia
exige.
Quanto mais sofisticado, em meio desafio se
constitui, mas é sempre uma oportunidade para que a criança interaja, faça
escolhas e tome decisões.
O brinquedo é um convite ao brincar, facilita
e enriquece a brincadeira proporcionando desafio e motivação.
Ao ver o brinquedo, a criança é tocada pela sua
proposta, reconhece umas coisas, descobrem outras, experimenta e reinventa;
analisa, compara e cria.
Sua imaginação se desenvolve suas habilidades
também.
Enriquecendo seu mundo interior, tem mais
coisas a comunicar e pode cada vez mais participar do mundo que A cerca.
O brinquedo traduz o real para a realidade
infantil. Suaviza o impacto provocado pelo tamanho e pela força dos adultos,
diminuído o sentimento de impotência da criança.
Através da experimentação a criança aprende a
controlar seus movimentos e a estabelecer ordem em seu mundo.
Quando tem acesso a farto material, satisfaz
suas necessidades de desenvolvimento e sente-se atraída pelas possibilidades
que eles representam.
As crianças trabalham com materiais não
somente para alcançar um objetivo, mas pelo prazer de experimentá-los e lidar
com eles.
Os brinquedos são alimentos para a fome do
conhecer das crianças (WINNICOTT – 1975).
O brinquedo proporciona atividades dinâmicas
e desafiadoras, que exijam participação ativa da criança.
As situações problemas contidas na
manipulação de certos materiais, se estiverem adequadas as necessidades do
desenvolvimento da criança, fazem-se crescer através da procura de soluções e
de alternativas
O desempenho psicomotor da criança enquanto
brinca alcança níveis a que só mesmo a motivação intrínseca consegue (WINNICOTT
– 1975).
O brinquedo estimula a inteligência porque
faz com que a criança solte sua imaginação e desenvolva a criatividade.
Mas, ao mesmo tempo, possibilita exercício de
concentração, de atenção e de engajamento.
Distrai, porque oferece uma saída para a
tensão provocada pela pressão do contexto adulto.
Possibilita exercício de atenção, orientação,
porque leva a criança a absorver-se na atividade. Inicialmente, deve-se fornece
r brinquedos que exijam menos tempo para que as atividades sejam realizadas e à
medida que a criança já consegue executa-las oferecer jogos que solicitem maior
tempo de utilização.
O brinquedo e as brincadeiras são excelentes
oportunidades para nutrir a linguagem da criança.
O contato com diferentes objetos e diferentes
situações estimula também a linguagem interna e o aumento do vocabulário
(WINNICOTT – 1975).
O entusiasmo da brincadeira faz com que a
linguagem verbal torne mais fluente e haja maior interesse pelo conhecimento de
palavras novas.
A variedade de situações que o brinquedo
possibilita pode favorecer a aquisição de novos conceitos.
A participação de um adulto, ou criança mais
velha pode enriquecer o processo: a criança faz experiências descobrindo as
leis da natureza, o adulto introduz os novos conceitos por ele vivenciados completando
assim, a sua integração (WINNICOTT – 1975).
Brincando, a criança desenvolve seu senso de
companheirismo: jogando com os companheiros aprende a conviver, ganhando ou
perdendo, procurando entender regras e conseguir uma participação satisfatória.
No jogo, a lei não deriva do poder ou da
autoridade, mas das regras, portanto, do jogo em si.
Conhecidas as normas, todos tem sua
oportunidade e participando do jogo, a criança aprende a aceitar o resultado
dos dados ou de outro fator de sorte serão excelentes exercícios para lidar com
frustrações e, ao mesmo tempo, elevar o nível e motivação.
Nas dramatizações a criança vive personagens
diferentes alargando assim sua compreensão sobre os relacionamentos humanos.
As relações cognitivas e afetivas, consequentes
da interação lúdica, propiciam amadurecimento emocional e vão, pouco a pouco,
construindo a sociabilidade infantil.
Especialmente nos jogos grupais, a interação
acontece de maneira mais fácil, pois é estimulada pela necessidade que os
elementos de grupo tem de alcançar determinadas metas.
Para extrair mais resultados dessa interação
é necessário mudar sempre os elementos dentro de cada grupo.
A
criança, o brinquedo e o adulto.
A maneira como as crianças tratam os
brinquedos esta relacionada com a forma que os receberam.
A criança sente quando esta recebendo um
brinquedo por razões subjetivas do adulto, que, muitas vezes compra o brinquedo
que gostaria de ter tido, lhe da status que
vai comprar afeto ou servir como recurso para livrar-se da criança por
um bom espaço de tempo (WINNICOTT – 1975).
O adulto transmite a criança uma certa forma
de ver as coisas.
É ele quem pode proporcionar oportunidades
para a criança ver coisas interessantes, mas é indispensável que seja
respeitado o momento de descoberta da criança para que ela possa desenvolver
sua capacidade de concentração.
Brincar junto reforça laços afetivos.
É uma maneira de manifestar nosso amor a
criança (WINNICOTT – 1975).
A participação do adulto no jogo da criança
eleva o nível de interesse, pelo enriquecimento que proporciona; pode também
contribuir para o esclarecimento de duvidas referente a regras de jogo.
A criança sente ao mesmo tempo prestigiada e
desafiada quando o parceiro da brincadeira é um adulto.
Este por sua vez pode levar a criança a fazer
descobertas e a viver experiências que tornam o brinquedo mais estimulante mais
rico em aprendizado.
A criança deve explorar livremente o
brinquedo, mesmo que a exploração não seja a que esperávamos.
É preciso ter cuidado com a intervenção do
adulto não interrompa a linha de pensamento da criança e não atrapalhe a
simbolização que estava fazendo.
Ela precisa de alguém que a escute e a motive
a falar, a pensar e a inventar.
Precisa tanto de atividades grupais que a
levem a sociabilizar-se quanto à de atividades individualizadas que
possibilitem o atendimento das necessidades pessoais (WINNICOTT – 1975).
O habito de guardar os brinquedos com cuidado
pode ser desenvolvido através da participação da criança feita pela arrumação
do adulto.
Se ela percebe o carinho ao zelo ao
guardá-los automaticamente aprende a zelar pela ordem e conservação, podendo
haver satisfação em guardar como houve no brincar.
É muito comum algumas famílias guardarem a
“sete chaves” os brinquedos das crianças por não saberem brincar com eles,
principalmente as crianças menores de 4 ou 5 anos, pois os pais não entendem
que a principio a criança brinca apenas por prazer de manipular os objetos e
não pela função social dos brinquedos, após um período de vida a criança passa
a entender as regras dos brinquedos, ou seja como se brinca, o que deve fazer
com eles.
É preciso respeitar o momento de brincar das
crianças, para que ela possa também respeitar o momento dos adultos.
Tipos
de jogos.
A criança que sempre participou de jogos e
brincadeiras grupais saberá trabalhar em grupo, por ter aprendido a aceitar as
regras do jogo.
Saberá também respeitar as normas grupais e
sociais.
É brincando bastante que a criança vai
aprender a ser um adulto consciente, capaz de participar e engajar-se na vida
de sua comunidade (NYLSE – 1988).
Inicialmente o jogo para as crianças é
simplesmente uma manifestação por prazer, seu interesse é apenas exploratório,
também conhecido como jogo funcional.
Mais tarde, a criança passa a utilizar o jogo
simbólico, vinculado a fantasia, surgindo as imitações e as transformações dos
jogos simbolicamente.
Vejam alguns tipos de jogos (NYLSE – 1988):
· Jogos de linguagem (jogos de associação, de
atenção, problematização, adivinhação, etc.) envolvem rodas, canções,
apresentações faladas, passatempos, dramatizações, etc.
· Jogos de construção: encaixes, jogos de mesa,
relações entre objetos, nomes, conceitos lógicos, monta - tudo, etc.
· Jogos simbólicos: recreação e imitação de
situações vividas em casa, na escola ou em outros espaços sociais.
· Jogos de regras: controle de ações, respeito,
competição. As regras podem ser criadas e modificadas de acordo com a
necessidade do grupo.
De acordo com Nylse, as crianças aprendem
desde cedo sobre sua vida, brincando, historicamente há brinquedos que fizeram
e fazem parte do universo lúdico das crianças.
Brinquedos
de berço.
A presença de objetos com móbiles, chocalhos,
bichinhos de pelúcia, brinquedos para olhar, ouvir, morder, são
importantíssimos para o desenvolvimento sensorial do bebê.
Ele começa a virar a cabeça à procura de
objetos, a sensibilizar-se com sons diversos, a pegar, agarrar os brinquedos
exercitando assim seus movimentos, mexendo os braços e mãos para posteriormente
atingir fases do desenvolvimento.
Brinquedos
afeto
Estes normalmente provocam sensação de
aconchego e oferecem consolo à criança, são sempre macios, gostosos de pegar,
desperta vontade de afeto, fazendo a criança acariciar e abraçar o brinquedo
predileto.
São também importantes principalmente quando a
criança se apega a um deles e quer levá-lo para todos os lugares. Isso
acontece, pois o brinquedo de afeto torna-se um companheiro representando um
apoio amigo que só oferece afeto e conforto.
A criança sente-se segura com um objeto seu
em lugares estranhos.
Numa brinquedoteca não é aconselhável ter
brinquedos de afeto para empréstimos e sim como utilização no próprio espaço de
brincar, pois a criança pode ficar tristonha, frustrando-se sem querer
devolve-lo.
Brinquedos
faz – de – conta.
Quem nunca brincou de faz – de – conta? Toda
criança um dia brincou.
A brincadeira de faz de conta está ligada a
fantasia, desenvolve a criatividade, o raciocínio e oferece oportunidade de
elaborar simbolicamente as tensões emocionais e os conflitos.
Em seu jogo simbólico a criança vivencia
diversas situações do seu dia-a-dia.
Transforma objetos variados em brinquedos sem
modificar seu estado, somente com sua imaginação.
As
bonecas.
As bonecas ou bonecos que representam os
adultos em miniatura, onde a criança brincando, dá vida e atribui sentimentos a
eles, exercitando assim suas próprias emoções.
Através da brincadeira com bonecos as
crianças têm oportunidade de exercitar as relações de poder que o adulto exerce
sobre elas.
Elas imitam os adultos em sua relação com as
crianças ou adultos: proteger, repreender, cuidar, castigar, alimentar, amar ou
rejeitar, acariciar, etc. são sentimentos vividos pela criança no convívio com
os adultos.
É interessante notar que os meninos também
gostam de bonecas, porém a cultura de muitas famílias não permite o uso de
bonecas pelos meninos, então eles se utilizam de outros objetos para brincar e
representar pessoas.
Fantoches
e fantasias.
Os fantoches e fantasias são essenciais na
brincadeira infantil, sejam eles de rosto (máscaras), demão ou dedo, roupas de
adultos e acessórios tipo sapatos, bolsas, capacetes, maquiagens ou mesmo
fantasias industrializadas de super heróis, animais e muitos outros, estimulam
a linguagem e a imaginação.
Isso faz com que as crianças sintam prazer em
manipulá-las, pois oferecem a oportunidade de dar vida e sons a bonecos e
animais.
A criança também se utiliza dessa brincadeira
para trabalhar e superar certos sentimentos, como a timidez, a vergonha, ou
algum outro sentimento que esteja passando.
Isso porque ela passa para o personagem todo
o foco de conflito existente sem ser percebido.
Geralmente manifestam sentimentos,
extravasando suas emoções, vivendo situações dos seu dia-a-dia.
Quando uma criança se fantasia de mamãe,
papai ou outros personagens, está exercitando papéis que são importantes para
sua vida, pois nesse momento está em busca de identidade pessoal.
Na vida das crianças estão presentes outros
tipos de brinquedos, como bola, carrinhos, brinquedos de casinha, jogos de
mesa, jogos de construção, sucata e muitos outros.
A
sucata na aprendizagem.
De um lado o fato coloca-se assim: nada é
mais adequado a criança do que imaginar em suas construções os materiais mais
heterogêneos – pedras, plastilina, madeira, papel.
Por outro lado, ninguém é mais sóbrio em
relação aos materiais do que as crianças: um simples pedacinho de madeira, uma
pinha ou uma pedrinha reúne em sua solidez, no monolitismo de sua matéria, uma
exuberância das mais deferentes figuras (Walter Benjamim, 1984).
Por sucata denomina-se todo o material
descartável que aparentemente não tem utilidade.
A construção de brinquedo com a sucata é uma
proposta de mudanças, um desafio da capacidade criadora.
Considerando a magia pedagógica, pois
trabalha a reconstrução, a redescoberta de um objeto transformado.
O processo de criação é infinito: qualquer
sucata passa a ser um desafio irresistível que proporciona a oportunidade para
criar e se libertar do consumismo prático ou puro.
Segundo Nylse (1988): “Quando partilhamos com
uma criança a descoberta de um objeto cuja utilização pode ser reinventada,
estamos também mostrando o valor e o encanto das pequenas coisas”.
A construção de brinquedos através de sucatas
gera – invariavelmente – um sentimento de produto final “imperfeito” para os
adultos.
Para as crianças não, já que o significado
desta contração é primordial a ela.
A criança atua de acordo com a sua capacidade
físico motora no estágio em que se encontra e, não tem, como adulto, a mesma
preocupação de acabamento dos objetos; o brinquedo é construído para ser
imediatamente utilizado (NYLSE – 1988).
Reciclar materiais de diversas origens
obtendo novas formas implica perceber nos brinquedos a essência dessa
transformação.
Entender isso conduz a uma compreensão maio
do brinquedo e do universo infantil.
A sucata é um recurso importante a ser
utilizado em sala de aula, pois além de envolver as crianças numa brincadeira
mágica de transformação, ela oferece a oportunidade de atrelar conteúdos
estudados pelos alunos, a interdisciplinaridade está presente em qualquer
embalagem, produto que utilizamos, basta olhos atentos e observadores a tudo
que nos rodeia.
A transdisciplinaridade também, pois, quando
alunos se envolvem com sucata estão trabalhando valores importantes envolvendo
inclusive a família.
Ao fazer a coleta dos materiais, a
higienização e o uso desses objetos, está sem perceber trabalhando em prol da
natureza, tendo uma atitude ecologicamente correta.
Levando para a escola a sucata,
transformando-a em um novo objeto e levando-a novamente para casa, leva também
para a família uma nova consciência.
O jogo
na sala de aula.
Várias técnicas de ensino podem contribuir
para a aprendizagem.
Uma dessas técnicas é o jogo.
Com o jogo os educandos vivenciam situações
semelhantes da vida.
Ele propõe momentos de tomada de decisões
seguindo determinados objetivos e limites, podendo envolver competição,
cooperação, conflitos e sentimentos como: insegurança, medo, auto-afirmação e
curiosidade, tudo acontecendo através da interação dos participantes.
“A simulação e o jogo são situações de
aprendizagem, nas quais a livre exploração e a descoberta tanto no nível
individual quanto grupal deve ser maximizada” (RONCA – p.62 – 1982).
Um mesmo jogo pode ser usado com objetivos
diferentes, de acordo com a necessidade do grupo a ser trabalhado.
A brincadeira desenvolve o educando
procurando um interesse e desejo de aprender mais acentuado.
Também facilita o pensamento intuitivo e
favorece o desenvolvimento do comportamento social (NYLSE – 1988).
De acordo com Ronca( 1982), os jogos são
situações de aprendizagem, então não se pode utilizar a técnica do jogo somente
com o objetivo de criar um “clima gostoso” em sala de aula ou apenas para
variar as estratégias do professor num momento em que não se tem algo
considerado mais importante para fazer.
O jogo deve fazer parte do planejamento de
ensino, visando uma situação de aprendizagem clara e específica, a fim de
facilitar a aprendizagem dos educandos, que são sempre mais participativos
quando envolvidos numa situação recreativa.
O jogo pode ajudar os educandos em muitas
situações que envolvam uma dificuldade.
Pois aplicar um jogo em sala de aula provoca
uma excitação e um alto interesse pela aprendizagem.
A motivação das crianças aumenta o interesse
pelos estudos também.
Surge a vontade de pesquisar, dramatizar,
procurar uma bibliografia complementar, de participar mais das atividades
propostas.
Vejam outros benefícios produzidos através de
técnicas de jogos (KISCHIMOTO – 1995):
· Facilita o desenvolvimento do raciocínio na
medida em que estimula os educandos a pensar, a adivinhar.
· Habitua o educando a correr riscos,
desenvolvendo a coragem e auto confiança.
· Propõe contato com diversos sentimentos,
fazendo-o refletir sobre ganhar e perder.
· Aumenta o poder de concentração e de atenção.
A escola tem várias
funções, uma delas é a transmissão de conteúdos, de conhecimentos, nesta função
o jogo e a simulação podem ser excelentes estratégias, pois auxiliam o educador
a atingir um número maior de educandos com interesse na aula (KISCHIMOTO –
1995).
O educador pode criar vários jogos para a
aprendizagem, envolvendo disciplinas como a matemática, história, geografia e
outras.
Os jogos também são ótimas estratégias para o
desenvolvimento da percepção, reflexão sobre questões sociais, como a
competição e seus significados.
Podem ser utilizados para desenvolver nos
educandos determinados valores sociais, como: respeitar o outro, honestidade,
saber ganhar e saber perder, aprender lidar com situações conflitantes dentro
do grupo (KISCHIMOTO – 1995).
O educador deve ficar atento quanto à
utilização de algumas técnicas com crianças que não conseguem lidar com os
conflitos no grupo e optam por não brincar ou provocam confusão; a timidez e a
vergonha também atrapalham o desenvolvimento dos alunos, pois ao envolver-se
num jogo, há um alto envolvimento emocional do educando.
O educando não deve excluir o aluno e sim
tentar ajudá-lo a aliviar e superar as tensões emocionais que o impedem de
brincar.
É importante trabalhar as frustrações dos
educandos sem colocá-los em situações constrangedoras (ESCOBAR – 1982).
Devido a interação social das crianças em
sala, pode haver várias situações de conflitos, então não é adequado criar
competições de educandos com outros que apresentam nível de realidade alto,
pois não ajudam aqueles com dificuldades a obter atitudes e valores desejáveis,
além de ocorrer possíveis rivalidades alimentando situações insustentáveis e
constrangedoras.
O uso de jogos e simulações provoca várias
mudanças, tanto no espaço físico da sala como nas relações professor/aluno e
aluno com aluno.
O educando na interação com o educador sente
uma maior liberdade para explorar ideias, pois o educador está pronto para
ouvir e estimular ainda a participação individual dos seis alunos.
O educador se aproxima mais dos educandos, e
o resultado desta ação é um melhor relacionamento entre professor e aluno.
O educando, por sua vez, sente o professor de
forma mais positiva e passa a confiar-lhe ainda mais as suas dificuldades e sua
vontade de se desenvolver.
Ele também se aproxima mais dos outros
colegas conhecendo-os melhor.
Há, por tanto, uma significativa mudança no
papel do professor que deixa de ser julgador, castrador, detentor do saber para
ser um educador orientador, que facilita o saber e a aprendizagem dos
educandos.
Concluindo.
Através das pesquisas bibliográficas e das
experiências observadas, foi possível perceber que toda esta pesquisa vem
provar que o jogo como técnica de aprendizagem é infinito em suas
possibilidades de aplicação.
De acordo com a criatividade do aplicador,
educador, professor, haverá uma finalidade, um objetivo, que levará a criança a
brincar, desenvolver-se e construir seu raciocínio, sua inteligência.
De acordo com algumas leituras realizadas com
aplicações de jogos realizadas por educadores com as crianças, pude concluir
que as crianças aprendem brincando com mais prazer e facilidade. Também conclui
que elas apresentam prazer em manipular e construir os brinquedos.
As crianças demonstram alegria e satisfação
ao verem a magia da transformação de “simples caixas” em jogos.
As crianças demonstram ansiedade e tornam-se
mais atentas quando iniciam as brincadeiras, como, por exemplo, montando um
quebra-cabeça.
Pude também concluir, que todos os tipos de
jogos desempenham um importante papel no desenvolvimento físico e espiritual da
criança.
Deve-se aplicar os jogos de uma forma
correta, planejada que leve realmente o aluno a aprender brincando.
O bom êxito de toda a atividade lúdica
pedagógica depende exclusivamente do bom preparo e lideranças do professor.
Os jogos que por muito tempo fizeram parte da
didática de grandes educadores do passado, hoje surgem como necessidade
absoluta e indispensável no processo educativo; o jogo é uma atividade poderosa
que estimula a atividade construtiva da criança, criando assim, um espaço para
pensar, abrindo um lugar para a criatividade, a afirmação da personalidade e a
valorização do eu.
Os jogos e brinquedos são usados nos mais
diversos segmentos da convivência humana; são usados por famílias para
estimularem suas crianças; em psicologia (ludoterapia) e psicopedagogia, como
recurso terapêutico em sala de aula na condição de estratégia do trabalho
docente.
O brinquedo estimula a inteligência porque
faz com que a criança solte a sua imaginação e desenvolva a sua criatividade,
ao mesmo tempo, possibilita o exercício da concentração, da atenção e
engajamento.
Os jogos oferecem excelentes oportunidades
para nutrir a linguagem da criança.
O contato com diferentes objetos e situações
estimula a linguagem interna e o aumento do vocabulário.
É por meio da brincadeira que a criança
desenvolve o seu senso de companheirismo; aprende a conviver, ganhando ou
perdendo; procura entender regras e conseguir participação satisfatória.
É notável que a criança quando brinca,
levanta hipóteses, faz associações, classifica, imita e cria o que deseja, com
seu brinquedo ou jogo.
O papel do profissional da educação e da
família é oferecer espaços, oportunidades e desafios a estas crianças.
Para que elas possam criar e estruturar suas
ideias e posteriormente descobrir a si mesmo e aos outros.
É preciso deixar o processo de criação das
crianças fluir naturalmente, sem reprimir, sem oferecer modelos prontos para
serem reproduzidos apenas satisfazer o desejo do adulto.
É de extrema urgência que façamos uma
reflexão sobre o nosso papel, enquanto educadores, procurando nos aperfeiçoar,
lendo, pesquisando, estudando para que possamos modificar a prática
tendenciosamente tolhedora, castradora de inteligências.
Sendo assim, se os educadores estiverem
atentos quanto ao seu papel na vida das crianças, quanto a sua função social
dentro da escola, quanto a manutenção do saber, estarão lutando por um trabalho
de excelência em educação.
Finalizo assim com a seguinte conclusão:
“Brincar é indispensável á saúde física, emocional e intelectual da criança”.
Para saber
mais sobre o assunto.
PIAGET, Jean; INHELDER, Barbela. A Psicologia da criança. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.
CUNHA, Nylse H. da Silva. Brinquedo, Desafio e Descoberta.
Rio de Janeiro: Min. Da Educação, 1988.
KISCHIMOTO, Tizuko Morchida.
Jogos Tradicionais Infantis Rio de Janeiro: Vozes,
1995.
WINNICOTT, D. W.
O Brincar & a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
ESCOBAR & RONCA. Técnicas Pedagógicas
-Domesticação ou Desafio a Participação? Rio Petrópolis: Vozes, 1982.
FULGHUM,
Robert. Tudo Que Eu Devia Saber na Vida Aprendi
no Jardim de Infância. São Paulo: Best Seller, 1988.
Texto:
Profa. Rosemara Marcia da Silva de Jesus.
Pós-Graduanda
em Psicopedagogia Institucional pelo INEC/UNICSUL.
Amei o Artigo, meu tcc será sobre esse assunto, e com certeza vou ler sobre esses autores.
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