Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume fev., Série 01/02, 2011, p.01-15.
A República de Cuba, uma ilha com pouco mais de cento e dez quilômetros quadrados e uma população de onze milhões de habitantes, possui desde a revolução um regime político de um único partido, enquadrando-se como socialista. É verdade que a revolução cubana foi um dos momentos mais importantes da segunda metade do século XX.
No entanto, instituiu também uma das ditaduras mais longas da história dirigida por um mesmo homem: Fidel Castro.
Não se pode negar que para o povo cubano representou inúmeros avanços, mas, igualmente, conduziu a problemas de várias ordens.
Assim, resta examinar mais detalhadamente o contexto da revolução, com a intenção de ajudar o leitor a formar sua própria opinião.
Um pouco da história de Cuba.
Em 1976, a Constituição de Cuba definiu o regime como uma república socialista na qual todo poder pertenceria à classe trabalhadora, referendando o que já havia sido definido no final na década de 1950.
Desde 1959, Fidel Castro Ruz assumiu diferentes cargos, tornando-se chefe de Estado e de governo, teoricamente sendo reeleito em 1976, 1981, 1986, 1993 e 1998.
Porém, a história de Cuba não começou com Fidel, a despeito de sua notoriedade após a revolução e o embargo norte-americano.
A ilha de Cuba foi descoberta por Cristóvão Colombo em 27 de outubro de 1492.
Em 1519, foi fundada a cidade de São Cristovão de La Havana, a qual iria se tornar o porto e entreposto comercial mais importante das Índias Ocidentais na época colonial e, depois, capital de Cuba.
Nos séculos XVI e XVII, a base da economia cubana se concentrou na pecuária, construção naval e exportação de madeiras, além de tabaco.
Devido ao crescimento constante da demanda mundial por açúcar, no inicio do século XVII, o cultivo de cana-de-açúcar tornou-se a base da economia, fazendo a ilha prosperar com a ampla utilização de mão de obra escrava africana.
A concorrência do açúcar cubano desarticulou as exportações brasileiras da época e fez o chamado ciclo açucareiro entrar em colapso na América portuguesa.
Na ocasião, Cuba era uma colônia da Espanha.
O século XIX foi marcado, no plano político, pelo surgimento de diversos movimentos de independência cubanos, todos reprimidos pela metrópole.
Em 1868, o advogado Carlos Manuel de Céspedes liderou um destes movimentos, a chamada Republica em Armas, dando de fato inicio a uma guerra pela independência que durou dez anos, mas fracassou.
Inicialmente, os revoltosos exigiam a equiparação de Cuba às províncias espanholas, porém, cedo, a luta tornou-se separatista.
Em decorrência da guerra, como represaria aos revoltosos, cujas lideranças eram compostas por grandes latifundiários, a escravidão terminou sendo abolida em 1886.
Era uma forma de tentar enfraquecer o poder e prestigio político dos senhores de engenho que mandavam na política local.
Entretanto, em 1895, alguns recém chegados do exílio iniciaram um novo movimento pela independência que finalmente lograria êxito.
Ainda na clandestinidade, Máximo Gomes, Antonio Maceo, Guillermón Moncada e José Martí organizaram grupos de guerrilheiros que começaram a impor perdas às tropas espanholas estacionadas na ilha.
Pouco depois, os rebeldes obtiveram o apoio norte-americano, cedido sob pretexto de libertar Cuba.
Os Estados Unidos da América (EUA), interessado em ampliar sua influência sobre o que consideravam seu quintal, declarou guerra à Espanha, intervindo no conflito, enviando tropas de fuzileiros navais e armas.
A guerra foi rápida e sangrenta, os rebeldes saíram vitoriosos.
Em 1898, quando foi assinado um tratado de paz entre a Espanha e os EUA, os espanhóis renunciaram a posse de Cuba.
Ao mesmo tempo, a Espanha cedeu um território de cento e dezessete quilômetros quadrados para que os EUA estabelecessem uma base naval em Guantánamo.
Foi assim que, em 20 de maio de 1902, surgiu a República de Cuba, não sem pagar um alto preço pelo apoio norte-americano.
O presidente Tomás Estrada Palma referendou a posse do território onde estava estabelecida a base de Guantánamo aos norte-americanos, alugando a zona por um valor simbólico, quatro mil e oitenta e cinco dólares mensais.
A Constituição cubana foi obrigada a incorporar a nomeada Emenda Platt, pela qual os EUA passavam a ter o direito de intervir militarmente a qualquer momento.
O que foi justificado em nome da preservação da independência cubana, bem como para proteger a vida, propriedade e liberdade individual.
Na realidade, foi dada carta branca aos EUA para impor seus interesses aos cubanos, colocados acima das necessidades da ilha.
Uma prerrogativa que conduziria Cuba a ditaduras corruptas de direita, pró-norte-americanas, a reboque, provocando a revolução castrista.
A ditadura de Fulgêncio Batista e a revolução.
Entre 1902 e 1959, Cuba foi governada por vários presidentes e passou por algumas ditaduras de direita.
O último mandatário do país foi o general Fulgêncio Batista, o qual subiu ao poder através de dois golpes de Estado distintos, em épocas diferentes.
Filho de agricultores pobres, Batista trabalhou em uma variedade de funções até entrar no exército em 1921.
Ele começou como estenógrafo, rapidamente chegando ao posto de sargento e desenvolvendo um grande número de seguidores pessoais.
Em setembro de 1933, organizou a Revolta dos Sargentos, derrubando o regime provisório de Carlos Manuel de Céspedes, que tinha substituído o regime ditatorial de Gerardo Machado y Morales.
Assim se tornou o homem mais poderoso de Cuba, auto nomeando-se general e assumindo a presidência de um governo provisório.
Neste período consolidou comando concentrando o poder nas mãos de seus aliados e afilhados políticos, através de nomeações para os cargos públicos mais importantes.
Governou o país com mão de ferro, instaurando o terror entre seus inimigos, mandando prender, torturar e assassinar os opositores.
Cultivou o apoio do exército e do funcionalismo público, manipulando os trabalhadores urbanos através do estimulo as pseudos organizações sindicais.
Após preparar terreno, foi eleito presidente em 1940, em eleições fraudulentas e controversas.
Foi quando passou a governar Cuba de forma mais eficaz, investindo na expansão do sistema educacional, patrocinando um enorme programa de obras públicas e a promoção do crescimento da economia.
Apenas medidas paliativas para ganhar o apoio da opinião publica, enquanto mantinha uma rede bem estruturada de corrupção, baseada no apoio de investidores norte-americanos do ramo de cassinos e prostituição, quase todos ligados a ao crime organizado nos EUA.
Esta primeira fase terminou em 1944, quando chegou ao fim o mandato de Batista.
Foi quando ele viajou para o exterior e viveu por um tempo na Flórida, onde investiu grande parte dos recursos roubados de Cuba.
Durante os oito anos em que esteve fora de Cuba, estouraram inúmeros escândalos de corrupção em grande escala envolvendo seus sucessores, bem como um virtual colapso dos serviços públicos.
Enxergando uma oportunidade, Batista retornou ao poder, em março de 1952, através de um novo golpe militar que depôs o presidente Carlos Prío Socarrás.
Desta vez, sua ditadura foi ainda mais brutal, exercendo controle sobre as universidades, imprensa e Congresso, desviando somas enormes das receitas públicas e mandando prender todos que se opunham a qualquer de seus atos.
Tudo tolerado pelas elites locais devido ao fato de medidas governamentais consolidarem o crescimento da economia, gozando do apoio do exército, da policia, dos grandes latifundiários e da igreja católica.
Para provar ao mundo que exercia um governo democrático, em 1954 e 1958, Batista realizou eleições supostamente livre, manipuladas para fazer dele o único candidato.
Contando com o apoio diplomático dos EUA, a ditadura de Fulgêncio Batista parecia impossível de ser derrubada, quando intelectuais oriundos das camadas médias urbanas começaram a conspirar contra o seu governo.
Entre estes estavam, justamente, Fidel e Raul Castro, além de Camilo Cienfuegos, José Antonio Echeverría e outros jovens idealistas der esquerda, tal como o médico estrangeiro Ernesto Guevara de La Serna, que ficaria conhecido como Che Guevara.
Os irmãos Castro eram filhos de um imigrante espanhol, um grande proprietário de terras.
Naquele momento, Fidel tinha recém terminado o curso de direito na Universidade de Havana e seu irmão Raul estudava Ciências Sociais.
Em 1953, Fidel, acompanhado por cerca cento e sessenta homens, tentou tomar o Quartel Moncada, uma guarnição do exército, em busca de armas e munições para iniciar uma revolução.
O plano falhou, tendo como resultado a morte de cinco rebeldes e a prisão de quase todos os envolvidos.
Os irmãos Castro foram capturados alguns dias depois do levante.
Em um julgamento eminentemente político, Fidel Castro fez um dicuscurso de quase quatro horas, em sua defesa, terminando com as palavras: "Condenem-me, não importa. A história me absolverá".
Fidel foi condenado a quinze anos de prisão no Presídio Modelo, localizada na ilha de Pinos, Raúl recebeu pena de treze anos.
Entretanto, quando da posse de Batista, por ocasião do pleito eleitoral de 1954, sob influência de conselheiros jesuitas que haviam sido professores de Fidel, os irmãos Castro e outros presos políticos terminaram perdoados, ganhando a liberdade por meio de um decreto de anistia geral.
Saindo da prisão, Fidel partiu para exilio no México, onde, junto com o irmão, além de Che Guevara e Camilo Cienfuegos, criou o Movimento 26 de Julho, nomeado primeiro M-26-J e depois M-26-7.
Uma referência a data da tentativa de tomada do Quartel Moncada.
O movimento se organizou usando celulas clandestina, voltadas para a guerrilha, através de toda Cuba, somando esforços na luta contra a ditadura de Batista com o Partido Socialista Popular (PSP) e o Diretório Revolucionário 13 de Março.
Em 1961, os três grupos acabaram unindo forças com as Organizações Revolucionárias Integradas (ORI), a qual seria a base do Partido Comunista Cubano, fundado em 1965.
Estava montado o cenário que levaria os revolucionários a vitória, derrubando a ditadura de Batista.
O ditador seria obrigado a fugir com sua família para a República Dominicana em 1º. de janeiro de 1959 e, pouco depois, buscar exílio na ilha da Madeira, para, finalmente, instalar-se em Estoril, em Portugal.
O inicio da revolução.
O movimento revolucionário foi iniciado antes mesmo que a revolução fosse efetivamente pensada, pois seus principais lideres e membros mais engajados começaram a oposição à ditadura em 1952.
Foi quando estudantes e intelectuais cubanos fundaram jornais clandestinos que clamavam por liberdade.
Tratava-se de períodicos mineografados, distribuidos clandestinamente, como La Palavra, Son los mismos e El acusador, este ultimo tinha como co-editor Fidel Castro.
Foram estes jovens que, tentando tomar o Quartel de Moncada, acabaram presos e persseguidos pelo regime ditatorial.
A consequencia foi o exilio de vários deles no México e Estados Unidos da América, de onde articularam a revolução, recebendo treinamento militar de Alberto Bayo, líder das brigadas internacionais na Guerra Civil Espanhola.
O México tinha sido escolhido como principal local de exilio pelos perseguidos políticos cubanos porque exisitia um pacto secreto com o governo mexicano, o qual já vinha há anos se manifestando abertamente contra à ditadura de Fulgêncio Batista.
Entretanto, ao ajudar a organizar o M-26-7, exilado no México, Fidel Castro foi encarregado de viajar aos EUA para buscar o apoio de outros fugitivos do regime, pronunciando discursos em Nova York e Miami.
No entanto, só conseguiu juntar algumas dezenas de simpatizantes, os quais, em 1956, partiram clandestinamente para Cuba, a bordo do iate Granma.
O nome era uma referência a uma gíria, em inglês, para grandmother, que significa avó.
Construído em 1943 e movido a diesel, com apenas dezoite metros de comprimento, tinha capacidade para acomodar doze pessoas, mas levou a bordo oitenta e dois revolucionários, junto com provisões, armamento e escassa munição.
A embarcação saiu do México, como destino à costa sul da então província cubana de Oriente, conduzida pelo mexicano Antonio del Conde Pontones ou, como era mais conhecido, El Cuate.
O recém formado Exército Revolucionário Cubano desembarcou na ilha em 2 de dezembro de 1956, depois de um atraso de dois dias na data prevista em virtude do excesso de peso que tornou a anavegação lenta.
Imediatemente, os rebeldes iniciaram uma marcha para Sierra Maestra, no extremo sudeste de Cuba, considerada por Fidel como a chave para iniciar a luta contra Batista, um local com intesas disputas por terras, onde os camponeses poderiam acabar se interessante pela causa revolucionária.
Porém, apenas três dias após, os rebeldes foram cercados por tropas de Batista.
A maioria dos guerrilheiros morreu, apenas um pequeno grupo escapou, cerca de vinte homens, incluindo os irmãos Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos.
Os sobreviventes não desistiram da revolução, decidiram se dividir para buscar novos recrutas, vagando pelas montanhas da Sierra Maestra, foi quando se juntaram ao grupo Celia Sanchez e as irmãs Abel e Haydee Santamaria.
Diante de abusos cometidos pelas tropas de Batista, tal como confisco de alimentos e estupros, os camponeses da Sierra Maestra abraçaram a causa revolucionária, multiplicando seus adptos dia após dia.
Neste meio tempo, em 13 de março de 1957, um outro grupo, o Diretório Revolucionário, invadiu o Palácio Presidencial em Havana, em tentativa suicida de assassinar Batista.
O plano foi fustrado, mas repercutiu negativamente junto ao norte-americanos, que antevendo a derrubada do ditador, no dia 14 de março impuseram um embargo ao seu governo, retirando o embaixador dos EUA de Havana.
Sem o apoio norte-americano, o governo de Batista foi enfraquecido, não podia mais contar com armas e munições importadas dos EUA.
Por esta altura, contraditoriamente, o apoio ao ditador passou a se resumir aos comunistas Partido Socialista Popular, fundado na década de 1920, os quais, em meados de 1958, retiram seu apoio e passaram para o lado dos rebeldes.
A despeito de vinculo com a direita, Batista se dizia um governante de esquerda, gozando do apoio de alguns segmentos comunistas antes do inicio da revolução.
Seja como for, partindo da Sierra Maestra, Fidel, auxiliado por Frank Pais, Ramos Latour e Huber Matos, adotou táticas de guerrilha, atacando pequenas guarnições da policia e exército, em busca de armas e munições.
Che Guevara e Raúl Castro ficaram nas montanhas, arregimentando e treinando novos recrutas, muitas vezes executando suspeitos de serem pró-Batista ou de grupos rivais ao M-26-7.
Além disso, a função dos dois era prestar apoio logistico aos homens de Fidel, protegendo linhas de alimentação e de intercâmbio de informações.
Os rebeldes procuraram também atacar a ditadura no campo ideologico, utilizando uma estação de rádio pirata, com sede em Porto Rico, dirigida por Carlos Franqui, um exilado cubano e amigo pessoal de Fidel.
O veiculo de transmissão das idéias revolucionárias era a Radio Rebelde, criada em fevereiro de 1958.
A rádio transmitia mensagens diárias para todo país, inclusive em território controlado pelas tropas de Batista, exortando a população a se unir aos revolucionários.
A luta dos revolucionários e seu triunfo.
Em pouco tempo, os duzentos combatentes rebeldes iniciais foram se multiplicando; enquanto o exército cubano, somado a força policial, que contava entre trinta e quarenta mil homens, registrava deserções em massa.
No entanto, tal fato não se deveu somente a propaganda, pois, contando os rebeldes com um numero muito inferior, mesmo assim, através das táticas de guerrilha, quase toda vez que o exército os enfrentou foi forçado a recuar.
As derrotas repercutiam frente aos soldados de Batista, com praças que tinham identificação mais próxima dos interesses defendidos por Fidel Castro do que pelo ditador.
Destarte, mesmo carecendo de armamento e munição, devido ao embargo norte-americano, sem poder contar com apoio aéreo, estando seus aviões deteriorados pela falta de peças de reposição, Batista resolveu lançar uma ofenciva definitiva contra os revolucionários, tentando romper suas linhas de abastecimento.
Em 11 de julho de 1958, as forças do ditador iniciaram a Operação Verano, a qual os revolucionários chamariam La Ofensiva.
Mais de doze mil soldados, embora a metade fossem inexperientes recrutas, foram enviados para Sierra Maestra.
O exército Cubano terminou derrotado pelos guerrilheiros, que conheciam melhor o terreno, em 21 de julho.
Companhias e batalhões inteiros acabaram se rendendo aos revolucionários logo nas primeiras escaramuças, propiciando mais armamentos e munições às tropas rebeldes.
Confiantes e agora bem armados, os rebeldes iniciaram uma ofensiva deles, o feitiço havia se voltando contra o feiticeiro.
Porém, em 29 de julho, cerca de trezentos combatentes cairam em uma armadilha, foram quase aniquilados na batalha de Las Mercedes.
Inteligentemente, Fidel Castro pediu um cessar-fogo temporário de uma semana em 1º. de agosto.
Durante este tempo, enquanto fingia negociar, ordenou o reposicionamento das tropas revolucionárias, que voltaram, em um recuo acertado, para Sierra Maestra em 8 de agosto.
Diante da ineficácia da tentativa de aniquilamento da revolução, a moral das tropas de Batista foi inteiramente minado, provocando mais deserções.
Era prática comum, entre os rebeldes, incitar os soldados do governo contra os oficiais, prometendo anistia caso matassem seus comandantes e depusessem armas.
Uma tática que funcionava constantemente.
Em 21 de agosto de 1958, contando com armas capturadas de desertores e contrabandeadas por via aérea, em sua maioria fornecidas pela União Soviética, as forças revolucionárias iniciaram uma nova ofensiva.
Fidel Castro havia traçado um plano para abrir quatro frentes de combate na província de Oriente.
A partir de então, somaram-se vitórias de povoado em povoado, cidade em cidade.
Enquanto isso, três colunas, sob o comando de Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Jaime Vega passaram para oeste em direção à capital da província de Santa Clara.
A coluna de Jaime Vega foi emboscada e destruída, mas as duas outras chegaram até as províncias centrais, onde se juntaram com outros grupos sob o comando de Fidel.
Foi neste momento que o Movimento 13 de Março,, que vinha lutado paralelamente contra o exército de Batista há alguns meses, juntou-se ao M-26-7.
Os atritos entre os dois grupos rebeldes, patrocinado pela disputa pelo poder, ambicionado principalmente pelo polêmico Armando Acosta e o comandante Felix Torres, foram colocados de lado em nome da luta contra a ditadura de Batista. O exército revolucionário tornou-se grande e forte, alcançando uma vitória fundamental na batalha de Yaguajay, em 30 de dezembro de 1958.
No dia seguinte, em 31 de dezembro, seguiu-se a batalha de Santa Clara, quando a cidade foi capturada pelas forças combinadas de Che Guevara, Cienfuegos e do Diretório Revolucionário.
Os rebeldes, liderados pelos comandantes Rolando Cubela, Juan Abrahantes - apelidado o El Mejicano - e Alexander William Morgan, avançaram em direção a capital, mas encontraram uma resistência que retardou o marcha.
A simples notícia do eminete avanço dos rebeldes causou panico em Havana, fazendo Batista fugir de Cuba para a República Dominicana em 1º. de janeiro de 1959.
Fidel Castro soube da fuga de Batista, na parte da manhã e, imediatamente, iniciou negociações para assumir a cidade de Santiago.
Em 2 de janeiro, o comandante militar da cidade, coronel Rubido, ordenou a seus soldados para não lutar.
As forças de Fidel entraram na cidade, para tomar posse, sem disparar um único tiro.
No mesmo dia, as colunas de Che Guevara e Cienfuegos entraram em Havana, sem encontrar nenhuma oposição.
Fidel Castro chegou à capital, em 8 de janeiro, depois de uma longa marcha da vitória pelo país.
Escolheu como presidente Manuel Urrutia Lleó, o qual tomou posse no dia 3 de janeiro de 1959.
A revolução havia triunfado.
Após o triunfo da revolução.
Durante a revolução, os EUA não prestaram apoio direto aos guerrilheiros, mas tampouco impediram o progresso de sua luta, o que muito bem poderiam ter feito sem enfrentar consequencia alguma, lembremos que a propria Constituição de Cuba referendava a intervenção norte-americana para preservar a propriedade privada.
Pelo contrário, os EUA prestaram contribuição indireta ao sucesso da revolução ao impor um embargo ao governo de Batista, impedindo a importação de armas e munições.
Simultaneamente, a União Soviética apoiou diretamente os revolucionários, fornecendo armas, apoio logistico e, acreditasse, consultores militares.
Assim, podemos afirmar que os revolucionários cubanos se deitaram com os dois lados em plena eminência da Guerra Fria.
Exatamente por este motivo, com o triunfo da luta, enquanto Che Guevara realizou várias visitas a União Soviética, negociando acordos que iriam beneficiar Cuba; Fidel Castro foi aos Estados Unidos da América explicar a revolução.
Pela altura, Fidel não era o presidente de Cuba, mas o comandante em chefe de todas as forças armadas, tendo assumido também o cargo de primeiro ministro ainda em 1959, no qual permaneceria até 1976.
Na verdade, ele estaria a frente do governo direcionando as principais decisões desde o inicio do novo regime.
Em 2 de dezembro de 1976, assumiria o cargo de presidente do Conselho de Estado, portanto, chefe do Estado, além de presidente do Conselho de Ministros, chefe de governo.
Além de todos os cargos acumulados no governo, seria o primeiro secretário do Partido Comunista Cubano desde a fundação em 1965.
Em todo caso, uma das primeiras medidas adotadas pelos revolucionários foi à perseguição aos antigos opositores, centenas de policiais e oficiais do exército de Batista foram julgados por crimes de guerra e violação dos direitos humanos, em tribunais revolucionários, sendo executados em pelotões de fuzilamento.
Em outra esfera, assumindo o ateismo oficialmente, todas as propriedades da igreja católica foram confiscadas e redestribuidas entre os cidadãos.
Padres e bispos foram explusos do país.
A redistribuição de terras foi efetivada com o confisco de propriedades, através da Lei de Reforma Agrária de maio de 1959, pela qual fazendas e empresas de qualquer porte poderiam ser apreendidas pelo governo.
O que incluia também terras e empresas da classe média, já que na prática a propriedade privada havia sido abolida.
As terras, antes em sua maioria pertencentes a companhias estrangeiras e grandes latifundiários cubanos, foram estatizadas, incluindo as de propriedade da família de Fidel Castro, passando a ser cultivadas por cooperativas de trabalhadores.
Foram iniciadas também profundas reformas no sentido de eliminar o analfabetismo e melhorar a assistência médica.
Em 1960, uma lei expropriou todas as empresas de capital norte-americano, fazendo os EUA romper relações diplomáticas com Cuba e congelar todos os bens cubanos no país.
Ao mesmo tempo, como comandate supremo das forças armadas, Fidel se encarregou de montar um Estado policial, criando, em setembro de 1960, Comitês para a Defesa da Revolução (CDR).
A população cubana foi incitada a informar qualquer atividade contra-revolucionária suspeita.
Os CDRs locais ficaram incumbidos de manter um registro detalhado dos hábitos de cada morador sob sua jurisdição, relatando o nível de contato com estrangeiros, o envolvimento com trabalho, a busca por melhorias educacionais e contribuições para a coletividade.
Um dos grupos mais perseguidos pelos CDRs foram os homossexuais, constantemente presos e torturados pela polícia, fazendo com que o sexo se tornasse uma forma de protestar contra o governo revolucionário.
Os avanços e melhorias ofertados a população cubana, sobretudo que vivia na miséria antes da revolução, custaram a sua liberdade de expressão.
O socialismo cubano e a continuidade da revolução.
Cuba tornou-se socialista através de um processo, nisso reside sua originalidade, inspirando milhares de revolucionários na América Latina na década de 1960 e 1970, colocando a revolução na ordem do dia.
Em julho de 1961, o Partido Comunista Cubano ampliou sua participação e influência no governo. No ano seguinte, porém, sua ascensão foi freada, com o afastamento de seu núcleo dirigente do quadro governamental.
O controle do poder foi então retomado pelos revolucionários de Sierra Maestra, culminando com a fundação de um novo Partido Comunista Cubano em 1965.
No entanto, o ingresso de Cuba na via socialista levou o país a vincular-se cada vez mais ao bloco socialista, enquanto era forçado a se afastar do sistema pan-americano.
O que causou várias represárias nas Américas.
Em 1962, na Conferência de Punta Del Este, no Uruguai, Cuba foi excluída da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Com exceção do México, todos os países do bloco capitalista americano romperam relações diplomáticas e comerciais com Cuba, sob pretexto de que os cubanos estavam exportando sua revolução para toda América Latina.
Em meados de 1962, o presidente norte-americano John kennedy denunciou a presença de misseis sociéticos em Cuba, ordenando um bloqueio naval, forçando a União Sociética a retirar da ilha seu arsenal nuclear.
O isolamento de Cuba, imposto pelos Estados Unidos da América, assim como sua dependência econômica e militar de uma potência distante, não deixaram a Fidel Castro outra alternativa senão tentar modificar esse quadro opressivo.
Por isso, a partir de 1962, passou a defender, incansavelmente, a insurreição armada na América Latina, com a esperança de que, com uma revolução em escala continental, Cuba pudesse finalmente romper o isolamento ao qual estava submetida.
Por volta de 1965, devido ao bloqueio econômico, Cuba viveu graves problemas.
Para solucioná-los, os revolucionários se viram diante de um dilema: ou apelavam para soluções eminentementes técnicas e econômicas ou reacendiam a chama revolucionária.
Che Guevara, argentino de nascimento, mas que tinha se tornado um simbolo da revolução e um dos principais dirigentes de Cuba, foi favorável a segunda opção, empenhando-se pessoalmente no projeto.
Entretanto, não houve unanimidade, vários ex-companheiros de luta foram contra a continuidade da revolução pela América Latina.
Destarte, com forte empenho revolucionário, realizou-se em Cuba, em 1966, o Congresso Tricontinental, que reuniu representantes dos principais movimentos revolucionários e anti-imperialistas da Ásia, África e América Latina.
Entre julho e agosto de 1967, foi fundado em Havana a Organização Latino Americana de Solidariedade (OLAS), cujo lema era: “O dever de todo revolucionário é fazer a revolução”.
Esse lema, que criticava implicitamente os partidos comunistas e outras correntes de esquerda que haviam se acomodado à ordem capitalista, retratava também o excesso de otimismo voluntarista, típico da época.
O que veio a se confirmar no mesmo ano de 1967, quando Che Guevara, que há muito desaparecera do cenário político cubano, reapareceu na Bolívia, onde procurou repetir a experiência revolucionária, fracassando a acabando morto pelo exército do presidente boliviano Barrientos.
A partir de 1968, os dirigentes cubanos, admitindo outras alternativas, começaram gradualmente a se retrair, muito embora, por essa mesma época, a guerrilha estivesse se desenvolvendo no Brasil, Argentina e Uruguai.
Houve uma última tentativa de difundir a revolução quando por ocasião da guerra civil em Angola, mas o impeto guerrilheiro não ultrapassou o ano de 1975.
Assim, a tradição bolchevique foi sendo abandonada pela linha stalinista.
A revolução e suas singularidades.
A luta armada não constituiu um fato excepecional na América Latina, mas em Cuba assumiu uma caracteristica muito particular, na medida em que amparou, de modo radical, ações militares e politicas.
Entretanto, existem particularidades que merecem atenção, pois houve diferenças entre o regime cubano e dos países do Leste Europeu, principalmente no que diz respeito as caracteristicas e ao quadro comparativo.
É preciso atentar para o fato de que a burocracia cubana, por mais que tivesse privilégios, não possuía os benefícios de outras do socialismo real.
Em Cuba houve de fato uma ligação muito forte entre os líderes e as massas, como ocorreu, por exemplo, no caso de Fidel Castro, a despeito da Revista Forbes, em certa ocasião, ter divulgado documentos que demonstraram que ele acumulou uma fortuna de quinhentos milhões de doláres.
Além disto, os cubanos, quando comparados com outros países da América Latina, adquiriram com a revolução uma qualidade de vida e situação econômica invejáveis.
As conquistas sociais do regime cubano são ingáveis, registrando melhorias no campo da saúde e da educação que foram únicas.
Neste sentido, a revolução cubana acabou por se enquadrar com perfeição na teoria socialista clássica.
Segundo Lênin, a revolução deveria ser conduzida por uma minoria esclarecida, auto-proclamada vanguarda do proletariado.
Foi o que aconteceu em Cuba, com a diferença que a vanguarda politica era também militar.
A vanguarda política leninista se apoiava, de inicio, nas reinvindicações econômicas do operariado e, por isso, começou com a infiltração comunista nos sindicatos.
Os comunistas procuraram ampliar a luta dos trabalhadores, objetivando formar uma consciência política que, supostamente, não possuíam, mas que lhes pertencia por natureza.
Assim, os leninistas esperavam que os operários passassem da luta meramente econômica para a política, preparando-se para o enfrentamento global com a burguesia, através de uma insurreição armada que conduziria ao poder.
No entanto, este mecanismo foi invertido na revolução cubana, a qual concentrou esforços primeiramente na luta armada para, depois, criar a consciência política.
Quem levou esta prática até a última consequencia foi Che Guevara, conferindo prioridade absoluta a guerrilha.
Concluindo.
A revolução cubana foi talvez o acontecimento mais importante da segunda metade do século XX na América Latina, pois inspirou e continua a inspirar vários movimentos de se dizem revolucionários.
Além disto, colocou a revolução socialista, que após o movimento bolchevique na Rússia, havia caido de status, novamente na ordem do dia.
Legitimou a heterodoxia política e ideológica, contra os acomodados dos Partidos Comunistas Latino Americanos.
Os cubanos desenvolveram uma estratégia de tomada do poder através da guerrilha, baseando-se na solidariedade internacional como parte de sua formação política e ideológica.
Desenvolveram uma ética de dedicação revolucionária que identificava militância com a própria vida do militante, cujo modelo foi, sem dúvida, Che Guevara.
Simultanemante, os cubanos enfatizaram o papel da vanguarda, sintetizado pelo exemplo de Fidel Castro e expresso por uma de suas frases de efeito: “Se parto, chego; se chego, entro; se entro, venço”.
Podemos concluir, portanto, que a revolução cubana, com suas particularidades, fomentou um socialismo internacional, extremamente vinculado com aspectos humanos de busca de alternativas para o subdesenvolvimento e a desigualdade.
Para saber mais sobre o assunto.
FERNANDES, Florestan. Da guerrilha ao socialismo: a revolução cubana. São Paulo: Expresssão Popular, 2007.
SADER, Emir. Cuba: um socialismo em construção. Petrópolis: Vozes, 2001.
Texto: Eliane Santos Moreira.
Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela Fundação Santo André.
Parabéns, ótima aula de história...
ResponderExcluirMuito bom este texto...
ResponderExcluirGostaria de saber um pouco mais sobre a atualidade em Cuba.
Será que o Comunismo é uma solução para uma sociedade desigual que temos no Brasil?
Será que uma guerrilha hoje em dia teria as mesmas forças que teve nestes momentos retratados?
Abraço,
Rodolfo Medina
Parabens aos autores.
ResponderExcluirMuito exclarecido,coerente,cronológico e possui várias imagens da revolução.
Muito bom, ótimo!!
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