Para
entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 3, Vol.
out., Série 15/10, 2012, p.01-05.
O
artigo faz parte da Monografia de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia
Clínica pelo INEC/Universidade Cruzeiro do Sul, orientada pelo Prof. Dr. Fábio
Pestana Ramos.
Esse estudo tem como objetivo analisar o trabalho do
Psicopedagogo Clínico durante o processo de tratamento de um paciente, partindo
das seguintes questões: até onde a família e a escola podem interferir no
trabalho do psicopedagogo clínico?
A relação entre elas auxiliam o profissional da área no
desenvolvimento do seu trabalho?
Onde se inicia e termina a responsabilidade do terapeuta
para o desenvolvimento das aprendizagens de seus pacientes?
Como proceder quando o profissional encontra dificuldades
com a família e a escola?
Foram entregues um questionário com quatro questões para
três profissionais, que atuam na área, para ser respondido.
Em seguida, houve uma tabulação dos dados coletados; e o
resultado foi o seguinte: tanto a família como a escola podem auxiliar o
trabalho psicopedagógico, entretanto, o profissional deve ter autonomia,
independência para desenvolver o trabalho.
INTRODUÇÃO.
Nunca se observou nas últimas décadas o empenho de
governos, sociedade, instituições filantrópicas, igrejas entre outros,
preocupados com a melhoria e qualidade de educação.
Ciências novas como a Psicopedagogia Institucional e
Clínica surgiram no Brasil na década de 70, como uma das respostas ao grande
problema do fracasso escolar.
Hoje se sabe que todos os indivíduos aprendem de acordo
com seu ritmo e o tempo, o grande desafio da educação do século XXI é intervir
no processo de aprendizagem do aprendente respeitando sua individualidade.
O grande desafio de todos que trabalham na educação é a
distinção entre fracasso o escolar e a dificuldade de aprendizagem, já que
muitas vezes, os profissionais da educação, não têm muito claros essa diferença
e geralmente responsabiliza o sujeito aprendiz pelo insucesso escolar. Segundo
SAMPAIO (2011, p. 11):
“Dificuldade
de aprendizagem é de ordem mais subjetiva e individual - geralmente há algum
tipo de deficiência ou necessidade educacional específica, que compromete o
desempenho na escola e pode causar fracasso escolar; e esta é a conjunção de
fatores que, em um determinado momento, interagem, mobilizando o desempenho do
sujeito e do sistema familiar/escolar/social ao qual está integrado.”
Durante décadas o fracasso escolar no Brasil foi
responsabilizado pelo aprendente (este tinha alcunha de preguiçoso e que não
queria aprender), como também, a sua família (na maioria das vezes,
caracterizada como omissa na vida escolar do seu filho em todos os sentidos).
Hoje se sabe que as dificuldades de aprendizagem
apresentadas pelo indivíduo precisam ser analisadas em todos os focos como:
deficiências do sistema escolar, aspectos socioeconômico-culturais, problemas
orgânicos, cognitivos, afetivos, social e a interação com o ambiente familiar e
escolar.
Conclui-se que atualmente os educadores precisam estar
sintonizados com essas novas perspectivas de como observar as dificuldades de
aprendizagem e buscar caminhos para intervenção, inclusive o auxílio e parceria
com outros profissionais; já que não há mais espaço para culpar o sujeito e sua
família pelo fracasso escolar.
JUSTIFICATIVA.
Com o avanço econômico do Brasil nos últimos anos, a
sociedade brasileira tem se conscientizado sobre a importância da qualidade na
educação básica e do nível superior, pois cada vez mais, o país necessita de
profissionais qualificados em todas as áreas, além disso, um povo letrado tem
maiores condições de exigir e lutar por uma nação mais igualitária.
Como a melhoria e a qualidade da educação é o foco desse
momento, vários profissionais ligados à aprendizagem discutem , refletem e
trabalham, com intuito, de encontrar caminhos, para que todos aprendam.
Observa-se que a educação é responsabilidade de todos
(família, escola, sociedade entre outros) já que, um povo letrado ou não,
influencia o desenvolvimento social, econômico e político de uma nação.
MÉTODO.
Além
das leituras sobre o tema abordado, outro elemento norteador para o desenvolvimento
desse artigo foi a entrega de um questionário com quatro perguntas para três
psicopedagogas que atuam em clínicas particulares, e com posse desse material
dar-se-á a tabulação para a análise.
As
profissionais são: Maria Inês Sladek da Costa, Cristina K. Tamashiro e Valéria
Modesto de Jesus, todas com experiência na área da psicopedagogia.
Segue
abaixo as questões e as respectivas respostas das envolvidas na pesquisa:
Até onde a família e a
escola podem interferir no trabalho do psicopedagogo clínico?
Maria
Inês:
"A colocação não seria interferir e sim acrescentar no trabalho, pois sem
esta colaboração o trabalho fica quase impossível, pois o psicopedagogo vê a
criança duas vezes por semana e a família e a escola estarão com ele todos os
dias então...”.
Cristina
Tamashiro: "É
importante que o profissional tenha autonomia e independência para que um bom
trabalho seja realizado. É claro que as demandas da família e da escola devem
ser acolhidas e investigadas, mas nem sempre o que se manifesta é o que de fato
ocorre, necessita ser trabalhado, etc. Cabe ao profissional com toda a sua bagagem técnica pela
qual se diferencia do leigo, realizar esta leitura e da forma mais adequada possível clarificar e trabalhar a questão com os
envolvidos”.
Valéria
Modesto: "Percebo interferência quando não colaboram com as
informações e não fazem parcerias para chegarmos ao objetivo comum que é o
aluno, se preocupam com interesses próprios".
A relação entre elas
auxiliam o profissional da área no desenvolvimento do seu trabalho?
Maria
Inês:
"Não só auxilia como completa, pois a continuidade do aprendizado deve
acontecer para a fixação do que a criança tem dificuldades".
Cristina
Tamashiro: "É muito comum
haver discordâncias e conflitos entre a família e a escola. Nestes casos, o
psicopedagogo deve intervir de forma a resolver a situação sempre em função do interesse e benefício da criança,
observando se a escola é adequada quanto à estrutura, metodologia, equipe
profissional, filosofia de trabalho, etc. Esta adequação é fundamental, pois
proporciona uma maior probabilidade de que tanto os interesses da escola como
da família corram numa mesma direção, tornando a relação mais positiva o que
sem dúvida torna o trabalho mais fácil".
Valéria
Modesto: "Quando há a resistência da escola e não da família,
o psicopedagogo consegue realizar o trabalho; com a família, ela não chega ao
consultório; não reconhece o problema no seu filho, justifica que a criança é
preguiçosa ou há algum parente que teve a mesma dificuldade. Quando de fato a
criança piora o resultado de aprendizagem ou é reprovada na escola, aí sim a
família cai na real. Uma vez que se inicia o tratamento, geralmente, não
existem só dificuldades de aprendizagem, mas também, problemas na família ou
talvez na escola. Na questão da resistência da escola na maioria das vezes é
falta de informação do que é o trabalho do psicopedagogo".
Onde se inicia e termina a
responsabilidade do terapeuta para o desenvolvimento das aprendizagens de seus
pacientes?
Maria
Inês:
"Dentro dos parâmetros do que é possível numa relação terapêutica".
Cristina
Tamashiro: "Esta é uma pergunta difícil, pois seus
limites não são tão delineáveis, mas podemos dizer que o profissional
clarifica, aponta soluções, encaminha, auxilia nas decisões e escolhas, porém
nem sempre a escola e ou família concordam ou aceitam. Uma vez tendo
desempenhado o seu papel, creio que podemos dizer que seu papel foi
desempenhado”.
Valéria
Modesto: "Inicia-se quando começamos o diagnóstico e
fazemos a intervenção. Termina quando os interessados não aceitam ou não
colaboram com os procedimentos que devem ser tomados”.
Como proceder quando o profissional
encontra dificuldades com a família e a escola no desenvolvimento do seu
trabalho?
Maria
Inês: "Esse
também requer uma análise de caso, pois sem a participação no mínimo da família
não acontece o atendimento”.
Cristina
Tamashiro: "Cabe
ao profissional buscar soluções para estes problemas, muito comuns, através de
seu trabalho, sempre procurando estabelecer relações positivas entre as partes,
mas com objetividade e autonomia. A postura, seu conhecimento técnico, a sua
psicoterapia pessoal para autoconhecimento são as bases fundamentais para que o profissional consiga
mostrar consistência e importância de seu trabalho, angariando a cooperação de todos. Em casos extremos, onde isto não foi
possível, o profissional não deve se submeter a se responsabilizar por um caso
onde não tenha mais domínio (no sentido de realizar um trabalho conjunto),
devendo isto ser pontuado e trabalhado. Muitas vezes a própria clarificação da
situação cria um movimento diferente, ou até a opção pela interrupção,
dependendo do caso, mas seria contraditório, enquanto psicopedagogos
trabalharmos com o não dito".
Valéria Modesto: "Costumo deixar tudo documentado
através de relatórios sobre o processo e intercorrências e envio cópias para a
família, a escola e também se houver outros envolvidos no caso. Desta forma,
fico assegurada, caso haja algum problema superior”.
ANÁLISES
DOS DADOS COLETADOS.
Ao
analisar o primeiro item respondido pelas psicopedagogas, percebe-se que elas
destacam a importância da família e da escola como parceiras no desenvolver do
trabalho do psicopedagogo com a criança, entretanto, enfatizam a autonomia e a
independência do profissional para desenvolver o trabalho.
Segundo
PORTO (2011, p.8):
"O psicopedagogo sendo um profissional
multiespecialista em aprendizagem humana que congrega conhecimentos de diversas
áreas a fim de intervir nesse processo, com sua intervenção psicopedagógica,
pode assumir uma feição preventiva ou terapêutica, relacionando-se com equipes
ligadas aos campos de saúde e educação, terapêutica e institucional,
respectivamente".
No
segundo item as profissionais esclarecem que a família e a escola intergradas
auxiliam no trabalho do psicopedagogo, entretanto, quando houver divergências
entre elas, cabe o profissional defender o interesse do paciente e expor aos
envolvidos as dificuldades que cada uma está proporcionando, para não
aprendizagem do indivíduo. De acordo SAMPAIO (2011, p. 17):
“O sujeito poderá encontrar obstáculos,
mas poderão ser superados à medida que encontramos na família, na escola e no
próprio sujeito uma porta, que nos permita entrar e (re)construir, junto a
estes, uma nova aprendizagem.”
No
terceiro item as terapeutas destacam que é difícil delinear de uma forma
precisa onde inicia ou mesmo termina o trabalho do psicopedagogo, mas observam
que a partir do contato profissional,na qual clarifica, aponta soluções,
encaminha, auxilia nas decisões e escolhas; que nem sempre a família ou a
escola concordam; tudo isso faz parte da responsabilidade do psicopedagogo.
Conforme SAMPAIO (2011, p. 15):
“O psicopedagogo tem a difícil tarefa
de avaliar a adequação das estruturas sociais e o funcionamento dessa complexa
rede de relações, a afim de melhor intervir nos processos de aprendizagem.
Saber entender as relações entre sujeito/família/ escola é, pois, um
pré-requisito importante para uma visão preventiva e terapêutica das
dificuldades que se interpõem nos processos do aprender”.
No
quarto e último item as psicopedagogas apontam que as dificuldades encontradas
junto à família e a escola variam de caso a caso, cabe o profissional buscar
solucioná-las com objetividade, autonomia, uma postura de mostrar consistência
sobre importância do seu trabalho, como também, elaboração de relatórios sobre
o processo e intercorrências. Dessa forma, ficam asseguradas caso haja algum
problema superior. Segundo PAIN (1986), citada por PORTO (2011, p.79):
“O profissional, para cumprir os
objetivos e garantir o enquadre no trabalho psicopedagógico, deve adotar certas
técnicas. São elas: organização prévia da tarefa; graduação nas dificuldades
das tarefas; autoavaliação de cada tarefa a partir de determinada finalidade;
historicidade do processo, de forma que o paciente possa reconhecer sua
trajetória no tratamento; informações a serem oferecidas ao sujeito pelo
psicopedagogo...”.
CONCLUINDO
No trabalho do Psicopedagogo
Clínico é primordial que a relação entre o profissional, à família e a escola
seja construtiva, pois isto auxilia o trabalho do terapeuta, entretanto, cabe a
ele ter autonomia, independência, e de intervir com segurança para o
convencimento da família, escola e do próprio paciente sobre o processo de
intervenção psicopedagógica na dificuldade de aprendizagem do indivíduo. É um
processo de construção em todos os sentidos: a confiança da família, da escola
e do próprio paciente envolvido.
Daí a importância desse
profissional está sempre pesquisando, para que sua bagagem teórica possa ser
aplicada na prática para um melhor atendimento clínico.
PARA
SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO.
BEAUCLAIR, João. “Psicopedagogia Trabalhando Competências,
Criando Habilidades”. Editora
Wak, 4 ° edição, 2011.
PORTO, Olivia. “Bases
da Psicopedagogia Diagnóstico e Intervenção de aprendizagem”. Editora
Wak, 5˚edição, 2011.
SILVA, Maria Cecília Almeida. “Psicopedagogia:
A Busca de uma Fundamentação Teórica”. Editora Paz e Terra 2010.
SAMPAIO, Simaia. “Dificuldades de Aprendizagem: A Psicopedagogia na relação sujeito,
família e escola”. Editora Wak 3°
edição, 2011.
SAMPAIO, Simaia “Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clínico”. Editora Wak.
3˚ edição 2012 .
WEISS, Maria Lucia Lemme & Weiss,
Alba: “Vencendo as Dificuldades de
Aprendizagem Escolar”, Editora
Wak 2°edição, 2011.
Texto:
Prof. Reginaldo Pereira de Jesus.
Pós-Graduando
em Psicopedagogia Clínica pelo INEC/UNICSUL.
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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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