Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
Não possui fins lucrativos, seu objetivo é disseminar o conhecimento com qualidade acadêmica e rigor científico, mas linguagem acessível.


Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Max Weber e a Burocracia.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume abr., Série 11/04, 2011, p.01-04.


Junto com Comte, Durkheim e Marx; o alemão Max Weber (1864-1920) é uma referência na estruturação do pensamento sociológico.
Ele contribuiu ativamente para conferir uma reputação cientifica a sociologia, trabalhando a questão da burocracia, entre outros assuntos.
As concepções de Weber são tributarias de sua própria época e de uma série de teorias clássicas, através das quais acabou por compor suas próprias e originais hipóteses.
Tendo ocupado o posto de catedrático na Universidade de Heidelberg, entre 1906 e 1910, entrou em contato com importantes estudiosos da religião e do capitalismo.
O que levou a pesquisar sobre estes temas, relacionados com a questão cultural da burocracia na Alemanha.


As idéias que influenciaram Weber.
Em seu pensamento, Weber incorporou a influência de Kant, Nietzsche e Marx.
Compartilhava a premissa kantiana de que o ser humano é dotado de capacidade e vontade para assumir uma posição consciente diante do mundo.
Através de Nietzsche, assumiu uma visão pessimista e melancólica dos tempos modernos, em concordância com o conceito de anomia de Durkheim, defendendo uma nostalgia do passado.
A influencia marxista sobre as idéias de Weber, despertou seu interesse sobre a origem do capitalismo, conduzindo a concepção de inter-relação entre economia, política e cultura.
No entanto, diferente de Marx, para Weber, a economia não era o centro da realidade.


O contexto do pensamento weberiano.
A estruturação do pensamento weberiano ocorreu em um período em que Alemanha começou a se industrializar, mas com características distintas da industrialização inglesa, pois conservava uma cultura medieval.
Diante do antagonismo entre os latifundiários prussianos, os “Junkers”, e os interesses dos industriais, o Estado alemão havia criado uma forte estrutura de controle, baseada em um amplo universo burocrático.
O que despertou o interesse de Weber pela questão.
Segundo sua concepção, o iluminismo teria rompido com os costumes e as superstições em favor da ciência e da tecnologia, conduzindo a barbárie.
A burocracia seria uma tentativa de racionalizar a ascensão do capitalismo, organizando as pessoas e o crescimento econômico, político e social.
Este conceito faz parte da idéia de sociologia defendida por Weber.
Para ele, a sociologia deveria ser uma ciência neutra, concebida para oferecer seus serviços para qualquer comprador público ou privado.
Neste sentido, Weber considerava o individuo e sua ação como chave da investigação sociológica, negando a primazia das instituições sociais ou do grupo.
Seria necessário compreender as intenções e motivações dos indivíduos, examinando sua influência sobre o contexto social.
O que levou Weber a rejeição da proposta positivista de utilização da metodologia das ciências naturais.
Contrariando o positivismo, ele achava que o pesquisador não deveria ser apenas um registrador de informações, tendo um papel ativo na elaboração do conhecimento.
Não se tratava apenas de desvendar as leis de funcionamento da vida social, mas sim de ajudar a humanidade a construir novos conhecimentos.
Um elemento importante nesta perspectiva sociológica foi à idéia de tipo ideal, um modelo conceitual ou analítico que poderia ser usado para compreender o mundo.
O tipo ideal seria uma construção hipotética, servindo de ponto de referência para comparar com a realidade.
O que não significa que serviria como concepção desejável, somente significando a forma pura de um fenômeno.


Religião, capitalismo e burocracia.
Pensando no desenvolvimento do capitalismo, na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, publicada em 1905, Weber estudou os fenômenos da vida religiosa.
Na ocasião, chegou à conclusão de que vários preceitos do cristianismo protestante estão presentes no sistema capitalista.
As religiões protestantes terminaram contribuindo para a ascensão do capitalismo.
As convicções religiosas que consideram o êxito econômico como sinal de benção de Deus, um dos conceitos centrais da ética protestante, foram assimiladas pela mentalidade capitalista.
O que inverteu a maneira de pensar do mundo Ocidental, pois para o catolicismo o lucro era pecado, condenável à medida que representava a exploração do próximo, sendo a pobreza uma das chaves para entrar no céu.
Em concordância com a ótica protestante, Weber, ao contrário de Marx, não considerava o capitalismo um sistema injusto, irracional ou anárquico.
No entanto, semelhante a Marx, considerava a sociedade capitalista caracterizada por conflitos gerados pela estratificação social, moldada pelas classes, através de dois aspectos: status e partido.
O status refere-se ao prestigio, enquanto o partido poderia ser definido como um conjunto de indivíduos que trabalham juntos por objetivos e interesses em comum.
Pensando no componente partido, raiz da organização das instituições, Weber pensou a burocracia como organizadora de larga escala.
A burocracia ideal envolveria:
1. Hierarquia.
2. Regras escritas de conduta.
3. Remuneração assalariada e plano de carreira.
4. Separação de tarefas e da esfera profissional da pessoal.
5. O afastamento do controle dos funcionários dos meios de produção (os funcionários deveriam não ser donos do material utilizado no trabalho).


Concluindo.
A palavra burocracia foi cunhada por De Gournay, em 1745, a partir do verbo grego “dominar”, significando “escritório”.
Era então, originalmente, aplicada ao domínio dos funcionários no escritório.
Depois foi transposta aos funcionários públicos e, gradualmente, a todas as organizações.
Refletindo sobre este significado, Weber enxergou na burocracia a racionalização da ordem capitalista.
Em sua concepção, a única forma de lidar com a especialização das tarefas e sua maior complexidade, tornando necessária a implantação de um sistema de controle eficiente.


Para saber mais sobre o assunto.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
MAGEE, Bryan. História da filosofia. São Paulo: Loyola, 2000.
MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1985.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
WEBER, Max. A gênese do capitalismo moderno. São Paulo: Ática, 2007.
WEBER, Max. A objetividade do conhecimento nas ciências sociais. São Paulo: Ática, 2007.
WEBER, Max. Conceitos sociológicos fundamentais. São Paulo: Edições 70, 2009.


Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em História Social pela FFLCH/USP.

Um comentário:

  1. Parabéns, ótimo blog achei o que queria que não seja um texto de inumeras paginas!!

    ResponderExcluir

Esteja a vontade para debater ideias e sugerir novos temas.
Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.