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sábado, 12 de março de 2011

Comte e a construção do método sociológico: o positivismo.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 12/03, 2011, p.01-05.


Considerado o pai da sociologia, a motivação do pensamento do francês August Comte (1798-1857) repousa no estado de anarquia de desordem de sua época, caracterizado pela crescente urbanização, o imperialismo dos países industrializados e a luta de classes que estava desestruturando a pirâmide social.
Em sua visão, as idéias religiosas haviam perdido sua força, desorganizando a sociedade, culpa da revolução francesa e dos “doutores da guilhotina” com seu ideal de liberdade, igualdade e fraternidade.

Comte chamava os iluministas de “doutores da guilhotina” pejorativamente para demonstrar que tudo que a Revolução Francesa havia feito era cortar cabeças, desmerecendo suas idéias.

Em sua opinião os iluministas tinham desestruturado as instituições sociais, base do funcionamento ordenado da sociedade.
Porém, suas opiniões não eram originais, bebiam em uma fonte: Saint-Simon.


O verdadeiro pai da sociologia.
As concepções de Comte que originaram a sociologia e o positivismo não eram novas, tinham sido herdadas de Henri de Saint-Simon (1760-1825), de quem ele havia sido secretário particular até um desentendimento intelectual.
Durkheim, por exemplo, como um dos fundadores do positivismo e o propagador e perpetuador da nova área no meio acadêmico e cientifico, considerava Saint-Simon como o verdadeiro pai do positivismo e da sociologia.
Foi Saint-Simon que cunhou o termo filosofia negativa para designar o iluminismo, pois achava que os pensadores ilustrados tinham uma visão negativa da sociedade, enxergando as instituições como uma ameaça a liberdade humana.

O termo positivismo foi, posteriormente, cunhado justamente para se opor a filosofia negativa, como afirmação das instituições como base da sociedade, tendo, portanto, uma visão positiva sobre a organização social.

Para Saint-Simon era justamente o contrário do que defendiam os iluministas, as instituições, calcadas na tradição, que regulariam as relações e tornando possível a vida em sociedade.
Além disto, ele achava que a industrialização era a única forma de satisfazer as crescentes necessidades humanas e constituía a única maneira de obter riqueza e prosperidade.
O progresso industrial acabaria com os conflitos sociais e traria segurança para os homens, ou seja, ordem.
Neste sentido, o progresso do mundo acabaria com as diferenças e guerras.
É claro que na época, inicio do século XIX, ele não levou em consideração a escassez de recursos naturais, o que torna impossível uma completa igualdade em termos de consumo destes.
Embora tenha admitido a possível existência de conflitos entre possuidores e despossuídos, mas achava que a ciência estabeleceria verdades que seriam aceitas por todos, o que iria diluir os conflitos.
Para que a nova sociedade pudesse funcionar, Saint-Simon afirmava que seria necessário existir uma elite dirigente, formada por industriais, comerciantes, banqueiros e cientistas; os novos senhores feudais, sendo os cientistas comparados com o clero feudal.


Comte e a sociologia.
Na concepção de Comte, havia a necessidade de uma ciência que possibilitasse conhecer e estabelecer as leis imutáveis da vida social, “sem considerações críticas ou discussões, permitindo prever e regular as ações”.
Ele chamou a nova ciência de “física social”, separando a filosofia e a economia política do conhecimento da realidade social.

A idéia era criar uma ciência semelhante à física que fosse aplicada ao estudo da sociedade.

Assim, Comte criou a sociologia com a intenção prática de interferir no rumo da civilização, alterando o funcionamento da sociedade.
Inserindo-se na tradição conservadora dos chamados “profetas do passado”, grupo contrário as idéias iluministas, para fundamentar a sociologia como ciência; Comte elaborou uma metodologia.
Esta pretendia fornecer uma visão otimista da sociedade, criando o positivismo.


O positivismo de Comte.
Embora exista controvérsia, Comte é considerado oficialmente o pai da sociologia e do positivismo.
Para se opor a “filosofia negativa” que negava a importância das instituições sociais como reguladoras das inter-relações, em nome da liberdade; nasceu o positivismo.

O pressuposto básico era a positividade, a crença na importância das instituições sociais como reguladoras da ordem, à medida que criadoras de um conjunto de crenças comuns a todos os homens.
Sem instituições como a religião, por exemplo, a sociedade entraria em um estado de anômia, ausência de normas, um estado de confusão em que as pessoas perderiam seus referenciais e ficariam sem saber como e comportar.
A orientação básica do positivismo é a investigação da “física social”, através dos mesmos procedimentos das ciências naturais (física, química e biologia).
A observação, a experimentação e a comparação deveriam ser utilizadas em conjunto com ciências auxiliares como filosofia, história e estatística.
 Para o positivismo, a sociologia deveria se ocupar do estudo dos acontecimentos constantes e repetitivos, a exemplo da física.
Desvendando estes mecanismos, o cientista social poderia manipular o funcionamento da sociedade para trazer ordem e progresso.
Palavras que não por acaso estão na bandeira do Brasil, já que a República foi proclamada por militares no século XIX, os quais eram de orientação positivista.
Em todo caso, colocando ordem na sociedade, segundo os positivistas, o progresso seria alcançado, beneficiando a coletividade.


Concluindo.
Apesar de herdeiro das tendências conservadoras lideradas por Saint-Simon, Comte foi também um critico desta concepção, pois achava um erro valorizar e tentar imitar o antigo sistema feudal.
Dentro da sua visão, a ordem não poderia se sobrepor ao progresso, devendo caminharem juntos.
Este o ponto de discórdia intelectual de Comte com Saint-Simon
Simultaneamente, Comte achava que o principal erro dos iluministas não era se opor as instituições, mas sim valorizar o progresso em detrimento da ordem.
No entanto, para ele, a sociologia e o positivismo deveriam construir uma nova sociedade, controlada por uma elite dirigente, cuja conseqüência natural, gradual e suave, seria a ordem e progresso.


Para saber mais sobre o assunto.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.


Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.   

3 comentários:

  1. Esse blog é muito bom. Gostaria da permissão do autor para divulgar o link no meu blog:
    http://historiofobia.blogspot.com.br

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  2. Será um prazer, esteja a vontade.
    Forte abraço.

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  3. MUITO BOM ESSE TEXTO, DENSO E DIDÁTICO, PERFEITO PARA ESTUDO EM SALAS DE AULAS.

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Esteja a vontade para debater ideias e sugerir novos temas.
Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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