Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
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Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

História da Indústria Automobilística Brasileira: três tentativas frustradas de um carro 100% nacional.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 09, Volume dez., Série 04/12, 2018. 


Prof. Ms. Fábio Liberato de Faria Tavares.

Mestre em Educação Tecnológica - CEFET-MG.

Especialista em Mídias na Educação - UFSJ.
Especialista em Impactos da Violência na Escola - FIOCRUZ.
Especialista em em Educação Especial e Inclusiva - FESL.

Graduado em História - UFMG.
Professor do Ensino Básico na Rede Municipal de BH.


RESUMO: O presente artigo faz um breve histórico dos principais empreendimentos automobilísticos nacionais e as causas de seus fracassos, mesmo o mercado automotivo brasileiro sendo um dos mais importantes do mundo desde a década de 1950.

PALAVRAS-CHAVE: História da Indústria Automobilística Brasileira, Automóvel, Soberania Nacional Brasileira, Fábrica Nacional de Motores (FNM), Puma, Gurgel.


ABSTRACT: This article gives a brief history of the main national automobile enterprises and the causes of their failures, even though the Brazilian automotive market is one of the most important in the world since the 1950s.

KEYWORDS: History of the Brazilian Automobile Industry, Automobile, Brazilian National Sovereignty, National Motor Factory (FNM), Puma, Gurgel.


1. INTRODUÇÃO. 

O nacional desenvolvimentismo como proposta para superação do atraso brasileiro, as raízes do projeto nacional-desenvolvimentista começaram a surgir no Brasil na década de 1930, durante a Era Vargas (1930-1945). 

Basicamente, como apontou Bielschowsky (2009), essa teoria apontava que para a superação do subdesenvolvimento do Brasil, seria necessário um processo de industrialização integral e de forma acelerada e que este não poderia ser deixado apenas nas mãos da iniciativa privada. 

Caberia ao estado planejar o processo, fornecer financiamento e em alguns caso investir de forma direta abrindo empreendimentos industriais. Economistas como Celso Furtado, Roberto Simonsen e Roberto Campos se destacaram na elaboração de políticas com este viés.

Com o fim da Era Vargas em 1945 e a chegada de Eurico Gaspar Dutra ao poder, as políticas desenvolvimentistas foram abandonadas, sendo retomadas no segundo governo de Getúlio Vargas entre 1951 e 1954 e intensificadas no governo de Juscelino Kubitscheck entre 1956 e 1961, onde também houve incentivo para vinda de empresas estrangeiras em setores como o de bens duráveis, com destaque para o de eletrodomésticos e automobilístico (TAVARES, 2014). 

Esta lógica voltou a perder força no breve governo Jânio Quadros, mas novamente foi reabilitada no governo João Goulart e pelos militares durante a Ditadura Militar, mais especificamente no final da década de 1960 até o final da década seguinte (GASPARI, 2014).

Com a redemocratização em 1985, as ideias neoliberais começaram a ganhar força e chegaram ao poder pelas mãos de Fernando Collor de Melo, a partir de 1990. 

A política neoliberal prega que o estado deve intervir o mínimo possível na economia, eliminando impostos para produtos importados, facilitando assim a importação e em tese aumentando a competitividade, privatizando empresas e serviços públicos, reduzindo direitos trabalhistas para baratear a mão-de-obra e desta forma tornar o país mais atraente para investimentos externos, etc (IANNI, 1998).

Este tópico se faz necessário pelo fato de que foi por meio de políticas desenvolvimentistas entre as décadas de 1940 e 1980 que foi possível o surgimento de vários empreendimentos industriais de capital nacional não só no setor automobilístico, mas também em outros como o siderúrgico e no de eletrodomésticos. 

Com a abertura econômica a partir da década de 1990, muitas destas indústrias não resistiram a concorrência externa e faliram. 

A adoção do modelo neoliberal reduziu o parque industrial brasileiro, gerando redução no número de empregos, alteração nas exportações, que voltaram a contar com grande peso do agronegócio, setor com pouquíssimo valor agregado e mais vulnerável a flutuações de preços, além de o país ter se tornado importador, principalmente da China de produtos, desde os altamente elaborados com smartphones até alguns muito básicos, como lápis, canetas, chinelos, etc.


2. A FÁBRICA NACIONAL MOTORES (FNM).

A Fábrica Nacional de Motores (FNM), considerada a pioneira no setor automobilístico nacional, surgiu no ano de 1942 na esteira da parceria com o governo estadunidense durante a Segunda Guerra Mundial e também dentro da lógica nacional-desenvolvimentista na qual o governo em alguns casos deveria intervir de forma direta na economia criando empresas. 

Um ano antes havia sido criada a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e no mesmo ano a Companhia Vale do Rio Doce, responsável pelo transporte e extração de minerais. 

Ambas as empresas ainda existem, mas foram privatizadas na década de 1990, período de grande força das ideias neoliberais.

A ideia inicial era de que a fábrica estatal produzisse motores para os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) e para o Correio Aéreo Nacional (CAN). A unidade fabril foi erguida em Xerém, então distrito de Duque de Caxias-RJ. 

A escolha se deveu, além de questões logísticas, pelo fato de a localidade ficar no nível do mar, o que facilitaria a fabricação de motores por questões de a temperatura e a pressão da região serem as ideais para esse tipo de empreendimento.[1]

Os primeiros motores nasceram em 1946 já obsoletos, além disso, a fábrica contou com a concorrência desleal justamente dos estadunidenses que iniciaram uma maciça venda de espólios de guerra como máquinas de escrever e aviões completos a preços baixos. 

Além da fábrica, no projeto foi concebida uma bem estruturada vila operária para os funcionários da empresa.

Eurico Gaspar Dutra encerrou a fábrica de motores logo após tomar posse e tentou vendê-las, mas não encontrou compradores. 

Coube ao idealizador da empresa, o brigadeiro Guedes Muniz a tarefa de manter a fábrica de Duque de Caxias-RJ em funcionamento com a produção de eletrodomésticos. Em 1949 ocorreu um episódio constrangedor: o governo brasileiro fechou parceria com a fábrica italiana Isotta Fraschini para a fabricação de caminhões. 

A mesma faliu logo em seguida e foi substituída pela Alfa Romeo.

Sobe licença da Alfa Romeu iniciou-se a produção de caminhões e ônibus. 

Um fato interessante é que a unidade fabril não tinha capacidade de produzir as cabines, tendo terceirizado esta tarefa para empresas menores. 

Era possível até mesmo um comprador adquirir somente o chassi e providenciar a cabine em uma das empresas parceiras.

No início de 1950, foi apresentado ao presidente recém-empossado Getúlio Vargas o Pinar  ou  “Pioneiro  da  Indústria  Brasileira”.  

A  apresentação  ocorreu  no  Parque  de Exposições da  Água  Branca,  São  Paulo, SP.  

Segundo o pesquisador Rogério Ferraresi, o  carro teria  sido  projetado  pelo  capitão  Edvaldo  dos  Santos,  do  Serviço  de  Motorização  do  Exército, e  construído  nas  instalações  da  firma  “Produtos  Nei”  localizado  à  Rua  Bom  Pastor,  número 27,  no  bairro  da  Tijuca,  Rio  de  Janeiro.  

O  proprietário  da  empresa,  Domingo  Otolini,  seria também funcionário da  FNM.” (Brandão, 2011: 71).

O carro teria feito um teste bem sucedido percorrendo a estrada RJ-SP, a revista Cruzeiro publicou matéria em março do mesmo ano denunciando que apesar de o bloco de motor ter sido fundido no Brasil o propulsor era uma cópia de um projeto da Volkswagen, essa denuncia desmoralizou o projeto.

Desativada a ideia de produção de automóveis de passeio, a produção de caminhões foi crescendo de forma sustentada, alcançando a liderança no setor de caminhões à diesel em 1954 e finalmente fechando no azul. 

Com a criação do Grupo Estratégico da Indústria Automobilística (GEIA), no governo de Juscelino Kubitscheck, a empresa recebeu atenção especial com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e ampliou sua capacidade produtiva. 

Em 1960 passou a fabricar, sob licença da Alfa Romeo o automóvel batizado de JK. 

O baixo índice de nacionalização acabou dificultando o seu sucesso; esse, aliás, foi um problema que perseguiu a FNM, já que a estatal não produzia motores.

A instabilidade politica que o Brasil viveu entre 1961 e 1964 vitimou a FNM que não recebeu os investimentos necessários para modernizar a sua gama de produtos. 

Os militares que assumiram o poder por meio de um golpe de estado, apesar de terem um discurso nacionalista não fizeram nada para mudar o quadro, pelo contrário, ao que parece houve uma sabotagem para inviabilizar a continuidade das atividades da empresa. 

A equipe econômica do governo federal implantou logo nos primeiros momentos pós-golpe o PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo) que reduziu investimentos públicos e aumentou a cobrança de impostos e taxas por serviços básicos como água, energia elétrica e postagem de cartas, além de um duro arrocho salarial. 

Basicamente se repetiu uma receita conhecida no Brasil: os mais pobres foram sacrificados em prol do equilíbrio da economia, já que foram os mais atingidos pelos cortes de serviços, aumentos de tarifas e congelamentos de salários. 

Estas medidas econômicas também limitaram as verbas para a fabricante que foi se enfraquecendo ainda mais, apesar de ter apresentado melhoras em seus números em 1965.

Em maio de 1968 a empresa foi vendida numa operação à portas fechadas para a Alfa Romeo, descartando propostas tanto do empresariado nacional como Nelson Fernandes[2] mas também de empresas estrangeiras como a Renault e a Chrysler. 

Os italianos assumiram a empresa por um valor baixo: 36 milhões de dólares e ainda puderam continuar com os incentivos fiscais de que a FNM gozava. 

Curiosamente no ano anterior uma comissão formada por engenheiros e militares avaliou que era possível reerguer a empresa[3]

No entanto não foi de interesse do governo, morria assim a fábrica estatal que chegou a liderar as vendas no setor de caminhões.

Sob gerência italiana os moradores da vila em torno da fábrica foram indenizados e tiveram que abandonar as suas casas. 

A fabricação de produtos obsoletos continuou, pois os militares entregaram um patrimônio nacional a uma empresa que já nem fabricava mais caminhões. 

Pouco tempo depois, a FIAT assumiu o controle da Alfa Romeo e iniciou a fabricação de uma nova linha de veículos pesados e um de passeio, o 2300. 

Todos foram um fracasso, em 1985 a unidade foi definitivamente fechada, hoje o espaço é ocupado pela fabricante de carrocerias para ônibus Ciferal-Marcopolo.

Caminhão FNM ainda em uso como reboque. O fato de ser um veículo com mais de 50 anos de uso e ainda estar executando trabalhos pesados evidencia a qualidade do mesmo. Foto: Fábio Liberato de Faria Tavares.


3. A PAULISTA PUMA AUTOMÓVEIS.

A paulistana Puma Automóveis teve a sua origem em projeto da vitorioso da DKW em parceira com Milton Masteguim, Mário César de Camargo Filho, Rino Malzoni e Luís Roberto da Costa de construção de um carro esportivo para as pistas. 

O resultado foi o GT Malzoni. Em 1966 a empresa passou a se chamar Puma Automóveis, ainda com mecânica DKW.

Com a aquisição definitiva da DKW pela Volkswagen em 1967, esta passou a ser a fornecedora de motores e chassis para os modelos em fibra de vidro da  Puma, que já em 1970 alcançava sucesso no exterior com a exportação de modelos para a Suíça e Estados Unidos. Já no início da década de 1970 foram estabelecidas parcerias com a Chevrolet e aumento das exportações, tendo inclusive sido dada licença para a fabricação de modelos na marca na África do Sul.

Em 1971 veio o audacioso plano de um carro urbano de baixa cilindrada, preço, dimensões e com motor próprio. 

Para isso era necessário uma nova unidade fabril, que era planejada para São José dos Campos. 

Devido ao governo federal não ter dado aval a um empréstimo no mercado externo, a planta não saiu do papel. 

Curiosamente como foi apontado no site Lexicar[4], no mesmo período, a FIAT (dona da Alfa Romeo que já havia comprado a preço baixo a FNM) negociava a instalação de uma fábrica no país para a fabricação de veículos de custo relativamente baixos. 

Percebe-se aí uma tentativa de produção de um veículo 100% nacional possivelmente frustrada pelo governo militar em aliança com grandes montadoras. 

Ao que parece o nacionalismo e a intervenção estatal na economia praticada no período não se aplicava com tanta força no setor automobilístico.

A empresa continuou fabricando carrocerias de sucesso, inclusive cabines de caminhões, tendo chegado a quase 4 mil unidades em 1979. 

As exportações continuaram ocorrendo para mercados exigentes como Canadá e Japão. 

Porém, com a crise econômica violenta a partir de 1981 a empresa diminuiu drasticamente a sua produção. 

Alternativas como um carro elétrico e uma parceria com a japonesa Daihatsu para a produção do pequeno Cuore - que chegou a ser comercializado no Brasil na década de 1990 e foi um fracasso de vendas - foram tentadas, mas sem sucesso.

Em 1985 a empresa foi a falência e em 1987 houve uma tentativa malsucedida de continuar com a fabricação dos automóveis no Paraná. 

Nos anos 1990 a empresa ainda fabricou cabines para caminhões e carrocerias para micro-ônibus, tendo morrido definitivamente em 1999. 

Entre caminhões e automóveis foram mais de 20 mil unidades produzidas ao longo de pouco mais de 30 anos. 

Em 2017 foi anunciada a volta da Puma com a fabricação de um modelo, o GT Lumimari ao custo de R$ 150.000,00 a unidade. 

A nova Puma funcionaria em Botucatu (SP), existe um site e uma página no Facebook sobre esta volta da empresa, mas com poucas informações sobre a volta de fato da produção.


Puma GTE 1600 fotografado nos Estados Unidos. Foto. Morven. Disponível no site Wikipedia.


4. A GURGEL.

Sem dúvida, a tentativa mais bem sucedida de construção de um automóvel 100% nacional partiu de João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, nascido em 1926 na cidade de Franca-SP. 

Formou-se em 1949 em Engenharia na Escola Politécnica da USP. Seu trabalho de conclusão de curso foi um automóvel nacional. 

Contrariado, seu professor ameaçou reprová-lo pela ideia “descabida”, chagando a declarar que “carro não se fabrica, se compra”[5].

Entretanto o mercado de trabalho viu talento no jovem idealista. 

A General Motors lhe ofereceu estágio nos Estados Unidos, local onde ele teve contato com a tecnologia de plástico reforçado, algo que marcaria a sua trajetória como industrial.

Seu currículo lhe garantiu empregos na GM e Ford do Brasil quando regressou ao país. 

Também participou do GEIA, que viabilizou a implantação das multinacionais do setor automotivo no Brasil no final da década de 1950, sob o governo de Juscelino Kubitscheck (1956-1961).

Saiu rapidamente do setor automobilístico para trabalhar na confecção de painéis luminosos de acrílico, mas logo voltou fabricando karts e minicarros de plástico, que vizinhos comparavam a “banheiras de bebê”[6]

Ele também montou uma concessionária da Volkswagen, algo que lhe proporcionou acesso a uma grande quantidade de autopeças. Isso abriu caminho para a materialização de seu sonho: o carro nacional.

Em 1966, com plataforma Volkswagen, nasceu o Gurgel 1200, primeiro automóvel de sua saga. 

Três anos depois, brigou com seus sócios e fundou a Gurgel na capital paulista. 

É importante destacar que este primeiro modelo desenvolvido por Gurgel já tinha a sua carroceria em fibra de vidro. 

De acordo com ele, esta seria uma solução viável para um país como o Brasil por não enferrujar. Gurgel também acreditava que devido as ruas e estradas ruins de nosso país, era necessário a concepção de carros de uso misto (MARCOLIN, 2004).

No início da década de 1970, os negócios cresceram em ritmo acelerado. 

Ele construiu uma fábrica na cidade de Rio Claro-SP e lançou o jipe Xavante, também em vibra de vidro, assim como todos os produtos produzidos por Gurgel. Esse jipe, apesar do preço desfavorável em comparação aos concorrentes, utilizava mecânica Volkswagen, o que lhe deva uma boa vantagem, além do consumo relativamente baixo. 

Várias unidades foram fornecidas para as Forças Armadas, no período tentou desenvolver um carro elétrico, pois era um crítico do programa Proálcool[7], já que enxergava no incentivo à produção do etanol o desvio de uso de terras produtivas da produção de alimentos para o combustível, num país que vivia sob uma violenta ditadura militar que não conseguiu resolver o problema da fome que atingia milhões de brasileiros[8]

Novos produtos foram surgindo como utilitários e em 1980 a Gurgel já havia produzido cerca de 8.000 unidades, muitas delas tendo sido exportadas.

Em 1985 ele lançou a ideia do Carro Econômico Nacional (CENA), Porém, problemas com a família do piloto Ayrton Sena o obrigaram a mudar o nome do projeto para BR-800. Com forte lobby, Gurgel conseguiu que o governo aprovasse em 1988 a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados - IPI para carros de até 1000 cilindradas. 

Entretanto as “quatro grandes[9]” se aproveitaram da brecha e lançaram produtos para competirem com o BR-800. 

A primeira foi a Fiat com o Uno Mille em 1990, o carro italiano bateu com facilidade o brasileiro, que apesar da inovação apresentava sérios problemas que iam desde a motorização fraca ao fato de que as primeiras versões sequer tinham tampa do porta malas. 

Mesmo assim, 250 unidades eram produzidas por mês do BR-800. 

Gurgel criou um sistema que ele batizou de Rotamaq onde a linha de montagem funcionava de forma giratória (economizando-se assim espaço dentro da fábrica) possibilitando a produção de um automóvel a cada 20 minutos.

O alento parecia que viria com o apoio do governo cearense, então liderado por Ciro Gomes em 1991 que ofereceu incentivos para a construção de uma unidade fabril no estado nordestino. Entretanto este apoio não se concretizou. 

No já várias vezes citado documentário “Sonhos enferrujam: Gurgel e o carro do Brasil”, o então governador de São Paulo Fleury Filho atribuiu a desistência de ambos os governos em investirem no projeto à megalomania de Gurgel. 

No documentário Ciro Gomes não deu entrevista, ele apenas emitiu uma nota afirmando que o empresário havia atrasado parcelas do empréstimo ao Banco do Estado do Ceará.

Os problemas no carro atrapalhavam as vendas, além disso, ideias como o Moto Machine (um carro desmontável, mais barato que o BR-800 e que viraria motocicleta) não ajudavam muito na conquista de credibilidade. 

Uma greve de servidores públicos no porto de Santos dificultou a chegada de câmbios que eram fabricados na Argentina, comprometendo a entrega de 10 mil modelos e corroendo ainda mais a imagem da empresa.

Em 1993, ano em que o governo federal incentivou a venda de veículos 1.0 como o já citado Uno Mille, o Chevette Júnior e até mesmo a volta do Fusca a Gurgel entrou em concordata, falindo definitivamente dois anos depois, não antes sem tentativas de recuperá-las, inclusive partindo dos próprios funcionários da empresa com uma proposta de administração compartilhada. 

No entanto a visão centralizadora de Gurgel, a mesma que o impediu de ver os equívocos que cometia em continuar criando produtos novos antes de aprimorar os já existentes, fizeram com que essa tentativa nem saísse do papel. 

Após mais de 40 mil unidades produzidas ao longo de 25 anos, sonho de um carro brasileiro de larga escala estava enterrado!

Gurgel BR800, o mais próximo que chegamos de um carro 100% nacional. Foto de Mônica Kaneko disponível na Wikipedia.


5. CONCLUINDO.

São inegáveis os equívocos de Gurgel tanto na administração do negócio como em sua insistência de lançar produtos novos enquanto não aprimorava os já existentes. 

Porém é fato que a empresa, além de dominar todo o processo de fabricação de um automóvel era 100% brasileira. 

Seguindo a lógica liberal seria fácil usar argumentos como “ele faliu por incompetência” ou “seria um absurdo comprometer recursos públicos neste tipo de projeto”. 

Entretanto, as grandes indústrias automobilísticas mundiais tomadas hoje como referência, tiveram forte apoio estatal em seus países, inclusive em momentos de crise. 

A Volkswagen teve sua origem numa parceria entre o Estado Alemão e Ferdinand Porsche. 

Claro que podemos problematizar a sua origem para atender ao desejo de Hitler de produzir um carro popular, mas o fato é que provavelmente a Volkswagen sequer teria saído do papel se não fosse o apoio estatal.

Outros exemplos estão presentes para reafirmar a importância estratégica de se proteger a indústria nacional, em especial a automobilística por ser uma grande gerado de empregos diretos e indiretos. 

Em 2009 a General Motors em meio a grave crise mundial iniciada no ano anterior foi estatizada pelo governo dos Estados Unidos que tanto defende o liberalismo... 

Após melhoria do quadro econômico internacional o governo abriu mão de sua participação na empresa. A Kia Motors que estava quase falida em 1998 foi comprada pela rival doméstica Hyundai. 

Este negócio contou com apoio do governo sul-coreano que não queria ver a empresa parar nas mãos de estrangeiros. 

Em 1974 o governo francês intermediou acordo para que a Peugeot assumisse a pré-falimentar Citroën formando o Grupo PSA mantendo assim empregos e a soberania francesa neste setor. A já citada Alfa Romeo não nasceu estatal. 

Ela se tornou estatal em 1933 e somente décadas depois passou a fazer parte do Grupo FIAT.

Todos os exemplos citados demonstram a falta de comprometimento do governo brasileiro, sejam por falta de visão ou para atender aos interesses das empresas estrangeiras já presentes em nosso território de proteger e fortalecer todas as tentativas de construção de uma empresa 100% nacional no setor automobilístico, importante na geração de divisas criação de empregos com boas médias salariais e produção de novas tecnologias. 

Infelizmente, a indústria brasileira ainda se apoia na agropecuária, sendo as poucas empresas brasileiras de relevância mundial são as do setor agroindustrial como a JBS Friboi e a BRF. 

Estes setores fabricam mercadorias de pouco valor agregado e oferecem empregos de baixa remuneração, contribuindo para que o mercado interno nacional continue restrito e que o país não ocupe uma posição que esteja de acordo com as suas potencialidades no cenário mundial, muito pelo contrário, o que se vê hoje é um acelerado processo de desindustrialização do país como apontou Gaspari, no início da década de 1980, um terço do PIB brasileiro vinha da indústria, hoje vai caminhando para menos de 10%.


6. PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO.

AITH, Márcio. Hyundai vence o leilão e fica com a Kia e Asia. In: Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi20109820.htm Acesso em 22 abr. 2018.

BIELSCHOWSKY, Ricardo. Ideologia e desenvolvimento no Brasil, 1930-1954. In: PÁDUA, José Augusto (org.). Desenvolvimento, justiça e meio ambiente. Editora UFMG: Belo Horizonte, 2009.

BRANDÃO, Ramon de Lima. O automóvel no Brasil entre 1955 e 1961 : a intervenção de novos imaginários na Era JK. Dissertação (Mestrado em História)—Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2011. 

FNM. In: Lexicar. Disponível em: http://www.lexicarbrasil.com.br/fnm/ Acesso em 21 abr. 2018.

GASPARI, Elio. A ditadura derrotada. 2. Ed. Rio de Janeior: Intríseca, 2014.

GURGEL I. In: Lexicar. Disponível em: http://www.lexicarbrasil.com.br/gurgel-i/ Acesso em 21 abr. 2018.

GRUPO PSA. In: Wikipedia. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Grupo_PSA Acesso em 22 abr. 2018.

IANNI, Octávio. Globalização e neoliberalismo. In: São Paulo em perspectiva, 12 (2) 1998.

LUZ, Sérgio Ruiz. Democrata: a história do carro que virou ficção. In: Revista Quatro Rodas. Disponível em: https://quatrorodas.abril.com.br/noticias/democrata-a-historia-do-carro-que-virou-ficcao/ Acesso em 9 mai. 2018.  

MARCOLIN, Neldson. A história de uma marca. In: Pesquisa Fapesp. P. 10-13. Outubro, 2004.

OLIVA, Jacob. CEO da PSA diz que cada uma terá sua importância dentro do grupo. In: Motor 1. Disponível em: https://motor1.uol.com.br/news/381566/fusao-fca-psa-marcas/ Acesso em 30 dez. 2019.

OLIVEIRA, Odonir. Vivendo num vila operária: FNM - Fábrica Nacional de Motores, em Xerém, Rio de Janeiro. In: Jornal GGN. Disponível em: https://jornalggn.com.br/blog/odonir-oliveira/vivendo-numa-vila-operaria-fnm-fabrica-nacional-de-motores-em-xerem-rio-de-janeiro Acesso em 06 mai. 2018.

PÔLA, Vladimir. A estatização da GM e o fortalecimento do estado. In: Fundação Educacional e Cultural Metropolitana de Belo Horizonte. Disponível em: http://www.metro.org.br/vladimir/a-estatizacao-da-gm-e-o-fortalecimento-do-estado Acesso em 22 abr. 2018.

PUMA. In: Lexicar. Disponível em: http://www.lexicarbrasil.com.br/puma-i/ Acesso em 30 abr. 2018.

RUFFO, Gustavo Henrique Flat-4 italiano: quando a Alfa Romeo teve um motor boxer para chamar de seu. In: Flatout. Disponível em: https://www.flatout.com.br/flat-4-italiano-quando-a-alfa-romeo-teve-um-motor-boxer-para-chamar-de-seu/ Acesso em 22 abr. 2018.

SONHOS ENFERRUJAM: GURGEL E O CARRO DO BRASIL. Brasil, 2004. Alunos da ECA/USP. 60 min. Disponível em: https://m.youtube.com/watch?v=iBcA8ap7iHY Acesso em 21 abr. 2018.

TAVARES, Fábio Liberato de. A República Nova (1945-1964): curta e intensa vida. In: Para entender a história... Ano 5, Volume dez., Série 18/12, 2014, p.01-03.



[1] Disponível em: http://www.lexicarbrasil.com.br/puma-i/ Acesso em 30 abr. 2018.

[3] Nelson Fernandes foi um empresário brasileiro que tentou se dedicar à fabricação de um veículo nacional de luxo, o Democrata. A ideia, apesar de alguns equívocos, parecia viável, mas logo que o projeto foi colocado em prática, obstáculos começaram a aparecer como o a retenção de navio vindo da Itália com autopeças sob a acusação de contrabando, o impedimento em assumir a FNM e um processo por supostamente ter enganado mais de 90 mil investidores, do qual acabou inocentado anos depois. Devido à todos empecilhos colocados pelo governo federal, apenas cinco veículos foram produzidos.

[4] Disponível em: http://www.lexicarbrasil.com.br/fnm/ Acesso em 21 abr. 2018.

[5] Filme: Sonhos enferrujam: Gurgel e o carro do Brasil.

[6] Idem.

[7] Idem

[8] Gaspari (2014).

[9] É sempre bom lembrar quem são as “quatro grandes”: General Motors, Ford, Fiat e Volkswagen. Entretanto essa classificação, apesar de muito utilizada, não combina com os dias de hoje, pois a Renault, Honda e Toyota que passaram a produzir no país no final dos anos 1990 produzem mais de 100 mil veículos por ano.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Estação do Valongo na cidade de Santos: resgate da memória das estruturas históricas do litoral paulista.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 9, Volume dez., Série 03/12, 2018. 



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Líder do Projeto.



Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.

COAUTORES: Ana Jéssica da Silva Brito, Bruno Henrique Damásio, Fábio Aparecido Placido, Larissa Sant'Anna Anunciação, Matheus Fernandes de Oliveira, Rafael Andrade Brito, Thais Jorge Cardoso, Yasmin Costa Abdouni (discentes do curso de engenharia Civil do Centro Universitário Monte Serrat - Unimonte).

O texto deste artigo originalmente compunha uma monografia inserida no Projeto Integrador, orientada pelo Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos, apresentada pelos alunos citados como coautores ao Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), como exigência parcial para a aprovação na disciplina PI II do curso de engenharia. Os resultados da pesquisa foram apresentados ao público em evento interno da universidade, submetido à avaliação de banca de professores do curso no ano de 2015. Este texto foi atualizado pelo orientador, com modificações substanciais, para publicação na Revista.


RESUMO: Previamente aprovado pela diretoria de ensino e a coordenação dos cursos de engenharia da Unimonte; inserido em um projeto amplo que pretende resgatar a memória de estruturas históricas do litoral paulista; prosseguimento de uma intenção iniciado no ano de 2014, que recuperou estruturas da cidade de Santos, reconhecida com o Prêmio Padre Geraldo Magela, outorgado pelo grupo Anima; atendendo ao convênio firmado com a Fundação Arquivo e Memória de Santos e o Instituto Histórico e Geográfico de Santos em 2015, com a finalidade de auxiliar na composição do acervo permanente aberto a visitação pública; pretende-se contribuir para a recuperação da memória da história da estrutura Estação do Valongo, erguida em 16 de fevereiro de 1867, através da construção de uma maquete que retrate a mencionada edificação. O trabalho teve como foco a análise dos métodos construtivos da Estação do Valongo, inaugurada em 1867 na cidade de Santos visando aprimorar transporte ferroviário da região Sudeste do país, que estava passando por grande expansão comercial e precisava de um modo para escoar os produtos até o porto e facilitar a circulação de pessoas entre Santos e o planalto. Foram realizadas pesquisas bibliográficas, estudos de campo e entrevistas para o levantamento de dados e elaboração do trabalho. Tem-se como objetivo obter conhecimento sobre técnicas construtivas de séculos passados e preservar a memória da cidade, através da maquete.

PALAVRAS-CHAVE: História do Brasil, Recuperação da Memória, Memória do litoral paulista, História da Engenharia, Estrutura retratada.

ABSTRACT: Previously approved by the teaching board and the coordination of engineering courses at Unimonte; inserted in a broad project that aims to rescue the memory of historical structures on the coast of São Paulo; continuation of an intention started in 2014, which recovered structures in the city of Santos, recognized with the Padre Geraldo Magela Award, granted by the Anima group; in compliance with the agreement signed with the Santos Archive and Memory Foundation and the Santos Historical and Geographic Institute in 2015, with the purpose of assisting in the composition of the permanent collection open to public visitation; The aim is to contribute to the recovery of the memory of the history of the Estação do Valongo structure, built on February 16, 1867, through the construction of a model that portrays the aforementioned building. The work focused on analyzing the construction methods of the Valongo Station, opened in 1867 in the city of Santos with the aim of improving rail transport in the Southeast region of the country, which was undergoing great commercial expansion and needed a way to transport products to the port and facilitate the movement of people between Santos and the plateau. Bibliographical research, field studies and interviews were carried out to collect data and prepare the work. The aim is to gain knowledge about construction techniques from past centuries and preserve the memory of the city, through the model.

KEYWORDS: History of Brazil, Recovery of Memory, Memory of the coast of São Paulo, History of Engineering, Structure portrayed.


1. INTRODUÇÃO.

O presente trabalho pertence a um amplo projeto de recuperação da memória da Região Metropolitana da Baixada Santista, previamente aprovado pela diretoria de ensino e pela coordenação dos cursos de engenharia da Unimonte e visa a valorização das construções históricas e da identidade da cidade de Santos propondo a construção da maquete da Estação do Valongo (século XIX). 

O desenvolvimento deste projeto teve início em 2014, ano em que foram realizadas maquetes de outras estruturas da Região, reconhecidas pelo Prêmio Padre Geraldo Magela, outorgado pelo grupo Anima. A reunião das maquetes históricas atende a um convênio firmado com a Fundação Arquivo e Memória de Santos e o Instituto Histórico e Geográfico de Santos em 2015. A maquete da Estação do Valongo possui a finalidade de auxiliar na composição do acervo das instituições citadas que permanecerá aberto a visitação pública e valorizar o sentimento de nacionalidade.

A primeira Estação do Valongo foi inaugurada em 16 de fevereiro de 1867 pela companhia inglesa para sediar o ponto final da ferrovia São Paulo Railway, construída no mesmo período, porém devido ao aumento da demanda de transportes e passageiros ela foi derrubada e foi construída uma estrutura maior, em 1895, que atenderia as necessidades da população. A escolha dessa estrutura de 1895 se deu por representar o avanço na logística ferroviária e portuária através da construção da São Paulo Railway.

A Estação do Valongo localiza-se no Bairro do Valongo na cidade de Santos, bairro o qual compõe a região do Centro Histórico e a escolha de tal estrutura se deu por representar o avanço na área logística das ferrovias e do porto santista. As pesquisas históricas realizadas abordam a importância da região do Valongo e da Estação para a cidade, o desenvolvimento ocorrido nela e os motivos da construção da estrutura neste local. As pesquisas de campo buscam trazer conhecimento técnico dos métodos construtivos, por exemplo, infraestrutura de pedra e sambaqui, e materiais utilizados na Estação.

O desenvolvimento de maquetes históricas é um fato inovador e permite resgatar a memória da sociedade.

As metrópoles têm feito com que os sistemas de construções evoluam cada vez mais, transformando as pequenas e simples casas em grandes edifícios; na Região Metropolitana da Baixada Santista não é diferente, grandes construções surgem e edificações com arquitetura dos séculos passados vão sendo deixadas de lado (Figura 1).


Figura 1 - Ponta da praia antigamente.

Fonte: Fundação arquivo e memória de Santos, 2009.


Na figura 1 pode-se perceber que as construções na orla da praia eram simples e de característica unifamiliar. Entretanto, as necessidades da população aumentaram e as construções evoluíram de forma rápida, trazendo consigo a característica plurifamiliar e verticalizada para as edificações observando a figura 2 pode-se perceber esse fato.

Figura 2 - Ponta da praia atualmente.

Fonte: Fotolog, 2010.


Com a figura 2 é possível notar o quanto as construções modernas tomaram o espaço das construções antigas e por isso torna-se importante a valorização e preservação das estruturas históricas, conscientizando a sociedade por meio do desenvolvimento de projetos como as maquetes históricas, incluindo a da Estação do Valongo, e os acervos iconográficos.

A construção da presente maquete da Estação do Valongo tem sua inovação baseada nos materiais escolhidos e na dinâmica de funcionamento, pois se busca uma interação com o público utilizando os 5 sentidos, que são visão, audição, tato, olfato e paladar. Para a construção dessa maquete é necessário em torno de mil reais e aproximadamente 3 meses.


2. OBJETIVO.

Através do Projeto Integrador realizado pelos alunos do segundo semestre de 2015 do curso de Engenharia Civil da Unimonte, tem-se como objetivo preservar a memória da cidade de Santos e conhecer as técnicas de construção e materiais usados antigamente realizando estudos históricos por meio de livros e pesquisas de campo; no local e com profissionais especializados; para a construção da maquete com materiais inovadores e para o desenvolvimento de um acervo iconográfico da Estação do Valongo.

Por meio do desenvolvimento da maquete da Estação do Valongo busca-se, especificamente, ampliar o conhecimento sobre as técnicas e métodos construtivos aplicados na construção original da estrutura, analisar as modificações ocorridas e valorizar as construções históricas da Região em que o projeto está sendo aplicado.


3. PROBLEMÁTICA.

Projeto consiste no desenvolvimento da maquete da estação do valongo de forma inovadora utilizando os cinco sentidos para criar interação entre o publico, o projeto e a época retratada.

Já existem maquetes da estação porem não estão acessíveis ao publico, com isso o projeto ganha maior relevância, pois permanecerá disponível levando assim conhecimento ao publico em longo prazo. Conhecimento tal que foi obtido pelas pesquisas de campos, reunindo dados técnicos a fim facilitar o acesso à informação.


4. REFERENCIAL TEÓRICO.

Com o intuito de valorizar estruturas históricas o presente projeto pretende construir a maquete do prédio da Estação do Valongo atualmente, o qual mantém sua estrutura original desde 1895. Para a realização da maquete foi necessária a busca por dados históricos e técnicos do prédio, obtidos por meio de fundamentação teórica e pesquisas de campo.

O desenvolvimento do projeto teve início com pesquisas históricas em livros a fim de enriquecer o cunho teórico do trabalho com relatos do desenvolvimento da região do centro histórico e da Estação do Valongo já realizados por autores como Ana Lúcia Duarte Lanna, Maria Valéria Barbosa, entre outros. Tais conteúdos estão dispostos no item 5 (resultados da pesquisa). 

Outro método utilizado foram as pesquisas de campo á Estação do Valongo, com a finalidade de observar a estrutura como um todo e os detalhes da construção, ás instituições que possuem documentos de edifícios tombados - como a Fundação Arquivo e Memória de Santos e o Instituto Histórico e Geográfico de Santos – e á profissionais da área de história que auxiliem nos dados, na construção da maquete e no desenvolvimento do acervo iconográfico da Estação do Valongo; tais visitas de campo serão detalhadas na análise dos dados e resultados. 


5. ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS.

Pesquisa de campo foi a principal metodologia utilizada, o conteúdo teórico adquirido está disposto no item 5 (resultados da pesquisa) e as visitas e entrevistas estão descritas a seguir.

No dia 28 de agosto de 2015 foi realizada a visita à Estação do Valongo e à Igreja Santo Antônio do Valongo a fim de obter informações sobre a construção e a história da Estação, realizar um reconhecimento prévio do edifício e registrar, por meio de fotos, características importantes (Figura 3).

Figura 3 - Perspectiva da Estação do Valongo.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.

No dia 30 de setembro de 2015 foi realizada a visita à Fundação Arquivo e Memória de Santos em busca de fotos antigas da Estação e houve o contato com a técnica de processamento iconográfico Isabel Christina Mathias do Nascimento, a qual apresentou fotografias da estrutura nas décadas de 1950 à 1980, permitindo a visualização não só da Estação mas da ferrovia, da rua e do porto; fotografias as quais enriquecerão o acervo iconográfico desenvolvido no presente trabalho.

Na mesma data foi realizada a visita à Fundação Arquivo e Memória de Santos - Arquivo Permanente, a fim de conseguir o projeto arquitetônico ou projeto do método construtivo da Estação do Valongo, que viria a auxiliar na construção da maquete. Porém um funcionário da instituição citada afirmou não possuir nenhum arquivo do tipo, pois foi uma construção realizada pela mesma empresa que construiu a São Paulo Railway e tais documentos seriam de posse dela.

No dia 01 de outubro de 2015 ocorreu uma visita ao desenhista industrial Pedro Landi, o qual já realizou a construção de uma réplica da Estação do Valongo (Figura 4). A entrevista foi proveitosa, pois o profissional forneceu fotos da Estação e indicou possíveis materiais para a construção dessa nova versão da maquete que será doada a Fundação Arquivo e Memória de Santos.


Figura 4 - Réplica da Estação do Valongo por Pedro Landi.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.


Em 30 de outubro de 2015, novamente em visita à Estação do Valongo, a secretária administrativa Lívia Silva Rubido contatou o Secretário geral de Turismo da cidade de Santos o senhor Luiz Dias Guimarães, o mesmo autorizou a realização do relatório de inspeção das instalações e designou o senhor Wanderlei de Oliveira, porteiro e zelador do local, como guia pelas estruturas. 



6. ESTRUTURAÇÃO DA MAQUETE.

Para construir a maquete da Estação do Valongo pretende-se combinar um conjunto de fotos representando o entorno da edificação e projetar a frente da edificação e a cobertura (Figura 5). Na apresentação da maquete também existirá o apelo sensorial ao público, como audição com a colocação de rádio com músicas dos séculos XIX e XX, olfato e paladar com uma máquina de café, tato e visão com a maquete.

Figura 5 - Esquema da maquete.

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2015.


Os materiais utilizados nas estruturas de cobertura, chão e postes estão listados a seguir:
 
Papel fotográfico;
Papel paraná;
Bonde e trilho de brinquedo;
Palitos de madeira;
Madeira;
Cola quente;
Cola madeira;
Base e fundo M.D.F.

A princípio foi construída a base de madeira, houve a medição e indicação de cada estrutura (Figura 6), depois houve a colagem das fotos do entorno da estação e após isso deu-se o inicio da construção da cobertura frontal, do bonde e dos postes.

Figura 6 - Inicio da construção da maquete.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.


O desenvolvimento da maquete se deu em 3 meses, a técnica de construção da maquete empregada foi proveniente da entrevista com Pedro Landi, o qual deu dicas de como trabalhar melhor com cada material, as fotos representando o entorno da Estação provém do fotógrafo Fábio Placido (Figura 7).


Figura 7 - Maquete da Estação do Valongo.

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2015.




7. RESULTADO DA PESQUISA.

Realizou-se um levantamento de dados históricos sobre o bairro do Valongo e a Estação buscando enriquecer o projeto e valorizar os estudos já existentes contribuindo para a formação de uma identidade regional.

A Estação do Valongo foi inaugurada  em 16 de fevereiro de 1867 junto com a ferrovia São Paulo Railway, que interligava o planalto e o porto. 
Essa obra ferroviária era fruto de uma licença feita ao Barão de Mauá, ao Marquês de Monte Alegre e a João Antônio Pimenta Bueno, em 1856. Porém na conclusão da obra a ferrovia já pertencia a uma companhia inglesa. O seu ponto inicial era a Estação do Valongo que fica na área do porto, em parte dos terrenos do antigo convento franciscano (Figura 8) - (LANNA, 1996).

Figura 8 - Perspectiva da Estação do Valongo.

Fonte: Estações ferroviárias, 2010.


A figura 8 retrata o fluxo de carroças que passavam e paravam na Estação, essa era a parte frontal pela qual os passageiros tinham acesso ao prédio e na parte posterior da estrutura eles embarcavam na ferrovia (Figura 9).


Figura 9 - Fachada posterior do prédio da Estação.

Fonte: Estações ferroviárias, 2010.


A figura 9 permite a observação do local de chegada da ferrovia, onde os passageiros desembarcavam do trem, e a fachada posterior da Estação, sendo possível a identificação da torre do relógio no centro.

Os registros técnicos da construção dessa estrutura não estão disponíveis ao público, por isso, por meio de um aplicativo e das pesquisas de campo, foi realizada uma planta baixa da Estação do Valongo atualmente a fim de ampliar a percepção estrutural e arquitetônica do prédio.


Figura 10 - Maquete da Estação do Valongo.

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2015.


Por meio da planta foi possível distinguir as áreas administrativas (andar superior), de circulação de pessoas do prédio (térreo) e a área de embarque e desembarque de passageiros. 
Nas visitas a campo foi possível também a identificação da infraestrutura (como fundações) e superestrutura (como paredes e cobertura) e estão dispostas a seguir:


A. Infraestrutura.

Existem dois tipos de fundações, superficial e profunda.

“[na superficial] a carga é transmitida ao terreno, predominantemente pelas pressões distribuídas sob a base da fundação. [...] Incluem-se neste tipo de fundação as sapatas, os blocos, os radier, as sapatas associadas, as vigas de fundação e as sapatas corridas. [...] [na profunda] a carga é transmitida ao terreno pela base (resistência de ponta), por sua superfície lateral (resistência de atrito do fuste) ou por uma combinação das duas. [...] incluem-se as estacas, os tubulões e os caixões." (NBR 6122/1996, p.02)

Na Estação do Valongo as fundações são diretas, não havendo nenhum tipo de estaqueamento, o terreno foi escavado e compactado de forma manual e preenchido com tijolos tipo Adobe (Figura 11).

Tijolo de adobe é feito com areia, argila, agregado miúdo e água. Nesse método não é necessário o cozimento do tijolo, ele seca à temperatura ambiente.


Figura 11 - Tijolo de adobe.

Fonte: Só tijolos, 2015.


B. Superestruturas.

As paredes possuem uma espessura de aproximadamente 40 centímetros, feitas com tijolos de barros assentados com argila, areia e cal e untadas com óleo para impermeabilização (Figura 12). Para a sustentação das paredes foram utilizadas colunas de pedra sobrepostas e nos peitoris e soleiras são utilizadas pedras maciças.

Figura 12 - Paredes da Estação do Valongo.

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2015.



C. Lajes.

As lajes são originalmente de madeira, onde vigas na bitola de 10x30 centímetros são utilizadas para vencerem os vãos livres, a estrutura se completa com assoalhos de tábuas de madeira com encaixe macho e fêmea. Atualmente os andares são divididos com laje de concreto armado.


D. Escadas.

As escadas antigas eram feitas de madeira, igualmente suas estruturas, assoalhos e corrimãos, atualmente das escadas originais resta apenas as que dão acesso ao sótão, foram todas substituídas por concreto armado e revestidas de granito (Figura 13).


Figura 13 - Escadas originais que dão acesso ao sótão.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.



E. Sótão.

O sótão permanece original, feito em madeira de lei, possui um pé direito de aproximadamente 3,00 metros de altura e serve de sustentação para as torres da estação, seus assoalhos são de madeira e se estendem por toda área da estação onde também abriga um relógio (Figura 14).

Figura 14 - Parte interna dos torreões.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.



F. Janelas e portas.

As janelas e portas permanecem originais em seu tamanho e modelo, porém no inicio eram revestidas somete de verniz, hoje são pintadas com tinta óleo (Figura 15).

Figura 15 - Portas atualmente.

Fonte: Diário do litoral, 2014.



G. Telhado.

O telhado é uma das áreas mais conservadas, os torrões são feitos de madeira e suas telhas são de cobre onde dão estrutura para uma inclinação de 75%, as demais áreas são cobertas de telhas de barro tipo francesa.  A cobertura da frente tem sua estrutura feita em madeira com seus pilares de sustentação feitos em ferro e coberto com telhas de barro tipo francesa (Figura 16).

Figura 16 - Cobertura da Estação.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.



H. Pisos.

Foram utilizados diversos tipos de revestimentos do tipo, pisos de porcelana, assoalhos de madeira e mosaicos de porcelana.


I. Fachada.

A fachada em estilo Vitoriano é conservada em detalhes até hoje, o revestimento é feito em argila areia com cal untada de óleo, algumas partes foram refeitas em argamassa de cimento e areia após sua restauração.


8. LOCALIZAÇÃO E FINALIDADE.

A Estação do Valongo localiza-se no bairro do Valongo na cidade de Santos no estado de São Paulo (Figura 17). 

Figura 17 - Localização da Estação do Valongo.

Fonte: Google Mapas, 2015.


Foi construída com a finalidade de ser o ponto inicial da ferrovia São Paulo Railway (Figura 18), e após o fim do contrato com a empresa inglesa, em 1947, outra ferrovia passou a utiliza-la, a Estrada de ferro Santos-Jundiaí. Estação do Valongo foi utilizada com esse propósito até a desativação da rede ferroviária em 1995.

Figura 18 - No canto inferior esquerdo encontra-se a Estação, e atrás dela o início da ferrovia. 

Fonte: Estações ferroviárias, 2010.


Os arredores da Estação eram constituídos basicamente do porto, da igreja do Valongo e de casarões, como o da infantaria azulejada (Figura 19).

Ao fundo da figura 19 é perceptível o morro e as antigas construções que cercavam a Estação.

Figura 19 - Estação do Valongo e Infantaria azulejada.

Fonte: Santos turismo, 2013.



9. CONTEXTUALIZAÇÃO.

Santos possui abertura para o mar e no século XVI convinha abrir-se para o interior do Brasil. Essa relação com as regiões serra acima resultou, num deslocamento da cidade para os terrenos mais próximos de Cubatão (Figura 20) que era o local necessário para o acesso ao planalto (LANNA, 1996).

Figura 20 - Região de Santos e Cubatão.

Fonte: Santos na formação do Brasil, 2000.


A partir da figura 20 é possível perceber que a geografia da região favorecia o desembarque de navios de forma segura e observar tanto o local de subida da serra, que era pelo extremo de Cubatão, quanto o local onde ocorreria a maior concentração populacional, que seria próximo ao porto.

No século XIX, a influência da cidade de São Paulo, desenvolvida e urbanizada, sobre a região que hoje corresponde a Santos e a Cubatão foi essencial para a consolidação de sua função portuária e comercial, fazendo com que a população viesse a ser urbana, sem grandes desenvolvimentos agrícolas (LANNA, 1996).

Os primeiros donos das terras correspondentes ao bairro do Valongo e suas proximidades foram José Francisco e Paulo Adorno. Esses lotes foram distribuídos por Martim Afonso em 1532 (BARBOSA, 2000).

Os franciscanos chegaram ao Brasil em 1638, e foram convidados para construir um convento em Santos. A escolha recaiu sobre o Valongo pela facilidade de obtenção de água e pela vizinhança rica que poderia ajudar em sua construção. Em 25 de janeiro de 1640, o convento foi oficialmente fundado, mas a construção só teve início em 1641 (Figura 21) - (BARBOSA, 2000).

Figura 21 - Igreja Santo Antônio do Valongo.

Fonte: Santos na formação do Brasil, 2000.


No século XVIII, a vila de Santos era constituída por dois núcleos o Valongo, mais recente, com predomínio das funções comerciais, e individuais de origem portuguesa, e os Quartéis, mais antigo, com predomínio das funções militares e administrativas. Entre os dois bairros havia uma competição comercial que se transformou em luta política. (LANNA, 1996)

Esse conflito veio a diminuir quando ambos uniram-se para impedir a demolição da Igreja de Santo Antônio, em meados de 1860, para se construir a ferrovia. Nessa tentativa de destruir a igreja existe a história de que não se teria conseguido retirar a imagem do altar, os valongueiros convocaram os quarteleiros a se unir contra os ingleses que pretendiam destruir a igreja para construir sua ferrovia. A população impediu a derrubada da igreja e manteve a imagem no altar. Entretanto a ferrovia foi construída nesse local, em antigas terras do convento franciscano (Figura 22) - (LANNA, 1996).


Figura 22 - Estação do Valongo construída sobre o antigo convento.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.


O Convento do Valongo permaneceu como ponto terminal da cidade no lado oriental, com a fachada frontal voltada para a vila (Figura 23), marcando a paisagem pela sua imponência e localização, onde tinha importante papel como local de encontro  (LANNA, 1996).

Figura 23 - Bairro do Valongo em 1912.

Fonte: Viva Santos, 2015.


No centro da figura 23 é possível observar os dois casarões do Valongo, a Estação da São Paulo Railway e o Santuário do Valongo, à esquerda nota-se as construções portuárias e em geral as habitações que foram construídas ao longo dos anos.

Durante a década de 1850, a comercialização do café excedeu a do açúcar no movimento do porto. Em 1854, responsável por quase 80% da exportação da produção nacional, Santos tornou-se o Porto do Café (BARBOSA, 2000).

O Governo Imperial, ao tentar definir uma política nacional sobre a implantação de uma rede ferroviária, considerava as possibilidades de expansão econômica, de integração nacional e regeneração regional. A rapidez e agilidade decorrentes das ferrovias possibilitariam, sobretudo, um incremento das atividades econômicas, e nesse momento, a expansão cafeeira (LANNA, 1996).

A substituição das tropas de muares (Figura 24) pelas ferrovias, interligando as áreas de produção cafeeira aos seus dois grandes portos, Rio de Janeiro e Santos, levou esse sistema de circulação, que vinha da época colonial, a entrar em colapso (LANNA, 1996).


Figura 24 - Transporte por meio de mulas.

Fonte: Revista de história, 2011.


O advento da ferrovia São Paulo Railway se deu em 1867 (Figura 25) e era fruto de uma concessão de 1856 feita ao Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza), ao Marquês de Monte Alegre (José da Costa Carvalho) e a João Antônio Pimenta Bueno. Mas na sua conclusão já tinha sido transferida para a companhia inglesa nas mãos de quem ficou até 1946. O seu ponto terminal era a Estação do Valongo que fica na área do porto, em parte dos terrenos do antigo convento franciscano (LANNA, 1996).

Figura 25 - Trem que percorria a estrada de ferro São Paulo Railway.

Fonte: Novo Milênio, 2006.


Para interligar a ferrovia e o porto foi construído o primeiro trecho de cais, em fevereiro de 1892. Sua extensão (260 metros) ia da Rua Brás Cubas ao extremo da ponte da São Paulo Railway, no Valongo. Sete meses depois, foi entregue o primeiro armazém e, em 1893, mais 400 metros de cais, além da ligação dos trilhos do porto com os da ferrovia inglesa (BARBOSA, 2000).

A construção dessa rede ferroviária consolidou a crise dos demais portos da Província de São Paulo, uma vez que o porto de Santos passou a monopolizar o fluxo de mercadorias do planalto, possibilitando a expansão da economia da capital (BARBOSA, 2000).

Esta obra de engenharia imprimiu maior velocidade ao transporte, agilizou o comércio do café, criou novas possibilidades de emprego para a população da cidade e facilitou o deslocamento de pessoas entre as províncias. O porto com seu movimento incessante de navios contribuía para essa mobilidade. Nessa fase, Santos consolidou sua vocação comercial e portuária (BARBOSA, 2000).


10. HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO.

A primeira Estação do Valongo foi inaugurada  em 16 de fevereiro de 1867 (Figura 26) pela The São Paulo Railway Company LTD., a primeira ferrovia paulista e uma das primeiras ferrovias do Brasil, a qual teve seu anteprojeto realizado pelo engenheiro Robert Stephenson e foi construída pelos engenheiros James Brunlees e Daniel Makinson Fox (NEW BRUNSWICK, 2005).

Figura 26 - Primeira Estação do Valongo, 1867.

Fonte: Viva Santos, 2015.


Com o aumento do fluxo de cargas e passageiros, a estação deixou de atender as necessidades da população, como relata a revista Almanak Laemmertz em 1889:

"a estação (foi) construída com bons materiaes, a architectura não é de bom gosto: os armazens para as mercadorias, pelas suas dimensões, são insignificantes, não podendo, portanto satisfazer as exigencias do futuro trafego. Ha falta de casa para deposito de carros, e de oficinas de reparação para as locomotivas". (GIESBRECHT, 2010) 

Em 1895 a estação foi reformada, sendo construído um segundo andar, dois torreões (Torre no alto de um edifício) e alguns elementos de ferro. Essa nova Estação do Valongo (Figura 27) viria a atender as necessidades de uma grande estação (GIESBRECHT, 2010).


Figura 27 - Estação do Valongo em 1895.

Fonte: Viva Santos, 2015.


Segundo o site da Prefeitura Municipal de Santos (2014) a arquitetura neoclássica empregada na Estação do Valongo é proveniente de uma estação ferroviária de Londres na Inglaterra, chama-se Victoria Station, e foi inaugurada em 1862 (Figura 28).

Observando a figura 28 é possível perceber as semelhanças entre as duas estações, como a torre do relógio, os torreões nas extremidades e a cobertura frontal realizada com estrutura metálica. 

Figura 28 - Estação de trem em Londres, Victoria Station.

Fonte: Victoria place, 2015.



11. PANORAMA ATUAL.

Com a extinção do transporte de passageiros, em 30 de novembro de 1995, a Estação do Valongo permaneceu fechada e sem uso por vários anos (Figura 29) - (GIESBRECHT, 2010).


Figura 29 - Estação do Valongo antes da recuperação, em 2000.

Fonte: Estações ferroviárias, 2010.


Somente em 2003 o prédio passou por um processo de recuperação (Figura 30), realizado pela Prefeitura de Santos e foi reinaugurado no ano seguinte, passando a abrigar a Secretaria de Turismo de Santos (SETUR, 2015).

Figura 30 - Estação do Valongo em 2013.

Fonte: Santos Turismo, 2013.


12. DISCUSSÃO.

A estação do Valongo é o marco inicial da São Paulo Railway, ferrovia que trouxe grande avanço comercial e portuário para a cidade de santos. Na época de sua inauguração foi considerada uma inovação arquitetônica, por trazer características provenientes da Europa, mais especificamente de Londres (Victoria station).

Apesar de o método construtivo ser arcaico, utilizando materiais como tijolos de adobe, pedra e madeira, é um prédio que durante 101 anos resistiu ao uso intenso de suas funções e com grande fluxo de cargas e pessoas, sendo desativado em 1996.

Somente em 2003 a estação do Valongo sofreu uma restauração e a prefeitura destinou o uso do prédio a funções uteis à cidade, como a secretaria de turismo e o restaurante escola bistrô.

Ao longo do desenvolvimento do projeto foram encontradas dificuldades na obtenção de dados técnicos construtivos do prédio, havendo a necessidade de uma visita técnica com olhar aprofundado sobre as estruturas existentes e identificação dos materiais utilizados.

 

13. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A partir dos dados obtidos foi possível perceber a importância que a ferrovia São Paulo Railway teve para o desenvolvimento comercial e portuário da cidade de Santos, e para todas as cidades cujo a ferrovia passava, como Cubatão, Santo André, Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Mauá, São Caetano do Sul, capital paulista e a Jundiaí. Interligando essas cidades foi possível substituir as tropas muares e escoar a produção de café para o porto e consequentemente para a importação.

Com isso, a Estação do Valongo, ponto inicial da ferrovia, simboliza esse desenvolvimento ocorrido no século XIX e XX. Tornando o projeto de construção da maquete da Estação relevante para a população, permitindo o contato maior da sociedade com o passado, e ressaltando sua importância no presente. 



14. REFERÊNCIAS.


A. FONTES.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6122. Projeto e execução de fundações. Elaboração. Rio de Janeiro, 1996. Disponível em: <https://docente.ifrn.edu.br/valtencirgomes/disciplinas/construcao-de-edificios/nbr-06122-1996-projeto-e-execucao-de-fundacoes> Acesso em: 03 nov. 2015.

[Bairro do Valongo em 1912]. [2004] Fotografia coloria. Formato JPG. Disponível em: <http://www.vivasantos.com.br/centrohistorico/pag/01.htm> Acesso em: 25 out. 2015.

[Estação de trem em Londres, Victoria Station]. [2015]. Fotografia colorida. Formato JPG. Disponível em: <http://victoriaplace.co.uk/london-victoria-station> Acesso em: 23 out. 2015.

[Estação do Valongo e Infantaria azulejada]. [2013]. Fotografia em preto e branco. Formato JPG. Disponível em: <https://santosturismo.wordpress.com/ 2013/02/16/estacao-do-valongo-completa-146-anos/> Acesso em: 29 out. 2015.

[Estação do Valongo em 1895]. [2004] Fotografia em preto e branco. Formato JPG. Disponível em: <http://www.vivasantos.com.br/centrohistorico/pag/01.htm> Acesso em: 25 out. 2015.

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GIESBRECHT, Ralph Mennucci. São Paulo Railway, Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e Rede Ferroviária Federal SA. Disponivel em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/s/santos.htm> Acesso em: 29 out. 2015.

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