Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
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Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Estação do Valongo na cidade de Santos: resgate da memória das estruturas históricas do litoral paulista.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 9, Volume dez., Série 03/12, 2018. 



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Líder do Projeto.



Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.

COAUTORES: Ana Jéssica da Silva Brito, Bruno Henrique Damásio, Fábio Aparecido Placido, Larissa Sant'Anna Anunciação, Matheus Fernandes de Oliveira, Rafael Andrade Brito, Thais Jorge Cardoso, Yasmin Costa Abdouni (discentes do curso de engenharia Civil do Centro Universitário Monte Serrat - Unimonte).

O texto deste artigo originalmente compunha uma monografia inserida no Projeto Integrador, orientada pelo Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos, apresentada pelos alunos citados como coautores ao Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), como exigência parcial para a aprovação na disciplina PI II do curso de engenharia. Os resultados da pesquisa foram apresentados ao público em evento interno da universidade, submetido à avaliação de banca de professores do curso no ano de 2015. Este texto foi atualizado pelo orientador, com modificações substanciais, para publicação na Revista.


RESUMO: Previamente aprovado pela diretoria de ensino e a coordenação dos cursos de engenharia da Unimonte; inserido em um projeto amplo que pretende resgatar a memória de estruturas históricas do litoral paulista; prosseguimento de uma intenção iniciado no ano de 2014, que recuperou estruturas da cidade de Santos, reconhecida com o Prêmio Padre Geraldo Magela, outorgado pelo grupo Anima; atendendo ao convênio firmado com a Fundação Arquivo e Memória de Santos e o Instituto Histórico e Geográfico de Santos em 2015, com a finalidade de auxiliar na composição do acervo permanente aberto a visitação pública; pretende-se contribuir para a recuperação da memória da história da estrutura Estação do Valongo, erguida em 16 de fevereiro de 1867, através da construção de uma maquete que retrate a mencionada edificação. O trabalho teve como foco a análise dos métodos construtivos da Estação do Valongo, inaugurada em 1867 na cidade de Santos visando aprimorar transporte ferroviário da região Sudeste do país, que estava passando por grande expansão comercial e precisava de um modo para escoar os produtos até o porto e facilitar a circulação de pessoas entre Santos e o planalto. Foram realizadas pesquisas bibliográficas, estudos de campo e entrevistas para o levantamento de dados e elaboração do trabalho. Tem-se como objetivo obter conhecimento sobre técnicas construtivas de séculos passados e preservar a memória da cidade, através da maquete.

PALAVRAS-CHAVE: História do Brasil, Recuperação da Memória, Memória do litoral paulista, História da Engenharia, Estrutura retratada.

ABSTRACT: Previously approved by the teaching board and the coordination of engineering courses at Unimonte; inserted in a broad project that aims to rescue the memory of historical structures on the coast of São Paulo; continuation of an intention started in 2014, which recovered structures in the city of Santos, recognized with the Padre Geraldo Magela Award, granted by the Anima group; in compliance with the agreement signed with the Santos Archive and Memory Foundation and the Santos Historical and Geographic Institute in 2015, with the purpose of assisting in the composition of the permanent collection open to public visitation; The aim is to contribute to the recovery of the memory of the history of the Estação do Valongo structure, built on February 16, 1867, through the construction of a model that portrays the aforementioned building. The work focused on analyzing the construction methods of the Valongo Station, opened in 1867 in the city of Santos with the aim of improving rail transport in the Southeast region of the country, which was undergoing great commercial expansion and needed a way to transport products to the port and facilitate the movement of people between Santos and the plateau. Bibliographical research, field studies and interviews were carried out to collect data and prepare the work. The aim is to gain knowledge about construction techniques from past centuries and preserve the memory of the city, through the model.

KEYWORDS: History of Brazil, Recovery of Memory, Memory of the coast of São Paulo, History of Engineering, Structure portrayed.


1. INTRODUÇÃO.

O presente trabalho pertence a um amplo projeto de recuperação da memória da Região Metropolitana da Baixada Santista, previamente aprovado pela diretoria de ensino e pela coordenação dos cursos de engenharia da Unimonte e visa a valorização das construções históricas e da identidade da cidade de Santos propondo a construção da maquete da Estação do Valongo (século XIX). 

O desenvolvimento deste projeto teve início em 2014, ano em que foram realizadas maquetes de outras estruturas da Região, reconhecidas pelo Prêmio Padre Geraldo Magela, outorgado pelo grupo Anima. A reunião das maquetes históricas atende a um convênio firmado com a Fundação Arquivo e Memória de Santos e o Instituto Histórico e Geográfico de Santos em 2015. A maquete da Estação do Valongo possui a finalidade de auxiliar na composição do acervo das instituições citadas que permanecerá aberto a visitação pública e valorizar o sentimento de nacionalidade.

A primeira Estação do Valongo foi inaugurada em 16 de fevereiro de 1867 pela companhia inglesa para sediar o ponto final da ferrovia São Paulo Railway, construída no mesmo período, porém devido ao aumento da demanda de transportes e passageiros ela foi derrubada e foi construída uma estrutura maior, em 1895, que atenderia as necessidades da população. A escolha dessa estrutura de 1895 se deu por representar o avanço na logística ferroviária e portuária através da construção da São Paulo Railway.

A Estação do Valongo localiza-se no Bairro do Valongo na cidade de Santos, bairro o qual compõe a região do Centro Histórico e a escolha de tal estrutura se deu por representar o avanço na área logística das ferrovias e do porto santista. As pesquisas históricas realizadas abordam a importância da região do Valongo e da Estação para a cidade, o desenvolvimento ocorrido nela e os motivos da construção da estrutura neste local. As pesquisas de campo buscam trazer conhecimento técnico dos métodos construtivos, por exemplo, infraestrutura de pedra e sambaqui, e materiais utilizados na Estação.

O desenvolvimento de maquetes históricas é um fato inovador e permite resgatar a memória da sociedade.

As metrópoles têm feito com que os sistemas de construções evoluam cada vez mais, transformando as pequenas e simples casas em grandes edifícios; na Região Metropolitana da Baixada Santista não é diferente, grandes construções surgem e edificações com arquitetura dos séculos passados vão sendo deixadas de lado (Figura 1).


Figura 1 - Ponta da praia antigamente.

Fonte: Fundação arquivo e memória de Santos, 2009.


Na figura 1 pode-se perceber que as construções na orla da praia eram simples e de característica unifamiliar. Entretanto, as necessidades da população aumentaram e as construções evoluíram de forma rápida, trazendo consigo a característica plurifamiliar e verticalizada para as edificações observando a figura 2 pode-se perceber esse fato.

Figura 2 - Ponta da praia atualmente.

Fonte: Fotolog, 2010.


Com a figura 2 é possível notar o quanto as construções modernas tomaram o espaço das construções antigas e por isso torna-se importante a valorização e preservação das estruturas históricas, conscientizando a sociedade por meio do desenvolvimento de projetos como as maquetes históricas, incluindo a da Estação do Valongo, e os acervos iconográficos.

A construção da presente maquete da Estação do Valongo tem sua inovação baseada nos materiais escolhidos e na dinâmica de funcionamento, pois se busca uma interação com o público utilizando os 5 sentidos, que são visão, audição, tato, olfato e paladar. Para a construção dessa maquete é necessário em torno de mil reais e aproximadamente 3 meses.


2. OBJETIVO.

Através do Projeto Integrador realizado pelos alunos do segundo semestre de 2015 do curso de Engenharia Civil da Unimonte, tem-se como objetivo preservar a memória da cidade de Santos e conhecer as técnicas de construção e materiais usados antigamente realizando estudos históricos por meio de livros e pesquisas de campo; no local e com profissionais especializados; para a construção da maquete com materiais inovadores e para o desenvolvimento de um acervo iconográfico da Estação do Valongo.

Por meio do desenvolvimento da maquete da Estação do Valongo busca-se, especificamente, ampliar o conhecimento sobre as técnicas e métodos construtivos aplicados na construção original da estrutura, analisar as modificações ocorridas e valorizar as construções históricas da Região em que o projeto está sendo aplicado.


3. PROBLEMÁTICA.

Projeto consiste no desenvolvimento da maquete da estação do valongo de forma inovadora utilizando os cinco sentidos para criar interação entre o publico, o projeto e a época retratada.

Já existem maquetes da estação porem não estão acessíveis ao publico, com isso o projeto ganha maior relevância, pois permanecerá disponível levando assim conhecimento ao publico em longo prazo. Conhecimento tal que foi obtido pelas pesquisas de campos, reunindo dados técnicos a fim facilitar o acesso à informação.


4. REFERENCIAL TEÓRICO.

Com o intuito de valorizar estruturas históricas o presente projeto pretende construir a maquete do prédio da Estação do Valongo atualmente, o qual mantém sua estrutura original desde 1895. Para a realização da maquete foi necessária a busca por dados históricos e técnicos do prédio, obtidos por meio de fundamentação teórica e pesquisas de campo.

O desenvolvimento do projeto teve início com pesquisas históricas em livros a fim de enriquecer o cunho teórico do trabalho com relatos do desenvolvimento da região do centro histórico e da Estação do Valongo já realizados por autores como Ana Lúcia Duarte Lanna, Maria Valéria Barbosa, entre outros. Tais conteúdos estão dispostos no item 5 (resultados da pesquisa). 

Outro método utilizado foram as pesquisas de campo á Estação do Valongo, com a finalidade de observar a estrutura como um todo e os detalhes da construção, ás instituições que possuem documentos de edifícios tombados - como a Fundação Arquivo e Memória de Santos e o Instituto Histórico e Geográfico de Santos – e á profissionais da área de história que auxiliem nos dados, na construção da maquete e no desenvolvimento do acervo iconográfico da Estação do Valongo; tais visitas de campo serão detalhadas na análise dos dados e resultados. 


5. ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS.

Pesquisa de campo foi a principal metodologia utilizada, o conteúdo teórico adquirido está disposto no item 5 (resultados da pesquisa) e as visitas e entrevistas estão descritas a seguir.

No dia 28 de agosto de 2015 foi realizada a visita à Estação do Valongo e à Igreja Santo Antônio do Valongo a fim de obter informações sobre a construção e a história da Estação, realizar um reconhecimento prévio do edifício e registrar, por meio de fotos, características importantes (Figura 3).

Figura 3 - Perspectiva da Estação do Valongo.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.

No dia 30 de setembro de 2015 foi realizada a visita à Fundação Arquivo e Memória de Santos em busca de fotos antigas da Estação e houve o contato com a técnica de processamento iconográfico Isabel Christina Mathias do Nascimento, a qual apresentou fotografias da estrutura nas décadas de 1950 à 1980, permitindo a visualização não só da Estação mas da ferrovia, da rua e do porto; fotografias as quais enriquecerão o acervo iconográfico desenvolvido no presente trabalho.

Na mesma data foi realizada a visita à Fundação Arquivo e Memória de Santos - Arquivo Permanente, a fim de conseguir o projeto arquitetônico ou projeto do método construtivo da Estação do Valongo, que viria a auxiliar na construção da maquete. Porém um funcionário da instituição citada afirmou não possuir nenhum arquivo do tipo, pois foi uma construção realizada pela mesma empresa que construiu a São Paulo Railway e tais documentos seriam de posse dela.

No dia 01 de outubro de 2015 ocorreu uma visita ao desenhista industrial Pedro Landi, o qual já realizou a construção de uma réplica da Estação do Valongo (Figura 4). A entrevista foi proveitosa, pois o profissional forneceu fotos da Estação e indicou possíveis materiais para a construção dessa nova versão da maquete que será doada a Fundação Arquivo e Memória de Santos.


Figura 4 - Réplica da Estação do Valongo por Pedro Landi.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.


Em 30 de outubro de 2015, novamente em visita à Estação do Valongo, a secretária administrativa Lívia Silva Rubido contatou o Secretário geral de Turismo da cidade de Santos o senhor Luiz Dias Guimarães, o mesmo autorizou a realização do relatório de inspeção das instalações e designou o senhor Wanderlei de Oliveira, porteiro e zelador do local, como guia pelas estruturas. 



6. ESTRUTURAÇÃO DA MAQUETE.

Para construir a maquete da Estação do Valongo pretende-se combinar um conjunto de fotos representando o entorno da edificação e projetar a frente da edificação e a cobertura (Figura 5). Na apresentação da maquete também existirá o apelo sensorial ao público, como audição com a colocação de rádio com músicas dos séculos XIX e XX, olfato e paladar com uma máquina de café, tato e visão com a maquete.

Figura 5 - Esquema da maquete.

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2015.


Os materiais utilizados nas estruturas de cobertura, chão e postes estão listados a seguir:
 
Papel fotográfico;
Papel paraná;
Bonde e trilho de brinquedo;
Palitos de madeira;
Madeira;
Cola quente;
Cola madeira;
Base e fundo M.D.F.

A princípio foi construída a base de madeira, houve a medição e indicação de cada estrutura (Figura 6), depois houve a colagem das fotos do entorno da estação e após isso deu-se o inicio da construção da cobertura frontal, do bonde e dos postes.

Figura 6 - Inicio da construção da maquete.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.


O desenvolvimento da maquete se deu em 3 meses, a técnica de construção da maquete empregada foi proveniente da entrevista com Pedro Landi, o qual deu dicas de como trabalhar melhor com cada material, as fotos representando o entorno da Estação provém do fotógrafo Fábio Placido (Figura 7).


Figura 7 - Maquete da Estação do Valongo.

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2015.




7. RESULTADO DA PESQUISA.

Realizou-se um levantamento de dados históricos sobre o bairro do Valongo e a Estação buscando enriquecer o projeto e valorizar os estudos já existentes contribuindo para a formação de uma identidade regional.

A Estação do Valongo foi inaugurada  em 16 de fevereiro de 1867 junto com a ferrovia São Paulo Railway, que interligava o planalto e o porto. 
Essa obra ferroviária era fruto de uma licença feita ao Barão de Mauá, ao Marquês de Monte Alegre e a João Antônio Pimenta Bueno, em 1856. Porém na conclusão da obra a ferrovia já pertencia a uma companhia inglesa. O seu ponto inicial era a Estação do Valongo que fica na área do porto, em parte dos terrenos do antigo convento franciscano (Figura 8) - (LANNA, 1996).

Figura 8 - Perspectiva da Estação do Valongo.

Fonte: Estações ferroviárias, 2010.


A figura 8 retrata o fluxo de carroças que passavam e paravam na Estação, essa era a parte frontal pela qual os passageiros tinham acesso ao prédio e na parte posterior da estrutura eles embarcavam na ferrovia (Figura 9).


Figura 9 - Fachada posterior do prédio da Estação.

Fonte: Estações ferroviárias, 2010.


A figura 9 permite a observação do local de chegada da ferrovia, onde os passageiros desembarcavam do trem, e a fachada posterior da Estação, sendo possível a identificação da torre do relógio no centro.

Os registros técnicos da construção dessa estrutura não estão disponíveis ao público, por isso, por meio de um aplicativo e das pesquisas de campo, foi realizada uma planta baixa da Estação do Valongo atualmente a fim de ampliar a percepção estrutural e arquitetônica do prédio.


Figura 10 - Maquete da Estação do Valongo.

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2015.


Por meio da planta foi possível distinguir as áreas administrativas (andar superior), de circulação de pessoas do prédio (térreo) e a área de embarque e desembarque de passageiros. 
Nas visitas a campo foi possível também a identificação da infraestrutura (como fundações) e superestrutura (como paredes e cobertura) e estão dispostas a seguir:


A. Infraestrutura.

Existem dois tipos de fundações, superficial e profunda.

“[na superficial] a carga é transmitida ao terreno, predominantemente pelas pressões distribuídas sob a base da fundação. [...] Incluem-se neste tipo de fundação as sapatas, os blocos, os radier, as sapatas associadas, as vigas de fundação e as sapatas corridas. [...] [na profunda] a carga é transmitida ao terreno pela base (resistência de ponta), por sua superfície lateral (resistência de atrito do fuste) ou por uma combinação das duas. [...] incluem-se as estacas, os tubulões e os caixões." (NBR 6122/1996, p.02)

Na Estação do Valongo as fundações são diretas, não havendo nenhum tipo de estaqueamento, o terreno foi escavado e compactado de forma manual e preenchido com tijolos tipo Adobe (Figura 11).

Tijolo de adobe é feito com areia, argila, agregado miúdo e água. Nesse método não é necessário o cozimento do tijolo, ele seca à temperatura ambiente.


Figura 11 - Tijolo de adobe.

Fonte: Só tijolos, 2015.


B. Superestruturas.

As paredes possuem uma espessura de aproximadamente 40 centímetros, feitas com tijolos de barros assentados com argila, areia e cal e untadas com óleo para impermeabilização (Figura 12). Para a sustentação das paredes foram utilizadas colunas de pedra sobrepostas e nos peitoris e soleiras são utilizadas pedras maciças.

Figura 12 - Paredes da Estação do Valongo.

Fonte: Acervo pessoal dos autores, 2015.



C. Lajes.

As lajes são originalmente de madeira, onde vigas na bitola de 10x30 centímetros são utilizadas para vencerem os vãos livres, a estrutura se completa com assoalhos de tábuas de madeira com encaixe macho e fêmea. Atualmente os andares são divididos com laje de concreto armado.


D. Escadas.

As escadas antigas eram feitas de madeira, igualmente suas estruturas, assoalhos e corrimãos, atualmente das escadas originais resta apenas as que dão acesso ao sótão, foram todas substituídas por concreto armado e revestidas de granito (Figura 13).


Figura 13 - Escadas originais que dão acesso ao sótão.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.



E. Sótão.

O sótão permanece original, feito em madeira de lei, possui um pé direito de aproximadamente 3,00 metros de altura e serve de sustentação para as torres da estação, seus assoalhos são de madeira e se estendem por toda área da estação onde também abriga um relógio (Figura 14).

Figura 14 - Parte interna dos torreões.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.



F. Janelas e portas.

As janelas e portas permanecem originais em seu tamanho e modelo, porém no inicio eram revestidas somete de verniz, hoje são pintadas com tinta óleo (Figura 15).

Figura 15 - Portas atualmente.

Fonte: Diário do litoral, 2014.



G. Telhado.

O telhado é uma das áreas mais conservadas, os torrões são feitos de madeira e suas telhas são de cobre onde dão estrutura para uma inclinação de 75%, as demais áreas são cobertas de telhas de barro tipo francesa.  A cobertura da frente tem sua estrutura feita em madeira com seus pilares de sustentação feitos em ferro e coberto com telhas de barro tipo francesa (Figura 16).

Figura 16 - Cobertura da Estação.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.



H. Pisos.

Foram utilizados diversos tipos de revestimentos do tipo, pisos de porcelana, assoalhos de madeira e mosaicos de porcelana.


I. Fachada.

A fachada em estilo Vitoriano é conservada em detalhes até hoje, o revestimento é feito em argila areia com cal untada de óleo, algumas partes foram refeitas em argamassa de cimento e areia após sua restauração.


8. LOCALIZAÇÃO E FINALIDADE.

A Estação do Valongo localiza-se no bairro do Valongo na cidade de Santos no estado de São Paulo (Figura 17). 

Figura 17 - Localização da Estação do Valongo.

Fonte: Google Mapas, 2015.


Foi construída com a finalidade de ser o ponto inicial da ferrovia São Paulo Railway (Figura 18), e após o fim do contrato com a empresa inglesa, em 1947, outra ferrovia passou a utiliza-la, a Estrada de ferro Santos-Jundiaí. Estação do Valongo foi utilizada com esse propósito até a desativação da rede ferroviária em 1995.

Figura 18 - No canto inferior esquerdo encontra-se a Estação, e atrás dela o início da ferrovia. 

Fonte: Estações ferroviárias, 2010.


Os arredores da Estação eram constituídos basicamente do porto, da igreja do Valongo e de casarões, como o da infantaria azulejada (Figura 19).

Ao fundo da figura 19 é perceptível o morro e as antigas construções que cercavam a Estação.

Figura 19 - Estação do Valongo e Infantaria azulejada.

Fonte: Santos turismo, 2013.



9. CONTEXTUALIZAÇÃO.

Santos possui abertura para o mar e no século XVI convinha abrir-se para o interior do Brasil. Essa relação com as regiões serra acima resultou, num deslocamento da cidade para os terrenos mais próximos de Cubatão (Figura 20) que era o local necessário para o acesso ao planalto (LANNA, 1996).

Figura 20 - Região de Santos e Cubatão.

Fonte: Santos na formação do Brasil, 2000.


A partir da figura 20 é possível perceber que a geografia da região favorecia o desembarque de navios de forma segura e observar tanto o local de subida da serra, que era pelo extremo de Cubatão, quanto o local onde ocorreria a maior concentração populacional, que seria próximo ao porto.

No século XIX, a influência da cidade de São Paulo, desenvolvida e urbanizada, sobre a região que hoje corresponde a Santos e a Cubatão foi essencial para a consolidação de sua função portuária e comercial, fazendo com que a população viesse a ser urbana, sem grandes desenvolvimentos agrícolas (LANNA, 1996).

Os primeiros donos das terras correspondentes ao bairro do Valongo e suas proximidades foram José Francisco e Paulo Adorno. Esses lotes foram distribuídos por Martim Afonso em 1532 (BARBOSA, 2000).

Os franciscanos chegaram ao Brasil em 1638, e foram convidados para construir um convento em Santos. A escolha recaiu sobre o Valongo pela facilidade de obtenção de água e pela vizinhança rica que poderia ajudar em sua construção. Em 25 de janeiro de 1640, o convento foi oficialmente fundado, mas a construção só teve início em 1641 (Figura 21) - (BARBOSA, 2000).

Figura 21 - Igreja Santo Antônio do Valongo.

Fonte: Santos na formação do Brasil, 2000.


No século XVIII, a vila de Santos era constituída por dois núcleos o Valongo, mais recente, com predomínio das funções comerciais, e individuais de origem portuguesa, e os Quartéis, mais antigo, com predomínio das funções militares e administrativas. Entre os dois bairros havia uma competição comercial que se transformou em luta política. (LANNA, 1996)

Esse conflito veio a diminuir quando ambos uniram-se para impedir a demolição da Igreja de Santo Antônio, em meados de 1860, para se construir a ferrovia. Nessa tentativa de destruir a igreja existe a história de que não se teria conseguido retirar a imagem do altar, os valongueiros convocaram os quarteleiros a se unir contra os ingleses que pretendiam destruir a igreja para construir sua ferrovia. A população impediu a derrubada da igreja e manteve a imagem no altar. Entretanto a ferrovia foi construída nesse local, em antigas terras do convento franciscano (Figura 22) - (LANNA, 1996).


Figura 22 - Estação do Valongo construída sobre o antigo convento.

Fonte: Acervo pessoal dos Autores, 2015.


O Convento do Valongo permaneceu como ponto terminal da cidade no lado oriental, com a fachada frontal voltada para a vila (Figura 23), marcando a paisagem pela sua imponência e localização, onde tinha importante papel como local de encontro  (LANNA, 1996).

Figura 23 - Bairro do Valongo em 1912.

Fonte: Viva Santos, 2015.


No centro da figura 23 é possível observar os dois casarões do Valongo, a Estação da São Paulo Railway e o Santuário do Valongo, à esquerda nota-se as construções portuárias e em geral as habitações que foram construídas ao longo dos anos.

Durante a década de 1850, a comercialização do café excedeu a do açúcar no movimento do porto. Em 1854, responsável por quase 80% da exportação da produção nacional, Santos tornou-se o Porto do Café (BARBOSA, 2000).

O Governo Imperial, ao tentar definir uma política nacional sobre a implantação de uma rede ferroviária, considerava as possibilidades de expansão econômica, de integração nacional e regeneração regional. A rapidez e agilidade decorrentes das ferrovias possibilitariam, sobretudo, um incremento das atividades econômicas, e nesse momento, a expansão cafeeira (LANNA, 1996).

A substituição das tropas de muares (Figura 24) pelas ferrovias, interligando as áreas de produção cafeeira aos seus dois grandes portos, Rio de Janeiro e Santos, levou esse sistema de circulação, que vinha da época colonial, a entrar em colapso (LANNA, 1996).


Figura 24 - Transporte por meio de mulas.

Fonte: Revista de história, 2011.


O advento da ferrovia São Paulo Railway se deu em 1867 (Figura 25) e era fruto de uma concessão de 1856 feita ao Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza), ao Marquês de Monte Alegre (José da Costa Carvalho) e a João Antônio Pimenta Bueno. Mas na sua conclusão já tinha sido transferida para a companhia inglesa nas mãos de quem ficou até 1946. O seu ponto terminal era a Estação do Valongo que fica na área do porto, em parte dos terrenos do antigo convento franciscano (LANNA, 1996).

Figura 25 - Trem que percorria a estrada de ferro São Paulo Railway.

Fonte: Novo Milênio, 2006.


Para interligar a ferrovia e o porto foi construído o primeiro trecho de cais, em fevereiro de 1892. Sua extensão (260 metros) ia da Rua Brás Cubas ao extremo da ponte da São Paulo Railway, no Valongo. Sete meses depois, foi entregue o primeiro armazém e, em 1893, mais 400 metros de cais, além da ligação dos trilhos do porto com os da ferrovia inglesa (BARBOSA, 2000).

A construção dessa rede ferroviária consolidou a crise dos demais portos da Província de São Paulo, uma vez que o porto de Santos passou a monopolizar o fluxo de mercadorias do planalto, possibilitando a expansão da economia da capital (BARBOSA, 2000).

Esta obra de engenharia imprimiu maior velocidade ao transporte, agilizou o comércio do café, criou novas possibilidades de emprego para a população da cidade e facilitou o deslocamento de pessoas entre as províncias. O porto com seu movimento incessante de navios contribuía para essa mobilidade. Nessa fase, Santos consolidou sua vocação comercial e portuária (BARBOSA, 2000).


10. HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO.

A primeira Estação do Valongo foi inaugurada  em 16 de fevereiro de 1867 (Figura 26) pela The São Paulo Railway Company LTD., a primeira ferrovia paulista e uma das primeiras ferrovias do Brasil, a qual teve seu anteprojeto realizado pelo engenheiro Robert Stephenson e foi construída pelos engenheiros James Brunlees e Daniel Makinson Fox (NEW BRUNSWICK, 2005).

Figura 26 - Primeira Estação do Valongo, 1867.

Fonte: Viva Santos, 2015.


Com o aumento do fluxo de cargas e passageiros, a estação deixou de atender as necessidades da população, como relata a revista Almanak Laemmertz em 1889:

"a estação (foi) construída com bons materiaes, a architectura não é de bom gosto: os armazens para as mercadorias, pelas suas dimensões, são insignificantes, não podendo, portanto satisfazer as exigencias do futuro trafego. Ha falta de casa para deposito de carros, e de oficinas de reparação para as locomotivas". (GIESBRECHT, 2010) 

Em 1895 a estação foi reformada, sendo construído um segundo andar, dois torreões (Torre no alto de um edifício) e alguns elementos de ferro. Essa nova Estação do Valongo (Figura 27) viria a atender as necessidades de uma grande estação (GIESBRECHT, 2010).


Figura 27 - Estação do Valongo em 1895.

Fonte: Viva Santos, 2015.


Segundo o site da Prefeitura Municipal de Santos (2014) a arquitetura neoclássica empregada na Estação do Valongo é proveniente de uma estação ferroviária de Londres na Inglaterra, chama-se Victoria Station, e foi inaugurada em 1862 (Figura 28).

Observando a figura 28 é possível perceber as semelhanças entre as duas estações, como a torre do relógio, os torreões nas extremidades e a cobertura frontal realizada com estrutura metálica. 

Figura 28 - Estação de trem em Londres, Victoria Station.

Fonte: Victoria place, 2015.



11. PANORAMA ATUAL.

Com a extinção do transporte de passageiros, em 30 de novembro de 1995, a Estação do Valongo permaneceu fechada e sem uso por vários anos (Figura 29) - (GIESBRECHT, 2010).


Figura 29 - Estação do Valongo antes da recuperação, em 2000.

Fonte: Estações ferroviárias, 2010.


Somente em 2003 o prédio passou por um processo de recuperação (Figura 30), realizado pela Prefeitura de Santos e foi reinaugurado no ano seguinte, passando a abrigar a Secretaria de Turismo de Santos (SETUR, 2015).

Figura 30 - Estação do Valongo em 2013.

Fonte: Santos Turismo, 2013.


12. DISCUSSÃO.

A estação do Valongo é o marco inicial da São Paulo Railway, ferrovia que trouxe grande avanço comercial e portuário para a cidade de santos. Na época de sua inauguração foi considerada uma inovação arquitetônica, por trazer características provenientes da Europa, mais especificamente de Londres (Victoria station).

Apesar de o método construtivo ser arcaico, utilizando materiais como tijolos de adobe, pedra e madeira, é um prédio que durante 101 anos resistiu ao uso intenso de suas funções e com grande fluxo de cargas e pessoas, sendo desativado em 1996.

Somente em 2003 a estação do Valongo sofreu uma restauração e a prefeitura destinou o uso do prédio a funções uteis à cidade, como a secretaria de turismo e o restaurante escola bistrô.

Ao longo do desenvolvimento do projeto foram encontradas dificuldades na obtenção de dados técnicos construtivos do prédio, havendo a necessidade de uma visita técnica com olhar aprofundado sobre as estruturas existentes e identificação dos materiais utilizados.

 

13. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A partir dos dados obtidos foi possível perceber a importância que a ferrovia São Paulo Railway teve para o desenvolvimento comercial e portuário da cidade de Santos, e para todas as cidades cujo a ferrovia passava, como Cubatão, Santo André, Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Mauá, São Caetano do Sul, capital paulista e a Jundiaí. Interligando essas cidades foi possível substituir as tropas muares e escoar a produção de café para o porto e consequentemente para a importação.

Com isso, a Estação do Valongo, ponto inicial da ferrovia, simboliza esse desenvolvimento ocorrido no século XIX e XX. Tornando o projeto de construção da maquete da Estação relevante para a população, permitindo o contato maior da sociedade com o passado, e ressaltando sua importância no presente. 



14. REFERÊNCIAS.


A. FONTES.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6122. Projeto e execução de fundações. Elaboração. Rio de Janeiro, 1996. Disponível em: <https://docente.ifrn.edu.br/valtencirgomes/disciplinas/construcao-de-edificios/nbr-06122-1996-projeto-e-execucao-de-fundacoes> Acesso em: 03 nov. 2015.

[Bairro do Valongo em 1912]. [2004] Fotografia coloria. Formato JPG. Disponível em: <http://www.vivasantos.com.br/centrohistorico/pag/01.htm> Acesso em: 25 out. 2015.

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[Estação do Valongo em 1895]. [2004] Fotografia em preto e branco. Formato JPG. Disponível em: <http://www.vivasantos.com.br/centrohistorico/pag/01.htm> Acesso em: 25 out. 2015.

[Estação do Valongo em 2013]. [2013]. Fotografia colorida. Formato JPG. Disponível em: <https://santosturismo.wordpress.com/2013/02/16/estacao-do-valongo-completa-146-anos/> Acesso em: 29 out. 2015.

GIESBRECHT, Ralph Mennucci. São Paulo Railway, Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e Rede Ferroviária Federal SA. Disponivel em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/s/santos.htm> Acesso em: 29 out. 2015.

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[Portas atualmente]. [2014]. Fotografia colorida. Formato JPG. Disponível em: <http://www.diariodolitoral.com.br/conteudo/32616-estacao-bistro-tem-cardapio-especial-para-a-pascoa> Acesso em: 03 nov. 2015.

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UNIVERSIDADE de New Brunswick – Canadá (Archieves and Special Collections). Santos e São Paulo Railway. Publicado em: 31 mar. 2004. Disponível em: <http://www.lib.unb.ca/archives/finding/ketchum/santos_sp_railway.html> Acesso em: 29 out. 2015.

 

B. BIBLIOGRAFIA.

BARBOSA, Maria Valéria; DIAS, Nelson Santos; CERQUEIRA, Rita Márcia Martins. Santos na formação do Brasil. Santos, SP: Secretaria municipal de cultura de Santos, 2000.

LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma cidade na transição, Santos: 1870-1913. Santos, SP: Hucitec,1996.



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Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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