Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 8, Volume jul., Série 02/07, 2017.
|
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.
|
|
Muito antes do
início da intermediação levada a cabo pelas cidades italianas, dentro do
contexto da ocupação de extensas áreas da Península Ibérica pelos muçulmanos, mercadores
do recém-criado Reino de Portugal, ainda com sua capital fixada em Guimarães,
serviam de intermediários para abastecer o norte da Europa.
Os produtos
comercializados no Império Bizantino chegaram às feiras de Champanhe, na
França, percorrendo um longo caminho pelo mar Mediterrâneo e, depois, deslocados
através facilitadores portugueses.
O transito de
comerciantes lusitanos era facilitado aos súditos de D. Afonso Henriques, rei
de Portugal, por suas origens ligadas a casa de Borgonha.
Mercadores que estavam
inseridos no contexto da rota terrestre do Oriente até Constantinopla e, de lá,
através do mediterrâneo até o norte da Europa, via Champanhe.
Tratava-se de um
condado que foi reunido à coroa da França através do casamento de Joana de
Champanha com Filipe, o Belo, que se tornar rei de França em 1285, sob o nome
de Filipe IV; mas que manteve sua autonomia até 1328.
O qual prosperou
garantindo a segurança dos burgueses em troca do pagamento de tributos, fazendo
surgirem inúmeras feiras fixas que permitiam deslocar produtos até a Alemanha e
além, atingindo terras russas e escandinavas.
Entretanto, ao
mesmo tempo em que o comércio lusitano com o norte da Europa, via Champanhe,
prosperou; no século XIII, as dificuldades de transporte por terra conduziram a
abertura de rotas marítimas através dos portos portugueses.
Primeiro, pela
cidade do Porto e, depois, por Lisboa; ao passo que os lusos passaram da
posição de intermediários para distribuidores.
O que não significa
que não tenham continuado existindo, embora de forma secundária, intermediários
portugueses a lidar diretamente com produtos importados do Oriente e distribuídos
por caminhos terrestres.
Pouco antes dos
italianos e catalães estabeleceram-se como intermediários principais entre o
Oriente e o Ocidente, colônias destes povos foram fixadas em vários pontos de
Portugal.
Fundaram
entrepostos, onde a mercadoria importada do Oriente era negociada com
comerciantes lusos que se encarregavam de distribuí-la na Grã-Bretanha e no
norte da Europa por meio de seus navios.
A tecnologia
naval portuguesa já era a mais avançada da Europa, vinha se desenvolvendo
devido à necessidade de combater os mouros e castelhanos, bem como por meio da
prática da pesca em mar aberto.
Havia companhias
italianas estabelecidas em Portugal desde o governo do rei D. Dinis, na metade
do século XIII.
Depois viram os
catalães, que rapidamente se tornaram os principais parceiros comerciais dos burgueses
lusitanos.
Mesmo antes, havia
comerciantes florentinos estabelecidos em Lisboa, ao que se seguiu depois a chegada
de genoveses e milaneses.
A origem das razões
destes acordos comerciais não foi somente a localização privilegiada de Portugal
e o adiantado do desenvolvimento técnico náutico, embora estivesse relacionado
a estes fatores também.
Desde 1370,
existia grande atividade de piratas portugueses assaltando os navios mercantes
destas nações no mediterrâneo, de forma que estabelecer tratados comerciais e
usar esta gente como intermediários foi uma estratégia para evitar o assédio.
O comércio
italo-português foi muito mais bilateral do que se poderia supor, para além da
importação de especiarias, todo o tráfico com o estrangeiro tinha por base o
vinho e azeite português, que servia como moeda de troca por outros produtos,
depois vendidos ao resto da Europa.
Ao mesmo tempo
em que mercadores portugueses distribuíam as especiarias intermediadas pelas
cidades italianas, comercializavam, com o norte da Europa e com a Itália, o vinho
e azeite produzido em território nacional.
Deixando seu
escasso potencial agrícola ao relento, suprindo a necessidade de víveres
através da pesca e da importação de vários produtos, dentre estes,
principalmente trigo, em geral obtido na Alemanha.
Foi dentro deste
contexto que D. Afonso Henrique, o primeiro rei de Porturgal, incentivou uma
ação continuada de apoio às comunidades costeiras, no povoamento e nas
atividades marítimas, concedendo inúmeros privilégios às chamadas “póvoas
marítimas”.
Estas
constituíam a coluna dorsal de atividades como a pesca, extração de sal,
construção naval e comércio; resultando desta ação o desenvolvimento e fortalecimento
de uma frota de pesca, comércio e militar.
A partir desta
tradição, surgiu um corpo de marinhagem, de mestres construtores de naus e oficiais
navais; criando as condições necessárias, em conjunto com os fatores, ao
desbravamento de mares nunca dantes navegados.
A contribuição
italiana ao incremento do potencial marítimo lusitano foi grande, graças ao
contato direto com as cidades italianas de tradição comercial marítima, a
modernização da frota militar portuguesa foi conduzida por um genovês, Manuel
Pessanha, em 1317.
O contributo à
cartografia e a marinhagem, por parte dos italianos, foi essencial ao início da
exploração da costa africana e das ilhas atlânticas, bem como para o
estabelecimento da Carreira da Índia, que seria financiada por comerciantes
florentinos.
Não obstante, cresceu
lentamente o sentimento e a necessidade de tentar eliminar os atravessadores
italianos no comércio de especiarias.
Estimulado,
entre outros fatores, pelos mercadores portugueses que continuaram a manter
contato direto com cidades do Oriente, isto mesmo depois do estabelecimento
oficial da cooperação comercial italo-portuguesa.
A burguesia
mercantil lusitana, servindo a distribuição de especiarias pelo norte da
Europa, pretendia buscar no mar Tenebroso uma passagem para a Índia.
Insere-se neste
ponto, a contribuição da continuidade da cruzada contra os infiéis na vocação
marítima portuguesa.
Responsável,
junto com a questão comercial, pela busca do Prestes João, um mítico soberano
de um Reino fixado na África, em quem os lusos acreditavam poder encontrar um
aliado em potencial na luta contra os mouros; tema para outro texto.
A queda de Constantinopla,
em 1453, terminou servindo de desfecho ao início de uma busca sistemática de um
caminho que, via Atlântico e Índico, pudesse conduzir à terra das especiarias.
Antes que isto
se tornasse possível, um longo e contraditoriamente rápido percurso precisou
ser trilhado.
Para saber mais sobre o assunto.
RAMOS, Fábio
Pestana. No tempo das especiarias.
São Paulo: Contexto, 2006.
RAMOS, Fábio
Pestana. O apogeu e declínio do clico das
especiarias: 1500-1700. Volume 1: Em busca de cristãos e especiarias. Santo
André: FPR/PEAH, 2012.
RAMOS, Fábio
Pestana. Por mares nunca dantes
navegados. São Paulo: Contexto, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Esteja a vontade para debater ideias e sugerir novos temas.
Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.