Para entender a história...
ISSN 2179-4111. Ano 3, Vol. jul., Série 09/07, 2012, p.01-11.
O artigo faz parte da Monografia de Conclusão de Curso de
Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional pelo INEC/Universidade Cruzeiro
do Sul, orientada pelo Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
O objetivo deste trabalho é de
compreender a concepção do profissional da área de Psicopedagogia sobre o termo
dislexia, bem como as estratégias utilizadas para desenvolver o plano de
trabalho psicopedagógico com clientes disléxicos.
O disléxico precisa de
acompanhamento no seu processo de aprendizagem.
Com o trabalho destes
profissionais, visa buscar caminhos para que seja
feita a identificação precoce da dislexia, a partir do momento em que seja
detectado algum problema de leitura desde a educação infantil e início do
ensino fundamental, pois um dos grandes problemas enfrentados pela escola é a
dificuldade na leitura e escrita, o que tem levado muitas crianças a abandonar
os estudos por não conseguir superar essa dificuldade.
Introdução.
O presente trabalho tem por
objetivo compreender a concepção do profissional da área de Psicopedagogia
sobre o termo dislexia, bem como as estratégias utilizadas para desenvolver o
plano de trabalho psicopedagógico com alunos disléxicos.
A dislexia é um dos vários distúrbios de aprendizagem relacionado
à leitura e à escrita que deve ser diagnosticado por uma equipe
multidisciplinar.
O disléxico precisa de acompanhamento no seu processo de
aprendizagem.
A concepção de dislexia das psicopedagogas participantes desta
pesquisa ressoam a definição dada pelos autores, pelas instituições e pelos
órgãos que estudam este distúrbio de aprendizagem pouco conhecido.
A dislexia é um termo que pertence ao campo da lingüística clínica
ou mais precisamente da psicolingüística ou psicopedagogia da educação escolar.
Assim considerada, o que se tem observado, no meio escolar, em
grande parte, não é a dislexia evolutiva ou adquirida, mas uma dislexia
pedagógica que poderíamos chamar aqui simplesmente de dificuldade de aprendizagem relacionada com a
leitura (DAL).
Alguns dos principais pesquisadores na área de Psicopedagogia,
entre os quais destacaria as investigações de Anne Van Hout e Françoise Estienne (2001), consideram que a
dislexia, ou mais exatamente as dislexias, são uns conjuntos de déficits
cognitivos que têm sua origem na alteração cerebral que afeta uma ou mais
funções que participam do processamento da leitura.
Os fatores que contribuem para os distúrbios de aprendizagem são vários e
podem advir de causas endógenas ou exógenas. Entre eles incluem-se os físicos,
os ambientais (incluindo educacionais) e os psicológicos.
Entre as condições físicas que podem contribuir para um distúrbio de
aprendizagem incluem-se problemas visuais e auditivos, lateralidade e
orientação e espacial confusas, imagem corporal má, hiperactividade,
subnutrição e outros problemas físicos que podem inibir a capacidade de
aprender da criança.
As condições psicológicas incluem distúrbios da atenção, percepção e
discriminação auditiva ou visual inferiores, atraso ou distúrbio de linguagem,
capacidade inadequada de pensamento, memória auditiva ou visual a curto, médio
ou longo prazo deficiente e assim por diante.
Os fatores ambientais referem-se a condições no lar, comunidade e escola
que podem afetar adversamente o desenvolvimento psicológico e acadêmico da
criança.
Incluem-se experiências traumáticas, pressões familiares, inadequação do
ensino ou falta da experiência escolar.
Entre um dos fatores de distúrbio de
aprendizagem, a dislexia.
A grande polêmica acerca do tema Dislexia é por
seu comprometimento neurológico, mas precisamos entender que pertencem à área
da Saúde apenas a causa e a diagnose.
O reconhecimento das características
precocemente, as conseqüências, as soluções e as adaptações pertencem à
Educação.
Não existem disléxicos entre os analfabetos.
É nas salas de aula que a Dislexia se faz
presente e o que é pior: de uma forma catastrófica e algumas vezes irreparável.
Como lidar com a
dislexia em sala de aula.
Com base na Constituição Federal de 1988, em seu art.: 208, inciso
III, proferiu o seguinte texto: “atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”,
amparando os educandos com dificuldades de aprendizagem relacionadas com a
linguagem (dislexia, disgrafia e disortografia).
A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, uma lei derivada da Constituição Federal, fizeram a
alteração da terminologia “portadores de deficiência” para “educandos com
necessidades educacionais especiais”.
Estudaremos aqui as influências que interferem na educação
escolar, como os disléxicos que são
portadores de necessidades educacionais especiais, apontando as dificuldades do
aprendizado da leitura, que será tema de estudo do nosso trabalho.
A dislexia é a incapacidade parcial de a criança ler compreendendo
o que se lê, apesar da inteligência normal, audição ou visão normais e de serem
oriundas de lares adequados, isto é, que não passem privação de ordem doméstica
ou cultural. Encontramos disléxicos em famílias ricas e pobres. (PSICOPEDAGOGIA).
Segundo GONÇALVES
(2006) a dislexia é um distúrbio de aprendizagem que envolve áreas básicas da
linguagem, podendo tornar árduo esse processo, porém, com acompanhamento
adequado, a criança pode redescobrir suas capacidades e o prazer de aprender.
Daí a importância do
psicopedagogo, numa instituição escolar, que é um dos profissionais que faz
parte do grupo multidisciplinar de avaliação diagnóstica e no tratamento de
alunos com dislexia.
Sabendo que o
objetivo principal de todo sistema de educação consiste nas competências da
leitura e da escrita, já que elas são as bases para as demais aprendizagens,
(SILVA, SOUZA, CRUVINEL, [entre 2001 e 2007]) é mister que toda equipe escolar
se sinta responsável para que todos os alunos alcancem estas competências.
Para Freitas (2009),
insurge o quadro da dislexia, guarda “freqüente correlação biológica” e
apresenta “deficiências cognitivas fundamentais de possível origem
constitucional”.
Segundo definição da
Word Federation of Neurology: A base biológica se refere a distúrbios
funcionais localizados no hemisfério cerebral esquerdo (área que na maioria dos
destros é responsável pelos processos de linguagem, de leitura e escrita), mais
especificamente no plano temporal, que apresenta falta da assimetria habitual
de tamanho e opera com nítida lentificação.
Segundo Silva (2009) dislexia é uma dificuldade específica de
linguagem, que se apresenta na língua escrita.
A dislexia vai emergir nos momentos iniciais da aprendizagem da
leitura e da escrita, mas já se encontrava subjacente a este processo.
É uma dificuldade específica nos processamentos da linguagem para
reconhecer, reproduzir, identificar, associar e ordenar os sons e as formas das
letras, organizando-os corretamente.
É freqüente encontrar outras pessoas com dificuldades semelhantes
nas histórias familiares.
As causas da dislexia são neurobiológicas e genéticas.
São quatro as habilidades da linguagem verbal: a leitura, a
escrita, a fala e a escuta. Destas, a leitura é a habilidade lingüística mais
difícil e complexa.
A leitura é dos um processo de aquisição da lectoescrita e, como
tal, compreende duas operações fundamentais: a decodificação e a compreensão.
A decodificação é a
capacidade que temos como escritores ou leitores ou aprendizes de uma língua
para identificarmos um signo gráfico por um nome ou por um som.
Esta capacidade ou competência lingüística consiste no
reconhecimento das letras ou signos gráficos e na tradução dos signos gráficos
para a linguagem oral ou para outro sistema de signo.
A aprendizagem da decodificação se consegue através do
conhecimento do alfabeto e da leitura oral ou transcrição de um texto.
Conhecer o alfabeto não significa apenas o reconhecimento das
letras, e sim, entendermos a evolução da escrita como: a) a pictográfica
(desenho figurativo), a ideográfica (representação de idéias sem indicação dos
sons das palavras) e a fonográfica (representação dos sons das palavras).
Toda palavra tem uma origem, uma motivação.
Tentando entender a
dislexia.
Segundo Martins
(2001), cerca de 15 milhões de pessoas no Brasil têm algum tipo de necessidade
especial, as quais podem ser: mental, auditiva, visual, física, conduta ou
deficiências múltiplas.
Para ele, dentre as
dificuldades em aprendizagem a dislexia é a de maior incidência, merecendo como
tal uma atenção especial por parte dos gestores das políticas educacionais,
especialmente da educação especial.
De acordo com
Martins (2001, p.04) , no plano da linguagem, os disléxicos fazem confusão
entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia:
A- como
"a-o", "e-d", "h-n" e "e-d", por
exemplo;
B- As crianças
disléxicas apresentam uma caligrafia muito defeituosa, verificando-se
irregularidade do desenho das letras, denotando, assim, perda de concentração e
de fluidez de raciocínio;
C- As crianças
disléxicas apresentam confusão com letras com grafia similar, mas com diferente
orientação no espaço como " b-d". "d-p", "b-q",
"d-b", "d-p", "d-q", "n-u" e
"a-e". A dificuldade pode ser ainda para letras que possuem um ponto
de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos: "d-t" e
"c-q", por exemplo;
D- Na lista de
dificuldades dos disléxicos, para o diagnóstico precoce dos distúrbios de
letras, educadores, professores e pais devem ter atenção para as inversões de
sílabas ou palavras como "sol-los", "som-mos" bem como a
adição ou omissão de sons como "casa-casaco", repetição de sílabas,
salto de linhas e soletração defeituosa de palavras.
Para Martins (2002),
a linguagem é fundamental para o sucesso escolar, estando presente em todas as
disciplinas e todos os professores são professores de linguagem, pois utilizam
a língua materna para transmitir informações.
Um grande número de
meninos e meninas que deseja aprender, alguns muito inteligentes; passa por
sérias dificuldades quando aprendem a ler, mas não por culpa deles.
Essa dificuldade em
aprender a ler se chama dislexia.
Para a mesma autora,
a maior parte das crianças deseja aprender a ler como todo ser humano, grande
parte consegue até rapidamente.
Mas para a criança
disléxica a experiência é diferente, o que parece ser algo fácil para as outras
crianças, é algo inatingível, conforme o entendimento de SHAYWITZ (2006).
As novas descobertas
científicas sobre a leitura e a frustração pela falta de disseminação e
aplicação prática desses avanços levaram a doutora Sally Shaywitz, no ano de
2006, a escrever e publicar o livro Entendendo a Dislexia para pais de crianças
disléxicas.
Antigamente, as
dificuldades de leitura podiam ser explicadas de várias maneiras.
Hoje, contudo, é
possível apontar para uma imagem do funcionamento interno do cérebro, o que se
faz por meio da nova tecnologia de imagem cerebral, e dizer: “Veja isto aqui. É
aqui que está a raiz do meu problema”.
Sabemos exatamente
onde e como a dislexia se manifesta no cérebro. (SHAYWITZ, 2006, p.19).
Muitas vezes lidamos
com problemas parecidos, crianças que não conseguem resolver operações
matemáticas porque não conseguem ler o enunciado, mas se for feita a leitura
oral, resolvem as operações sem dificuldades.
SHAYWITZ (2006, p.
77), ainda coloca que a aplicação de imagens funcionais, por meio da
ressonância magnética, poderá nos guiar no desenvolvimento de tratamentos mais
eficazes e mais precisos, mas “enquanto isso não ocorre, é possível usar o que
aprendemos em pontos fracos fonológicos e sobre os pontos fortes substanciais
do leitor disléxico para oferecermos a ele melhores soluções em todos os
níveis”.
Para Martins (2007),
não é fácil conhecer o cérebro dos disléxicos, é necessário aprofundar nos
fundamentos psicolinguísticos da lectoescrita, que também questiona que os
métodos pedagógicos, quase sempre, são eficientes em salas de crianças ditas
normais, mas ineficientes em crianças especiais.
Ele ainda considera
importante o acompanhamento dos docentes e principalmente dos pais de crianças
disléxicas para entender melhor os métodos de estudos adotados em instituições
de ensino.
Como diagnosticar a
dislexia?
Os sintomas que
podem indicar a dislexia, antes que seja feito um diagnóstico multidisciplinar,
só indicam um distúrbio de aprendizagem, mas não confirmam a dislexia.
Os mesmos sintomas
podem indicar outras síndromes neurológicas ou comportamentais.
O diagnóstico deve
ser feito por uma equipe multidisciplinar.
A criança deve então
ser avaliada por um psicólogo, um fonoaudiólogo, um psicopedagogo e um
neurologista.
O diagnóstico deve
ser significativo para os pais e educadores, assim como para a criança.
O objetivo da avaliação deve tentar estabelecer um prognóstico e
encontrar elementos significativos para o programa de reeducação.
Ressalta-se aqui a importância
das informações obtidas sobre o potencial da criança, bem como sobre suas
características psiconeurológicas, além de sua performance e o repertório já
adquirido.
Informações sobre métodos de ensino pelos quais a criança foi submetida
também são de grande significação.
Segundo BORDER (1996), a dislexia é diagnosticada dos seguintes
modos:
a) por
processo de exclusão;
b)
indiretamente, à base de elementos neurológicos;
c)
diretamente, à base da freqüência e persistência de certos erros na escrita e
na leitura.
Em todos os diagnósticos o fato da criança não ter sido
alfabetizada pelos processos comuns, ou um histórico familiar com distúrbios de
aprendizagem, são importantes.
Os sintomas que
podem indicar a dislexia, antes de um diagnóstico multidisciplinar, só indicam
um distúrbio de aprendizagem, não confirmam a dislexia.
E não para por aí,
os mesmos sintomas podem indicar outras situações, como lesões, síndromes, etc.
Então como
diagnosticar a dislexia?
A equipe de profissionais
deve verificar todas as possibilidades antes de confirmar ou descartar o
diagnóstico de dislexia, isto é, Avaliação Multidisciplinar e de Exclusão.
Segundo os autores Silva, Souza e Cruvinel
(2008), no caso da dislexia, o encaminhamento orienta o acompanhamento
consoante a particularidades de cada caso o que permite que este seja mais
eficaz e mais proveitoso, pois o profissional que assumir o caso não precisará
daquele tempo, (muitas vezes indeterminado) para identificação do problema, bem
como terá ainda acesso a pareceres importantes para o caso.
Conhecendo as causas
das dificuldades e os potenciais do indivíduo, o profissional pode utilizar a
linha que achar mais convergente.
Os resultados irão
aparecer de forma consistente e progressiva.
O acompanhamento
profissional dura de dois a cinco anos, dependendo do caso.
Ao contrário de que
muitos pensam, o disléxico sempre contorna suas dificuldades.
Ele responde muito
bem a tudo que passa para o concreto.
Tudo que envolve
os sentidos é mais facilmente absorvido.
O disléxico também
tem sua própria lógica, sendo muito importante o bom entrosamento entre
profissional e paciente.
É de extrema
importância haver uma boa troca de informações, experiências e até sintomas de
procedimentos executados, entre profissional, escola e família.
Professores frente à
dislexia.
Uma vez detectada a dislexia, cabe à escola, juntamente com o
professor, incluir este aluno na sala de aula, trabalhando de maneira distinta,
para fazer com que este consiga amenizar seu distúrbio de aprendizagem.
Mesmo com um trabalho diferenciado, a criança nunca deixará de ser
disléxica, mas poderá ter uma vida escolar quase normal, podendo aprender a ler
e escrever como os demais, apesar das dificuldades que possui.
Para trabalhar com a criança disléxica, o professor necessita ser
capacitado e ter conhecimento à cerca da Dislexia.
Ele precisa saber o que é a dislexia e saber identificar suas
causas.
Com essas informações o professor pode trabalhar com o aluno em
sala de aula, não deixando que este se sinta excluído e com autoestima baixa.
Este trabalho deve ser realizado em parceria com os pais.
Assim, pais, professores e escola precisam trabalhar em conjunto,
um não pode contradizer o outro, buscando aumentar a motivação da criança para
restaurar a autoconfiança em sim mesmo, valorizando o que ele faz mesmo que não
esteja correto, tendo o cuidado para não enfatizar os erros cometidos por ele.
É necessário valorizar todo o esforço e interesse demonstrado pelo
mesmo, respeitando seu ritmo, pois o disléxico necessita de mais tempo para
pensar e entender o que é para ser feito que um aluno normal, e para isso o
professor necessita ter paciência e força de vontade para ajudar este aluno, pois
não existe um método específico para alfabetizar os mesmos.
Outra maneira de ajudar este aluno é explicando para ele que sua
dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita tem um nome - Dislexia -,
sendo que, o professor quer ajudá-lo a superar este problema e depende dele
superá-lo, não desistindo no primeiro obstáculo, mas seguindo firme, buscando
com coragem e persistência o conhecimento como os demais.
Como garantir
atenção especial aos disléxicos.
A Constituição Federal de
1988, a Lei 9.394/94 e a legislação do Conselho Nacional de Educação, dão amplo
amparo aos educandos com dificuldades de aprendizagem relacionadas com a
linguagem (dislexia, disgrafia e disortografia).
Os disléxicos são portadores de necessidades educacionais
especiais e específicas de leitura.
A Constituição Federal prescrevia em seu artigo 208, inciso III,
entre as atribuições do Estado, isto é,
do Poder Público, o “atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.
A terminologia “portadores de deficiência” nos remete a um Brasil
excludente que tratava seus doentes, deficientes ou não, como portadores de
moléstia infecciosa.
Este enfoque clínico, assim, perdurou até a Constituição Federal
de 1988.
Avanço quando diz que os portadores de deficiência devem receber
atendimento especializado, preferencialmente na rede regular de ensino.
Não obstante, há recuo quando traz ainda, no final dos anos 80,
uma terminologia estranha e excludente, ao fazer referência às pessoas com
alguma necessidade especial, no âmbito escolar, como "portadores de
deficiência”.
No seu artigo 4º, inciso III, a LDB diz que o dever do Estado, com
a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de “atendimento
educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais,
preferencialmente na rede regular de ensino”.
O quadro das dificuldades de aprendizagem absorve uma diversidade
de necessidades educacionais, destacadamente associadas a: problemas
psicolingüísticos (dislexia e disfunções correlatas), psicomotores, motores,
cognitivos (atenção, concentração, percepção, memória) hiperatividade e ainda a
fatores ambientais e socioeconômicos, como as privações de caráter
sociocultural e nutricional.
No § 1º, do artigo 58, da LDB, o legislador diz que “haverá, quando
necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às
peculiaridades da clientela de educação especial”. Aqui, revela a faceta mais
médica do atendimento especializado, ao tratar os educandos com necessidades
especiais como uma clientela.
Mais recentemente, as manifestações do Conselho Nacional de
Educação, no esforço de construir um arcabouço de diretrizes nacionais para a
educação especial, assinalam, no Parecer CNE/CEB n. º l7/2001, de 03 de julho de 2001
e a Resolução CNE/CEB n.º 02, de 11 de setembro de 2001, que os sistemas de
ensino devem matricular todos os educandos com necessidades educacionais
especiais.
A Resolução CNE/CEB n.º 02, de 11 de setembro de 2001, assim se
pronuncia, no seu artigo 5º:
Os educandos com dificuldades acentuadas de aprendizagem (inciso
I). Esses educandos são aqueles que têm, no seio escolar, dificuldades
específicas de aprendizagem, ou “limitações no processo de desenvolvimento que
dificultem o acompanhamento das atividades curriculares”.
As crianças com dislexia e dificuldades correlatas (dislalia,
disgrafia e disortografia), por exemplo, estão no grupo daqueles educandos com
dificuldades “não vinculadas a uma causa orgânica específica”, enquanto as
crianças desnutridas e com dificuldades de assimilação cognitiva, por seu
turno, estão enquadradas entre “aquelas relacionadas a condições, disfunções,
limitações ou deficiências”.
Aqui, dislexia pode, sobretudo, ser entendida como uma dificuldade
específica no aprendizado da leitura, comprometendo a soletração (decodificação
textual) e a compreensão textual.
1) Os educandos com dificuldades de comunicação e sinalização.
2) Os educandos com facilidades de aprendizagem.
A inserção de educandos com necessidades educacionais especiais, no
meio escolar é uma forma de tornar a sociedade mais democrática.
A dislexia no contexto da aprendizagem.
As universidades não
capacitam os educadores para lidar com os sérios problemas de aprendizagem.
Shaywitz (2006)
coloca a importância dos livros e revistas em CD-ROM, os quais permitem que uma
criança disléxica acompanhe tarefas em sala de aula que não poderia ler com
facilidade.
Ela poderão também
assistir vídeos ou DVDs de romances ou dramas antes de ler a história, pois
isso firma um esquema ou estrutura vinculando detalhes da história para a
criança.
Segundo Kappes et al
(2006), ao detectar os sintomas devem sugerir um encaminhamento clínico para a
criança e, após diagnosticado o quadro, faz-se necessária uma grande dedicação
ao aluno em sala de aula e ao longo do tratamento que deve envolver em partes
iguais a escola, a família e os profissionais de saúde.
Todos os educadores,
sejam pais ou professores, devem ter como base ética o compromisso de
acompanhar o desenvolvimento da aprendizagem da criança, buscando novas formas
de aprendizagem e novos programas e processos de ensino que possam colaborar
para a inclusão dessa criança no mundo das letras, ajudando-a a sobreviver
dentro deste único modelo de escola que existe (DINIZ, 2007).
De acordo com a proposta de Mabel Condemarin (1989, p.55 apud SILVA, SOUZA,
CRUVINEL [entre 2001 e 2007, p.11]), a dificuldade de aprendizagem relacionada
à linguagem (leitura, escrita e ortografia), no início pode ser diagnosticada
informalmente pelo professor de língua materna, com formação em Letras ou
Pedagogia, por intermédio da medição da velocidade da leitura da criança.
É importante também
não insistir em exercícios de fixação repetitivos ou numerosos, pois isso não
diminui a dificuldade, é preciso explicar como fazer se posicionando ao lado do
aluno e nunca insistir para que o aluno leia em voz alta perante a turma, já
que ele tem consciência do erro.
Com relação à
avaliação das crianças com dislexia, as mesmas autoras colocam que elas têm
problemas com testes ou provas, pois em geral não conseguem ler todas as
palavras das questões dos testes como também não têm certeza do que está sendo
solicitado, elas tem dificuldades de escrever as respostas, sua escrita é
lenta, elas não conseguem terminar dentro do tempo, por isso o professor
precisa ler as questões/problemas junto com o aluno, de forma que ele possa
entender o que está sendo solicitado.
Quando for corrigir
a prova, valorizar ao máximo a produção do aluno.
Procurar realizar
avaliações orais (SILVA, SOUZA, CRUVINEL, [entre 2001 e 2007]).
Segundo Gonçalves [entre 2001 e 2007], ao refletir acerca dos principais
sintomas da Dislexia, podem ser estruturadas algumas adaptações curriculares de
pequeno porte, sustentadas nas orientações ou legislações do Ministério da
Educação, que podem ser: materiais de leituras curtos, claros e objetivos
acompanhados sempre que possível de recursos visuais e auditivos.
O professor deve
apontar e mostras a forma correta da grafia das palavras, mas não valorizá-las tanto.
Plano de trabalho
psicopedagógico para disléxicos.
O processo de alfabetização
durante muito tempo estava diretamente relacionado com a inteligência.
Os estudos e
pesquisas na área explicava o papel desempenhado pela ideologia e justifica-se
o fracasso em alfabetização, atribuindo a responsabilidade as disfunções
psiconeurológicas da aprendizagem da leitura e da escrita, conforme o
entendimento de Emília Ferreiro (1989).
A aprendizagem da
leitura e escrita constitui-se uma das tarefas básicas propostas à educação.
Aparentemente
simples, essa tarefa constitui, um dos problemas educacionais da atualidade que
mais chama atenção, por isso tem sido objeto de estudo.
Para a autora o
trabalho na instituição escolar, voltado para a psicopedagogia, apresenta duas
naturezas:
O primeiro diz respeito a uma psicopedagogia voltada para o grupo
de alunos que apresentam dificuldades na escola. O seu objetivo é reintegrar e
readaptar o aluno à situação de sala de aula, possibilitando o respeito às suas
necessidades e ritmos. Tendo como meta desenvolver as funções cognitivas
integradas ao afetivo, desbloqueando e canalizando o aluno gradualmente para a
aprendizagem dos conceitos, conforme os objetivos da aprendizagem formal;
O segundo tipo de trabalho
refere-se à assessoria junto à pedagogos, orientadores e professores. Tem como
objetivo trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares
professor-aluno e redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo
e o cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos, as diferentes áreas do
conhecimento.
Pensar
a escola à luz da Psicopedagogia implica nos debruçarmos especialmente sobre a
formação do professor.
O
professor deve oferecer condições para estabelecer uma relação madura e
saudável com os seus alunos, pais e autoridades escolares. Investigar, analisar
e realizar propostas para uma formação docente que considere esses aspectos que
constitui uma tarefa extremamente importante, da qual se ocupa a
Psicopedagogia.
Para
o tratamento requer procedimentos específicos que constituem o que chamo de
metodologia ou modus operandi do
trabalho clínico.
Ao
falar da forma de se operar na clínica psicopedagógica, ela varia entre os
profissionais, a depender, por exemplo, da postura teórica adotada, além de se
contar com o fato de que, como já foi dito, cada caso é um caso com suas
variantes, suas nuances, que diferenciam o sujeito, seu histórico, seu
distúrbio.
Em
geral, no diagnóstico psicopedagógico clínico, ademais de entrevistas e
anamnese, utilizam-se provas psicomotoras, provas de linguagem, provas de nível
mental, provas pedagógicas, provas de percepção, provas projetivas e outras,
conforme o referencial adotado pelo profissional.
Seja
qual for esse referencial, a observação é de fundamental importância para
precisar melhor o quadro do problema e processar o tratamento.
A concepção do
psicopedagogo sobre dislexia.
Destaca-se aqui a importância do diagnóstico precoce,
principalmente se houver caso na família, além das dificuldades de aprendizagem
associadas à dislexia.
Segundo FREITAS (2006) a psicopedagogia entende a dislexia como um
distúrbio do processo de aprendizagem, principalmente no período da aquisição
da leitura e da expressão escrita.
Para GONÇALVES (2006) os adjetivos mais comuns que são nomeados os
disléxicos são: “preguiçoso, desligado e desorganizado, fazendo parte de seu
dia-a-dia e marcando a sua vida. Nos consultórios psicopedagógicos é muito
comum o disléxico chegar com baixa auto-estima devido à vivência de múltiplos
insucessos escolares”.
É importante frisar que dificuldades na leitura e na escrita,
letra ruim, troca de letras, lentidão caracterizam esse distúrbio de
aprendizagem.
São crianças inteligentes que não são providas de habilidades
específicas de leitura e escrita, porém são ótimas na oralidade, no esporte e
em várias atividades no contexto escolar.
Dislexia: o que diz a
ciência?
Os autores IANHEZ e NICO (2002) descrevem que as pesquisas
realizadas sobre as atividades cerebrais em um disléxico indicam que há uma
diferença mínima no padrão de organização das células nervosas do cérebro.
A Fundação
Brasileira de Dislexia (2004) defende que pesquisadores têm enfatizado que a
dificuldade de soletração é um sintoma muito forte da dislexia.
Esses pesquisadores
ainda esclarecem que crianças disléxicas mais velhas mostram mais atividade em
uma diferente região cerebral do que os disléxicos mais novos.
MARTINS (2005)
esclarece que a descoberta do gene e de seu funcionamento é de extrema
importância para a pedagogia da leitura e da escrita.
Segundo LOPES e OLIVEIRA (2007), a dislexia é uma
disfunção genética caracterizada por uma falha no funcionamento do
processamento da linguagem, ou seja, uma dificuldade de estabelecer associações
entre sinais gráficos (grafemas) e os sinais auditivos (fonemas).
É um dos muitos distúrbios da aprendizagem identificados, em geral,
na fase de alfabetização.
Algumas teorias tentam explicar sua origem, no entanto não existe
um consenso no que diz respeito à causa da dislexia.
Nos disléxicos, alguns neurônios se perderiam no caminho,
comprometendo as áreas cerebrais envolvidas no processamento da linguagem.
Concluindo.
A dislexia é um
distúrbio na leitura afetando a escrita, normalmente detectado a partir da
alfabetização, período em que a criança inicia o processo de leitura de textos.
A dislexia
normalmente é hereditária.
Estudos mostram que disléxicos
possuem pelo menos um familiar próximo com dificuldade na aprendizagem da
leitura e escrita.
A história da Psicopedagogia, embora recente, contribui muito com
pesquisas que envolvem teoria e prática, comprometida com diversas áreas do
conhecimento e do ser humano, especialmente nas dificuldades vivenciadas no
processo de ensino-aprendizagem.
A Psicopedagogia estuda o processo do conhecimento humano, o
aprender e o não aprender centrado no indivíduo como ser único, com
características e necessidades particulares para a intervenção psicopedagógica.
A diversidade de atuação do psicopedagogo justifica a sua
importância no mercado de trabalho, seja na atuação clínica ou institucional,
que abrange as escolas, hospitais ou empresas.
Por ser a dislexia é identificada geralmente na fase da
alfabetização, a ciência está
contribuindo muito para que se possa fazer o diagnóstico mais precoce, mesmo antes
da criança ir para a escola.
Para saber mais
sobre o assunto.
BRASIL. Constituição: República Federativa do
Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei 9.394,
de 23 de dezembro de 1996. Fixa as diretrizes e bases da educação nacional.
Brasília: Ministério da Educação e Cultura. 1996.
HOUT, Anne Van. Estienne, Françoise. Dislexias: descrição, avaliação, explicação e
tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2001.
IANHEZ, Maria Eugênia; NICO, Maria Ângela. Nem sempre é o que parece: como
enfrentar a dislexia e os fracassos escolares. São Paulo : Alegro, 2002.
MARTINS, Vicente. Professor aponta Dislexia como maior causa do
fracasso escolar. Disponível em: http://www.dislexia.hpg.com.br
Acesso em 15 de novembro 2011.
PAGENOTTO, Maria Lígia. Dislexia. Disponível em:
http://www.unifesp.br Acesso em: Acesso em 15 de novembro 2011.
PECCHIORE, J. J. de Oliveira. Dislexia e inclusão escolar.
Disponível em: http://www.sobrei.org.br Acesso em 15 de novembro 2011.
SHAYWITZ, Sally. Entendendo
a dislexia: um novo e completo programa para todos os níveis de leitura.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
SILVA, Ana Lúcia da,
SOUZA, Leda Delfina de Oliveira e, CRUVINEL, Leila Delfina de Oliveira Roque. Psicopedagogia e Dislexia: do porquê ao que
fazer? Elaborado Disponível em: http://www.jussara.ueg.br/ pos_psicopedagogia/PSICOPEDAGOGIA%20E%20DISLEXIA
pdf Acesso: 07/Jan/2012.
Texto: Profa. Valéria Souto Saez.
Pós-Graduanda em Psicopedagogia Institucional pelo INEC/UNICSUL.
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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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