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Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Atraso e modernidade na sociedade brasileira do século XIX: a participação da Igreja Católica.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume dez., Série 16/12, 2015.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.





O final do século XIX, no Brasil, que marcou a crise do período imperial, esteve repleto de contradições, onde o moderno e o antigo conviveram, ocasionando rupturas na transição para a República, mas também comportando continuidades.
Em meio aos reflexos gerados pela guerra do Paraguai, a gradual abolição da escravatura, aos anseios por reformas políticas, ao fortalecimento do partido republicano e a questão da sucessão de D. Pedro II; a participação da Igreja neste cenário trouxe mais complicações que marcaram uma crise acentuada da monarquia.
O fim do Império esteve envolta na chamada querela dos bispos e na chegada de novas religiões ao Brasil, ameaçando a preponderância do catolicismo deste o inicio do período colonial, estando já enraizado na sociedade patriarcal brasileira.
A presença do catolicismo no Brasil foi marcada por ambiguidades, por exemplo, na relação com a escravidão.
Milhões de homens e mulheres de origem africana foram barbaramente escravizados e sumariamente introduzidos no cristianismo e no projeto colonial europeu.
Por meio da catequese e do batismo cristão, foram obrigados a abandonar cultura e religião ancestrais e a se converterem ao catolicismo.
A Igreja católica serviu de referencial para justificar a escravidão dos africanos, constituindo sustentáculo a elite brasileira, além de meio de controle social sobre a população escravizada.
Por isto mesmo foi alvo de criticas por parte dos abolicionistas e viu seu poder decair com a abolição da escravatura.
Parte da sociedade brasileira, que via na escravidão um atraso ainda presente no novo país que estava formando sua identidade, ocupou-se de uma modernização dana perspectiva de abandono deste atraso, representado pela cultura domesticação, implicando no combate a influencia da Igreja Católica nos assuntos leigos.
Algo que fez parte do movimento republicano e que terminou por começar a exigir o casamento civil em substituição ao religioso.
A laicização do Estado, desde o século XVIII, já havia sido introduzida na Europa, porém no Brasil a Igreja católica continuava presente nos assuntos do Império, influenciando as decisões de elementos da elite e mesmo do Imperador.
Tiveram, justamente, forte contribuição à laicização da sociedade brasileira, a maçonaria, as religiões protestantes e o cientificismo de cunho positivista, este ultimo fortemente presente entre republicanos e militares brasileiros.
Elementos considerados modernizantes, mas, com exceção do positivismo, que não eram novidade na Europa há muito tempo.
No entanto, tentando combater as tendências tidas como modernizantes, através da interpretação de do pedido do Papa Pio IX para combater o socialismo, o liberalismo, a maçonaria, o protestantismo e o cientificismo; a Igreja católica no Brasil se envolveu em uma grande polemica, terminando por desrespeitar a Constituição e irritar membros do governo Imperial.
O resultado foi o enfraquecimento da Igreja católica e, graças à disputa com o Estado, uma ruptura política que enfraqueceu tanto a dita igreja como a figura do Imperador e, portanto, a monarquia.
Sem gozar da sustentação do catolicismo, a monarquia não conseguiu suportar o peso da crise imposto por outros fatores, como as questões militares e o descontentamento de setores desgostosos com a abolição.
Seriam positivistas que iriam proclamar a República no Brasil, adotando o lema da tendência - Ordem e Progresso - na bandeira nacional.

Para saber mais sobre o assunto.
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras. A Ação da Maçonaria Brasileira (1870-1910). Campinas: Editora da Unicamp, 1999.
MOTA, Carlos Guilherme (org.). 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1986.
MELLO NETO, Evaldo Cabral de. A outra independência. São Paulo: Editora 34, 2004.
PADIM, Cândido et alli. Missão da Igreja no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1973.
RAMOS, Fábio Pestana & MORAIS, Marcus Vinícius de. Eles formaram o Brasil. São Paulo: Contexto, 2010.



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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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