Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
Não possui fins lucrativos, seu objetivo é disseminar o conhecimento com qualidade acadêmica e rigor científico, mas linguagem acessível.


Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

A Santa Casa da Misericórdia de Todos os Santos: construção do século XVI e XVII.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 15, Volume jul., Série 02/07, 2024.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Líder do Projeto.

Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Geografia - UNINTER.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.
Graduado em Pedagogia - UNICSUL.

COAUTORES: Ana Carolina de Faria Silva, Fabio Ramos de Lima, Felipe de Freitas de Oliveira, Flaviane Cândido Mendes, Jamily de Santana Neves, Jaqueline Gonçalves Lopes, Mayara Marques B. Vilela de C. R. Raimundo, William Paulo Sobrinho (discentes do curso de engenharia Civil do Centro Universitário Monte Serrat – Unimonte).


O texto deste artigo originalmente compunha uma monografia inserida no Projeto Integrador, orientada pelo Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos, apresentada pelos alunos citados como coautores ao Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), como exigência parcial para a aprovação na disciplina PI I do curso de engenharia civil. Os resultados da pesquisa foram apresentados ao público em evento interno da universidade, submetido à avaliação de banca de professores do curso no ano de 2014. Este texto foi atualizado pelo orientador, com modificações substanciais, para publicação na Revista.

 

RESUMO: Pretende-se colaborar para o resgate do patrimônio histórico da cidade de Santos, procurando entender as técnicas e materiais utilizados na época, visando a preservação da memória através da construção de uma maquete da Santa Casa da Misericórdia de Santos. Fundada em 1543, pelo fidalgo português Brás Cubas devido incentivos monarcas para a criação de outras santas casas tanto em Portugal, quanto em suas colônias. Inicialmente com a função muito mais de acolher pobres, marginalizados e rejeitados do que terapêutica. Desenvolveu-se uma pesquisa histórica (desde o primeiro prédio até o atual), cultural e arquitetônica a fim de aprender técnicas antigas de construção e comparar com técnicas mais modernas.

PALAVRAS-CHAVE: Brasil Colônia, História da Arquitetura, História da Engenharia, Santa Casa da Misericórdia de Santos.

 

ABSTRACT: It is intended to contribute to the rescue of the historical heritage of the city of Santos, seeking to understand the techniques and materials used at that time, in order to preserve the memory by building a model of the Santa Casa da Misericordia de Santos. It was founded in 1543 by the Portuguese nobleman Braz Cubas due monarchs incentives for the creation of other Hospitals both in Portugal as in its colonies. Initially with much more function to host the poor peoples, marginalized and rejecteds than therapy. Has Developed a historical research (since the first building to the present), cultural and architectural in order to learn the ancient building techniques and compare them with more modern techniques.

KEYWORDS: Brazil Colony, History of Architecture, History of Engineering, Holy House of Mercy of Santos.


1. INTRODUÇÃO.

Para o Projeto Integrador, realizou-se uma pesquisa sobre “O edifício da Santa Casa de Santos”, localizado na cidade de Santos dos séculos XVI e XVII. Utilizaram-se diversas formas de pesquisa, tais como: pesquisa de campo, livros e fontes como a internet.

A pesquisa de campo foi realizada na Prefeitura de Santos, no Arquivo permanente da cidade, no próprio Hospital Santa Casa, nos arquivos antigos e com o padre responsável pelo Convento Nossa Senhora da conceição construído em 1532 na cidade de Itanhaém.

Por falta de informações referente à estrutura física como a planta do prédio, a maquete foi elaborada com base na pintura de Benedito Calixto, na qual retrata o segundo prédio, pois infelizmente não houve registros da primeira construção.

A escala estrutural do prédio foi baseada na igreja localizada na cidade de Itanhaém, pois sua construção ainda é mantida do ano 1532 (igreja atual Matriz Sant'Anna). Com a pesquisa, descobriu-se a evolução da construção civil que se ocorreu através dos anos.

 

2. METODOLOGIA.

Para elaboração deste trabalho seguimos a normatização da ABNT (Associação Brasileira de normas Técnicas), conforme preconizado pela NBR (Norma Brasileira Regulamentadora) 6023, atendendo ao padrão estabelecido pelo Manual de Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Aplicado 2-2014 da Unimonte e a Portaria da Reitoria 006/2014 que instituiu as Normas para o Trabalho Interdisciplinar Dirigido/Projeto Integrador da citada Unimonte.

 

A. Pesquisa histórica.

Iniciou-se a pesquisa do hospital da Santa Casa da Misericórdia de Santos do século XVI com pesquisas bibliográficas para descrever sua história e métodos de construção do século e entender a finalidade e importância para a sociedade.

Realizou-se a metodologia e pesquisa de campo na atual Santa Casa de Santos, porém, não houve registro do primeiro e segundo prédio. Encaminhou-se a pesquisa de campo para o Arquivo permanente da prefeitura em busca de registros da época. Infelizmente também houve a falta de registros do hospital.

Partindo desta problemática, observou-se que uma das melhores formas de encontrar a parte estrutural do prédio e as técnicas de construção foram dois métodos importantes.

O primeiro foi resgatar a estrutura básica do prédio através da pintura de Benedito Calixto e no cartão postal de B. Cesare que se serviu de base para a criação da maquete do segundo prédio da Santa Casa.

Suas escalas foram baseadas através de pesquisa de campo na matriz de Sant’Anna em Itanhaém, que mantém sua estrutura original do século XVI.

O segundo método, também como pesquisa de campo, foi no convento Nossa Senhora da Conceição com o reverendíssimo padre José Santos na cidade de Itanhaém onde foi feita uma entrevista referente aos métodos de construção do período colonial. Pesquisaram-se também as técnicas de construção do período colonial através de fontes da internet (sites).

Suponha-se que a estrutura da Santa Casa foi construída de pedra (cantaria), pois as construções públicas e religiosas eram construídas deste material.


B. Maquete.

Na maquete a principal problemática foi encontrar o tamanho do hospital, pois não há registros da planta.

Através da porta da igreja de Itanhaém e da pintura de Benedito Calixto, formaram-se as medidas na escala de 1x50, chegando assim ao tamanho da réplica.


C. Materiais usados na maquete.

Utilizou-se como estrutura da Santa Casa, da igreja e da torre, o papel paraná. As janelas foram feitas de palitos de fósforo e pintadas com tinta látex branca.

As portas foram feitas de palitos de picolé e pintadas com tinta de tecido na cor marrom.

O telhado feito da parte ondulada do papelão, pintado com a tinta de tecido na cor marrom.

As molduras das portas e janelas foram feitas de papel paraná.

Utilizou-se a base em M.D.F.

O morro foi criado com papelão, papel pardo e esponjas de louça trituradas no liquidificador, pintadas com tinta de tecido na cor verde e coladas com cola de sapateiro.

As árvores foram feitas com arame de cobre e esponjas, pintadas com tinta de tecido nas cores verde e marrom.

E para finalizar, utilizaram-se pedras e areia de cachoeira.

 

D. Fotos da construção da maquete.








 

3. DESENVOLVIMENTO.

A. Resumo da história da Santa Casa de Santos.

Em 15 de agosto de 1498 foi criada a primeira Santa Casa do mundo, situada em Lisboa, considerada uma das primeiras heranças da colonização portuguesa.

No mesmo ano fundaram-se mais dez filiais.

A origem da fundação das Santas Casas da misericórdia era a preocupação com a situação dos rejeitados e marginalizados.

No início funcionava mais com função assistencial do que terapêutica, atendiam-se os pobres na doença, no abandono e na morte.

Abrigavam além de enfermos, os abandonados, crianças e senhores de idade, os excluídos do convívio social, criminosos e doentes mentais.

Em 1542, com o auxílio do fidalgo português e fundador da vila de Santos, Braz Cubas e também de seus moradores do povoado Enguaguassu, iniciou-se a primeira construção da primeira Casa da Misericórdia de Todos os Santos e primeiro hospital do Brasil.

A primeira Santa Casa da Misericórdia foi construída no sopé do outeiro de Santa Catarina, que atualmente encontra-se a Rua Visconde do Rio Branco, em frente ao edifício da Alfândega situado no centro de Santos.

A inauguração ocorreu em novembro de 1543; em seguida, em 2 de abril de 1551, Braz Cubas obteve de D. João III o primeiro alvará de privilégios concebidos por uma misericórdia brasileira.

Em 1665, houve a necessidade de construir um segundo prédio da Santa Casa e da sua igreja, em local que ficou conhecido como Campo da Misericórdia, mais tarde denominado Largo da Misericórdia, Largo da Coroação e, por último, Praça Visconde de Mauá, junto ao prédio da Prefeitura.

A construção do terceiro prédio da Irmandade da Misericórdia inaugurou-se no ano de 1836 que se localizava perto do Monte Serrat, na época chamada de Morro de São Jerônimo. A irmandade utilizou o Hospital Militar, no intervalo de 1804 a 1830.

O capitão Antônio Martins de Santos, então provedor Claudio Luiz da Costa.

O hospital fora ampliado com a criação de um pavilhão para os tuberculosos. Em 1928, ocorreu um grande deslizamento no morro Monte Serrat, que soterrou a parte de trás do Hospital e alguns prédios ao redor.

No ano de 1928, a fim de evitar um novo soterramento, iniciou-se a construção do quarto e atual prédio, no bairro Jabaquara.

Com capacidade para 1400 leitos, sendo considerado um dos mais bem equipados e um dos maiores hospitais da época, o prédio foi inaugurado no ano de 1945, pelo presidente Getúlio Vargas.

Para continuar atendendo os mais carentes, a Santa Casa sofreu com cortes nos investimentos, economizando e criando seus próprios planos privados.

O Hospital serviu o ensino da medicina quase três séculos antes da fundação da primeira faculdade de medicina no Brasil.


B. História dos prédios Santas Casas.

A primeira Santa Casa do mundo foi criada na cidade de Lisboa, Portugal. No ano de 1542, Braz Cubas fundou junto com os moradores do povoado a primeira Santa Casa de todos os Santos, do qual originou o nome da cidade de Santos.

O principal objetivo da Santa Casa era acolher os enfermos e os rejeitados pela sociedade.

O segundo prédio e sua igreja conhecidos como “Campo da Misericórdia” foi construído em 1665, porque havia uma necessidade maior de atendimento à população.


O terceiro prédio foi construído em 1836, também com o intuito de ampliar o atendimento aos enfermos e maior acessibilidade, pois encontrava-se distante das vilas.




No ano de 1928, ocorreu um deslizamento de terra destruindo uma parte do hospital, havendo assim a necessidade de construir o quarto prédio, no bairro do Jabaquara, com capacidade para 1400 leitos.

Sua inauguração foi em 1945 e mantém sua estrutura até os dias de hoje, sendo um hospital de referência em todo litoral paulista.


C. Estruturação e materiais utilizados no século XVI.

Nas construções do século XVI e XVII usavam-se como materiais a areia, cal, pedras e o barro.

As fundações eram feitas de baldrame com pedras largas postas em uma cova com variações de largura.

As principais estruturas eram feitas de cantaria, as demais eram utilizadas o adobe e os tijolos cerâmicos.

As estruturas de construção da cobertura das igrejas eram feitas de tesoura de linha, as telhas eram feitas de barro e moldadas nas coxas dos escravos.

A forma do telhado era de capa e bica que vieram junto com os portugueses

Os revestimentos eram feitos de areia, cal e barro.

A pintura utilizada era a cal, a cor predominante das vilas era o branco, destacando-se as cores fortes para as janelas e portas, como: azul, vermelho, amarelo e marrom.

Os pisos eram feitos de pedras e barro batido.

As pedras menores ficavam no interior das casas. Já as maiores compunham as vias públicas ambas com o nome de pé-de-moleque.


D. A Chegada de Cabral, materiais e medidas utilizadas.

Pedro Álvares Cabral foi um fidalgo, comandante militar, navegador e explorador português creditado como o descobridor do Brasil.

Realizou a primeira exploração da costa nordeste da América do Sul, reivindicando-a para Portugal.

Com a chegada e a posse da frota de Cabral, os índios passaram a ser explorados por eles, onde em troca ganhavam os materiais que os portugueses trouxeram nas embarcações como, por exemplo, o ferro.

Os índios moravam em casas compridas como uma nau, de madeira, cobertas de palha.

Importantes materiais que eram utilizados nas construções, a madeira de excelente qualidade, além de servir para lenha.

Eles utilizavam a pedra para o corte e confecção das "lâminas" de suas armas, cortavam suas madeiras e paus com pedras feitas como cunhas, metidas em um pau entre duas talas, muito bem atadas. 

É preciso não esquecer que tanto um grupo quanto outro, conta com uma ampla variedade de elementos naturais para realizar seus objetos: madeiras, caroços, fibras, palmas, palhas, cipós, sementes, cocos, resinas, couros, ossos, dentes,

conchas, garras e belíssimas plumas das mais diversas aves.

Evidentemente, com um material tão variado, as possibilidades de criação são muito amplas, como por exemplo, os barcos e os remos dos Karajá, os objetos trançados dos Baniwa, as estacas de cavar e as pás de virar biju dos índios xinguanos.

Os únicos materiais que eles tinham eram a madeira, palha, pedra e o barro onde os portugueses utilizavam de várias formas incorporando e sincretizando técnicas construtivas de povos conquistados em suas viagens ultramarinas.

Antigas unidades de medida portuguesas, as unidades de medida portuguesas foram utilizadas em Portugal, Brasil e em alguns domínios coloniais portugueses até à introdução do sistema métrico. Estas unidades tiveram origem nas unidades de medida romanas, árabes e outras.

Pé (foot): Um pé correspondia, na Roma Antiga, 12 polegadas – número geralmente usado como base pelos romanos.

Essa medida corresponde a, aproximadamente, o tamanho de uma caixa de uma dúzia de ovos, que costuma ser maior que a maioria dos pés humanos.

Hoje, o pé é usado na determinação da altura das pessoas e na arquitetura (para medir paredes, chão, teto e distâncias entre um e outro ponto).

Um pé corresponde a 30,48 centímetros.

Jarda (yard): A medida de 1 jarda era baseada, portanto, no tamanho da circunferência da cintura de uma pessoa, o que permitia grandes variações.

No século 11, o rei Henrique I chegou a sugerir que 1 jarda correspondesse à distância da ponta de seu nariz ao seu polegar com o braço esticado.

Com a padronização das medidas, foi estipulado que 1 jarda valeria 3 pés.

Corresponde à largura de uma porta de tamanho padrão ou a 91,44 centímetros.

Galão (gallon): A palavra “galão” vem da antiga denominação de balde.

No século 15, decretou que um galão deveria corresponder a 4,4 litros menos 2 colheres de sopa. No século 18, estipulou-se que um galão de cerveja correspondia a 4,4 litros, enquanto um de vinho, a 3,8 litros.

Em 1824, foi finalmente decretado o galão oficial, sendo todos os outros abolidos.

A nova medida - mais próxima à do galão de cerveja - foi definida como “o volume de 10 libras de água destilada medido em uma balança de bronze à temperatura de 16ºC”.

Um galão corresponde hoje a 4, 546 litros.

Milha (mile): A milha vem do termo romano mille passus, que significa mil passos. Correspondia, originalmente, a 5 mil pés humanos.

No ano de 1500, membros da corte da dinastia Tudor criaram a unidade de medida “furlong”, que correspondia a 220 jardas.

O gosto pela tradição britânica levou a rainha Elizabeth I, em 1593, a declarar que 1 milha não mais media 5.000 pés (como mandavam os romanos), mas 5.280 pés, que correspondiam a exatos 8 furlongs - uma medida autenticamente britânica.

Hoje, a milha é usada para medir a distância entre cidades e o comprimento de rios. Uma milha corresponde a1, 61 quilômetros.

Polegada (inch): A polegada, que representava o tamanho de um dedo polegar, foi inventada pelo rei David I da Escócia, no ano de 1150.

No século 14, o rei Eduardo II decretou que uma polegada corresponderia ao comprimento de 3 grãos de cevada, secos e redondos, enfileirados.

Também já foi definida como o comprimento do enfileiramento de 12 sementes de papoula.

Em 1959, foi decretado que uma polegada corresponde a 2,54 centímetros.

Hoje, a medida é usada para mensurar o comprimento e a largura de fotografias, a profundidade de águas rasas, o tamanho de objetos e a grossura de livros.

Mão (hand): A mão é uma medida antiga que costumava corresponder à largura de uma mão humana com os dedos fechados.

Hoje, ela vale 4 polegadas e só é usada para mensurar a altura de cavalos (do chão à cernelha do animal).

Trata-se de uma forma de medição rudimentar, inventada pelos egípcios por volta de 3000 a.C.

Uma mão corresponde a 10,16 centímetros.

Libra (pound): Não é coincidência o nome desta unidade de medida de peso ser o mesmo da moeda da Inglaterra.

No ano de 1266, o rei Henrique III decretou que a moeda de um centavo (penny) deveria pesar o mesmo que 32 grãos de trigo.

Vinte centavos (ou 640 grãos) corresponderiam a uma onça (ounce), e 12 onças (7.680 grãos ou 240 moedas de um centavo), a uma libra (pound).

Até hoje, na Inglaterra, 240 moedinhas de um centavo pesam uma libra.

Uma libra corresponde a 450 gramas.


E. Fundações e bases do século XVI.

Uma das técnicas de fundação utilizada no Brasil colonial foi a fundação corrida, amplamente utilizado naquele século.

Um baldrame, feito com pedras largas, postas em uma cova com variação de largura e aproximadamente 1,50m de profundidade, com a função de receber vigas para paredes de sustentação, com distribuição de carga.

Em caso de estruturas autônomas, ou gaiolas, o buraco da fundação poderia ser feita sob um suporte, somente para receber cargas concentradas.

De inicio, abria-se uma vala de qualquer maneira somente para averiguar o tipo de terreno para iniciar o assentamento das pedras para o alicerce, logo após colocava-se pedriscos para assentar as pedras maiores em seguida, colocava-se um caldo composto de argamassa, barro, cal e algum aglomerante.

Na época, era comum a indicação de óleo de baleia como um aglutinante para dar liga a massa, porém, fontes de pesquisas recentes fazem referência a borra, ou resíduos do cozimento, uma parte inferior e mais barata retirada do próprio óleo durante o processo de cozimento, já que o óleo era um material muito caro, portanto usado preferencialmente como um impermeabilizante.

Para prevenir a edificação de infiltração provinda das águas pluviais, a última fiada era um pouco mais elevada em relação ao nível do terreno, onde era posto uma laje de pedras em torno de toda a edificação num rodapé.

No nível do piso, esses suportes fincados no solo recebiam encaixes para a colocação de vigas baldrames, mais alta que o solo, para evitar a penetração da água.

Sobre os esteios se apoiavam as vigas de sustentação dos assoalhados, que era o piso mais empregado nesse sistema construtivo.

 

F. Paredes autoportantes de pedra.

Os elementos verticais podem ser classificados segundo suas estruturas, bem como as paredes autoportantes que têm a função de vedar e sustentar; estrutura autônoma ou gaiola, com a função de esteio associado às paredes de vedação de materiais diversos, como pedra argamassada, adobe e taipa de pilão, madeira, estuque, terra, entre outras.

Podem-se ter duas técnicas em uma mesma edificação.

Usavam-se arcos em tijolos maciços para vedação dos vãos, adotando-se a técnica da pedra argamassada.

G. Adobe e tijolos cerâmicos.

Alguns dos principais materiais construtivos que se utilizava nos tempos da colonização no Brasil, eram os adobes e os tijolos cerâmicos ambos são feitos a partir do barro, fibras vegetais e água.

O adobe era uma espécie de lajota em formato de paralelepípedo maciço, compacto e de grande resistência à compressão, com dimensões aproximadas a 20cmx20cmx40cm, a produção do adobe era rápida e simples.

O barro era amassado com as fibras vegetais e disposto em formas retangulares úmidas, para facilitar ao desenformar, e colocados para secar ao sol, o que demorava cerca de 10 (dez) dias, tendo de ser virado a cada 2 (dois) dias.

Após este período é realizada a vedação através do assentamento e caiação. Assim as estruturas podem durar até 20 anos em média.

Para o seu melhor desempenho e para uma melhor resistência, era utilizado nas partes internas e externas das construções.

Os tijolos cerâmicos tinham como matéria-prima a argila, tinham dimensões menores em relação ao adobe e em determinadas construções substituía o uso da pedra.

A diferença preponderante se encontra no modo de preparo.

O tijolo é cozido em fogueiras ou olarias, sendo assim mais resistente que o adobe, seu uso era maior em comunidades que possuíam maior disponibilidade de lenha.

O tijolo cerâmico foi um dos primeiros materiais construtivos a ser empregado pelo homem, seu uso é conhecido desde os períodos da Mesopotâmia e em Roma antiga.

A construção de arcos e de aberturas foi proporcionada com o uso de tijolos nos arcos de descarga sobre as envasaduras.

Nos séculos XVI e XVII eram extremamente requisitados nas construções de alvenaria, por sua prática e pela sua eficiência.

H. Construções em pedra.

As construções durante a colonização eram de pau-a-pique, coberta com folhas de palmeiras.

De acordo com o passar dos anos, era utilizada a taipa de pilão e devido ao clima, a técnica mais usada era a de pedra e cal.

A necessidade de construções mais sólidas, trouxeram junto com o governador geral Tomé de Souza (1549) os mestres Luís Dias (mestre de obras), Luís Peres (mestre

de pedreira) e Miguel Martins (mestre de fazer cal).

A cantaria é a utilização de pedras ajustadas perfeitamente uma sobre as outras sem o auxílio de argamassa.

Para o assentamento, utilizam-se grampos metálicos e, às vezes, óleo de baleia como adesivo para auxiliar na vedação.

Utilizado desde o período pré-histórico por ser um material natural e acessível, esse trabalho era tradicional entre os portugueses e no Brasil, começou a ser empregado na metade do século XVI tendo como foco construções públicas e religiosas.
As paredes de pedra argamassadas em construções de porte médio adotavam de 60 a 80 cm de espessura.

Já para obras públicas sua espessura variava de 1 a 1,5 m.

A diferença decorria do aumento das cargas do telhado sobre as paredes, evitando-se o comprometimento estrutural.

Para esse tipo de obra era necessário além da mão-de-obra numerosa, o trabalho dos mestres cantareiros e para execução os mestres pedreiros.

Muitos projetos vinham prontos de Portugal para serem aqui realizados com pedras (principalmente Lioz), que cortadas e numeradas na metrópole, funcionavam como lastro dos navios e aqui montadas nas construções.

Com o tempo, os quartzitos viriam ser, sobretudo empregados nas partes nobres das construções.

No século XIX, com mudanças estilísticas e o desenvolvimento de novos materiais, houve um declínio do emprego da cantaria.

A preferência pelos tijolos na execução das alvenarias e o fim do trabalho escravo levaram a extinção do ofício.


I. Coberturas.

As coberturas de casas utilizadas pelos nativos feitas de palha retiradas das folhas de palmeiras e gramíneas foram inovadas junto com o início da colonização visto que crescia a necessidade de construções com mais durabilidade e resistente ao tempo.

Iniciou-se então a produção das telhas capa-de-bica ou capa-e-canal, verdadeiro marco da arquitetura colonial.

A técnica utilizada chegou ao Brasil junto com os portugueses.

As telhas de barro eram fabricadas por escravos de forma rústica, o barro era amassado até obter a liga desejada e posteriormente moldada sobre as próprias coxas.

As telhas eram então apoiadas sobre o madeiramento feito com a madeira de lei, madeira mais resistente e capaz de suportar o peso.

A estrutura na construção de igrejas era tesoura de linha (caibro armado) ou aspas francesas este método era visto como as soluções para vencer os vãos maiores e os espaçamentos não ultrapassavam de 0,80m.


J. Revestimentos, Pinturas e Pisos.

O revestimento era feito de barro, cal e areia.

A cal era retirada da incineração de conchas e mariscos.

Na pintura, a cor predominante das paredes era o branco enquanto as portas e janelas usavam-se cores vivas como azul, vinho e amarelo.

O revestimento, pintura e pisos, imitavam as vilas portuguesas.

A base era constituída de cola têmpera ou óleo (mamona ou linhaça) e os corantes utilizados eram: Anil, Cochonilha, Açafrão, Urucum e Pau- Braúna.

O piso na época colonial era feito de terra batida, ou barro batido e pedra em seu estado bruto.

A terra era socada com certa mistura de argila areia e água, à qual se adicionava às vezes sangue de boi, para uma melhor liga.

Nos interiores eram utilizadas pedras menores, seixos rolados de rios e para as vias públicas aplicava-se blocos ou lâminas de maiores dimensões.

Ambas conhecidas como pé-de-moleque ou calçada portuguesa.


4. CONCLUSÃO.

Durante o processo da elaboração do projeto da maquete e do projeto escrito da Santa Casa da Misericórdia de Santos (SCMS), teve-se como foco reconstruir a história da Santa Casa de forma que se possa ter uma prévia noção das técnicas e dos desenvolvimentos das construções dos séculos XVI e XVII.

Os materiais utilizados nas estruturas e nas construções daquele período eram feitos e utilizados de maneiras práticas e eficazes, tanto que há diversas estruturas daquela época que ainda permanecem intactos nos dias atuais.

Alguns dos materiais daquela época continuam sendo utilizados nos dias de hoje.

Com o avanço da tecnologia as técnicas manuais foram substituídas por máquinas e técnicas avançadas.

Com a descoberta da engenharia, criaram-se experimentos, teorias e práticas, com os quais se puderam aprimorar os conhecimentos do passado de uma forma científica.

Na história da primeira Santa Casa de Santos, destaca-se o seu principal objetivo que era acolher os enfermos e os rejeitados pela sociedade, destacam-se também pontos históricos como de um deslizamento de terra que ocorreu no terceiro prédio no ano de 1928, e de sua reinauguração no ano de 1945.

No processo de reconstituição do projeto do segundo prédio através de uma maquete obteve-se como principal referência visual uma pintura de Benedito Calixto (pintor ilustre e contemporâneo da construção), em comparativo com a atual Santa Casa seu tamanho é consideravelmente inferior.

Atualmente o hospital atende seus pacientes em planos públicos e privados, e sua atual construção é datada do ano de 1945.

Observou-se que a Santa Casa da Misericórdia de todos os Santos é um modelo das técnicas de construção, porque sua evolução foi gradativamente vista desde o período colonial até os tempos atuais.

 

5. RESULTADO ALCANÇADO.

Figura 17: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 18: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 19: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 20: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 21: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 22: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 23: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 24: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 25: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 26: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 27: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 28: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 29: Maquete da Santa Casa de Santos.

Figura 30: Maquete da Santa Casa de Santos.


6. REFERÊNCIAS.

A. Fontes da internet.

BRASIL. A Santa Casa da Misericórdia de Santos. Disponível em: http://www.actamedica.org.br/noticia.asp?codigo=104. Acesso em: 03/09/2014.

BRASIL. Arquivo Geral da Santa Casa. Disponível em: http://www.unisantos.br/pos/revistapatrimonio/pdf/Artigo2_v6_n8_out_nov_dez2009_Patrimonio_UniSantos.pdf. Acesso em: 22/09/2014.

BRASIL. História da Santa Casa. Disponível em: http://www.scms.org.br/noticia.asp?codigo=42. Acesso em: 01/09/2014.

BRASIL. História da Santa Casa. Disponível em: http://internacional.divulgueconteudo.com/237037-historia-da-santa-casa-da-misericordia-de-santos. Acesso em: 01/09/2014.

BRASIL. Primeiro hospital do Brasil. Disponível em: http://www.rankbrasil.com.br/…/…/HYPERLINK "http://www.rankbrasil.com.br/Recordes/Materiais/06VU/Primeiro_Hospital_Do_Brasil"Primeiro_Hospital_Do_Brasil.Acesso em: 01/09/2014.

BRASIL. Santa Casa da Misericórdia. Disponível em: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0260d10.htm. Acesso em: 08/09/2014.

BRASIL. Sinopse histórica da Santa Casa. Disponível em: http://santosturismo.wordpress.com/2013/08/31/a-santa-casa-da-misericordia-de-santos-sinopse-historica/. Acesso em: 06/09/2014.

BRASIL. Técnicas construtivas do período colonial. Disponível em: http://www.ceap.br/material/MAT02092011153107.pdf. Acesso em: 01/09/2014.

 

B. Outras fontes e bibliografia.

CORONA, Eduardo; LEMOS Carlos A.C. Dicionário da Arquitetura brasileira. São Paulo: Edart, 1972.

GASPAR, Frei de Madre de Deus. Memórias para a história da capitania de São Vicente, 1797. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Belo Horizonte: Livraria Itatiaia, 1975.

THEREZINHA, Wilma Fernandes de Andrade. Conexões da História de Santos e Portugal. Leopoidianum, 1996.

VASCONCELLOS, Sylvio de. Arquitetura no Brasil. Sistemas Construtivos. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 1979.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esteja a vontade para debater ideias e sugerir novos temas.
Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.