Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 6, Volume jul., Série 13/07, 2015.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
Embora o
Impressionismo tenha sido um movimento artístico característico da pintura europeia
do final do século XIX, sua repercussão estendeu-se para o século XX, ampliando-se
através da literatura e do cinema.
O impressionismo
surgiu como uma arte puramente visual, porque seus temas principais pertencem
ao perceptivo, assumindo como tema de representação apenas cenas observadas
diretamente pelo pintor, a experiência de ver passou a ser o conteúdo da obra.
O nome do
movimento foi derivado da obra “Impressão, nascer do sol”, datada em 1872, de
autoria de Claude Monet, um artista que iria simbolizar o impressionismo, junto
com outros; como Degas, Manet, Renoir e Pissaro.
A noção de visão
passou a ser entendida por estes pintores como referente às representações
mentais e pictóricas, como expressões de atitudes e interesses.
Focando o fazer
arte em significados selecionados, imaginados, modelados e compostos pelo
objeto percebido de modo direto.
Assim, no século
XIX, houve um remanejamento da imagem em consequência de um enriquecimento do
vocabulário plástico.
Embora, segundo
Schapiro (2002), o termo “impressionismo” não comporte uma definição estética,
pois surgiu como nome de um grupo de expositores que tinha em comum um conjunto
de metas relacionadas que foram realizadas em graus diferentes.
Em todo caso,
representou uma estética renovada que incluiu a imagem do realmente visto como
parte do mundo comum e abrangente do espetáculo, em oposição à inclinação da
época pela história, mito e mundos imaginados.
Neste sentido, o
impressionismo deve ser entendido como o efeito da cena sob o olhar do artista.
O que envolve o
impreciso, indeterminado e vago na natureza, representado fielmente, nesse
caso, em seu aspecto momentâneo.
Em outras
palavras, o método da nova arte se fundamentava na realidade do impreciso e
atmosférico da natureza, que possuía uma objetividade e uma precisão refinada
própria.
A experiência
visual passou a consistir não somente de cores, luzes, sombras e formas; mas
também embasada em objetos como entidades reconhecíveis, mesmo quando aparecem
turvos ou incompletos.
Esse exercício
do olhar requer uma visão aguçada e depende de ocasiões específicas, já que o
visível é tido como algo recém-encontrado e em constante mutação.
No
impressionismo, portanto, a noção de mimeses, de arte como imitação de um
objeto, foi modificada.
Assumindo uma
função criadora de outro olhar para o objeto que, em um primeiro momento,
buscava uma maneira mais realista de mostrá-lo, mas em um segundo momento,
assumiu a representação como construção, uma criação de novos signos.
Uma concepção
que se insere na fenomenologia de Merleau-Ponty, relativizando a visão do
objeto e o conceito de verdade.
Em seu projeto
filosófico Merleau-Ponty se propunha a uma reforma do entendimento, onde as
categorias tradicionais da filosofia (sujeito, objeto, substância etc) seriam
substituídas por conceitos novos, além de um comentário sobre a palavra “ser” e
uma reconciliação com a metafísica.
Dentro da
tradição cartesiana, encontramos a palavra “ser” ligada a “ser” como
consciência ou objeto.
Para ele
existiria um mundo objetivo e outro subjetivo.
O sujeito
cartesiano é quem dá valor às coisas, o que o autor chama de “prejuízo do
mundo”.
O pensamento
objetivo só conhece noções alternativas, conceitos puros que se excluem entre
si, relativizando a verdade.
Para
Merleau-Ponty, a ciência e a filosofia teriam passado séculos depositando muita
fé na percepção.
Pensava-se que a
percepção se orientava em direção a uma verdade em si, onde reside a razão de
todas as aparências.
A questão é que
o mundo da percepção vivida não comporta a ideia de ser determinado.
O mundo vivido
admite ambiguidade, comporta um indeterminado positivo.
Seria necessário
reconhecer o indeterminado como fenômeno positivo, o qual os impressionistas
explorariam.
A própria ideia
de verdade, em voga no século XIX e ainda presente hoje, foi construída ao
longo de séculos, desde a antiguidade, misturando a concepção grega, latina e
hebraica.
É um conceito,
portanto, também relativo.
Em grego, a
verdade (aletheia) significa aquilo que não está oculto, o não escondido,
manifestando-se aos olhos e ao espírito, tal como é, ficando evidente à razão.
Em latim, a
verdade (veritas) é aquilo que pode ser demonstrado com precisão, referindo-se
ao rigor e a exatidão.
Assim, a verdade
depende da veracidade, da memória e dos detalhes.
Em hebraico, a
verdade (emunah) significa confiança, é a esperança de que aquilo que é será
revelado, ira aparecer por intervenção divina.
No século XIX, a
verdade espelhava aquilo que é; contudo, o impressionismo mostrou que o
problema é encontrar a essência do que as coisas são, uma vez que tudo depende
do olhar de quem observa.
Os pintores
impressionistas construíram novos signos para o mundo, que ainda não tinham
sido observados como luz e atmosfera.
A cor dos
impressionistas era mais exata e as sombras eram coloridas.
A cor é um signo
da luz do sol e também da sombra.
Antes as sombras
escuras e pretas eram signo de volume.
Os
impressionistas buscavam qualidades normalmente não observadas, qualidades de
cores e luz que se referiam a um ponto no espaço, mas não distinguiam um objeto
específico.
As cores e a luz
caracterizam um objeto, mas este permanecia indistinto.
A cor não interpretada
apresentava uma extensão de propriedades e aplicações.
A essa unidade
da pintura corresponde uma relação material, a pincelada palpável ou mancha de
tinta nítida.
A pincelada
tornava a tela tão viva com a luz refletida quanto à cena ou ao objeto
representado.
Isso porque os
toques de cor, em relevos desiguais e sutis, refletiam, eles próprios, a luz
variavelmente, a luminosidade da tela distinta da luz representada no quadro.
O padrão da
pincelada e o mundo se tornavam distintos.
As pinceladas variavam
de acordo com o tipo de objeto a ser representado e as diferenças ressaltam
diferenças de objetos.
Destarte, a
pincelada era muito mais do que isso, representava uma marca pessoal de cada
artista, como uma caligrafia, possuindo sentido expressivo, gestual e
refletindo sentimentos e humores.
Embora os
impressionistas da primeira geração tenham sido tachados como pintores de mal
gosto, todos colocados dentro de um mesmo cesto; Claude Monet tinha um traço
diferente de August Renoir ou Camille Pissaro.
Igualmente, o neoimpressionismo
traria elementos novos para o movimento, como a técnica do pontilhismo, a
despeito da desvalorização dos artistas desde segunda geração, taxados
simplesmente também como pintores de gosto duvidoso.
Foram
necessárias duas décadas até que os pintores impressionistas começassem a ser
valorizados, quando o movimento influenciou a nascente fotografia e, depois, o
cinema.
Conduzindo ao
pós-impressionismo e a questionamentos filosóficos existências que remeteriam
ao romantismo.
Isto, a despeito
do questionamento da verdade estar presente já no impressionismo da primeira
geração de artistas, apesar de poucos contemporâneos terem notado este
componente de imediato.
A geração de Van
Gogh, Paul Gauguin e Paul Cézanne é que colheu os frutos plantados no final do
século XIX, passando a retratar o espírito do inicio do século XX, marcado pelo
pela primeira grande guerra e pela revolução russa.
A arte
possibilitou ao mundo perceber que a verdade não possui um significado único,
tampouco estático e definitivo; sendo influenciada por inúmeros fatores, entre
os quais a percepção, impressões sobre o que externo ao sujeito.
O que conduziria
a transição para o expressionismo, a representação das emoções do artista.
Para saber mais sobre o assunto.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática,
1994.
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1981.
FRANCASTEL, P. Pintura e sociedade. São Paulo: Martins
Fontes. 1990.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura.
São Paulo: Martins Fontes, 1995.
MERLEAU-PONTY,
M. Fenomenologia da Percepção. São
Paulo: Marins Fontes, 1999.
SCHAPIRO, M. Impressionismo. São Paulo: Cosac &
Naif, 2002.