Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 6, Volume jul., Série 05/07, 2015.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
Por definição, a
chamada Antropologia Teológica configura uma área do conhecimento que procura
articular a existência humana com a verdade revelada por Deus, supostamente
registrada na Bíblia cristã.
É uma tentativa
de compreensão de fenômenos naturais à luz da ciência, conciliando a fé e as
crenças coma racionalidade, explicando a vida humana individual e coletiva, bem
como as implicações práticas decorrentes e suas possibilidades de humanização e
realização.
Atualmente é uma
tendência que está se enraizando nos meios universitários, vinculados com a
Igreja Católica, demonstrando grande preocupação com aspectos pertinentes à
ética enquanto ciência normativa.
Neste sentido, a
Antropologia Teológica pretende realizar a distinção entre ética e moral,
dentro do contexto da sociedade da informação, da globalização e da cidadania.
Em um momento em
que o ambiente pessoal e profissional exige do individuo uma postura de
responsabilidade social e o discernimento dos limites da liberdade, pensa no
respeito ao outro como garantia de ver respeitados os próprios direitos.
Isto porque é
preciso ter clareza no significado do termo ética, não confundir a referência
conceitual com esferas ligadas entre si, mas que são distintas; tal como a
moral, o direito ou a ideologia.
O grande
problema inicial é, antes de tudo, a própria definição do que se entende por
ética.
Existe uma
confusão reinante no sendo comum que não distingue ética e moral.
O que tem razão
de ser, porque um conceito não existe sem o outro, estando entrelaçados, além
da ética ter sofrido modificações conceituais ao longo da história, com vários
desdobramentos.
Entretanto, é
fato que ética e moral são distintos.
A gênese da
confusão está na origem dos termos e em sua concepção primitiva, repleta de
paralelos e aproximações.
A palavra Ética
nasceu na Grécia antiga, deriva de Ethos, que significa morada ou residência.
A partir da qual
surgiu o termo Ethica, significando personalidade, assumindo a utilização usual
para expressar costumes e hábitos.
Desde então,
vários filósofos abordaram a sua conceituação, cunhando uma significação de
senso comum, ainda corrente, de normatização de comportamentos.
A palavra Moral
nasceu do termo romano Mos/Moris, que expressa em latim o mesmo que os
similares gregos.
É, portanto, uma
tradução que também significa moradia ou personalidade.
Acontece que
ética e moral foram se tornando distintas ao longo do final da Idade Antiga; a
despeito de, no século XIX, Hegel ter afirmado que eram sinônimos.
Ao longo da
história do pensamento Ocidental, a ética foi considerada como moral dos
filósofos, chamada filosofia moral; estando fixada no âmbito do público e do
universal.
Já a moral foi
considerada pertencente ao particular e subjetivo, circunscrita ao sujeito e
sua privacidade.
Em termos
práticos, a definição contemporânea é exatamente a oposta.
A moral define
um conjunto de regras que valem para todos, sendo impostas pelos costumes,
padronizando comportamentos dos indivíduos inseridos no conjunto da sociedade,
pouco importando o que cada um faz na privacidade, desde que não interfira na
coletividade.
A moral se
insere em um contexto político, diz respeito ao individuo e a figura da pessoa.
Dois termos
usados, pelo senso comum, como sinônimos, mas que não significam a mesma coisa.
A palavra
Indivíduo, a partir do grego antigo, significa objeto do pensamento sem partes,
remetendo a sua significação sociológica: elemento ou ser particularizado que
não existe sem o conjunto da sociedade.
Portanto, o
indivíduo, apesar de compor um todo integral, é aquele que não pode ser
separado ou dividido da coletividade. Termo que se aplica ao contexto
aristotélico aplicado a política, a vida em sociedade.
Para
Aristóteles, a política é a Ciência mais suprema, a qual todas as outras estão
subordinadas, sendo sua tarefa investigar o que diz respeito às coisas públicas
para garantir a felicidade coletiva, tal como a melhor forma de governo e
instituições capazes de gerenciar o conjunto de indivíduos.
A palavra Pessoa
deriva do latim Person - de onde vem Personagem -, a máscara usada pelos atores
na representação teatral na antiguidade, denotando a representação do ser,
daquilo que a sociedade imagina que alguém é, ou aquilo que o próprio deseja
que seus semelhantes pensem que ele é.
Assim, a palavra
está ligada com a aparência, remete imediatamente a condição moral, atendendo
as expectativas impostas pela sociedade, forjando uma máscara que a pessoa
precisa adotar para ser aceita pelo grupo.
O que originou o
termo Pessoa Física, manifestação do caráter individual, político, da pessoa
moral; exprimindo seus direitos e deveres garantidos pela legislação convencionada
pelo Pacto Social.
Em sentido
amplo, a ética se aplica ao sujeito, determinando ações que não necessariamente
atendem imposições que nascem no exterior, tal como a moral.
A ética
determina ações que permitem buscar a felicidade, não a aceitação, conduzindo
ao conceito de liberdade e responsabilidade.
O indivíduo é
livre para buscar a felicidade, mas não pode ferir o direito do outro de também
ser livre.
Ao mesmo tempo,
a busca da felicidade implica em responsabilidade para consigo mesmo, o outro,
a sociedade e a humanidade.
Esferas com as
quais o sujeito está comprometido, porque não pode ser feliz individualmente se
não contribuir para a felicidade coletiva.
O termo Sujeito
é o que melhor se aplica a este contexto, já que a partir da concepção original
da palavra na antiguidade, significa “aquilo que é submetido à reflexão, à
discussão”.
O sujeito é o
que os filósofos chamam de Ser, aquilo que realmente é; expressando o objeto do
conhecimento, a interiorização do mundo e sua significação para alguém.
Portanto, o
sujeito é aquele produz atos pensados, racionalizados a partir da construção do
conhecimento.
O que fornece
uma pista valiosa do que é a ética, pois constitui padronização de ações de
forma ponderada pelo sujeito; pensada depois de investigação das necessidades
do indivíduo e do pragmatismo coletivo. Transformando o termo em um significado
que expressa seu caráter cientifico.
Em outras
palavras, a despeito de sua conceituação que pode ser mais estreita que a
moral, quando aplicada a sentidos específicos, como a ética profissional; em
sentido amplo, a ética é maior que a moral, porque é também uma Ciência.
Quando se discute
o conceito de ética, inevitavelmente, acabaremos concluindo que é totalmente
distinta da moral; mas está entrelaçada, propondo valores racionalizados,
critérios para julgar o certo e o errado, influenciando e sendo influenciada
pela moral e o direito.
A ética possui,
portanto, uma função moralizadora, banalizando juízos, discutindo o que é
moral, ajustando os princípios aceitos pelo conjunto da humanidade e, ao mesmo
tempo, padronizando códigos de comportamento que pertencem a grupos ou
profissões específicas.
Destarte, a
ética possui também uma função humanista, criticando posturas de ação,
examinando fundamentos.
Pensando os
valores de forma sistematizada, caracterizando uma Ciência que idealiza o
comportamento ideal, racionalizando a relação do sujeito consigo mesmo, o outro
e o mundo.
A utilidade da
ética insere-se no âmbito humano da valorização da liberdade através do
conceito de responsabilidade; simultaneamente, padronizando regras de
comportamento para facilitar o convívio entre indivíduos.
A ética torna a
coexistência entre as pessoas possível e aceitável também pelo prisma do
sujeito, de sua consciência interna.
Para saber mais sobre o assunto.
ARISTÓTELES. A ética: textos selecionados. São Paulo:
Edipro, 2003.
BIGNOTTO,
Newton. Ética. São Paulo: Companhia
das Letras, 1992.
MARTINI, Carlo
Maria. Viagem pelo vocabulário da ética.
São Paulo: Ed. São Paulo, 1994.
VALLS, Álvaro L.
M. O que é ética. São Paulo:
Brasiliense, 2008.
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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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