Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 6, Volume jul., Série 19/07, 2015.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
Depois de um
período de relativa docilidade em relação à liderança dos Estados Unidos da
América, países latino-americanos registraram alguns movimentos de esquerda em
uma época de turbulências e experimentações políticas.
A reação dos EUA
conduziu a implantação de ditaduras de direita que se opuseram aos movimentos
nacionalistas populistas ou de esquerda surgidos entre as elites locais.
Estes movimentos
de esquerda adquiriram um viés anti-imperialista e antioligárquico, estimulado
pelo triunfo da Revolução Cubana em 1959, com forte apelo revolucionário de
caráter popular.
Foi o que
aconteceu no México, na Guatemala, na Bolívia, chegaram a pelar para a
revolução popular.
Por ocasião dos
Jogos Olímpicos de 1968, no México, eclodiu um grande protesto de estudantes de
cunho esquerdista na Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM).
Diante da forte
repressão do governo, o movimento se alastrou, 15 000 estudantes de várias
universidades invadiram as ruas da cidade do México, ostentando cravos
vermelhos como sinal de protesto contra a ocupação militar da UNAM, culminando
com o chamado massacre de Massacre de Tlatelolco.
Na ocasião,
milhares de estudantes e transeuntes foram detidos e pelos menos uma centena de
pessoas atingidas por tiros foram mortas, incluindo crianças.
Este episódio
deu origem, na década de 1970, a um movimento de esquerda no México orientado
pelo pensamento de Gramsci, principalmente entre intelectuais que organizaram
simpósios e palestras com a participação de pesquisadores vindos da Europa e
também de gramscianos latino-americanos.
Dentro deste
contexto, surgiu, a partir das Forças de Libertação Nacional (FLN) - fundada em
1969 -, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), defendendo de
direitos coletivos e individuais negados aos povos indígenas mexicanos, a
construção de um novo modelo de nação que incluísse a democracia concreta e real,
e, posteriormente, a liberdade e a justiça como princípios fundamentais de una
nova forma de fazer política, colocando-se contra o neoliberalismo.
Na Guatemala, em
1954, quando o presidente eleito Jacobo Arbenz foi derrubado por um golpe
articulado pelos EUA, através da CIA, sendo substituído pelo coronel Carlos
Castillo Armas, ligado a grupos anticomunistas e a esquadrões da morte,
iniciou-se uma luta intensa promovida por grupos de esquerda.
Carlos Castillo
foi assassinado em 1957, sendo substituído pelo General Miguel Ydígoras
Fuentes, que assumiu o poder em 1958.
Em 1960, um
grupo de jovens oficiais militares armou uma revolta, que, no entanto,
fracassou.
Na sequência,
vários deles passaram à clandestinidade e estabeleceram estreitos laços com o
governo de Cuba.
Este grupo se
converteu no núcleo das forças que organizaram a insurreição armada contra o
governo que durante 36 anos, mergulhando o país em uma guerra civil.
Quatro
principais grupos guerrilheiros de esquerda se articularam contra o governo de
direita apoiado pelos EUA: o Exército Guerrilheiro dos Pobres, a Organização
Revolucionária do Povo em Armas, as Forças Armadas Rebeldes e o Partido
Guatemalteco do Trabalho.
Esses grupos
fizeram uso de ações de sabotagem e ataques a instalações das forças de
segurança governamentais.
Em 1982, os
quatro grupos se uniram para formarem a Unidade Revolucionária Nacional
Guatemalteca.
A guerra civil
só acabou em 1996, quando guerrilheiros e o governo assinaram um cessar fogo e
um pacto de anistia geral, ao passo que o país encontra-se em uma situação
delicada até hoje.
Na Bolívia, a
Guerra do Chaco, entre esta e o Paraguai, entre 1932 e 1935, foi o estopim da
Revolução de 1952.
O conflito teve
como pretexto o fato da Bolívia querer uma saída para o Atlântico, através do
rio Paraguai.
Porém, a real
motivação estava na disputa entre a petroleira Standard Oil, truste americano,
e a Shell, anglo-holandesa.
Ambas com
pretensões a controlar o petróleo do Charco Boreal, região petrolífera.
O resultado foi
um grande derramamento de sangue, com quase 100 mil pessoas dos dois países
irmãos mortas.
Em termos
militares, Bolívia foi derrotada, suas forças armadas ficaram desgastadas junto
à população boliviana.
O que trouxe
rebeldias dentro do exército e um setor militar voltado para o povo e o
sentimento anti-imperialista, com cunho progressista de esquerda.
Em decorrência
deste processo político de pós-guerra, surgiu o primeiro governo seguindo esta
orientação, liderado pelo coronel Davi Toro, que logo expropriou os bens do
truste norte-americano e nacionalizou o petróleo e o gás, fazendo surgir a
estatal YPFB.
O segundo
governo nacionalista de esquerda foi do general Gérman Busch que acabou se
suicidando; devido à terrível pressão das oligarquias e de três famílias -
Simón Patiño, Carlos Aramayo e Maurício Hoschild - que detinham o controle do
estanho e de outros minérios.
Busch se tornou
mártir, despertando a população para mudanças, estimulando o enfrentamento dos
setores oligárquicos e o próprio imperialismo norte-americano.
Derrotados o
setor nacionalista e o progressista militar, o povo boliviano continuou sob um
quadro econômico e social de, praticamente, um mínimo de alteração em relação a
décadas de exploração e miséria.
A quase
totalidade da população, na sua absoluta maioria vivendo no campo, em condição
de servidão, sob a brutal exploração de latifundiários, era formada por
analfabetos sem direito ao voto, sem cidadania, em um momento em que para ter
esse direito, ser reconhecida como cidadã, a pessoa tinha de ter alguma posse e
acesso à escola.
Os índios,
maioria absoluta da população, que no passado tinham terras para trabalhar e
ganhar a vida, após perdê-las para latifundiários, viram-se obrigados a um
regime de semiescravidão, trabalhando para uma minoria que os expropriou, a
troco de quase nada.
A quase totalidade
das terras cultivadas estava nas mãos de 6% da população rural; sendo que
somente 2% das terras eram cultivadas.
A produção de
alimentos, subordinada a uma estrutura de latifúndios, era extremamente
precária, forçando o país a importar comestíveis, vendendo-os a preços
insuportáveis para a grande maioria da população, elevando enormemente a
inflação.
Como se
bastasse, o controle dos minérios, como o estanho e outros, permanecia nas mãos
das mesmas famílias oligárquicas de sempre.
As condições
objetivas para revolta, inclusive para a revolução, estavam evidenciadas,
principalmente entre o proletariado mineiro.
Foi quando, na
década de 1940, surgiu o MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), partido de
composição ideológica contraditória, pois dentro dele existiam, desde setores
anti-imperialistas e socialistas, até nazifascistas, simpatizantes de Hitler e
Mussolini, tendo prevalecido, no entanto, com o passar do tempo, os que tinham
o propósito de derrotar as oligarquias e o imperialismo, para levar o país a
ser dono de suas riquezas, buscando fazer as reformas necessárias, como a
reforma agrária.
O seu líder
maior era o intelectual Victor Paz Estenssoro, ao lado de Siles Suazo.
Estenssoro
ganhou as eleições em 1952, mas não conseguiu tomar posse, devido a uma ação
militar golpista.
O que levou o
MNR a recorrer à luta, armando camponeses e mineiros, chegando ao poder pela
revolução de cunho esquerdista.
No poder, levado
pela pressão das massas revolucionárias, o governo do MNR logo destitui o
exército, trocando-o por milícias populares armadas; decretou a reforma
agrária; estabelece o direito de voto para todos os indígenas, que passam a
poder votar pela primeira vez, ganhando juntamente com outros setores dos
explorados a condição de cidadãos; criando a COB, instrumento nacional de luta
do proletariado boliviano, tendo Juan Lechin como o seu líder e dirigente
máximo, o qual integraria a composição do governo revolucionário. Medidas
políticas irrefutavelmente relevantes.
Diferente do que
procedeu em outros casos, os EUA apoiaram o governo do MNR, dando, inclusive,
apoio financeiro, achando que o apoio a Estenssoro e Siles Suazo significava
evitar que o poder caísse em mãos de comunistas ou de outras forças dispostas a
mudanças radicais.
Buscava anular
“o pior”. Indubitavelmente, essa manobra contribuiu para que o MNR fosse
perdendo prestígio junto à massa popular que o apoiava, levando seus
governantes, cada vez mais, para a direita, principalmente no segundo governo
de Paz Estenssoro, derrubado, em 1964, por um golpe militar liderado pelo
general Barrientos.
A política
norte-americana na América Latina iria, a partir da década de 1960, instaurar
ditaduras de direita para evitar o alastramento dos movimentos de esquerda, o
que no Brasil culminou com o gole de 1964.
Para saber mais sobre o assunto.
LÖWY, Michael
(Org.). O marxismo na América Latina: uma
antologia de 1909 aos dias atuais. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.
PECEQUILO,
Cristina Soreanu. A política externa dos
Estados Unidos. Porto Alegre: UFRGS, 2005.
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Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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