quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Um Cão Andaluz: manifestações do "Inconsciente".

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume dez., Série 03/12, 2015.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.

O filme “Um Cão Andaluz” (1929), de Luiz Buñuel e Salvador Dali, um clássico do cinema europeu, expressa uma quebra com o tradicionalismo cinematográfico, demonstrando uma despreocupação total com o enredo e com a história do filme, já que seu objetivo é combater os ideais da burguesia, fomentando o afloramento dos desejos não racionais.
Un Chien Andalou (1929)O filme simboliza as relações entre o movimento surrealista e a psicanálise mais especificamente no que diz respeito ao campo da psicose, em especial a esquizofrenia e seus sintomas, inserindo-se no âmbito do surrealismo e de sua vinculação com o inconsciente.
O surgimento do movimento surrealismo foi resultado de uma mudança de estrutura econômica e social, decorrentes da 1ª Grande Guerra (1914-1918), produzindo uma crise de valores e questionamentos do pensamento tradicional.
O surrealismo tencionou revolucionar a vida através da arte, aceitando e alimentando as manifestações do inconsciente, da loucura, do desregramento dos sentidos, da anulação de fronteiras entre o sonho e a realidade, recurso largamente explorado em “Um Cão Andaluz”.
A própria origem do termo Surrealismo expressa as intenções do filme.
Foi criado em 1917, pelo artista italiano criado Guillaume Apollinaire, refletindo a ideia de algo além do realismo, da consciência cotidiana, e enfatizando o papel do inconsciente na atividade criativa, libertando-o das exigências da lógica e razão, em uma combinação do abstrato e do psicológico.
O principal teórico e líder do movimento foi o poeta e psiquiatra francês André Breton, que, em 1924, publicou o 'Manifesto Surrealista', dando início ao movimento, então fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud.
A base e referência para “Um Cão Andaluz”.
A concepção freudiana ditava que o homem deviria libertar sua mente da lógica imposta pelos padrões de comportamento e moral estabelecidos pela sociedade, dando vazão aos sonhos e às informações do inconsciente.
Os artistas ligados ao surrealismo beberam nesta rica fonte de inspiração, rejeitando os valores burgueses, criando obras repletas de humor, sonhos, utopias e qualquer informação contrária à lógica.
Buñuel e Dali criaram o filme, justamente, com pedaços dos próprios sonhos, optando pela justaposição de imagens, gerando cenas desconexas e sem lógica.
A primeira cena da película, por exemplo, trás um personagem que é próprio Buñuel, cortando com uma navalha o olho de uma jovem, em seguida símbolos desconexos são apresentados, como formigas saindo de dentro da mão, objetos voando, cobras, pianos, etc.
Cenas que retratam com exatidão conceitos surrealistas, simbolizando manifestações do inconsciente, repletas de absurdas e sem nenhuma lógica, como se fossem sonhos ou alucinações.
Neste sentido o filme está dentro das propostas do surrealismo, inserindo-se no conjunto de obras de Salvador Dali, instigando o espectador a libertar as pulsões reprimidas pela sociedade burguesa, sobretudo, através da arte.

Para saber mais sobre o assunto.
“Um Cão Andaluz” (Un Chien Andalou).
Elenco: Simone Mareuil – Pierre Batcheff – Luis Buñuel – Lya Lys – Max Ernst – Germaine Noizet.
Fotografia: Albert Duverger.
Roteiro: Luis Buñuel – Salvador Dali.
Direção: Luis Buñuel.
Ano: 1928.
Áudio: Francês.
Legenda: Português.
Duração: 80 minutos.



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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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