Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 6, Volume dez., Série 03/12, 2015.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
O filme “Um Cão
Andaluz” (1929), de Luiz Buñuel e Salvador Dali, um clássico do cinema europeu,
expressa uma quebra com o tradicionalismo cinematográfico, demonstrando uma
despreocupação total com o enredo e com a história do filme, já que seu
objetivo é combater os ideais da burguesia, fomentando o afloramento dos
desejos não racionais.
O filme
simboliza as relações entre o movimento surrealista e a psicanálise mais
especificamente no que diz respeito ao campo da psicose, em especial a
esquizofrenia e seus sintomas, inserindo-se no âmbito do surrealismo e de sua
vinculação com o inconsciente.
O surgimento do
movimento surrealismo foi resultado de uma mudança de estrutura econômica e
social, decorrentes da 1ª Grande Guerra (1914-1918), produzindo uma crise de
valores e questionamentos do pensamento tradicional.
O surrealismo
tencionou revolucionar a vida através da arte, aceitando e alimentando as manifestações
do inconsciente, da loucura, do desregramento dos sentidos, da anulação de
fronteiras entre o sonho e a realidade, recurso largamente explorado em “Um Cão
Andaluz”.
A própria origem
do termo Surrealismo expressa as intenções do filme.
Foi criado em
1917, pelo artista italiano criado Guillaume Apollinaire, refletindo a ideia de
algo além do realismo, da consciência cotidiana, e enfatizando o papel do
inconsciente na atividade criativa, libertando-o das exigências da lógica e
razão, em uma combinação do abstrato e do psicológico.
O principal
teórico e líder do movimento foi o poeta e psiquiatra francês André Breton,
que, em 1924, publicou o 'Manifesto Surrealista', dando início ao movimento,
então fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud.
A base e referência
para “Um Cão Andaluz”.
A concepção
freudiana ditava que o homem deviria libertar sua mente da lógica imposta pelos
padrões de comportamento e moral estabelecidos pela sociedade, dando vazão aos
sonhos e às informações do inconsciente.
Os artistas ligados
ao surrealismo beberam nesta rica fonte de inspiração, rejeitando os valores
burgueses, criando obras repletas de humor, sonhos, utopias e qualquer
informação contrária à lógica.
Buñuel e Dali
criaram o filme, justamente, com pedaços dos próprios sonhos, optando pela
justaposição de imagens, gerando cenas desconexas e sem lógica.
A primeira cena
da película, por exemplo, trás um personagem que é próprio Buñuel, cortando com
uma navalha o olho de uma jovem, em seguida símbolos desconexos são apresentados,
como formigas saindo de dentro da mão, objetos voando, cobras, pianos, etc.
Cenas que
retratam com exatidão conceitos surrealistas, simbolizando manifestações do
inconsciente, repletas de absurdas e sem nenhuma lógica, como se fossem sonhos
ou alucinações.
Neste sentido o
filme está dentro das propostas do surrealismo, inserindo-se no conjunto de
obras de Salvador Dali, instigando o espectador a libertar as pulsões
reprimidas pela sociedade burguesa, sobretudo, através da arte.
Para saber mais sobre o assunto.
“Um Cão Andaluz”
(Un Chien Andalou).
Elenco: Simone
Mareuil – Pierre Batcheff – Luis Buñuel – Lya Lys – Max Ernst – Germaine
Noizet.
Fotografia:
Albert Duverger.
Roteiro: Luis
Buñuel – Salvador Dali.
Direção: Luis
Buñuel.
Ano: 1928.
Áudio: Francês.
Legenda:
Português.
Duração: 80
minutos.
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Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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