Para entender a história... ISSN 2179-4111.
Ano 6, Volume jul., Série 20/07, 2015.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.
Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.
O filme Agonia e
Êxtase (1965), onde Michelangelo é representado em conflito com o Papa, a
partir de pontos de discordância entre os dois; permite adentrar na questão do
mecenato e do papel da Igreja Católica como patrocinadora da arte no século
XVI.
O que remete ao
papel do artista na sociedade deste período.
O mecenato, a
prática de proteção e financiamento de obras artísticas, foi fundamental para o
desenvolvimento da produção intelectual no século XVI.
O investimento
nas artes e na ciência visava o crescimento do prestígio social do mecenas, contribuindo
para a divulgação de suas atividades e para o crescente respeito de seu nome
perante os pares e a população a contemplar a obra financiada.
Pessoas ligadas
especialmente à burguesia utilizavam este artifício, mas alguns nobres e a
Igreja Católica, principalmente representada pela figura do Papa, estiveram
entre os financiadores da produção intelectual e artística renascentista no
século XVI.
Um método
adotado para garantir fama eterna e tentar apaziguar o conflito entre a devoção
e o comércio.
Mentalidade
individualista que também contribuiu para alicerçar palavras como prestígio,
poder, ciência no meio eclesiástico.
O Papa Sixto IV
(1471-1484), por exemplo, decidiu transformar a monarquia papal em grande
potência italiana, mandou construir a Capela Magna, que acabou levando seu
nome, Sixtina.
Os Papas utilizaram os serviços dos mais proeminentes artistas de sua época.
Julio II
(1464-1471) contratou Bramante para o primeiro projeto da Basílica de São Pedro
e Leão X (1513-1521) protegeu ardentemente as artes.
No entanto, para
além do ego individual que eternizou o mecenato, o financiamento das artes pela
Igreja Católica, considerava também outro fator para transmitir mensagens aos
fiéis.
No contexto renascentista,
a estrutura social era distanciada da instrução e da leitura, as escolas
estavam sob o domínio da Igreja Católica, proliferava o analfabetismo.
As imagens
vistas pelos fieis, por dentro e por fora das igrejas, é que transmitiam e
repetiam as lições da teologia cristã.
A arte assumia
uma função didática, subordinada a uma política clerical, que apresentava uma
perspectiva escatológica e uma esperança de solução em um mundo por vir,
inatingível na vida terrena.
As imagens
serviam de inspiração e convite para a entrada no mundo espiritual perfeito,
representando uma desilusão e desligamento da realidade que cercava a sociedade
estratificada e com baixa mobilidade.
Paradoxalmente,
pelo prisma do artista, a busca de uma precisão fotográfica nas pinturas,
trazia os elementos bíblicos para a realidade do dia-a-dia.
A arte dignificava ainda mais os conceitos humanistas, ao mesmo tempo em que incomodavam os mais radicais simpatizantes da iconoclastia, colocando o homem no centro da discussão.
A pintura se tornou um poderoso elemento de propaganda, simbolizando o que a Igreja Católica poderia oferecer na outra vida, acessível àqueles que seguissem os preceitos católicos.
Contraditoriamente, transformou-se também em elemento de convencimento da reforma protestante, já que poderia ser argumentado que o oferecido na outra vida representava uma perfeição que era deste mundo, só não estava ao alcance de todos.
Esta luta entre
católicos e protestantes acabou alterando as características típicas do
mecenato do século XVI, quando Lutero iniciou a contestação de dogmas da
Igreja.
É por isto que,
nesta época, a arte enaltecedora dos princípios cristãos, dos santos e das
cenas bíblicas passou a ser contestada.
A arte, que
podia ser vista em quase todas as igrejas e espaços públicos, deslocou-se para
o interior das casas dos grandes burgueses e as áreas privadas.
Entretanto, a
Igreja Católica não deixaria de praticar o mecenato, como faz ainda hoje,
apenas começaria a agir com maior discrição.
Para saber mais sobre o assunto.
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1981.
FRANCASTEL, P. Pintura e sociedade. São Paulo: Martins
Fontes. 1990.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura.
São Paulo: Martins Fontes,
1995.
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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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