segunda-feira, 20 de julho de 2015

O mecenato da Igreja Católica no século XVI: reflexões instigadas pelo filme “Agonia e Êxtase”.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 6, Volume jul., Série 20/07, 2015.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.



O filme Agonia e Êxtase (1965), onde Michelangelo é representado em conflito com o Papa, a partir de pontos de discordância entre os dois; permite adentrar na questão do mecenato e do papel da Igreja Católica como patrocinadora da arte no século XVI.
O que remete ao papel do artista na sociedade deste período.
O mecenato, a prática de proteção e financiamento de obras artísticas, foi fundamental para o desenvolvimento da produção intelectual no século XVI.
O investimento nas artes e na ciência visava o crescimento do prestígio social do mecenas, contribuindo para a divulgação de suas atividades e para o crescente respeito de seu nome perante os pares e a população a contemplar a obra financiada.

Agonia e Êxtase (1965) - FILMES RAROS EM DVDPessoas ligadas especialmente à burguesia utilizavam este artifício, mas alguns nobres e a Igreja Católica, principalmente representada pela figura do Papa, estiveram entre os financiadores da produção intelectual e artística renascentista no século XVI.
Um método adotado para garantir fama eterna e tentar apaziguar o conflito entre a devoção e o comércio.
Mentalidade individualista que também contribuiu para alicerçar palavras como prestígio, poder, ciência no meio eclesiástico.
O Papa Sixto IV (1471-1484), por exemplo, decidiu transformar a monarquia papal em grande potência italiana, mandou construir a Capela Magna, que acabou levando seu nome, Sixtina.

Os Papas utilizaram os serviços dos mais proeminentes artistas de sua época.
Julio II (1464-1471) contratou Bramante para o primeiro projeto da Basílica de São Pedro e Leão X (1513-1521) protegeu ardentemente as artes.
No entanto, para além do ego individual que eternizou o mecenato, o financiamento das artes pela Igreja Católica, considerava também outro fator para transmitir mensagens aos fiéis.
No contexto renascentista, a estrutura social era distanciada da instrução e da leitura, as escolas estavam sob o domínio da Igreja Católica, proliferava o analfabetismo.
As imagens vistas pelos fieis, por dentro e por fora das igrejas, é que transmitiam e repetiam as lições da teologia cristã.
A arte assumia uma função didática, subordinada a uma política clerical, que apresentava uma perspectiva escatológica e uma esperança de solução em um mundo por vir, inatingível na vida terrena.
As imagens serviam de inspiração e convite para a entrada no mundo espiritual perfeito, representando uma desilusão e desligamento da realidade que cercava a sociedade estratificada e com baixa mobilidade.
205 Best Charlton Heston images | Charlton, Actors, Charleton hestonParadoxalmente, pelo prisma do artista, a busca de uma precisão fotográfica nas pinturas, trazia os elementos bíblicos para a realidade do dia-a-dia.

A arte dignificava ainda mais os conceitos humanistas, ao mesmo tempo em que incomodavam os mais radicais simpatizantes da iconoclastia, colocando o homem no centro da discussão.

A pintura se tornou um poderoso elemento de propaganda, simbolizando o que a Igreja Católica poderia oferecer na outra vida, acessível àqueles que seguissem os preceitos católicos.

Contraditoriamente, transformou-se também em elemento de convencimento da reforma protestante, já que poderia ser argumentado que o oferecido na outra vida representava uma perfeição que era deste mundo, só não estava ao alcance de todos.
Esta luta entre católicos e protestantes acabou alterando as características típicas do mecenato do século XVI, quando Lutero iniciou a contestação de dogmas da Igreja.
É por isto que, nesta época, a arte enaltecedora dos princípios cristãos, dos santos e das cenas bíblicas passou a ser contestada.
A arte, que podia ser vista em quase todas as igrejas e espaços públicos, deslocou-se para o interior das casas dos grandes burgueses e as áreas privadas.
Entretanto, a Igreja Católica não deixaria de praticar o mecenato, como faz ainda hoje, apenas começaria a agir com maior discrição.
           
Para saber mais sobre o assunto.
FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
FRANCASTEL, P. Pintura e sociedade. São Paulo: Martins Fontes. 1990.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes,
1995.


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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

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