Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 14, Volume jul., Série 04/07, 2023.
A filosofia acadêmica,
que alguns chamam de "oficial", estudada nas escolas e universidades;
nasceu na Grécia e foi desenvolvida, principalmente, na Europa até a entrada da
Idade Contemporânea.
No entanto, contemporaneamente,
alguns alegam que esta é uma forma discriminatória de classificar a filosofia, sob
o argumento que também foi desenvolvida em outros pontos do mundo, sobretudo na
Ásia.
É verdade que, na
antiguidade, o mundo grego em muitos de seus traços o mundo grego se assemelhava
ao Oriente próximo.
Originalmente as duas
regiões possuíam o mesmo tipo de organização social e guardavam semelhanças econômicas,
possuindo laços culturais e uma história em comum.
Sendo assim, realmente seria
correto sustentar que a filosofia Oriental deveria fazer parte do universo acadêmico?
Responder esta questão
implica, antes, em responder outra: por que a filosofia nasceu na Grécia e não
no Oriente?
A cultura grega, em
particular sua religião e mitologia, originária do passado micênico, no século
XII a.C., rompeu com esta origem nitidamente oriental.
Foi o momento em que as
tribos dóricas invadiram a Grécia continental, destruindo a estrutura social
centralizada.
A figura do rei cedeu
lugar ao debate público, que pretendia equilibrar os diversos elementos que
compunham o cosmos.
Enquanto o Oriente
próximo continuou a manter sua estrutura social e política centralizada, com
fortes semelhanças com a cultura micênica.
Um exemplo desta
cultura é o palácio do mundo micênico, cujo papel era ao mesmo tempo religioso,
político, militar, administrativo e econômico; ou seja, era o eixo da vida
social.
Este estilo de vida foi
destruído pela invasão dórica, inaugurando uma divisão entre Oriente e Ocidente,
um rompimento que criaria um profundo abismo cultural.
O mar Mediterrâneo deixou
de ser um caminho de passagem, para tornar-se uma barreira.
Isolados, os
territórios gregos voltaram-se para uma economia puramente agrícola, isolando-se
em meio a características geográficas que já condiziam a descentralização.
Pouco a pouco, a mitologia,
maneira pela qual buscava-se explicar o mundo, foi substituída pela filosofia.
Em linhas gerais e
resumidamente, podemos afirmar que a filosofia nasceu na Grécia e não no
Oriente graças ao isolamento ao qual as populações gregas estavam submetidas.
Após a invasão dos dórios,
a descentralização modificou a estrutura social e estimulou o debate,
transformando a mitologia em filosofia e iniciando a construção do que
conhecemos atualmente como Cultura Greco-Romana.
Enquanto no Oriente, a
estrutura social manteve-se centralizada, ampliando a mitificação como elemento
de controle social, cada vez mais vinculado com aspectos espirituais.
Neste sentido, a
filosofia Oriental está muito distante da Ocidental, uma vez que a primeira
possuí relevância religiosa, a despeito de representar uma sabedoria milenar.
A filosofia Oriental, por
exemplo, representada pelo budismo ou ioga, não possuí racionalidade no sentido
lógico do termo, não se quer tentou e separar na mitologia; ao contrário,
aprofundou seu vínculo com a mitificação.
Apesar de também poder
ser chamada de "filosofia", a filosofia Oriental guarda
características distintas em relação à filosofia ocidental.
Além importância das
religiões para as populações da Ásia, a utilização de línguas com estrutura
totalmente diferente em relação às línguas Ocidentais, gerou uma visão de mundo
Oriental totalmente distinta em relação a Ocidental.
A filosofia Oriental
também não marca nitidamente a oposições que caracterizam a cultura filosófica Ocidental,
como: inteligível x sensível, divino x humano, cultura x natureza, mente x
corpo, espírito x matéria e lógico-racional x estético-intuitivo.
As tendências filosóficas
Orientais são ortodoxas e constituem parte de dogmas de fé ou crenças em
estilos de vida, apoiadas e/ou confirmando mitificações.
A filosofia acadêmica,
conhecida como Ocidental, herdada dos gregos antigos, questiona as mitificações
e tenta racionalizar o entendimento do mundo.
Não apregoa qualquer
estilo de vida a não ser o da dúvida permanente, tampouco sustenta uma religião
qualquer que seja.
Houve sim uma tentativa
de utilizar a filosofia grega como sustentáculo da fé cristã na Idade Média
pela Igreja católica, mas esta intenção não se cumpriu dada sua natureza
questionadora.
Alguns Santos do
catolicismo foram grandes filósofos, como Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino, mas o pensamento destes foi maior do que a heterodoxia religiosa.
Portanto, a filosofia
possuí berço na Grécia antiga e não no Oriente; assim como a verdadeira
filosofia, aquela que nomeamos como acadêmica, é Ocidental.
A despeito de, após o
início da Idade Contemporânea, talvez um pouco antes, passar a ser composta
para além das fronteiras europeias.
PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO.
VERNANT, Jean Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
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Forte abraço.
Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
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