Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 5, Volume dez., Série 20/12, 2014, p.01-10.
Prof. Daniel Rodrigues de
Lima.
Licenciado em História pelo Centro Universitário Leonardo da
Vinci-UNIASSELVI.
Especialista em Ensino de História pela Faculdade de Educação
e Tecnologia da Região Missioneira-FETREMIS.
Mestrando em História na Universidade Federal do Amazonas-PPGH-UFAM.
Membro
da Associação Brasileira de Educação a Distância-ABED.
Pesquisa realizada para disciplina Estágio II,
do curso de graduação em Licenciatura
Plena em História pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci-
UNIASSELVI. Sendo orientado pelo professor especialista Júlio César de Souza
Queiroz. A pesquisa em questão foi
desenvolvida na Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós, em Manaus, no Estado
do Amazonas, no período do primeiro semestre de 2013.
A análise da representação e do discurso sobre o feminino no livro
didático da 9ª série do Ensino Fundamental é o tema de nosso artigo, sua
escolha ocorreu por entendermos que é muito comum ainda hoje, e em muitos
livros didáticos, encontrarmos uma história feita só por homens, onde a
participação das mulheres quando não é de coadjuvante, é de constante
invisibilidade de sua atuação e participação nos processos históricos sociais.
Acreditamos que a discussão é de extrema relevância, pois desta forma
podemos identificar as mulheres como sujeitos históricos em seu processo de
viver cotidianamente, portanto, diante disso, mostraremos que assim como os
homens, estas fazem e produzem a História.
As obras consultadas como fonte de fundamentação teórica acerca da área
de concentração: História das mulheres e relações de gênero são os artigos de
Cristiane Manique Barreto (2009), Rachel Soihet (1997) e Mary Del Priore
(1998), onde as autoras nos informam sobre o conceito de história das mulheres
e relações de gênero, além de desenvolverem balanço historiográfico e também
analisar como estas foram e são representadas pela produção histórica ao longo
dos tempos.
O conceito de Representação que utilizaremos é referente ao aporte
teórico desenvolvido por Roger Chartier (2002) em “A Beira da Falésia”, em que
salienta que o real não é a realidade em si, mas uma representação da mesma.
Para entendermos o que vem a ser um livro didático recorremos à análise
de Circe Bittencourt (2004), onde a autora nos mostra como este produto
educacional foi e continua sendo utilizado no processo de ensino aprendizagem
de diversas gerações, os quais nos ajudam a compreender o que vem a ser um
livro didático.
Acerca da análise do discurso sobre o feminino no livro didático
utilizaremos como base para nossas análises os artigos “Livros didáticos de
História e questões de gênero” (MARQUES; MAGALHÃES, 2012) e “A mulher na
História Contemporânea nos livros didáticos: uma trajetória invisível?” (PORTO,
2011), onde as autoras buscam evidenciar como são forjados os discursos acerca
da participação do feminino na história, em que chegam à conclusão de que os
espaços reservados à mulher são sempre de apêndices do masculino, coadjuvantes
nos eventos históricos ou simplesmente ignoram sua participação enquanto
sujeitos ativos da história.
O artigo segue estruturado da
seguinte forma: 2-Obejtivos, em que traçamos o que se pretende alcançar com a
discussão e problemática que apontamos; 3- Metodologia, nesse item, discutiu
sobre os materiais e métodos, além de técnicas de pesquisa para elaboração dos
resultados do artigo; 4- Resultados e discussões é o momento de expormos nosso
referencial teórico, além dos resultados provenientes de nossa intervenção nas
turmas da escola que fizemos a pesquisa; Conclusão aqui colocou nosso ponto
vista acerca de tudo que foi trabalhado, e também, fazemos um balanço sobre o
alcance de nossos objetivos iniciais e novas possibilidades de se pesquisar
sobre o tema; e por fim temos, Referencias, ou seja, a lista das principais
obras que colaboraram para execução da tessitura de nosso texto.
OBJETIVOS.
Os objetivos que pretendemos
alcançar nestas páginas são os seguintes: como objetivo geral: Analisar a
representação e o discurso sobre o feminino presente no livro didático da 9ª
série do Ensino Fundamental utilizado na Escola Estadual Maria Rodrigues
Tapajós.
Os objetivos específicos são: Conceituar
a História das mulheres e relações de gênero, livro didático, representação e
discurso; Identificar historiograficamente como as mulheres foram representadas
ao longo dos mais variados processos históricos; Compreender os motivos da
invisibilidade das mulheres na História e examinar se os alunos conseguem
visualizar a condição em que é alçado o feminino no livro didático de História.
METODOLOGIA.
A disciplina
Estágio II, possibilitou a atuação na área de formação, ou seja, o ensino da
disciplina História, em que realizamos as atividades in loco, durante todo o primeiro semestre de 2013, na Escola
Estadual Maria Rodrigues Tapajós, instituição mantida pela SEDUC-AM .
A Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós, está localizada na Rua
Goiânia, nº 701, no Bairro da Redenção, na zona centro-oeste da cidade de
Manaus. O ato de criação está contido no Decreto-Lei nº 5.442, de 29 de
dezembro de 1980.
A escola possui ótima estrutura física, onde funciona nos três turnos
(Matutino, Vespertino e Noturno), ofertando no turno diurno os ensinos de nível
Fundamental (7° ao 9°) e Ensino Médio (1º ao 3º), que também é ofertado no
período noturno.
Identificado o aspecto físico da instituição, lançamos mão dos materiais
disponíveis para coleta de nossas informações, dessa forma, o livro da 9ª série
do Ensino Fundamental foi uma de nossas fontes de análise.
O livro didático padrão da 9ª série
do ensino fundamental, na turma 1, da Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós é
a obra “História: sociedade e cidadania”, de Alfredo Boulos Junior, em que se
analisou e desenvolveu a caracterização da representação e do discurso sobre o
feminino, ou seja, procuramos apresentar como o autor trata o feminino, se é
como sujeito ativo no processo histórico, como coadjuvante ou simplesmente
ignorando sua condição de agente histórico.
Além disso, com os alunos desta
turma, 9º ano na turma 1, aplicamos questionário para entendermos se os mesmos
conseguem identificar a visibilidade ou invisibilidade do feminino no livro
didático de história pelo qual orientam seus estudos.
RESULTADOS DA PESQUISA E DISCUSSÃO.
Entendemos que é de extrema relevância conceituar o que é História das
mulheres e a categoria gênero, enquanto análise histórica.
Diante do exposto temos a
conceituação sobre gênero de acordo com Cristiane Manique Barreto:
Quando falo em gênero, estou falando de relações. Não
de mulheres, nem de homens, mas de como historicamente e socialmente foram
construídas as relações entre homens e mulheres. Portanto, a categoria de
análise-gênero-remete a cultura e não ao biológico. (BARRETO, 2009, p.146)
Dessa forma entendemos que a diferenciação sexual é biológica, ou seja,
as questões relativas às formas físicas de diferenciação entre masculino e
feminino não explicam e nem determinam as relações entre os sexos no contexto
histórico.
As análises acerca da categoria de gênero só podem ser entendidas em suas
relações sociais e culturais, ou seja, ser homem ou mulher é uma construção
tanto social e cultural, criando-se uma relação de poder que envolve a
sexualidade como organismo sociocultural com seus ritos, linguagens,
representações e símbolos.
A historiadora Rachel Soihet em “História das Mulheres” salienta que não
devemos trabalhar com a história da mulher, mas com história das mulheres, pois
estas possuem as mais variadas diferenças, de classe, religião, étnica entre
outras, onde se busca entender que: “[...]
as mulheres são alçadas à condição de objeto e sujeito da história” (SOIHET,
1997, p. 399), ou seja, objeto por poderem ser estudadas em suas
especificidades e diferenças, assim como em suas similitudes, e sujeitos por em
seu processo cotidiano de viver em sociedade produzirem a história.
Em “História das Mulheres: As Vozes do Silêncio”, Mary Del Priore nós
faz compreender e entender, a abordagem acerca da História das mulheres e
relações de gênero, onde considera de suma importância a produção de uma
história das mulheres, pois desta forma visualiza-se que mesmo subsumidas da
História oficial, estas estão presentes nos mais variados setores da vida
social e cotidiana, em que suas “vozes do silêncio”, podem ser encontradas em
diversos arquivos e fontes variadas, portanto, segundo a autora:
[...] para que serve a história das mulheres? E a
resposta viria simples: para fazê-las existir, viver e ser. Este é, afinal, uma
das funções potenciais da História. [...] Sua função maior deve ser a de
enfocá-las através da submissão, da negociação, das tensões e contradições que
se estabeleceram, em diferentes épocas, entre elas e seu tempo; entre elas e a
sociedade nas quais estavam inseridas. Trata-se de desvendar as intricadas
relações entre a mulher, a sociedade e o fato, mostrando como o ser social que
ela é articula-se com o fato social que ela mesma fabrica e do qual faz parte
integrante. [...] Mas história da qual não estejam ausentes os pequenos gestos,
as práticas miúdas e repetitivas do cotidiano, as furtivas formas de
consentimento e interiorização das pressões, simbólicas ou concretas, exercidas
contra as mulheres. (PRIORE, 1998, p. 235)
Entendemos que a história das mulheres deve privilegiar não a mulher singular,
mas as diversas mulheres, enfocando seus processos de viver em sua prática
social que produzem as formas de submissão, da negociação, das tensões e
contradições existentes em seu universo social, onde devemos compreender os
pequenos gestos, suas práticas miúdas, intimas no viver cotidiano, e com isso,
fazê-las existir.
LIVRO DIDÁTICO,
REPRESENTAÇÃO E DISCURSO: CONCEITOS.
É a partir, deste destaque maior acerca da inserção e participação do
feminino na história que analisaremos o discurso e representação das mulheres e
das relações de gêneros nos livros didáticos.
O livro didático é em muitos casos o único material didático pedagógico
utilizado por professores e alunos no cotidiano escolar em várias regiões de
nosso país, dessa forma conceituar esta ferramenta educacional é importante.
Corroborando com nossa afirmação Brissola apud Oliveira nos informam:
O livro didático brasileiro, ainda hoje, é uma das principais formas
de documentação e consulta empregadas por professores e alunos. Nessa condição,
ele tem impactos sobre o trabalho pedagógico e sobre o cotidiano da sala de
aula. Ainda, de acordo com o Guia, ‘é fundamental dispor de um livro didático
diversificado e flexível, sensível à variação das formas de organização escolar
e dos projetos pedagógicos, assim como às diferentes expectativas e interesses
sociais e regionais’. (2011, p. 16)
Circe Maria Fernandes Bittencourt com um capítulo em obra que organiza,
“O Saber Histórico na Sala de Aula”, intitulado “Livros didáticos entre textos e
imagens”, nos mostra uma análise histórica deste produto educacional e as
políticas de incentivo a produção e difusão do livro didático no Brasil ao
longo dos anos, além de definir um conceito acerca do que são livros didáticos
e sua função no ensino e aprendizagem, desenvolve uma forma de análise deste
objeto através dos aspectos formais, conteúdos históricos escolares e conteúdos
pedagógicos. Acerca do conceito do livro didático a autora afirma:
Ele é portador de textos que auxiliam, ou podem
auxiliar o domínio da leitura escrita em todos os níveis de escolarização,
serve para ampliar informações, veiculando e divulgando, com uma linguagem mais
acessível, o saber científico. Possibilita, igualmente, a articulação em suas
páginas de outras linguagens além da escrita, que podem fornecer ao estudante
uma maior autonomia frente ao conhecimento. Por seu intermédio, o conteúdo
programático da disciplina torna-se explícito e, dessa forma, tem condições de
auxiliar a aquisição de conceitos básicos do saber acumulado pelos métodos e
pelo rigor cientifico. (2004, p. 73)
Por sistematizar e organizar, os
saberes escolares a partir de sua existência, os livros didáticos dentro da
esfera do saber institucionalizado pela escola são ferramentas pedagógicas
importantes no processo didático pedagógico, porém são também portadores de
discursos muitas vezes estereotipados e preconceituosos em relação a diversos
segmentos étnicos, culturais, sociais e de gênero, que privilegiam a atuação de
determinados sujeitos históricos em detrimento de outros.
O conceito de representação do qual nos
utilizaremos para entender como o feminino é desenvolvido pelo autor Alfredo
Boulos Júnior, no livro didático “História: Sociedade e Cidadania”, da 9ª série
de ensino fundamental são elaboradas a partir das conceituações de Roger Chartier,
contida na celebre obra “A Beira da Falésia”, onde o autor propõe:
[...] à noção de ‘representação coletiva’ autoriza a
articular, [...] três modalidades da relação com o mundo social: primeiro, o
trabalho de classificação e de recorte que produz as configurações intelectuais
múltiplas pelas quais a realidade é contraditoriamente construída pelos
diferentes grupos que compõem uma sociedade; em seguida, as práticas que visam
a fazer reconhecer uma identidade social, a exibir uma maneira própria de estar
no mundo, a significar simbolicamente um estatuto e uma posição; enfim, as
formas institucionalizadas e objetivadas graças às quais ‘representantes’
(instâncias coletivas ou indivíduos singulares) marcam de modo visível e
perpetuando a existência do grupo, da comunidade ou da classe. (2002, p.73)
A partir do exposto, ao analisarmos a representação do feminino no livro
didático, verificaremos como o autor do livro constrói a realidade histórica e,
com isso, analisamos em qual posição este inseri as mulheres no mundo
histórico, e aí identificaremos a visibilidade ou invisibilidade das relações
de gênero na obra em análise.
Com relação à análise do discurso sobre o feminino presente na obra
didática, quem nos fundamenta teoricamente é, Marli dos Santos Porto, onde está
autora faz uma análise do discurso sobre o feminino na história contemporânea,
baseada nas ideias de Michel Foucault, e nos informa o seguinte:
Nem tudo o que se quer demonstrar está explicitamente exposto. Em
muitos casos, o verdadeiro sentido das coisas permanece nas entrelinhas dos
discursos. A correta leitura de determinados fatos pode ser vislumbrada nas
minúcias do discurso que é produzido com a finalidade de legitimar a superioridade
de determinados fatos sobre outros. É o caso de eventos históricos cuja participação
de alguns agentes é destacada, enquanto que outros são suprimidos no tempo e no
espaço ou, ainda, são demonstrados como meros coadjuvantes da história contada.
(2011, p. 91)
A autora continua sua análise do discurso, afirmando:
Por falar em discurso, tradicionalmente este é entendido por sua
natureza carregada de conteúdo e símbolos que são complexos na sua essência.
Esse conteúdo, em sua maioria, é fecundo de juízo de valor, quase sempre
oculto, distorcido, intencional, dissimulado e cheio de representações escondidas
pelo texto. Contudo, analisar o discurso, na perspectiva de Foucault (1986), é
dar conta das relações históricas que estão presentes nos discursos que podem
ser extraídos ‘[...] no nível das existências das palavras’. (PORTO, 2011, p.
93)
Desta forma, o que pretendemos em nossa análise é identificar como o autor do
livro didático “História: sociedade e cidadania” da 9ª série do Ensino
Fundamental, Alfredo Boulos Júnior explicita a participação feminina em seu
texto historiográfico contido na obra em questão, se como agentes
participativos ou como meras coadjuvantes na vivência dos processos históricos.
Ao longo dos processos históricos
representados por aqueles que produziram a História, os historiadores homens,
das diferentes épocas, relegaram a condição do feminino sempre o segundo plano.
Onde de acordo com Mary Del Priore:
Numa obra clássica, O segundo sexo,
publicada em 1949, Simone de Beauvoir fez uma observação fundamental: as
mulheres não tinham história, não podendo, consequentemente, orgulharem-se de
si próprias. Ela dizia, ainda, que uma mulher não nascia mulher, mas tornava-se
mulher. [...] Beauvoir sabia que o território do historiador manteve-se, durante
muito tempo, exclusividade de um só sexo. Paisagem marcada por espaços onde os
homens exerciam seu poder e seus conflitos, empurrando para fora destes limites
os lugares femininos. [...] Sobre este solo da história, as mulheres, de forma
precária, tornaram-se herdeiras de um presente sem passado, de um passado
decomposto, disperso, confuso. (1998, p.
217)
O século XX, porém é o lugar onde os
estudos sobre as mulheres se tornarão comuns, principalmente com March Bloch e
Lucien Febvre, na criação da Escola dos Annales, deslocando o foco do político
para o social, cultural, econômico e cotidiano, alargando as abordagens
históricas e ampliando a concepção de fontes.
Mas deve-se salientar muito mais
a atuação dos movimentos feministas a partir da década de 1960, que
proporcionaram conquistas expressivas no cotidiano feminino, onde diante disso,
viu-se necessário a construção de uma História à qual inserisse as mulheres,
não como vitimas ou heroínas da História, mas:
[...] buscando-se visualizar toda a complexidade de sua atuação.
Assim, torna-se fundamental uma ampliação das concepções habituais de poder —
para o que cabe lembrar a importância das contribuições de Michel Foucault.
Hoje é praticamente consensual a recomendação de uma revisão dos recursos
metodológicos e a ampliação dos campos de investigação histórica, através do tratamento
das esferas em que há maior evidência da participação feminina, abarcando as
diversas dimensões da sua experiência histórica. Tais recomendações convergem
para a necessidade de se focalizar as relações entre os sexos e a categoria de
gênero. (SOHIET, 1997, p. 404)
A História que foi produzida da Antiguidade até
as duas primeiras décadas do século vinte, foi movida pelos grandes feitos dos
heróis masculinos, onde a mulher é sempre ligada ao irracionalismo, mantida no
isolamento do lar, sem direitos de cidadania e com muitos deveres na sociedade,
sendo mantida sempre na invisibilidade e em silêncio.
Contudo, a partir do
advento da História dos Annales as mulheres são alçadas a condição de sujeitos
e objetos da história, onde com isso, são visualizadas e ouvidas, saindo da
invisibilidade de que por muito tempo ficaram submetidas.
A ANÁLISE
DO LIVRO DIDÁTICO “HISTÓRIA: SOCIEDADE E CIDADANIA”, DA 9ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL.
O autor da obra didática que nós propomos
analisar, Alfredo Boulos Júnior é Mestre em História Social pela Universidade
de São Paulo (USP) e Doutor em Educação pela PUC- São Paulo. É autor da coleção
“História: Sociedade e Cidadania”, além de outras coleções didáticas como:
“Construindo Nossa Memória” e “O Sabor da História”.
A coleção “História: Sociedade e
Cidadania” são promovidas e organizadas, a partir, do Plano Nacional do Livro
Didático (PNLD) do Ministério da Educação (MEC) para o triênio 2011-2013.
O livro da 9ª série do Ensino Fundamental
“História: Sociedade e Cidadania”, utilizado na Escola Estadual Maria Rodrigues
Tapajós, é uma obra que possui 320 páginas, dividida em seis unidades e
dezenove capítulos, contendo ainda: Bibliografias, mapas de apoio e glossário.
O livro didático em análise foi
desenvolvido de acordo com Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), através do
eixo temático que orienta o ensino e aprendizagem da 9ª
série, “Nações, povos, lutas, guerras e revoluções”, onde os conteúdos
são apresentados de acordo com a concepção da História Integrada, ou seja,
História Geral, do Brasil e América em único volume.
Os conteúdos e temas contemplados em seus
capítulos são: Industrialização e Imperialismo; A Primeira Guerra Mundial;
Revolução Russa; Inicio da República no Brasil: Republica Velha: Dominação e
Resistência; Capitalismo e totalitarismo; A grande Depressão; O Fascismo e o
Nazismo; A Segunda Guerra Mundial; O Primeiro Governo Vargas; A Guerra Fria;
Independências: África e Ásia; O Socialismo Real: China, Vietnã e América
Latina; Guerra e Paz no Oriente Médio; Dutra e Getúlio; Redemocratização
Limitada; De Juscelino a Jango: crescimento econômico e populismo; Regime
Militar de Castelo Branco a Médici; A distensão do Regime Militar; Geisel a
Sarney; O Fim da URSS e a democratização do leste Europeu; a Nova Ordem
Internacional e o Brasil Contemporâneo e de Collor a Lula.
A obra prossegue com
bibliografia, mapas de apoio e glossário.
A
REPRESENTAÇÃO E O DISCURSO SOBRE O FEMININO PRESENTE NA OBRA: “HISTÓRIA:
SOCIEDADE E CIDADANIA”.
A obra “História: Sociedade e
Cidadania” de Alfredo Boulos Júnior da 9ª série do ensino fundamental, que é
utilizada na Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós é bastante ilustrada, onde
as imagens presentes na obra privilegiam vários grupos e segmentos que compõem
a sociedade: negros, índios, trabalhadores, mulheres e crianças.
Buscando
salientar com a inserção destas imagens, que a história é uma construção de
todos os agentes e sujeitos presentes na sociedade.
Nesta obra existem 384 imagens, entre fotos,
charges, pinturas e gravuras, onde destas 103 possuem a imagem do feminino
representada.
Observamos que a imagem do feminino
é bastante explorada na obra, as mulheres são mostradas e visualizadas em
vários momentos como no período das Guerras (1ª e 2ª), Movimentos Feministas,
Condição feminina no Oriente Médio e entre outras situações.
Contudo as
legendas não são tão informativas no sentido de orientar aos alunos sobre a
condição de sujeito e agente ativo no processo histórico que as mulheres
possuem, cabendo ao professor tal tarefa.
O
autor deixa questionamentos da participação das mulheres na construção da
história, onde na apresentação da unidade 1intitulada “A Era dos Impérios”, evidencia
a participação da mulher no mercado de trabalho, porém mostra que esta
participação se deu mais devido a ida dos homens a Guerra do que pela sua real
capacidade de desempenhar as funções determinadas.
Outra questão importantíssima é
relativa à mulher na Revolução Russa, onde sabemos que a greve das tecelãs teve
influência fundamental para o desenvolvimento e eclosão da revolução, porém não
há nenhuma uma imagem evidenciando tal participação, apenas um questionamento
deixado pelo autor para os alunos: “As
mulheres tiveram importante papel na Revolução Russa; por que será que os
livros geralmente não narram isso?” (BOULOS JÚNIOR, 2009, p. 45).
Diante
disso, fica uma autocrítica, pois ele questiona o porquê dos livros didáticos
não evidenciarem a participação das mulheres, mas o próprio autor e sua obra
não evidenciam esta participação.
Acerca do
discurso construído pelo autor da participação do feminino na história, o que
podemos observar é que seu texto base privilegia datas, fatos e heróis
masculinos em geral, onde deixa pouco espaço para falar da participação do
feminino como agente e sujeito histórico.
A observação da representação das
mulheres através de imagens e suas participações mostram-se constantes no
processo histórico, porém o autor Boulos Júnior continua tratando de acordo com
seu discurso as mulheres como apêndices, coadjuvantes ou mesmo ignorando a
participação destas como agentes históricos.
O que constatamos é o seguinte:
apesar do livro didático em análise possuir imagens em profusão de mulheres
representadas em várias ações histórico sociais, o discurso elaborado por seu
autor, causa um paradoxo em não conter em seu texto base uma maior evidencia
das mulheres na construção de sua cidadania e de seu viver em sociedade, ou
seja, não amplia através de seus escritos a discussão acerca da real
participação do feminino no processo histórico, deixando sérias lacunas em seu
texto e imagens.
O FEMININO NA SALA DE AULA:
ALGUMAS QUESTÕES PARA DISCUSSÃO.
O estagio II, foi desenvolvido na
Escola Estadual Maria Rodrigues Tapajós, na turma 1 da 9ª série de Ensino
Fundamental, onde fizemos nossas observações e praticamos a ação pedagógica
através das Regências de aulas.
Ao chegarmos à escola
conversamos com a diretora Tânia Maria Castelo Branco, que nos autorizou a
execução das atividades de estágio, supervisionadas pela professora
licenciada em história Janaina Barreto dos Santos
A partir, de então, fomos à série do
9º ano turma 1, onde está possui 52 alunos em uma sala com capacidade para 45
alunos, sendo a faixa etária de 12 a 14 anos de idade dos discentes.
Então, diante disso, conversamos com
a professora sobre a regência, onde esta nós deixou a vontade para desenvolver
as atividades.
Elaboramos cinco planos de aula para execução
de nossas regências, onde encontramos uma turma um pouco dispersa, existindo
falta de atenção antes das aulas terem início, contudo estas ocorreram de
maneira satisfatória.
Trabalhamos os seguintes assuntos com
alunos nestas cinco aulas: Imperialismo, Primeira Guerra Mundial e Revolução
Russa de 1917, onde nos auxiliamos do livro didático e do suporte didático
contido na sala de informática, através dos slides que produzimos para melhor
desenvolvimento das aulas, em que utilizamos mapas, textos e vídeos para melhor
ilustrar nossas atividades.
Em todas as atividades desenvolvidas
procuramos articular nossa área de concentração História das Mulheres e
Relações de Gênero aos assuntos trabalhados em nossas regências, onde buscamos
sempre evidenciar a participação feminina no processo histórico como agentes
ativas em sua construção.
Elaboramos questionário com cinco
perguntas referentes ao livro didático e sua utilização pelo professor, onde
conseguimos coletar informações de 35 dos 52 alunos.
As
questões que desenvolvemos foram: 1) o professor trabalha em suas aulas
auxiliado pelo livro didático; 2) como você considerada a qualidade do livro
didático que recebeu para auxiliar e direcionar seus estudos; 3) a História
presente nos livros didáticos coloca em evidencia a participação feminina nos
acontecimentos ou processos Históricos; 4) mesmo sem a presença constante no
livro didático o professor consegue demonstrar a participação do feminino na
construção dos acontecimentos ou processos históricos; e 5) O livro didático
utilizada em sala de aula possui muitas ilustrações e imagens, porém nestas as
mulheres são representadas e tem sua presença constante?
O que podemos identificar e
compreender a partir dos dados colhidos e obtidos com as repostas dos alunos
foi: respondendo ao primeiro questionamento na totalidade, ou seja, os 35
alunos responderam que o professor utiliza o livro didático para auxiliar suas
aulas.
Na resposta sobre a questão três os
alunos em sua maioria escreveram que o livro didático evidencia a participação
do feminino no processo histórico totalizando 24 respostas sim, e 11 não, ou
seja, onde informam não conseguir visualizar as mulheres.
Na quarta questão sobre se o
professor conseguiu demonstrar a participação do feminino nos processos
históricos conseguimos atingir os seguintes números: 30 respostas sim, e 5
respostas não, evidenciando que nossos objetivos que eram relacionar as
atividades desenvolvidas no estágio à nossa área de concentração foram
alcançados, onde conseguimos inserir as mulheres como agentes e sujeitos ativos
da história em seu processo cotidiano de viver em sociedade.
Na quinta questão, acerca de
ilustrações contidas no livro didático do feminino possuir presença constante
temos: 24 alunos identificaram como uma presença constante das mulheres nas
imagens contidas no livro didático, e 14 consideram que elas não aparecem, e um
estudante respondeu que apenas às vezes as mulheres são representadas.
Esta questão se referia acerca da qualidade do
livro didático “História: Sociedade e Cidadania” de Alfredo Boulos Júnior, e
dos trinta e cinco alunos que responderam o questionário a grande maioria, 31,
consideram o livro entre excelente-ótimo-bom, e apenas 4 consideram regular,
sendo que ruim e péssimo não tiveram nenhuma resposta.
Portanto,
em nossas observações e até mesmo em nossa atuação identificamos a falta do
feminino em livros didático, e às vezes quando se fazem presente são com
figuras ou imagens com certo estereótipo, em que cabe ao professor muitas das
vezes buscar salientar e explicar certos conhecimentos que estão estabelecidos
em algumas obras didáticas, e com isso, inserir o feminino como agente
construtor da história.
CONCLUINDO.
O estágio foi de extrema importância
em minha formação devido, a partir deste poder ter contato com o cotidiano
escolar, e com isso, entender como é o trabalho de planejamento e execução das
aulas, onde de acordo com a turma, a série e faixa etária dos alunos podemos
lançar mão de estratégias e táticas de ensino e aprendizagem para uma melhor
realização de nossa ação pedagógica.
Acreditamos ter alcançado todos os
objetivos, pois conceituamos História das mulheres e relações de gênero e livro
didático, além de identificarmos como o feminino é representado através do
discurso contido no livro didático.
Verificamos ainda que os alunos
estão atentos a estas visibilidades ou invisibilidades que os livros didáticos
por muitas vezes evidenciam, e diante disso, cabe ao professor cotidianamente
em sua prática e ação pedagógica, demonstrar que a História enquanto ciência do
homem no tempo deve privilegiar a participação de todos os segmentos sociais,
onde as mulheres são agentes ativos nesse processo.
Por fim, dar visibilidade a ação de
sujeitos que por muito tempo foram relegados à margem dos acontecimentos
históricos, como as mulheres é possibilitar a construção de uma sociedade menos
desigual, minimizar os preconceitos e abusos, e com isso, gerar condições de
cidadania e igualdade de direitos no viver em sociedade entre homens/mulheres,
ricos/pobres, brancos/negros e índios, e, por conseguinte, possibilitar uma
sociedade melhor, onde a escola tem função e caráter fundamental para
disseminar tais atitudes de convivência entre seus pares sociais.
PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO.
BARRETO, Cristiane Manique.
História e Relações de gênero. In: MORGA, Antônio Emilio; BARRETO, Cristiane
Manique (orgs.). Gênero, sociabilidade e
afetividade. Itajaí: Casa Aberta Editora, 2009.
BITENCOURT, Circe Maria
Fernandes. O Saber Histórico na Sala de
Aula. 9ª ed. São Paulo: Contexto, 2004.
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História: Sociedade e Cidadania. 9º
Ano. São Paulo: FTD, 2009.
CASTRO, Hebe. Historia Social. In: CARDOSO,
Ciro Flamarion Santana, VAINFAS, Ronaldo (orgs). Domínios da Historia: Ensaios de teoria e metodologia. Rio
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CHARTIER, Roger. À Beira da
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Universidade/ UFRGS, 2002.
DEL PRIORE, Mary. História das
Mulheres: as vozes do silêncio. In: FREITAS, Marcos Cezar de (org.). Historiografia Brasileira em Perspectiva.
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http://www.ufmt.br/ndihr/revista/.
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História. Indaial: Ed. Grupo UNIASSELVI. V.01, n.01, Jul./Dez. 2011.
SOIHET,
Rachel. História das Mulheres. In: CARDOSO, Ciro Flamarion, VAINFAS, Ronaldo
(Orgs). Domínios da História:
Ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro. Elsevier, 1997.
RESUMO:
Os livros didáticos de História por muito tempo relegaram
as mulheres a condição de apêndice do masculino, ou simplesmente não as
consideraram como sujeitas ativas da história. Diante deste fato propomos a
análise da representação e do discurso sobre o feminino presente no livro
didático da 9ª série do ensino fundamental utilizado na Escola Estadual Maria
Rodrigues Tapajós. O nosso objetivo geral é analisar a representação e o discurso sobre o feminino. Em nossa
metodologia analisamos o livro didático de Alfredo Boulos Júnior “História:
Sociedade e Cidadania” e produzimos questionário para os alunos responderem
como forma de coleta de informações acerca da qualidade do livro didático, o
professor como agente mediador de discussões sobre à inserção do feminino na
história, a representação do feminino através de imagens e entre outras. Por fim, acreditamos que inserir grupos menos
privilegiados na História é uma forma de diminuir os preconceitos e
desigualdades existentes em nossa sociedade.
Palavras-chave: História das Mulheres,
Relações de Gênero, Representação, Discurso, Livro Didático.