Publicação brasileira técnico-científica on-line independente, no ar desde sexta-feira 13 de Agosto de 2010.
Não possui fins lucrativos, seu objetivo é disseminar o conhecimento com qualidade acadêmica e rigor científico, mas linguagem acessível.


Periodicidade: Semestral (edições em julho e dezembro) a partir do inicio do ano de 2013.
Mensal entre 13 de agosto de 2010 e 31 de dezembro de 2012.

domingo, 31 de julho de 2016

Editorial Volume 2016-1.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume jul., Série 31/07, 2016.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.


Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.



Este editorial foi escrito em 02 de julho de 2020 e publicado em data retroativa.

Depois de um período de seis anos inativa, a Revista está sendo atualizada no ano de 2020, com datas retroativas, daí a datação deste editorial em 31 de julho de 2016, embora escrito em 02 de julho de 2020.
Como ressaltamos anteriormente, serviu de estímulo para resgatar a periodicidade o imenso número de acessos, mesmo com a publicação inativa.
Ao longo destes anos inativos, não faltaram colaboradores e leitores da revista que ofereceram ajuda para coloca-la em dia; mas faltava animo.
Agradecemos a todos que tentaram estimular a retomada da Revista, agora os esforços são recompensados e em breve estaremos com a periodicidade em dia.
A partir desta edição algumas alterações na diagramação foram realizadas, como o rol dos ex-membros do conselho editorial, antes localizado na coluna à direita a baixo dos membros atuais, que desceu para o rodapé da página, na coluna da direita, depois do índice de volumes publicados.
A razão para isto foi a necessidade de reservar espaço para propaganda de patrocinadores, os quais estamos tentando obter.
Caso algum leitor se interesse em patrocinar a Revista, pode entrar em contato através do novo e-mail de contato: submissaoparaentenderahistoria@gmail.com
O antigo e-mail foi descontinuado pelo provedor e, infelizmente, todos os textos submetidos à publicação através dele, os quais aguardavam oportunidade de publicação, forma perdidos.
Aqueles que haviam enviado textos para possível publicação, que aguardavam retorno, caso ainda tenham interesse em publicar, podem enviar o material novamente pelo novo e-mail.
Pedimos desculpas pelo inconveniente, mas não foi possível recuperar o material.
A exemplo do inicio da Revista, cujo nascimento despretensioso em 13 de agosto de 2010 jamais imaginaria a repercussão que alcançaria, para atualizar a periodicidade e preencher as edições atrasadas, foram utilizados textos do editor represados nestes últimos seis anos.
Para preencher as edições descontinuadas entre 2015 e 2020, no entanto, estamos abertos a colaborações.
Ressaltamos que, interessados em publicar artigos retroativos a 2020, podem enviar propostas de colaboração através do e-mail: submissaoparaentenderahistoria@gmail.com


Nesta edição, apresentamos 7 textos:

1. WhatsApp versus Justiça no Brasil . Autor: Rodrigo Cardoso Silva.

2. O poder revolucionário da cultura popular. Autor:  Fábio Pestana Ramos.

3. A trajetória de fortalecimento e expansão da Cristandade Ocidental durante as cruzadas. Autor: Fábio Pestana Ramos.

4. O humanismo medieval e as mudanças que conduziram a modernidade. Autor: Fábio Pestana Ramos.

5. A etiqueta no Antigo Regime. Autor: Fábio Pestana Ramos.

6. A Revolução Industrial e suas implicações. Autor: Fábio Pestana Ramos.

7. A Educação a Distância no Brasil. Autor: Fábio Pestana Ramos.


Agradecemos a todos que, ao longo destes últimos anos, tornaram Para entender a história uma referência.

Boa leitura.



quarta-feira, 27 de julho de 2016

A Educação a Distância no Brasil.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume jul., Série 27/07, 2016.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.

Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.



A tecnologia e a educação sempre caminharam juntas, mas, com os avanços técnicos, passou a existir uma falsa imagem que não corresponde a real demanda.
O tecnicismo da década de 1970, no Brasil, criou uma tendência que passou a tentar substituir professores por vídeos e computadores.
No entanto, a efervescência dos cursos de ensino à distância (EAD), a partir do inicio do século XXI, tem demonstrado que docentes não são dispensáveis.
Pelo contrário, com a popularização de internet e da banda larga, quanto mais cresce o EAD, maior se torna a necessidade de profissionais capacitados para lidar com as novas tecnologias que, dia-a-dia, evoluem com extrema rapidez.
O EAD exige do aluno maior esforço e dedicação que os cursos presenciais, porém, carece de suporte de educadores para que a tecnologia possa ser usada em beneficio da construção do conhecimento.
Os cursos EAD têm facilitado o acesso ao ensino superior, estendendo-se pelo Brasil e possibilitando alcançar regiões onde antes seria impossível cursar uma universidade.
É por isto que, segundo especialistas, a tendência EAD deve dominar o panorama do mercado educacional, praticamente extinguindo o ensino presencial. Entre 2005 e 2008 os cursos EAD tiveram um crescimento de 600% no numero de alunos, enquanto os cursos presenciais encolheram por conta de uma concorrência predatória entre universidades privadas.
Seguindo a tendência, escolas tradicionais, como USP e UNESP, começaram a investir em cursos EAD, adotada por universidades de ponta, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), Berkeley e Yale.
A ideia do EAD é democratizar o acesso ao saber, mas se inserir neste meio exige do educando autodisciplina e domínio dos instrumentos necessários ao bom andamento do curso.
Pensada na educação, a tecnologia é o que torna possível a transmissão e aperfeiçoamento do conhecimento. Configura o processo educacional em sentido amplo, inclusive no âmbito que extrapola a educação formalizada nas escolas.
Portanto, a relação entre educação e tecnologia não poderia ser mais estreita.
As tecnologias são a síntese produzida pelas relações sociais, sistematizadas em um momento histórico, de acordo com as necessidades humanas para subjugar a natureza.
A humanização só aconteceu a partir do processo educacional, a apropriação de saberes através de diferentes linguagens, formas simbólicas de mediação materializadas nas interações socioculturais.
Neste sentido, a tecnologia pode ser entendida como uma das linguagens que o homem utiliza na construção social para transformar as relações socioeconômicas e culturais, além do próprio acumulo e transmissão do conhecimento, denotando as características típicas de uma civilização.
Segundo Marx, “a tecnologia revela o modo de proceder do homem com a natureza, o processo imediato de produção da sua vida material e assim elucida as condições de sua vida social e as concepções mentais que dela decorrem”.
Contemporaneamente, a globalização criou um determinismo tecnológico que subordinou às produções histórico-sociais a informação rápida e condensada, cunhando a concepção de sociedade da informação.
Os discursos que acompanham a sociedade da informação elegeram como lei o princípio da tabula rasa.
Não há nada mais que seja absoluto, tudo muda rapidamente, por isto não existem respostas únicas.
Ao mesmo tempo, a informação foi coisificada, tornando-se um produto.
Na educação, a transmissão do conhecimento também se tornou uma mercadoria, o aluno se converteu em cliente e o professor em prestador de serviço.
O professor foi transformado em um facilitador, animador, tutor, monitor, etc.
A primeira vista, o professor tornou-se um item dispensável, facilmente substituído pelos recursos tecnológicos.
No entanto, a tecnologia carece de pessoas para gerenciar as informações, de forma que o professor passou a ser parte indispensável do uso da tecnologia em favor da educação.
Em outras palavras, simultaneamente, a tecnologia serve a reprodução do sistema capitalista, podendo assumir um papel integrador interdisciplinar, ajudando a contornar o fordismo educacional, reelaborando o contexto cultural para transformar o mundo.
É óbvio que tanto professor como aluno necessitam conhecer as linguagens tecnológicas e tomarem consciência do contexto em que estão envolvidas, estabelecendo criticas e até mesmo questionando esta realidade.
É necessário desconstruir ilusões forjadas por interesses políticos e econômicos.
Devemos ter em mente que a tecnologia pode mediar a aprendizagem, mas o processo educacional necessita da interação entre as pessoas.
Em resumo, a tecnologia na educação, seja ela de qualquer natureza, deve estar a serviço do professor e do educando, sendo o docente um mediador.
Caso contrário, corremos o risco de desvincular esta importante ferramenta de seu propósito primeiro: servir ao progresso da humanidade.

Para saber mais sobre o assunto.
BARRETO, R. G. “As tecnologias na formação de professores” In: Educação e pesquisa, nº. 30. Jul/dez de 2003, p.271-286.
FREIRE, F. M. P. et. alli. “Implantação da informática no espaço escolar: questões emergentes ao longo do processo” In: Revista Brasileira de Informática na Educação. São Paulo: jul de 2004.
MANASSÉS, B.et. alli. Tecnologia da educação. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1980.
MORAN, J. M. “Os novos espaços de atuação do professor com as tecnologias” In: RUMANOWSKI et. alli. (org.). Conhecimento local e conhecimento universal. Curitiba: Champagnant, 2004, p.245-254.



quinta-feira, 21 de julho de 2016

A Revolução Industrial e suas implicações.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume jul., Série 07/07, 2016.



Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.

Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.



A Revolução Industrial do século XVII representou a aceleração do desenvolvimento tecnológico e a consolidação do sistema capitalista, baseado nos mercados e na concorrência, onde diferentes capitais individuais foram obrigados a aceitar níveis de preços e salários, determinados segundo um modo de auto-regulação pelo próprio mercado.
O que tornou possível a existência do Estado Liberal, não intervencionista, ocupado exclusivamente com as suas funções clássicas de manutenção da ordem e das condições gerais externas necessárias ao processo de acumulação do capital, teoricamente sem interferir diretamente sobre o desenvolvimento capitalista.
O Estado passou a garantir, por outro lado a sua legitimidade a partir da existência de uma esfera pública, na medida em que o acesso à mobilidade social passou a ser pontuado por critérios de propriedade e educação.
Uma característica que é fruto também da Revolução Francesa, com seu ideal de igualdade, liberdade e fraternidade.
Tendo a educação como parâmetro equalizador das oportunidades.
Dentro deste contexto, no século XVIII, as maravilhas da ciência foram exibidas ora como provas da existência de Deus, ora como meio para difundir os conhecimentos necessários ao progresso e à afirmação da razão.
A ciência se tornou uma fonte de interesse e de diversão para a aristocracia e, com o Iluminismo, foi elevada à categoria de importante instrumento político.
No século XIX, a ciência iria ainda adquiriu um caráter econômico e político mais explícito, tornando-se símbolo e instrumento para o progresso e para a liberação social.
Por outro prisma, a Revolução Industrial alterou a relação do homem com o trabalho, inaugurando o proletariado industrial baseado no trabalho assalariado, a força produtiva que Marx chamaria de “mais valia”, vendida pelo trabalhador e com a qual passaria a se sustentar e almejar, posteriormente, adquirir certa mobilidade social.
Neste sentido, acontece a urbanização da sociedade, com a superlotação das cidades e, com o barateamento gradual dos bens industrializados, disponibilizando produtos que iriam alimentar o consumismo.
Os avanços tecnológicos trouxeram a Revolução Industrial e a topografia das cidades começou a mudar.
Desenvolvem-se grandes centros urbanos, fomentando o êxodo rural, fazendo nascer um perfil urbano de homem, já que, até então, a maioria da população concentrava-se no campo.

Para saber mais sobre o assunto.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História da Civilização: Curso moderno. São Paulo: Nacional, 1993.
HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: O breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.



sexta-feira, 15 de julho de 2016

A etiqueta no Antigo Regime.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume jul., Série 15/07, 2016.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.


Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.



O rei Luis XIV, mais conhecido como o rei Sol simboliza a personificação do monarca absolutista. Incorporou a ideia de soberano, iluminado, sagrado, divino entre outros adjetivos inerentes ao Antigo Regime.
Porém, não foi o único, seus antecessores e seus contemporâneos também compartilhavam ideias semelhantes como forma de se manterem distantes daqueles que os cercava e dos quais temiam se aproximar: as camadas populares.
É neste contexto que a etiquete emergiu como diferencial que os homens da nobreza, do século XVII, utilizavam simbolizando seu direito a pertencerem a uma categoria repleta de regalias, demonstrando sua superioridade frente ao povo.
A nobreza do Antigo Regime vivia em um mundo a parte, teoricamente mais civilizado, cheio de regras de etiqueta que se tornam fundamentais para distanciar os grupos sociais entre aqueles que nasceram para viver no luxo e cheio de pompa, e aqueles que nasceram para serem grosseiros, rudes e sem modos civilizados.
Os civilizados, portanto, eram aqueles que sabiam sentar à mesa, comer, andar, vestir, falar, gesticular e também se divertir.
Como ressalta Renato Janine Ribeiro, é interessante lembrar a origem de algumas palavras que simbolizam o peso da etiqueta e dos bons modos ou boas maneiras, tal como o rústico (a palavra vem do latim “rus”, campo), cortesia (a palavra vem de “corte”), urbanidade (vem de “urbs”, grande cidade) ou civilidade (vem de “cives”, cidadão ou morador da cidade).
A etiqueta teve, então, em sociedades altamente hierarquizadas, dois sentidos.
O primeiro era o do respeito ao outro. Mas este sentido indica uma certa igualdade entre aqueles pertencentes a uma mesma categoria social. E o segundo aponta para a desigualdade entre estamentos diferentes, conferindo status igualmente diferenciado. Por isso, a etiqueta não é uma coisa simples. Não é só igualdade, não é só desigualdade.
Portanto, a primeira ideia é de respeito ao outro enquanto igual ou igualmente civilizado. Os bons modos mostram respeito e estima pelo dito igual: meter a mão na travessa de comida é, por exemplo, um desrespeito por si mesmo e seus iguais. Então, a saída é tomar certos cuidados que provam consideração e respeito.
A segunda ideia é a da hierarquia entre as pessoas. Os bons modos podem ser também um meio de reforçar a desigualdade social. Tratar de maneira diferente o superior e o inferior.
Segundo consta, a rainha Maria Antonieta, da França, era excelente nisso, conseguia, encontrando um grupo de pessoas, saudar cada uma de um jeito diferente.
Tocava com o dedo o chapéu para cumprimentar a menos importante, virava-se para a segunda e retirava levemente o chapéu da cabeça, diante da terceira tirava-o um pouco mais e inclinava o corpo discretamente para frente para mostrar maior respeito pela quarta pessoa.
Assim, a etiqueta no Antigo Regime simbolizava as aparências, era proibido, por exemplo, o plebeu usar certas roupas, que fariam os outros pensarem que ele fosse nobre, porque havia a questão da demonstração do poder envolvida.
Trata-se de uma teatralização de comportamentos, demonstrando e justificando o poder.
É curioso notar que ainda hoje, nos preocupamos com a etiqueta quando estamos em determinados meios sociais, pois tememos "gafes" diante de amigos, conhecidos para não parecermos "mal-educados".
A má educação ainda é sinônimo de não comer direito com os talhares, sentar de pernas abertas para homens e mulheres, cuspir no chão entre outros tipos de comportamentos. Seriam reminiscências nas mentalidades?

Para saber mais sobre o assunto.
BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
RIBEIRO, Renato J. A Etiqueta no Antigo Regime. São Paulo: Brasiliense, 1983.



quinta-feira, 14 de julho de 2016

O humanismo medieval e as mudanças que conduziram a modernidade.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume jul., Série 07/07, 2016.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.


Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.



No século XII, humanismo, colocando o homem e a timidamente a racionalidade como centro do conhecimento, relativizou e reconstruiu as verdades eclesiásticas que até então vigoravam, mudando as mentalidades e contribuindo ativamente para fomentar alterações que conduziriam a modernidade.
Neste contexto, surgiram novas tendências intelectuais, cada uma, a seu modo, demolidora de pressupostos voltados para a santidade, substituídos pelo prazer.
O entusiasmo pela religião cedeu lugar às questões pessoais, a Cruz não perdeu o seu significado, mas acabou adquirindo uma simbologia ideológica.
O humanismo pretendia regatar o esplendor da antiguidade, tido como perdido, daí o anacrônico termo renascimento, atribuído pelos historiadores muito tempo depois da sua contemporaneidade.
Entretanto, ao tentar fazer releituras, acabou construindo características próprias.
Inicialmente os eruditos transferiram os métodos de interpretação da Bíblia para os textos greco-latinos, mantendo a mesma posição servil diante da palavra escrita.
Porém, percebem a insistência com que os gregos representavam deuses sob formas humanas, o valor que conferiam aos acontecimentos da vida eterna e a atitude racionalista com a qual tratavam esses episódios.
Assim, os intelectuais humanistas encontraram os padrões nos quais puderam projetar seus próprios ideais de racionalidade, forjando novas mentalidades e modos de entender o mundo.
É com esse espírito que os artistas procuravam retratar os temas da antiguidade na literatura, escultura, a pintura e arquitetura.
Ao fazê-lo procederam a uma verdadeira revolução, falando mais dos anseios da sua própria época do que resgatando propriamente os conceitos dos antigos.
As obras humanistas contribuíram para fomentar as línguas nacionais e o sentimento de nacionalidade, centralizado na figura do rei, instigando a formação dos Estados Nacionais Absolutistas e a redução da prevalência da igreja católica nas decisões políticas. Inclusive abrindo caminho para as reformas protestantes e a ascensão do sistema capitalista.
O que somado a fome, a peste e as guerras, alterou as relações de trabalho, a estrutura social e o panorama cultural, possibilitando aproximação da modernidade.

Para saber mais sobre o assunto.
ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1987.
BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006.
DUBY, Georges. Guerreiros e camponeses: os primórdios do crescimento econômico europeu. Séc VII – XII. Lisboa: Estampa, 1978.
LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente medieval. Bauru: EDUSC, 2005.
LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Petrópolis: Vozes, 2007.
LE GOFF, Jacques. Em busca da Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
MACEDO, José Rivair (org.). Os estudos medievais no Brasil. Porto Alegre: UFRGS, 2003.
MONGELLI, Lênia Márcia (org.). Fontes primárias da Idade Média: séculos V - XV. Cotia: IBIS, 2005.
PAULINO, Francisco Faria (coordenador). Portugal a formação de um país. Apresentação de Vasco Graça Moura, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos portugueses, s.d.
PIRENNE, Henri. As cidades da Idade Média. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.
PIRENNE, Henri. História econômica e social da Idade Média. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
RIBEIRO, Maria Eurydice de Barros (org.). A vida na Idade Média. Brasília: UNB, 1997.
WOLFF, Philippe. Outono da Idade Média ou primavera dos novos tempos? Lisboa: Edições 70, 1986.



quinta-feira, 7 de julho de 2016

A trajetória de fortalecimento e expansão da Cristandade Ocidental durante as cruzadas.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume jul., Série 07/07, 2016.


Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em Ciências Humanas - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em História - CEUCLAR.
Licenciado em Filosofia - FE/USP.
Bacharel em Filosofia - FFLCH/USP.



Segundo Jacques Le Goff (2007: p.30), o surgimento da Europa é tributário de dois fenômenos, sendo um deles, justamente, a cristianização.
É neste sentido que o autor entende as cruzadas como “primeira manifestação da colonização européia” (LE GOFF, 2007, p.141).
Portanto, um movimento de externalização que, pensado em termos contextualizado, configura ondas de expansão da cristandade Ocidental.
O que remete, primeiramente, ao conceito de cristandade, uma concepção que, para Francisco José Silva Gomes (1997: p.34), tem um significado bipolar, envolvendo um sistema formado pela igreja e o Estado, com a religião legitimando o poder.
É o crescimento interior deste sistema que conduziu a sua expansão exterior.
A explosão demográfica, no século XI, tributária do progresso agrícola, somada a “vontade da Igreja, que acha escandaloso o fato dos príncipes e os senhores cristãos façam a guerra entre si” (LE GOFF, 2008, p.93), carrega a gênese desta expansão.
Dentro deste contexto, devemos considerar a “ideia de exportar a guerra para fora do Ocidente” (LE GOFF, 2008, p.94).
Forma-se o conceito de guerra justa e de luta contra o infiel, o inimigo civilizacional, tendo Jerusalém como fim último, mas não como objetivo, pois a expansão da cristandade é pensada em termos mais amplos, inclusive fornecendo a variável de expulsão dos mouros da Península Ibérica.
Pelo viés materialista, existe ainda a questão do butim, dos saques almejados pelos participantes das cruzadas e das ambições da nobreza em busca de terras e títulos.
Vale lembrar que muitos filhos segundos, aqueles que não tinham direito a herdar terras e títulos da família por não serem primogênitos, estiveram engajados ativamente nas cruzadas.
Exemplo valioso é fornecido pela figura de D. Raimundo e D. Henrique, peregrinos francos da casa de Borgonha que, participando da reconquista da Península Ibérica, buscando terras e títulos, através de seus descendentes, acabaram fundando, respectivamente, Espanha e Portugal (PAULINO, s.d: p.26).
É esta dinâmica, junto com os interesses da própria Igreja em expandir a fé e obter proveito econômico, promovendo uma paz interna, utilizando as cruzadas como válvula de escape para as tensões que se avolumavam no mundo Ocidental; que acabou fazendo o Papa Urbano II, em 1096, convocar a cristandade a lutar em uma guerra santa contra os infiéis.
Depois da primeira cruzada de cunho popular, seguiram-se outras oito com caráter mais organizado e a preponderância da figura dos reis como elemento centralizador.
O mundo ocidental tomou contato com o Oriente, expandindo mais que a fé, na realidade a economia, possibilitando uma abertura comercial que possibilitou as cidades italianas a entrarem no rico transito de mercadorias que, posteriormente, ajudaria na consolidação dos Estados Nacionais.
Atraídos pela riqueza hídrica, os árabes atravessaram o Estreito de Gibraltar em 711, o domínio muçulmanos sobre a Península Ibérica fez parte da expansão da fé islâmica pregada desde 612 por Maomé, seu relativo sucesso e rápida penetração se deveu, sobretudo ao antagonismo entre judeus e cristãos.
O que criou espaço para que em muitos locais a população judaica oprimida recebesse os mouros como libertadores (RAMOS, 2002: p.33).
Embora, em termos gerais, os muçulmanos tenham permanecido cerca de oito séculos na Península, o domínio efetivo teve duração muito variável de região para região, nunca foi exercido nas terras mais setentrionais, onde várias cidades estiveram em poder dos muçulmanos e dos cristãos alternadamente por breves períodos.
O combate aos infiéis começou quase imediatamente depois da invasão muçulmana, mais especificamente em 718, e, rapidamente, ainda antes de 914, quase um terço da Península havia sido reconquista pelos cristãos.
A guerra avançou rápido, sendo a reconquistada iniciada, graças a levas de peregrinos vindos principalmente do sul França, justamente onde o avanço muçulmano havia sido barrado pelos francos em 736.
Gradualmente a Península foi sendo tomada em ondas, delimitadas respectivamente entre: 914 e 1080, quando ganhou maior força a reconquista, por conta do lançamento pelo papado, em 1096, da primeira Cruzada contra os infiéis, com fins a libertação da cidade santa de Jerusalém; 1080 e 1130; 1130 e 1210; 1210 e 1250; 1250 e 1480; sendo os territórios remanescentes conquistados pouco depois de 1480.
A pilhagem das povoações ocupadas pelos mouros e a doação das recém conquistadas terras aos nobres participantes autofinanciou e estimulou a continuidade da guerra de reconquista, criando um poder fortemente centralizado em torno do Rei e dois Estados que iriam tornar-se pioneiros na navegação Atlântica, Espanha e Portugal.
Sendo especialmente o nascimento deste último indissociável da guerra contra os infiéis, pretexto que seria retomado ao término da dita reconquista, a fim de direcionar a belicosidade da nobreza em função da exploração ultramarina, sob a égide do Infante Dom Henrique, chamado pelos cronistas portugueses da época e mesmo de períodos posteriores de o navegador.

Para saber mais sobre o assunto.
ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1987.
BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006.
DUBY, Georges. Guerreiros e camponeses: os primórdios do crescimento econômico europeu. Séc VII – XII. Lisboa: Estampa, 1978.
LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente medieval. Bauru: EDUSC, 2005.
LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Petrópolis: Vozes, 2007.
LE GOFF, Jacques. Em busca da Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
MACEDO, José Rivair (org.). Os estudos medievais no Brasil. Porto Alegre: UFRGS, 2003.
MONGELLI, Lênia Márcia (org.). Fontes primárias da Idade Média: séculos V - XV. Cotia: IBIS, 2005.
PAULINO, Francisco Faria (coordenador). Portugal a formação de um país. Apresentação de Vasco Graça Moura. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos portugueses, s.d.
PIRENNE, Henri. As cidades da Idade Média. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.
PIRENNE, Henri. História econômica e social da Idade Média. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
RAMOS, Fábio Pestana. O apogeu e declínio do ciclo das especiarias. São Paulo: Tese de doutorado apresentada ao departamento de história da FFLCH/USP, sob orientação da Profa. Dra. Mary Del Priore, 2002.
RIBEIRO, Maria Eurydice de Barros (org.). A vida na Idade Média. Brasília: UNB, 1997.
WOLFF, Philippe. Outono da Idade Média ou primavera dos novos tempos? Lisboa: Edições 70, 1986.


quarta-feira, 6 de julho de 2016

O poder revolucionário da cultura popular.


Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 7, Volume jul., Série 06/07, 2016.




Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.

Doutor em história social - USP.
MBA em Gestão de Pessoas - UNIA.

Licenciado em história - CEUCLAR.
Licenciado em filosofia - FE/USP.
Bacharel em filosofia - FFLCH/USP.

Embora o conceito seja amplo e comporte múltiplas definições, segundo José Luiz Santos (1997), a cultura é definida com o conjunto de padrões de ser, estar e pensar de um determinado grupo social.
Através do estudo da Cultura, percebem-se as ligações entre as manifestações culturais e o modo do povo viver, com seu cotidiano e sua realidade sócio-econômicas.
Existe, porém, várias classificações para o termo cultura, entre as quais a chamada cultura popular, erudita e de massa.
Cada uma comportando especificidades e vinculações.
A cultura popular está ligada a tradições, costumes, ações do cotidiano e valores, é uma cultura de origem histórica, portanto natural.
Por esta razão, nem sempre está em concordância com a ideologia dominante ou com a cultura erudita. Estas últimas tentam de impor uma nova ordem que, em muitos casos, serve ao interesse dos grupos dominantes, pregando, defendendo e impondo uma cultura globalizada e alienadora.
A cultura erudita está ligada à Elite, ou seja, subordinada ao capital pelo fato deste fator viabilizar sua perpetuação e adoção como padrão culto.
Este tipo de cultura exige estudo, pesquisa para obtenção do conhecimento, portanto, não é viável à maioria da população, mas sim as classes sociais mais abastadas que, por sua vez, possuem condições gerais para investir nesses aspectos.
A cultura de massa não é necessariamente a cultura do povo, ou uma cultura “gratuita” oferecida ao povo, mas acaba constituindo uma cultura alienadora, pois é construída pelos meios de comunicação de massa que transforma a cultura popular ou erudita em massificada, em geral, com fins mercadológicos capitalistas.
A despeito da cultura de massa ser utilizada também como mecanismo de controle social e manipulação ideológica pelas camadas sociais que controlam a mídia.
Dentro deste contexto, retrocedendo um pouco, estudos efetuados no século XIX, pretenderam catalogar as culturas humanas em escalas hierárquicas.
Segundo estes estudos haveria escalas sucessivas de evolução social pelas quais as populações passariam, primeiramente, se diferenciando de outras espécies animais até alcançar o índice de evolução conhecido na Europa Ocidental da época.
Sendo assim as sociedades todas fariam parte desta escala de evolução em linha única.
Com base nesta proposta as diversas sociedades do século XIX estariam inseridas em diferentes estágios da evolução humana quando as civilizações indígenas seriam classificadas como “selvagens”, as tribos africanas como “bárbaras” e as populações europeias como “civilizadas”.
Obviamente que nesta concepção de evolução hierarquizada há todo um critério europeu de visão da humanidade.
Isto serviria inclusive como forma de consolidação do domínio de países capitalistas sobre os demais povos.
Esta concepção linear de evolução foi combatida com base no princípio que cada cultura tem suas características próprias e múltiplos critérios a serem considerados.
Acima de tudo, estas classificações, tinham como função principal considerar os povos não europeus como inferiores e passíveis de domínio e exploração.
Estudos mais contemporâneos reclassificaram a cultura, justamente em erudita, de massa e popular, também hierarquizando os saberes para tentar impor a erudição como padrão desejável, embora não alcançável.
Enquanto a massificação da cultura pretendeu destruir as superstições, então colocadas como elementos da cultura popular.
Entretanto, a industrialização da década de 1930 e 1950 não foi capaz de acabar com o folclore, representante da cultura popular, enquanto constituído por manifestações, costumes, crenças e práticas nascidos espontaneamente, tido como superstições.
Especificamente na década de 1960, no Brasil, a cultura popular se mostra presente nos movimentos sociais como o MCP (Movimento de Cultura Popular) e os CPCs (Centros Populares de Cultura), trazendo para esta uma visão politizada que só considera popular o que é revolucionário.
Pode-se dizer que cultura popular é a cultura formada pelo o povo, a cultura nascida no meio popular.
É algo dinâmico que não se confundem com práticas imutáveis e isoladas.
A cultura popular se modifica com o contexto histórico e a situação sócio-econômica da sociedade em que está inserida, trazendo, em si, características do passado.
A cultura tem forte ligação com os contextos sociológicos que formam a sociedade, e nela os fatores econômicos, sociais e políticos estão em constante interação.
A cultura popular é produzida como resposta dos subalternos ao sistema capitalista que os excluem.
Segundo Marcos Ayola (1987), a cultura popular é entendida como produção historicamente determinada, elaborada e consumida pelos os grupos subalternos de uma sociedade capitalista, que se caracteriza pela a exploração econômica e pela distribuição desigual do trabalho, da riqueza e do poder.
Estando presente com mais força no meio rural, cidades do interior e nos subúrbios das grandes metrópoles, mudando apenas as manifestações e as sua intensidade.
Neste sentido, a cultura popular não constitui um sistema, no mesmo sentindo em que se pode falar de sua existência na cultura erudita - um conjunto de produções artísticas, filosóficas, científicas etc., elaboradas em diferentes momentos históricos e que têm como referência o que foi realizado anteriormente, pelo menos desde os gregos, naquele campo determinado e nos demais.
As próprias condições de existência dos grupos subalternos das sociedades de classes implicam não só a desigualdade de acesso aos produtos da cultura dominante, mas também a falta de meios materiais de registro duradouro de sua produção cultural (desde a escrita aos modernos instrumentos de registro sonoro e visual).
A documentação da cultura popular, por conseguinte, depende da memória, que tem seus limites, ou do registro realizado por estudiosos, fragmentário e dirigido por critérios diferentes dos que são próprios aos grupos subalternos.
Assim, comparadas com a cultura erudita, as manifestações culturais populares são, de certa forma, dispersas, elaboradas com um maior desconhecimento de sua própria produção anterior e de outras manifestações, produzidas por integrantes dos mesmos grupos subalternos, às vezes em locais bastante próximos e com características estéticas e ideológicas semelhantes.
Pensada deste modo, a cultura popular pode ser encarada como revolucionária, pois sendo massificada, termina modificando o próprio padrão imposto pela cultura erudita, subvertendo a ordem e intenções estabelecidas pelas elites dominantes.

Para saber mais sobre o assunto.
AYALA, Marcos. Cultura Popular no Brasil. São Paulo: Ática, 1987.
ARANTES, Antonio Augusto. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 1981.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore. São Paulo: Brasiliense, 1982.
CANCLINI, Néstor Garcia. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
ORTIZ, Renato. A consciência fragmentada; ensaios da cultura popular e religião. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
SANTOS, Jair Ferreira. O que é Pós-Moderno. São Paulo: Brasilense, 1986.
SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.